Discurso durante a 108ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Proposta de reconstrução das estradas brasileiras. Benefícios do biodiesel para a economia brasileira.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.:
  • Proposta de reconstrução das estradas brasileiras. Benefícios do biodiesel para a economia brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2005 - Página 23009
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, POLITICA NACIONAL, NECESSIDADE, CONTINUAÇÃO, FUNÇÃO LEGISLATIVA, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS, REITERAÇÃO, PROPOSTA, MOBILIZAÇÃO, EMPRESA, ENGENHARIA, RECUPERAÇÃO, TOTAL, RODOVIA, BRASIL, COMBATE, PREJUIZO, TRANSPORTE DE CARGA, VIDA HUMANA, EXPECTATIVA, APOIO, DILMA ROUSSEFF, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • ANALISE, PRODUÇÃO, Biodiesel, NECESSIDADE, ORGÃO REGULADOR, FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA, SEMELHANÇA, PROGRAMA NACIONAL DO ALCOOL (PROALCOOL), REGISTRO, EXPERIENCIA, ESTADO DO PIAUI (PI), SUGESTÃO, UTILIZAÇÃO, SOJA, EXTRAÇÃO, OLEO DIESEL, PRODUTO VEGETAL, MELHORIA, EXPORTAÇÃO, DEFESA, MOBILIZAÇÃO, COOPERATIVA, TRABALHADOR RURAL, CONCLAMAÇÃO, APOIO, MINISTERIO.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, nós, das duas Casas do Congresso, estamos perplexos, porque os acontecimentos que se sucedem nos colocam em uma posição quase vexatória. Afinal de contas, estamos aqui, somos responsáveis por propor, na legislação do País, reformas, mudanças, criação ou aprovação daquilo que vem do Executivo. É o nosso papel.

De repente, os nossos Senadores e Deputados estão todos ocupados em três CPIs a respeito do que está ocorrendo no País, e a população inteira do País a imaginar sobre todos nós. O Senador Antonio Carlos Magalhães disse que acabamos nos nivelando. Eu queria fazer uma observação, e a população tem que prestar atenção nisto: o Congresso tem 503 Deputados e 81 Senadores. O que nós temos que fazer neste momento, nesta hora que vive o Brasil? O meu Partido tomou a posição de indicar três ministros: o das Comunicações, o de Minas e Energia e o da Saúde.

O Senador Antonio Carlos acaba de fazer uma observação: que o PT, por intermédio de seu novo dirigente, vai monitorar os ministros do Partido, e recomenda que também faça o monitoramento dos ministros do PMDB.

Como eu faço parte do PMDB há mais de 30 anos - antes havia o MDB e nós éramos PP; depois se juntaram e criou-se o PMDB -, neste instante faço uma observação. Nós temos dois problemas sérios no Brasil. Temos vários problemas, temos muitos problemas. Quando olho para o Senador Antonio Carlos, lembro-me dele Governador, como eu; ele três vezes, e eu, duas vezes; depois, ele ministro, e eu, presidente de outras empresas. De qualquer forma, nós estivemos presentes neste País desde a época do regime militar e depois no democrático. Passamos por tudo isso e estamos aqui novamente os dois.

O que eu acho que deveríamos fazer neste instante? O que falei de importante neste momento? Vou dizer mais uma vez. Mantive entendimento, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, com a Associação Nacional dos Construtores, das empresas que constroem rodovias, que constroem barragens, que constroem usinas, enfim, a engenharia nacional, e pedi a eles que nos dessem o retrato do dia de hoje: quantas estradas brasileiras federais já estão contratadas pelo Ministério dos Transportes, que está aí há dois anos e meio e ainda não pôde fazer aquilo que suponho que ele gostaria de fazer, mas o Brasil está esperando, porque o Brasil tem um déficit enorme. O Brasil está tendo um prejuízo, vou repetir - nunca é demais repetir -, de R$6 bilhões por ano, as carretas estão jogando óleo diesel fora. Quem quiser pegar uma aulinha de termodinâmica, estou pronto para dar. Uma carreta de 50 toneladas, ao desacelerar, o motor joga óleo fora, porque perde a carga. Para acelerar, ele é obrigado a usar toda a potência. Para arrancar da velocidade zero para alguma velocidade, ele usa a potência toda do motor, desnecessariamente, porque ele pára e acelera, pára e acelera. Fiz um estudo de sucessivas aproximações e cheguei a um número espantoso: 30% a mais, as carretas gastam nessa história de parar e acelerar por causa dos buracos. Como são 30 mil quilômetros, isso multiplicado, dá 30%. Trinta por cento de 14 bilhões de litros, dá quase 4 bilhões e fração de litros de óleo diesel jogados fora; isso a R$1,50, totalizam R$6 bilhões por ano. A Petrobras importa, vende para os frentistas e os frentistas vendem para o povo, para a carreta, e a carreta joga fora. Quem pagou? As transportadoras aumentaram o frete mais ou menos 30%, para compensar esse prejuízo, e ainda não tira o prejuízo e ainda não o elimina por completo, porque o seu patrimônio está se arrebentando em pneumático, em vidas humanas, que não é o seu patrimônio, mas é patrimônio brasileiro. E tudo isso está acontecendo. Tem remédio? Tem.

