Discurso durante a 109ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Posicionamento favorável à criação de órgão estatal destinado a regular as atividades ligadas ao biodiesel.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA ENERGETICA.:
  • Posicionamento favorável à criação de órgão estatal destinado a regular as atividades ligadas ao biodiesel.
Aparteantes
Mão Santa, Romeu Tuma, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 13/07/2005 - Página 23200
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • CRITICA, INDISPONIBILIDADE, SENADOR, TRABALHO, COMISSÃO, SENADO, MOTIVO, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, PROTESTO, INFERIORIDADE, INVESTIMENTO, ZONA RURAL, SISTEMA RODOVIARIO FEDERAL, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, PRODUÇÃO, ALCOOL, Biodiesel, BENEFICIO, EXPORTAÇÃO, COMBUSTIVEL, DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO AGRICOLA, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL.
  • REGISTRO, ELABORAÇÃO, PROPOSTA, CRIAÇÃO, EMPRESA, REGULAMENTAÇÃO, SETOR, PRODUÇÃO, Biodiesel, ANUNCIO, ENCAMINHAMENTO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME).

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as coisas estão tão quentes neste País que, ao abrirmos os jornais, pela manhã, ficamos surpresos, porque há denúncias por todos os lados: é avião levando dinheiro; é gente levando dinheiro dento da roupa. Afinal, mais uma vez, o que estamos fazendo aqui, nós, Senadores e Deputados, a não ser constatarmos que a população começa a pensar que todos nós estamos envolvidos nesse mar de denúncias, de corrupção, enfim, de tudo o que está acontecendo aí? O País vai parar?

Estamos chegando à conclusão de que não há mais reservas de Parlamentares - refiro-me a Senadores - para a ocupação dos devidos postos que lhes são devido nas Comissões, acompanhados por seus respectivos suplentes. Não temos mais os 81 Senadores em disponibilidade. E, depois de vermos tudo isso, vem alguém e diz que há uma proposta para levar o País ao déficit zero. Isso significa que devemos reunir todo o dinheiro do País para pagarmos a dívida. Depois de zerarmos a dívida, vem o céu, vem a bonança e tudo o mais. Ora, o Senador Mão Santa, de vez em quando, levanta aqui uns números que nos deixa estarrecidos, números relativos a impostos - que S. Exª acha que passa dos setenta -, ao arrocho dos juros e aos investimentos, que caem e ficam dependendo da oscilação do dólar ou do que for. Afinal, vamos fazer o quê?

Déficit zero. O que estamos produzindo como riqueza já está sendo exportado. As estatísticas revelam que o Brasil passou da casa dos cem bilhões, não sei se sete, seis, dez a mais dos cem. E o que representam esses cem bilhões? É o fruto do trabalho dos brasileiros no campo, nas indústrias, nas fábricas etc. Mas, seguramente, no campo está a maior força. E o que nós exportamos do campo com os lavradores, com os tratores parados aqui na avenida? E chamaram isso de uma “avenida do tratoraço”, reclamando dos recursos, para poder saldar as suas dívidas para plantar. Então, nós não temos dinheiro para financiar o plantio daquilo que nos carrega em direção aos R$100 bilhões? O que deveríamos fazer? Onde aplicar o dinheiro da melhor maneira, o pouco que sobra?

            Ontem eu falei nas estradas, que trazem um prejuízo de treze bilhões: seis bilhões em litros de diesel jogados fora e sete bilhões do aumento do frete. As empresas transportadoras elevaram o frete em 30% para compensar os buracos, a quebra dos eixos. Arrebentam os pneus, arrebentam as carretas porque as estradas estão destruídas.

Então ficamos num dilema: aplica-se o dinheiro onde? Em quê? Em primeiro lugar, o que rende mais e depressa para um país carente de recursos, até para os seus investimentos? Devemos investir onde? Qual é o mercado que se apresenta para o Brasil, um País tropical, que tem sol, que tem terra, que tem água e que tem gente desempregada? Então, eu tenho gente desempregada, precisando trabalhar, eu tenho terra, tenho água e tenho sol. Sol! Ninguém se iluda. Deus criou este mundo perfeito e colocou o sol. Se não houver sol, na sombra não nasce nada. O sol é a grande força. A terra está ali e a planta começa a germinar por milagre de Deus. Então, o que é que nós, os humanos, que estamos aqui neste planeta azul, durante um período de tempo apenas, e agora nós, aqui no Senado, devemos fazer? O que podemos fazer? O que vamos fazer? Eu perguntaria: aplicar o dinheiro onde? A resposta é quase que imediata: eu aplicaria na terra.

