Discurso durante a 117ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a proposta de criação de uma empresa brasileira de biocombustíveis destinada a desenvolver projetos de geração de energias alternativas ao petróleo.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Considerações sobre a proposta de criação de uma empresa brasileira de biocombustíveis destinada a desenvolver projetos de geração de energias alternativas ao petróleo.
Aparteantes
Alvaro Dias, Augusto Botelho.
Publicação
Publicação no DSF de 23/07/2005 - Página 25154
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • SUGESTÃO, PROPOSTA, CRIAÇÃO, EMPRESA NACIONAL, UTILIZAÇÃO, Biodiesel, PRODUÇÃO, COMBUSTIVEL, FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, é claro que estamos vivendo um período de dificuldades, principalmente políticas.

O Brasil está ligado às antenas da TV Senado. Creio que a TV Senado tem mais ibope hoje e audiência do que a própria Globo. Claro, porque a população está interessada em saber, querem saber o que está acontecendo. E as Comissões estão aí apurando, e temos certeza de que vão chegar a algum resultado, quem tiver culpa será punido. O Presidente já disse isso, já trocou os Ministros, tomou uma posição. Sempre falei: “Presidente, assuma o comando. Este País é muito grande. Não podemos deixar a população atônita, sem alguma ação.”

Sua Excelência parece que realmente fez isso. Já tirou aquele núcleo duro do Palácio, que impedia que se falasse com ele. Era complicado. O PMDB, por exemplo, que há dois anos apóia o Governo do Presidente Lula, não conseguia falar com Sua Excelência. Ali, no Palácio, era aquele pessoal, e todos sabem a quem estou me referindo.

Agora, o Presidente Lula colocou lá uma mulher séria, dinâmica. Naturalmente guardadas as proporções, a Ministra Dilma, hoje, na minha opinião e dos nossos companheiros aqui, representa uma espécie de Margareth Tatcher. Ela está ali para ajudar o Brasil. Ela diz coisas claras, simples. Ontem mesmo, ela determinou que aqueles quatorze mil DAS sejam substituídos por funcionários de carreira. Então, começa a pôr em ordem a casa administrativa do Brasil.

No momento em que o Presidente estava sozinho no meio de toda aquela encrenca, nós do PMDB - digo isso com certo orgulho -, os vinte Senadores e uns cinqüenta e poucos Deputados, assinamos esse documento que era em favor do Brasil. Não era em favor do que estava acontecendo, nem tampouco apoiando qualquer tipo de safadeza. De certa forma, conseguimos o equilíbrio. Por isso, ontem mesmo assistimos a mais novos Ministros nomeados, todos imbuídos da necessidade de trabalhar pelo País. O País não pode parar.

Fico feliz e satisfeito de ter entrado na primeira hora, com a consciência tranqüila de que não estamos apoiando exatamente esse mar de lama que está aí, que está sendo apurado, inclusive, por homens nossos que estão nas Comissões. Seguramente, o Relator da CPMI dos Correios é do PMDB.

Fiz esse preâmbulo, mas quero entrar num assunto que deve interessar a todos nós que fomos Governadores. Estou vendo o nosso ex-Governador Alvaro Dias, um grande Governador, e sei o que S. Exª fez no Paraná. Foi meu colega aqui. Acho que S. Exª era tão jovem, e continua jovem, na época em que fizemos o PP, que se juntou com o MDB e fizemos o PMDB. E fomos buscar Tancredo em Belo Horizonte para que deixasse o Governo e fosse candidato à Presidência da República.

Então, tenho certeza de que os companheiros aqui presentes e os brasileiros que estão me ouvindo vão entender o que eu vou dizer: senhores, o petróleo está acabando. Anotem bem: o petróleo está acabando e o petróleo que existe ainda lá pela Arábia Saudita está sob o controle de uma grande potência. O exército americano está ali, naquela área. Não discutamos politicamente invasão de Iraque ou o quer que seja, mas, de qualquer forma, aquele petróleo todo daquela área - Arábia Saudita, Iraque, Irã, onde está o petróleo do mundo - está acabando também.

E o que vai ocorrer? Se não há mais petróleo e o mundo não vive sem energia... A energia é a mola do mundo, e a energia sob todas as formas, principalmente sob a forma de eletricidade, que tem que ser gerada e tem que haver combustível para gerar eletricidade para aquecer os países frios, para impulsionar a indústria, sem o que a humanidade não vai resistir.

Então, o que temos no Brasil? Temos sol, temos água e temos gente precisando trabalhar. Há dois dias, eu e o professor Bautista Vidal, um físico de renome internacional, homem extraordinário, que foi responsável pelo impulso do Proálcool à época em que ele trabalhou no Ministério da Indústria e Comércio, fizemos uma entrevista na TV Senado, que vai sair aí, e concluímos duas coisas importantes.