Pretendo, em breve, oferecer um documento à Ministra Dilma Rousseff e tenho certeza de que ela aceitará a proposição. Creio que o documento - estou esperando informações que pedi - será mais ou menos assim: aproximadamente 200 empresas de engenharia... Eu falava em cem, mas o Presidente da Associação disse que poderíamos colocar duzentas empresas brasileiras, algumas maiores, outras médias e algumas pequenas para consertar os trinta mil quilômetros de estradas federais destruídas neste País.

Então, admitimos quinze mil quilômetros por ano, três bilhões por ano, da Cide ou da Petrobras.

A Petrobras, na verdade, não teve prejuízo, quem tem o prejuízo é o povo. A Petrobras importa o óleo, distribui e vende para os frentistas a dinheiro, os quais também vendem a dinheiro. E a carreta joga fora porque há buraco no caminho.

Isso está em português, está claríssimo. Não há dúvida sobre isso. Isso é palmar. Se conserto a estrada, não tenho nem os seis bilhões de prejuízo, nem os 35% de aumento do crédito.

Então, vou fazer essa proposta à Ministra, vou pedir uma audiência ainda esta semana, porque é urgente. Espero que os três Ministros do meu Partido não cheguem lá apenas para serem Ministros do PMDB. É verdade que o Ministério dos Transportes não é nosso, mas o problema é de todos nós. Nesse caso, eu passo o documento: a estrada é isso aí, vou fazer uma proposta para consertarmos isso em 18 meses - 18 meses, repito. Duzentas empresas de engenharia trabalhando fazem mesmo e balançam este País - não tenho dúvida disso - e geram dois milhões de empregos de saída. O projeto seria iniciado em todos os Estados, ao mesmo tempo e no mesmo dia. Isso é possível? É, sim, desde que haja um comando unificado, que deve ser lá na Presidência da República, um secretário-executivo, algo que estou estudando juridicamente para não fazermos nada que possa ser considerado ilegal. Isso, com relação às estradas.

E o biodiesel está solto, sem dono. Todo mundo fala em biodiesel e se constrói usinas. E há biodiesel por todo lado. E os chineses, a Europa e o Japão querendo biodiesel, e nós podemos fazer biodiesel. Pelo amor de Deus, podemos fazer álcool e biodiesel. Temos o que eles não têm: somos um país tropical, com sol. O sol é que faz o biodiesel. Ele transforma as plantas virgens da luz solar e da água. É aí que a mamona cresce e produz óleo. Aí é dom de Deus. Produz óleo. Esmago o óleo, tiro o óleo de mamona e o transformo em biodiesel. Posso fazer quantos litros? Quantos milhões de hectares tem o Brasil?

Falta só arrumar a casa, mas, para isso, tem que ter um comando. O álcool tinha um comando; era o Proálcool; era um programa. A Petrobras financiou este programa durante anos; agora, ele é independente e nós já estamos produzindo 14 bilhões de litros de álcool por ano, mas podemos ir para 20, podemos ir para 30 e exportarmos isso para aumentar a receita de nosso País com aquilo que podemos fazer, gerando empregos.

Nós fizemos um ensaio no Piauí: em três hectares, podemos colocar uma família, que pode produzir três toneladas de mamona, fazer 1.500 litros de óleo, que darão 1.500 litros de biodiesel. Se empregarmos um milhão de pessoas, cada uma com três hectares, teremos três milhões de hectares - isso não vale quase nada -, pois só o meu Estado tem 20 milhões de hectares e no Mato Grosso outro tanto. Então, vamos fazer o biodiesel de mamona. Vamos gerar emprego.