Em quê? Está se falando em biodiesel. O biodiesel nasceu comigo, há trinta anos, quando eu era o Presidente da Empresa Brasileira de Transporte Urbano. Disso eu não abro mão, fui eu mesmo que fiz. Então, se os chineses querem álcool, se o Japão quer álcool, se a Europa quer o biodiesel, nós podemos produzir tanto biodiesel como álcool.

Eu vou parar no álcool, nem vou falar do biodiesel, por enquanto. Temos um milhão de hectares de terras só no Norte do Estado do Piauí, entre dois rios, o que eu chamaria de mesopotâmia piauiense: o rio Longá e o rio Parnaíba, ambos perenes. As terras que estão entre esses dois rios são a nossa mesopotâmia.

Se plantarmos um milhão de hectares de cana-de-açúcar, teremos 150 milhões de toneladas de cana. A sessenta litros por tonelada, dá nove bilhões de litros de álcool. Em quanto tempo? Em três anos. É possível formar um canavial pesado capaz de produzir 150 toneladas por hectare no máximo em três anos. E investe-se quanto? Os donos da terra topam fazer uma associação. Eles entram com a terra como capital. É uma proposta.

Estou olhando para Mão Santa, que será virtualmente um candidato nosso ao Governo do Estado, para nós fazermos um programa como esse. Dez bilhões de litros de álcool no Piauí! Sabe quanto isto representa em dinheiro, nove ou dez bilhões de litros de álcool, Senador Mão Santa? É dinheiro que se pode jogar na educação, na saúde, no reparo das estradas, na segurança. E geraremos 500 mil empregos, com dois hectares para cada família, plantando cana.

Se virarmos para o outro lado e botarmos mais 500 famílias plantando mamona e feijão, teremos outros bilhões de biodiesel, seguramente.

Então, neste instante em que o Brasil vive esse drama, vamos botar o dinheiro. Falar com quem? Vamos formar um grupo de trabalho aqui. Temos bem uns dez Senadores aqui que foram ex-governadores duas vezes - eu também fui, como vários aqui. Vamos formar um grupo de trabalho com o pessoal da Câmara, ex-governadores também. Vamos fazer uma comissão e traçar um programa.

Vamos gerar 20 bilhões de litros de biodiesel e de álcool. Temos o mercado aberto pedindo aos brasileiros que mandem álcool para eles. Eu acho que esse é o primeiro caminho. O resto vem por acréscimo. Quem tem dinheiro aplica em educação, saúde, segurança etc.

Agora, tem de gerar dinheiro, não com impostos. Concordo com o Senador Mão Santa: há impostos demais. Temos de reduzir impostos e plantar. O País é rico quando produz.

Lembro que, quando fizemos uma viagem aos Estados Unidos, observamos que só a renda agrícola do Estado da Califórnia é de mais de oitenta bilhões. E em quê? Laranja, cítricos, maçãs etc.

O Brasil pode produzir biodiesel e álcool, mas fica de braços cruzados. Tem que fazer alguma coisa!

Estou elaborando uma proposta que vou levar à Ministra Dilma Rousseff para que ela bata o martelo e crie uma empresa que cuide dos combustíveis alternativos.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Encerro já, Sr. Presidente.

Quais são os combustíveis alternativos? Álcool e biodiesel são os primeiros. Não há ninguém tomando conta disso. A Petrobras está cuidando é de petróleo e gás. E quem cuida de biodiesel e álcool? O álcool já é uma realidade, mas precisamos dobrar sua produção. Para isso, precisamos de uma empresa. Vamos criar uma empresa brasileira de combustíveis alternativos, uma espécie de Biobras ou algo assim, que se encarregue de obter os recursos necessários. O retorno é tão imediato que essa empresa não vai precisar de dinheiro do Tesouro Nacional.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Alberto Silva...

