Discurso durante a 120ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a história do PMDB.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Reflexão sobre a história do PMDB.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Valdir Raupp.
Publicação
Publicação no DSF de 28/07/2005 - Página 25760
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, SITUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • DEFESA, REFORÇO, PARTIDO POLITICO, FORTIFICAÇÃO, DEMOCRACIA, PAIS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente Romeu Tuma, Congressistas, brasileiras e brasileiros presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação.

Senador Antonio Carlos Magalhães, atentamente, ouvimos V. Exª. Depois, a Senadora Serys. E, como estamos no Senado, isso já existiu, ninguém vai inventar a roda... Teve um grande Senador que dizem ter sido o maior orador da história: Cícero. E Cícero disse: nunca fale depois de um grande orador. Vou ter de falar depois do Antonio Carlos e, pior ainda, de uma grande e bela oradora, que é a Serys. Nada contra. Agora, se ela tivesse vindo de verde no lugar do vermelho, que está metendo medo, a esperança não estaria ainda morta, como estamos todos temendo - a esperança, que tinha sido engolida pela corrupção gigante.

Mas o mesmo Cícero, Senador Romeu Tuma, disse algo muito oportuno. E daqui - ó, Senador Arthur Virgílio, sei que o pai de V. Exª daqui combateu a Ditadura e o AI-2 -, eu adverti: ó, Lula, tire o Zé Maligno. Isso, antes desse Roberto Jefferson, que é o Maligno II. Foi antes, aqui. Não, Zé Maligno. Pode buscar nos arquivos.

Em Roma também havia os malignos. E o Senador Marco Maciel, que é da Academia de Letras, talvez saiba a frase até em latim; S. Exª é da Igreja, sabe tudo. Eu não sei em latim, mas Cícero disse mais ou menos assim: até quando, Catilinas, abusarás de nossa paciência? E a história se repete. Essas são as nossas palavras: até quando vão abusar de nossa paciência?

Senador Antonio Carlos Magalhães, mas o melhor de Cícero é um livro sobre amizade e velhice. Os militares jovens chegaram até Cícero. Ele, no plenário, como V. Exª, e sem filosofia de vida; os jovens militares, corajosos das batalhas, mas temerosos da vida. Que seria a vida, se eles iam perder a força, que era necessária para vencer? E Cícero, como Antonio Carlos Magalhães, disse: Não! Vocês vão ganhar experiência. Também fui como vocês; fui militar, herói de guerra, e aqui trago a experiência, para melhorar a Itália e Roma, fazer leis boas e justas.

Mas, querida Senadora Serys Slhessarenko, tem-se que entender as coisas. V. Exª é Professora e do PT. Já o filósofo disse, Senador Leonel Pavan: o homem é um animal sociável, que passou a viver em sociedade, em comunidades, em cidades. Os gregos, antes de Cristo. E se buscaram formas de governo, muitas. Havia os absolutistas, esses que acompanharam o PT, de Cuba, dos países absolutistas. O Zé Maligno foi lá e chorou, por quê? Que negócio é esse de homem andar chorando? Eu nunca chorei. Só com o Senador Antonio Carlos Magalhães o admito, na perda do filho. Mas vai lá chorar no ombro de Fidel Castro? Eu, como médico e psicólogo, vi que o homem estava mal-intencionado, que era maligno o Zé Maligno que está aí. Denunciei daqui.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas o povo, vendo esses governos absolutistas, Senador Arthur Virgílio, foi às ruas decepcionado - como está agora, nas ruas do Brasil, frustrado, enganado, sem esperança, afogado no mar de corrupção. O povo foi às ruas e gritou: liberdade, igualdade e fraternidade. Nasceu o governo do povo, pelo povo e para o povo.