E a soja? Por que nós vendemos grãos de soja? Quarenta milhões de toneladas, se não me engano... Nós vendemos grãos! Por que não esprememos esses grãos aqui, extraímos o óleo, fazemos biodiesel do óleo de soja, porque ele é produzido à máquina (é plantado e colhido à máquina)? E o farelo de soja, o que faremos dele?

Srªs e Srs. Senadores, nós já estamos com a pesquisa bem avançada. O farelo de soja pode dar farinha panificável... Pão! Pão para aqueles que precisam de pão, e como precisam os brasileiros... Os pequenos, as crianças, como precisam de pão. E nós podemos usar a soja de duas maneiras: nós podemos tirar o leite de soja e fazer a farinha de soja - que dá pão -, e podemos fazer o óleo.

Há duas maneiras de tratar a soja. Já está testado. Estamos fazendo essa experiência no Piauí e vamos mostrar ao Brasil que isso é possível.

Falta uma ação. O biodiesel deveria ser um combustível renovável. Vamos criar uma empresa? Assim como foi criada a Petrobras para os combustíveis fósseis, vamos criar uma empresa que comande as ações dos combustíveis renováveis: álcool, biodiesel, energia solar. Tudo o que não for fóssil estará sob o comando de uma nova empresa. É complicado fazer? Não. Poderíamos criar uma empresa vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio, que cuida do problema da industrialização do País, da exportação. Essa empresa poderia ser vinculada a ele. Poderia ser a Companhia Brasileira de Combustíveis Renováveis, algo como Combrás. Devemos ter um comando para que a questão não fique dispersa como está. No meu Estado, por exemplo, já construíram uma usina com capacidade de 90 mil litros de biodiesel/dia. Chamaram os lavradores e disseram: “Agora, vocês vão vender mamona para nós.” Os lavradores perguntaram: “Por que mamona?” E responderam: “Porque temos uma usina para fazer biodiesel.” Sabe o preço que estão querendo oferecer? Cinqüenta centavos por quilo. O lavrador, por sua vez, entende que é melhor plantar milho, mandioca e feijão do que mamona. Estamos invertendo essa situação. Estamos criando associações dos produtores, dos pequenos lavradores, três hectares para cada um. Cinco mil reunidos fazem uma pequena usina para cinco mil lavradores. Eles colhem a mamona deles e entregam para a usina, que faz óleo, faz biodiesel, e ainda pega o pé de mamona e faz adubo orgânico, que o Brasil não tem. O Brasil usa NPK importado. Se ele fizer adubo orgânico, economiza 70% de adubo importado. Creio que, no momento, esses seriam os dois problemas que o Governo Lula poderia resolver.

Vou combinar com os Ministros do meu Partido: não fiquem apenas como Ministros. Vamos nos reunir. Se o problema é biodiesel e estrada, vamos nos reunir e chamar o homem do Ministério dos Transportes. Eu não sei de qual Partido é, mas, de qualquer forma, é Brasil. Nós estamos precisando fazer algo. Estou colocando aqui uma oportunidade à consideração dos meus Pares das duas Casas e aos brasileiros que estão me ouvindo. Vamos fazer isso...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Eu vou convocar os meus Companheiros, pedir uma audiência à Ministra Dilma Rousseff e levar isso lá. Tenho certeza de que ela é uma mulher decidida, não é daquele núcleo duro em que não falávamos com ninguém. Creio que ela é capaz de endossar essa idéia e colocá-la em ação para, afinal de contas, o Brasil caminhar um pouco, porque ele está parado, cheios de CPIs por todo lado. Cada dia, mais outra, mais denúncias etc., e o País parou. Vamos ver se fazemos ele andar.

É a contribuição que eu quero dar, acreditando que o Presidente Lula seja ainda uma pessoa que esteja precisando disso para decolar e afastar aqueles que são más companhias, como disse um dos Ministros dele, e que servem de motivo para toda essa onda que está no Brasil. O Presidente sabia...

(Interrupção do som.)

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Termino, Sr. Presidente.

            Agradeço a oportunidade.

Que os brasileiros que estão me ouvindo aguardem, porque eu não sou de dizer e não fazer. Vou fazer, vou levar isso à Presidência da República, através da Ministra Dilma Rousseff, e tenho certeza de que, se ela aprovar, o Brasil balança com o biodiesel e com as estradas.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2005 - Página 23009