Discurso durante a 112ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a cultura da soja no Brasil. Proposta ao Presidente Lula de implantação no país de programa de leite produzido da soja.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Considerações sobre a cultura da soja no Brasil. Proposta ao Presidente Lula de implantação no país de programa de leite produzido da soja.
Publicação
Publicação no DSF de 19/07/2005 - Página 24748
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, AUSENCIA, SOJA, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE.
  • APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, CRIAÇÃO, PROGRAMA NACIONAL, LEITE, SOJA, SEMELHANÇA, PROGRAMA, JOSE SARNEY, EX GOVERNADOR.
  • ANALISE, PROGRAMA NACIONAL, LEITE, FARINHA, SOJA, AUSENCIA, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, BENEFICIO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, INFERIORIDADE, PREÇO, DEMONSTRAÇÃO, RENDIMENTO, PRODUTO ALIMENTICIO.
  • SOLICITAÇÃO, EMPENHO, PRESIDENTE, SENADO, CONCLAMAÇÃO, SENADOR, ADESÃO, PROPOSTA, ORADOR.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta segunda-feira em que as comissões parlamentares de inquérito ainda não estão funcionando - o País inteiro está esperando para saber o que vai acontecer -, mudo um pouco o tom da conversar aqui em nosso Senado. Gostaria de trazer à consideração dos brasileiros e dos meus companheiros algo de que o Brasil não se está dando conta e que, no entanto, estamos cedendo aos outros povos: a cultura da soja.

Em nossa colonização não entrou a soja, mas o feijão, a farinha de mandioca, o arroz e outros - esses são os alimentos da nossa população carente. A soja não faz parte desse conjunto de alimentos. Porém, se pegarmos os livros de história, vamos chegar à conclusão de que a soja salvou milhares de gerações há dois, três, quatro mil anos.

Estamos vendendo quarenta milhões de toneladas de soja. Poderíamos, quem sabe, fazer um “Programa Nacional do Leite de Soja”. Por quê? Porque o Presidente Sarney, quando era Governador, fez um programa belíssimo, aliás, de uma profundidade da qual pouca gente se deu conta. À época, eu estava no Piauí - lembro-me bem, eu era Governador - e vi a efetividade daquele programa do leite, que atendeu as famílias carentes.

A minha proposta difere um pouco daquela implementada por José Sarney. O ex-Presidente comprava o leite e mandava distribuí-lo mediante uma espécie de tíquete. Minha proposta é mais ou menos assim, mas por que não extrair o leite da soja? É fácil.

A propósito, vamos lembrar que o Presidente Figueiredo deu um exemplo nacional. Falou-se na “vaca mecânica” e trouxeram um copo de leite para que ele experimentasse. Ele pegou aquele copo e, diante das câmeras, cuspiu e disse: “Este leite é horrível”. É claro que, de lá para cá, a tecnologia mudou: é simples, um choque térmico, que é uma das técnicas de hoje, e alguma coisa mais, e o leite não tem o gosto que se fala. Pelo contrário: é saboroso e, além disso, é duas vezes mais nutritivo do que o leite de vaca.

Preparei em casa e trouxe, porque sei que a TV Senado está no Brasil todo: este leite aqui é muito bom, não tem gosto ruim, não é preciso misturá-lo a nada. Um quilo de soja dá oito litros deste leite. Se eu comprar um quilo de soja por um real, terei oito litros de leite por um real. É muito barato!

Vamos agora a uns números bem maiores. Vamos dar uma sugestão ao Presidente Lula: vamos criar um programa do leite que atenda milhões de brasileiros. Suponhamos que eu apanhe, por exemplo, 300 mil toneladas de soja. Estamos exportando 40 milhões, e os povos asiáticos que compram o produto estão alimentando seus povos. Ninguém se iluda pensando que eles estão alimentando apenas frangos, porcos ou vacas leiteiras com soja: seguramente alimentam também a população carente. Da soja se tira o leite e a carne. Olhem aqui a carne de soja! Não é a que se encontra no supermercado não. Isto aqui é coisa muito melhor: fiz em casa, conheço a tecnologia adequada e usei pequenos aparelhos, mas isso pode ser feito industrialmente.

Vamos aos números porque o tempo é curto e eu quero é levantar a questão. Tendo-se em mente que cada quilo rende oito litros, trezentas mil toneladas de soja rendem 2,4 bilhões de litros de leite de soja. Além disso, pode-se obter outros produtos a partir do resíduo da extração do leite. Tomem como exemplo esses 300 gramas de soja que trouxe - descascada, tirei a casca e, tirando a casca, muda muito a figura. Existe maneira técnica de tirar facilmente a casca de soja. De 300 gramas de soja, tirei dois litros e 600 gramas de farinha. O resíduo podemos chamar de carne de soja.