Aqui, no Brasil, ocorreu o mesmo, com Ulysses. Eu represento o PMDB autêntico; eu o lidero. Nesta Casa, há o PMDB do Senador Ney Suassuna e o PMDB autêntico, que lidero, porque nossos princípios são a ética, a grandeza partidária, o sacrifício dos mortos: de Ulysses Guimarães, de Teotônio Vilela*, de Juscelino Kubitscheck, de Tancredo Neves. Venham os mortos, que eu posso representá-los.

Ulysses Guimarães disse: “ouça a voz rouca das ruas”. Eu ouço. Não ouço os cofres dos palácios, do bancos e das vantagens dos DAS, das propinas e das negociações; ouço a voz da vergonha. Entendemos, então, que nasceu a democracia, que não tem nada a ver com o PT, Senador Romeu Tuma. Nada, nada, nada! Nem a redemocratização. A redemocratização é nossa, dos autênticos do PMDB. Aqui, Marcos Freire, Lysâneas Maciel, Freitas Nobre, Teotônio Vilela, com seu estoicismo. É nossa!

Eu, muito jovem, na minha Parnaíba. Conquistamos a primeira Prefeitura do MDB, no inicio dos anos 70, contra a ditadura. Essa é a história. Agora, não admito. Olhem o que o Zé Maligno queria: cooptar, comprar o grande MDB. Eu, não, quero que esse PT exista, para enfrentá-lo de peito aberto, frontalmente. Eu entendo, não são os vendilhões do PMDB que entendem, os abutres. Nós, que falamos, os da rua, queremos e defendemos aqui a participação democrática.

Senador Valdir Raupp, atentai bem, pensai, acreditai e mudai! Venha para cá, para o PMDB autêntico. Ulysses, em 1974, enfrentou Geisel sem chances, para que nascesse a redemocratização. Isso aconteceu em 1974; em 2005, vamos ser cooptados, comprados?

O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Concede-me um aparte, nobre Senador?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Dou tudo. Não quero aparte de V. Exª; quero V. Exª integralmente para o PMDB autêntico, da luta. Queremos o PT, o PFL, o PSDB. A democracia só será forte, se houver Partido forte.

Quando começamos aqui, Senador Arthur Virgílio, a ordem era cubanizar. Aqui éramos eu, Leonel Pavan com a bengala, Antero Paes Barros, Efraim Morais, Arthur Virgílio, combatendo o que queria implantar um só Partido. E nós estamos aqui.

(O Sr. Presidente faz soar a campanhia.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, eu pediria dez mais cinco. E depois há a generosidade de São Paulo.

Concedo o aparte ao Senador Arthur Virgílio, Parlamentar que tem a grandeza de continuar o trabalho de seu pai, que lutou contra a ditadura nesta Casa e que foi cassado.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Eu pediria que os apartes fossem rápidos, para não comprometer o tempo dos demais oradores.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Mão Santa, serei bastante breve. Até acho que homem emocionado chora sim, mas o choro do ex-Ministro a que se refere V. Exª foi, por coincidência e ironia perversas, mais ou menos na mesma época em que o regime ditatorial - para mim, hoje assassino - de Fidel Castro executou sumariamente, sem direito de defesa, aqueles rapazes que tentaram fugir de Cuba, para irem para Miami. Ou seja, não eram nem conspiradores contra o regime. Eram pessoas que, pura e simplesmente, queriam deixar o regime em paz e ir embora dele e que foram executadas sumariamente. Esse choro não foi pelos assassinados, pelos mortos pelo regime ditatorial, e o abraço foi em solidariedade ao ditador. Isso é lamentável. Já tive minhas quimeras em relação a Cuba e, hoje, tenho profunda aversão pelo regime que está posto lá, profunda aversão! Não dá para pactuar com nada que signifique desrespeito aos direitos fundamentais da pessoa humana. Parabéns a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a V. Exª pelo aparte e o incorporo ao meu pronunciamento.

Ouço um aparte do extraordinário homem público Senador Valdir Raupp. Convido-o para, conosco, neste momento do PMDB, ajudar os autênticos a superarem os moderados. Houve isso aqui na redemocratização.