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Com a permissão do Sr. Presidente, ouvirei V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Presidente Saturnino, regimentalmente, o Senador Alberto Silva ainda dispõe de dois minutos, e, com a generosidade de V. Exª, deve dar mais três ou cinco, em respeito à experiência de Alberto Silva. Congratulo-me somente na emoção e que o Piauí - tem que ser lembrado isso, nós temos que ensinar -, do Nordeste, é a solução, e a solução vem da natureza. O mais importante é o homem, tão bem representado pela inteligência de Alberto Silva; e, segundo, a água. São dezenove rios, seis perenes. V. Exª falou que de um lado estava o Longá, mas é o Poti - V. Exª sabe - e o Parnaíba, daí a mesopotâmia. E é lá no Poti que V. Exª sugeriu que se fizesse uma barragem com uma geradora de energia, e o Governo não atendeu. V. Exª foi o primeiro brasileiro a despertar para o biodiesel. Mas nós também temos a riqueza do babaçu, lá e no Maranhão, que também pode ser associada e trazer ao Nordeste a riqueza. O grande erro do Governo Lula foi nesse aproveitamento do PT. Está aí o Ministro de Ciências e Tecnologia que deveria ter sido aproveitado, o Senador Alberto Silva.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Alberto Silva, concede-me um aparte?

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Se o Presidente autorizar.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Sr. Presidente, conceda esse aparte, por um minuto?

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Um minuto.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino.Bloco/PT - RJ) - Terá V. Exª mais um minuto, mas pediria aos aparteantes que façam uso da palavra o mais breve possível, só para cumprimentar o orador.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Eu preciso dizer que o nosso Senador Alberto Silva é um incansável. Já disse reiteradas vezes que o conheci quando era criança, quando morava em Teresina e ele era então Governador do Estado do Piauí. Eu tive oportunidade de conhecer a experiência da mamona lá no Estado. Eu fui exatamente para tirar as minhas dúvidas, tirar as minhas conclusões. Acho que V. Exª está brilhante na defesa incansável dessa medida que, com certeza, é uma das saídas tanto do ponto de vista da tecnologia de substituição dos combustíveis poluentes, como da geração de emprego no campo. Eu não podia deixar de apartear V. Exª hoje. Parabéns pela insistência na matéria tantas vezes reiterada aqui na tribuna do Senado.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado.

Sr. Presidente, encerro, agradecendo a oportunidade e dizendo ao Brasil: o Brasil tem jeito sim. Como não tem? Vamos juntar os nossos esforços e dizer ao Presidente Lula: “Puxe o cordão, Vossa Excelência mesmo, Presidente, sozinho. Mande apurar aquilo que está ruim no seu Partido. Vossa Excelência, Presidente Lula, conta com as pessoas que querem o bem do Brasil nas duas Casas do Congresso”.

(Interrupção de som.)

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - V. Exª me permite o uso da palavra?

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Eu não poderia deixar de ouvir o decano desta Casa, o homem que impõe respeito quando fala. Concedo o aparte ao nobre Senador Romeu Tuma.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino. Bloco/PT - RJ) - Eu vou conceder ao orador mais um minuto, somente para ouvir o aparte do Senador Romeu Tuma, de vez que há outros nobres colegas inscritos desejando falar.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador, quero cumprimentá-lo. Quando ainda não era Senador, acompanhei de perto a história do Pró-álcool, que foi levado ao fracasso até pela falta do produto para os veículos que começaram a ter uma tecnologia perfeita. Hoje existe o motor Flex, que utiliza os dois combustíveis, a gasolina e o álcool, conjunta ou alternadamente, sem precisar de nenhuma modificação de motor. Então, a tecnologia brasileira avançou muito. Assim, o álcool deve estar sendo procurado pelo mundo como combustível alternativo. E eu tenho acompanhado de perto a inauguração de várias usinas em São Paulo, usinas também provenientes do Nordeste que estenderam sua produção para São Paulo, pela infra-estrutura, pelo plantio da cana, produzindo energia alternativa com o bagaço.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Exatamente.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Agora, quanto ao biodiesel, eu tenho dúvidas, porque me disseram que fica muito caro...

(Interrupção de som.)

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - (...) o Nordeste pode produzi-lo, mas no Sul ficaria cara a substituição das lavouras.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Agradeço ao Sr. Presidente e oportunamente voltarei a falar sobre biodiesel.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/07/2005 - Página 23200