Primeiro, o biodiesel - naturalmente o primeiro caminho acompanhando o Proálcool -, a fonte de energia que o Brasil já vende ou fabrica, produz 14 bilhões de litros do Proálcool. Por que não vamos para os 20 ou 30 bilhões de litros de álcool? Podemos e devemos, porque o Japão precisa de energia, assim como a China, com mais de dois bilhões de habitantes e o desenvolvimento que tem. E quem tem energia, no mundo, hoje? Os países frios não podem ter. Eles usaram o petróleo, que está embaixo da terra.

A Petrobras é uma empresa mineradora, porque petróleo é mineral também. A Petrobras, apesar de ser hoje também uma companhia energética, é uma empresa mineradora. Propomos, então, a criação de uma empresa que vai gerar combustível, mas com características totalmente diferentes da Petrobras. Vamos criar uma empresa que parte da agricultura; do sol, esse presente que Deus deu ao mundo, mas muito mais ao Brasil.

Somos um País tropical numa região que tem água. Nós temos mais água do que o resto do mundo. Temos água, solo, sol e pessoas precisando trabalhar. Então, o que devemos fazer? Vamos criar uma companhia.

Meu caro Senador Alvaro Dias e meus companheiros aqui presentes, pensemos nisso. Vamos criar uma empresa maior do que a Petrobras. Ouçam bem: quando acabar o petróleo, a Petrobras não terá mais o que explorar daqui a 20 ou 30 anos. Assim, vamos criar uma empresa que pode gerar a energia de que o mundo precisa. E temos medo de que, se não ocuparmos o nosso território e produzirmos essa energia, eles venham aqui ocupá-lo, porque a fome de energia é tão grande que eles vão ter de vir aqui.

Vamos fazer um pequeno resumo: nossa empresa poderia chamar-se Empresa Brasileira de Biocombustível. A sigla seria até interessante: EBBC. BBC é a grande empresa de telecomunicações da Inglaterra. O que nós poderíamos produzir com essa nova empresa, cuja criação é urgente?

Meu caro Governador Alvaro Dias, sei que V. Exª está empenhado em apurar toda aquela lama. V. Exª é um dos Senadores que fala aquilo que é necessário dizer, nem mais nem menos, e é respeitado pelo que fala. Aquela Comissão tem seriedade, pelo fato de haver pessoas como V. Exª e outros companheiros. Então, vamos juntar um grupo aqui do Senado Federal - nós, ex-Governadores, Senadores, ex-Ministros - para levar ao Presidente a idéia desta empresa, que será maior do que a Petrobrás; anotem bem.

Querem ver um exemplo? Na Amazônia, considerando somente a área desmatada, se o Brasil realmente tomar a peito e fizer a empresa, serão 40 milhões de hectares de área de trópico úmido onde podemos plantar o dendê. O Brasil já tem toda a tecnologia do dendê, tem semente que pode produzir um pé de dendê em três anos, e um hectare de dendê dá oito mil litros de óleo!

Segundo Bautista Vidal, em um simpósio internacional, o Brasil propôs à Venezuela fazer uma multinacional entre o Brasil úmido da Amazônia e a Amazônia venezuelana. Seria uma grande multinacional, como Itaipu. Senhores que estão me ouvindo, sabem qual seria a produção? Seriam seis milhões de barris de combustível/dia.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Permite um aparte, Senador?

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Isso é coisa demais! O Brasil tem quatro milhões de sem-terra.

Sr. Pedro Stédile, que está me ouvindo agora, reúna os seus sem-terra e vamos ocupar a Amazônia produzindo emprego, produzindo energia para o mundo, antes que eles venham cá e nos tomem. Vamos ocupar a Amazônia com gente nossa, produzindo petróleo vegetal, petróleo renovável, e apenas na Amazônia! Se nós plantarmos mamona no semi-árido, outros cinco, dez milhões de brasileiros podem ir para lá.

Podemos plantar o girassol. O girassol produz em dois meses. Imaginem, em dois meses, plantarmos milhares de hectares de girassol e ter petróleo, petróleo vegetal. Então, fazer a empresa é uma obrigação nossa como representantes do povo.

E quando a lama passar - e vai passar, se Deus quiser -, vamos juntar o que sobrar de bom do PT e dos outros partidos. Não vamos querer derrubar o Presidente e nem acabar com o PT. Há pessoas boas no PT, que trabalham conosco. Vamos fazer isso!