O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Nobre Senador Mão Santa, somos todos autênticos. Estou no PMDB há 25 anos. Fui eleito cinco vezes pelo PMDB. Sempre votei nos candidatos do PMDB à presidência da República. Votei em Ulysses Guimarães, para quem fiz campanha e dez comícios em meu Estado, quando foi candidato à Presidência da República pelo PMDB e teve apenas 5% de votos no País, mas, em meu estado, houve cidades em que ele ganhou. Na eleição do Quércia, mesmo sabendo que era difícil, o apoiamos para Presidente da República. Na última eleição, votei, no primeiro e no segundo turnos, em Serra. Por que votei em Serra e fiz campanha para ele? Porque, em sua chapa, estava nossa companheira do PMDB, Rita Camata, esposa do nosso irmão Senador Gerson Camata. Autêntico é votar sempre nos candidatos do PMDB. Não é por que estou votando favoravelmente a alguns projetos do Governo Lula que não posso ser mais autêntico no PMDB, nobre Senador Mão Santa. Quero continuar sendo autêntico, votando com minha consciência nos projetos para o País. Nunca votei no Lula. Não tenho medo de falar que nunca votei no Presidente Lula, porque sempre que o Lula disputou eleição, o PMDB tinha candidato à Presidência da República ou candidato à Vice-Presidência da República. Se, na próxima eleição, o PMDB tiver candidato à Presidência da República e o Lula for candidato à reeleição, votarei no candidato do PMDB e trabalharei novamente para ele. Não posso permitir, com todo respeito que tenho a V. Exª, que não me considere como um autêntico do PMDB. Sempre fui e sempre serei autêntico. Obrigado, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço. Nunca tinha tido réplica, mas agora terá. Autênticos existem. O próprio Ulysses Guimarães disputou. Ele tinha combinado que faria a campanha para florescer a democracia e não viria. Então, na eleição do colégio eleitoral, que tinha 406 brasileiros - havia menos Deputados e menos Senadores -, 300 votos foram para o Geisel; 70, para Ulysses; e 26 autênticos votaram em branco, porque ele não cumpriu o compromisso. Era para não vir no dia da eleição, para não haver homenagem ao Geisel. Por isso, os outros representantes votaram em branco. Foi esse o resultado. Cito alguns desses autênticos: Lysâneas Maciel, Marco Maciel, Fernando Lira, Francisco Pinto, Teotônio Vilela e muitos outros. Isso é histórico. Estou dando andamento, daí querer recrutar o nome de V. Exª, porque faremos um bloco que já existiu. Ele teve 26 votos do PMDB em 1974.

Que votei no Lula, votei. Eu acredito em Deus. Senador Marco Maciel, acredito no amor, no estudo e no trabalho. Foi isso que me trouxe até aqui. Mas, Carreiro, eu vi que Satanás existe. Eu não acreditava, não, mas passei a acreditar ultimamente, por quê? Na primeira vez, eu não votei no Lula; na segunda, eu não votei; na terceira, eu não votei; e na quarta, Satanás me tentou e eu votei. Votei porque fui afastado do combate e o candidato natural havia chegado a me convidar para ser o seu Vice-Presidente. E o PMDB foi cooptado e nós estamos aqui.

Senador, eu queria apenas citar Ortega y Gasset. Senador Valdir Raupp. Ortega y Gasset disse que “o homem é o homem e suas circunstâncias”. Naquelas circunstâncias, eu votei.

Agora, eu sou médico, Senador Arthur Virgílio. Há muitos e muitos anos, no começo do mandato, quando se votava a reforma perversa do servidor público, que, depois, minimizaram com a PEC Paralela, eu disse daqui: três coisas o homem só deve fazer uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT.

Mas eu quero lembrar uma verdade médica, agora, Senador Leonel Pavan: aprendi em Medicina, Senador Arthur Virgílio, arrependimento não mata, porque se arrependimento matasse eu já estava morto, porque votei no Lula.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/07/2005 - Página 25760