Querem ver o que fiz com a carne de soja? Imaginem uma família com isto aqui: cem gramas é um pequeno bife deste aqui, é um hambúrguer. Há aqui quatro bifes, mas eu poderia ter feito seis - o resto eu trouxe para mostrar qual é o aspecto desse resíduo. De 300 gramas eu faço seis bifes para uma família e, além dos dois litros de leite de soja, posso apanhar o resto e fazer pão de soja para uma família de cinco pessoas: um copo pela manhã para as crianças que ainda não estão na escola, no pré-escolar - e que não tomam o café - e também para o menino de sete anos que vai para a escola, que, na maioria das vezes, sai em jejum de casa, sendo sua primeira refeição a merenda. Quem estiver me ouvindo, que conteste esses números, porque, no meu Estado, sei que é assim. Em várias famílias carentes, a primeira refeição que o menino tem é quando chega na escola, às 10 horas, pois saiu de casa em jejum.

No entanto, com esse programa, esse menino não sai em jejum, toma um copo de leite de soja e come um pão de soja. E o que não está na escola? Esse tem a alimentação garantida; e a família, na hora do almoço, tem o hambúrguer. Um bife de 100 gramas de soja para uma pessoa alimenta mais do que um bife de 100 gramas de carne, pois é proteína pura. E isso pode ser constatado consultando os compêndios daqueles que estudam a soja e sabem que ela é um alimento extraordinário, tendo salvado gerações e gerações.

Essa seria a minha proposta. O Governo não gastaria dinheiro. Não vamos propor verba, não vamos dar nada gratuitamente como o Fome Zero. E vamos ver por quê. Trezentas mil toneladas de soja. O Governo compra a tonelada a R$800. Gastou, portanto, R$240 milhões. Entrega, então, essa soja às usinas - naturalmente vai haver um programa, e elas vão se preparar para isso. As usinas, por sua vez, vão receber R$100 por tonelada para extrair o leite e esse farelo que estou chamando de carne de soja. Cem reais por tonelada, seguramente as empresas vão querer.

O Governo, então, gastou R$300 milhões mais R$30 milhões, porque são 300 mil toneladas a R$100. Ou seja, o gasto do Governo é de R$330 milhões. Mas recebe 2,4 bilhões de litros de soja. Se o Governo vender o litro do leite de soja a R$0,15, já vai obter R$360 milhões com essa venda. Isso significa que ele recuperou o que gastou, pois vende - não dá - para a população carente, por intermédio das suas organizações, um litro de leite de soja a R$0,15. 

E quem pode pagar R$0,15 por litro de leite? A família mais pobre pode comprar dois litros. Serão R$0,30 por dia, o que dará R$9 por mês. E esse bagaço que estou chamando de farelo da soja, o Governo daria de graça para as famílias fazerem esse hambúrguer que está aqui. Isso é bom demais!

Fiz em casa para mostrar que é possível. Por que o Brasil não faz? Vamos fazer o programa do leite de soja ao invés de exportar toda a nossa soja. Tenho certeza de que essa é a primeira vez que se trata desse assunto aqui. E qual será a repercussão? Vou me mexer para ver qual será a primeira usina, no meu Estado do Piauí, que se prontificará para montarmos esse programa para 300 mil famílias, porque o programa de 300 mil toneladas atende a quatro milhões de famílias, o que abrangeria, por exemplo, o Estado do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco; Bahia já é bem maior.

E, repito, com esse programa o Governo não gasta nada, porque, como estou dizendo, ele vende o litro do leite de soja para a família carente por R$0,15. Então, não temos que tirar verba daqui e dali. Basta ter competência e criatividade. Vamos fazer o programa do leite de soja, porque os que estão comprando a nossa soja estão fazendo isto: alimentando as suas populações carentes.

Creio que levantei uma questão e quero fazer um apelo: Presidente, enquanto as CPIs separam tudo o que está ruim e os culpados são punidos - eu digo mais uma vez -, assuma o comando! Convoque as pessoas. Aqui está um programa, Presidente. Se desejar, sento-me à mesa com companheiros nossos que são tão competentes ou mais do que eu - pois muitos são ex-governadores - e vamos fazer um programa útil à população carente, porque há 50 milhões de brasileiros, é o que se fala, vivendo abaixo da linha de pobreza, vivendo praticamente na miséria.

Esse programa pode tirar 50 milhões de brasileiros da miséria, porque esses brasileiros podem gastar R$9 por mês para comprar o leite e ganham de graça a carne de soja.

Sr Presidente, creio que encerrei o que tinha a dizer...

Com o maior prazer, meu caro...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - V. Exª ainda tem três minutos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Eu terei o maior prazer...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Não, S. Exª, o Senador Arthur Virgílio, não pediu um aparte.

Mas se V. Exª permitir, gostaria de relatar rapidamente que, no sábado, estive na cidade de Caldas Novas a convite da Prefeita, Drª Magda Mofatto, que foi Vereadora, Deputada Estadual e hoje é Prefeita. S. Exª fez questão que eu visitasse uma feira industrial da cidade, da região. E o principal estande tratava exatamente da agregação de valores à soja - o leite de soja, leite com sabores. Fiquei encantado, e V. Exª, por coincidência, traz a essa tribuna, hoje, a importância dessa transformação. Com a queda dos valores no mercado internacional, provavelmente teremos prejuízo com a venda de grãos. Mas, se atendermos a população carente... E o leite de soja faz bem, Senador Alberto Silva.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Com um milhão de toneladas, Sr. Presidente, alimentaremos 40 milhões de brasileiros.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/07/2005 - Página 24748