Senador Alvaro Dias, espero contar com o apoio de V. Exª. Ouço o aparte de V. Exª.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Nobre Senador Alberto Silva, nada tenho a acrescentar ao seu discurso. Quero apenas cumprimentá-lo e aplaudi-lo, porque a sua característica que mais nos entusiasma é, exatamente, o pragmatismo, a objetividade. V. Exª só comparece a esta tribuna para propor e oferecer sugestões. É claro que ninguém melhor do que V. Exª para oferecer sugestões, pela experiência prática. Foi Governador brilhante, tem sido um político probo, intocável sob o ponto de vista da ética e tem autoridade moral e política para oferecer preciosas sugestões ao Governo. Pena que nem sempre o Governo o ouça. Se o ouvisse, muitos empregados estariam, certamente, trabalhando com salário e vida digna. No entanto, sempre resta a esperança de que um dia a sua voz cale fundo na alma dos que governam, e essas soluções simples, mas inteligentes, possam vir em benefício da população sofrida, sobretudo do seu Nordeste, mas, enfim, de todo o País, porque é o que mais almejamos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado, nobre Senador. Incorporo as suas estimuladoras palavras para chegarmos a esse objetivo. Tenho certeza de que, seguramente, chegaremos ao Governo. Depois de passar esse terremoto - os que estão lá apressarão isso -, com o apoio da Ministra Dilma Rousseff, chegaremos a criar a nossa empresa e veremos um Brasil mais justo, um Brasil sem os sem-terra invadindo ministérios, andando na rua daqui para ali, com a oportunidade de uma vida digna.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Senador Alberto Silva, se o Presidente Lula estivesse ouvindo seus conselhos, talvez já tivesse gerado cinco milhões de empregos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Acho que sim.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Aquele seu plano inicial de recuperação das estradas, feito no início do nosso mandato...

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Isso.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - ...criava dois milhões de empregos. Recuperaria, praticamente, a rede rodoviária do Brasil, e estaríamos em melhores condições, economizando, não gastando tanto combustível, peças e dando esse prejuízo aos transportadores. V. Exª também sugere a ida dos sem-terra para a Amazônia. Nós, da Amazônia, estamos de braços abertos para recebê-los lá.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Com certeza.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Antes, porém, queremos que o Ibama e o Incra parem de atrapalhar o homem da Amazônia. Há três, quatro, cinco gerações em cima da sua terra, e o Incra não regulariza nem os 100 hectares do homem que está ali, à beira das estradas, à beira dos rios, trabalhando. Está até dificultando. Em Roraima, agora, estão querendo retirá-los. Há 25 anos, fizeram assentamentos e, até hoje, não regularizaram as terras. Muitos morreram de malária, muitos ficaram ser recursos, outros saíram, abandonaram o lote, e as pessoas, naturalmente, ocuparam aqueles lotes. Agora, estão querendo colocar as pessoas para fora, ao invés de fixar o homem na Amazônia. Por quê? Querem guardar isso tudo para entregar, no futuro, para os estrangeiros? Bom, agora, vão desarmar todo o Brasil. Não haverá uma arma para defender essa terra se houver alguma coisa. Os iraquianos estão resistindo porque têm armas; do contrário, já teriam capitulado. É lógico que não concordo em matar gente, mas também não concordo que invadam o país e queiram tomar as suas riquezas. Estão tomando o petróleo agora e no futuro vão querer tomar nossa floresta e a nossa água.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Com certeza.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - O Senador Mozarildo Cavalcanti vai dar o tempo que for necessário, porque V. Exª, quando fala, nós temos de ouvir e temos de dar o tempo que for preciso para V. Exª falar.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, dois minutos e eu encerro.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Ontem, V. Exª estava inscrito, mas, quando procurei por V. Exª para falar, V. Exª tinha se retirado.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Todo o tempo é tempo, e eu queria concluir simplesmente assim: concordo plenamente com a sua advertência sobre a Amazônia. Em primeiro lugar, que a ocupemos com todos os que já estão lá para compor esse exército novo de criação da riqueza brasileira, da energia brasileira e ocupar a nossa Amazônia para evitar que outros venham a fazê-lo. Também, no caso dos sem-terra, de que acabo de falar, eles vão se quiserem, porque podem ficar aqui. Só no Nordeste há muito mais de 20 milhões de hectares de sol e de água. Sim, existe água lá, há o rio Parnaíba e o rio São Francisco.

Encerro, Sr. Presidente, certo de que esta empresa que vamos criar, meus caros Senadores, terá, entre as suas funções, a de trabalhar com o Ibama de tal maneira que as coisas aconteçam e não fiquem na dependência de uma solução aqui e outra ali. Tenho fé e esperança no futuro do nosso País. Creio que, começando assim, chegaremos lá.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/07/2005 - Página 25154