Discurso durante a 114ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a atual crise política no país. Defesa da utilização da soja no combate à fome.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. POLITICA SOCIAL.:
  • Comentários sobre a atual crise política no país. Defesa da utilização da soja no combate à fome.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 20/07/2005 - Página 24866
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SUGESTÃO, MEMBROS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL, UTILIZAÇÃO, DOCUMENTO, ACAREAÇÃO, RESPONSAVEL, DEPOIMENTO, OBTENÇÃO, PROVA, VERDADE, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • REGISTRO, MANUTENÇÃO, APOIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, NOMEAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO.
  • DEFESA, UTILIZAÇÃO, SOJA, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, BENEFICIO, SAUDE, REDUÇÃO, GASTOS PUBLICOS, APRESENTAÇÃO, DADOS.
  • REGISTRO, PROPOSTA, ORADOR, INVESTIMENTO, RESTAURAÇÃO, RODOVIA, PRODUÇÃO, Biodiesel, LEITE, SOJA, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou perplexo ao assomar a esta tribuna, perplexo porque se não falar no que está acontecendo... Tenho falado em biodiesel, tenho falado nas possibilidades de alimentação do povo, mas, se não entrar na discussão do que preocupa este País, eu me consideraria omisso e não quero ser omisso, não vou ser omisso.

Tenho observado que, claro, está havendo realmente algo que nunca aconteceu no País. De todos os lados, surgem denúncias de toda natureza, e as comissões de investigação, todas instaladas, com seus membros trabalhando até altas horas da noite, recebem um volume enorme de documentos. Mas sou engenheiro, não sou advogado, não entendo muito como deve ser conduzida uma inquirição numa comissão de inquérito. Se eu fosse advogado, eu diria que ali há um engano. Todos os membros que constituem a Comissão começam a fazer perguntas às pessoas que estão sendo investigadas, e as pessoas simplesmente respondem ou não respondem. Surgem o tempo inteiro perguntas que parecem quase inócuas.

Se eu fosse advogado, eu aconselharia os membros da Comissão a fazer uma coisa muito mais importante, que aliás já estão fazendo. Procurem ter em mão as provas e, na hora em que alguém estiver mentindo, como estamos ouvindo - a imprensa toda cuida disso, e todo mundo diz, neste Plenário, quem falou, quem não falou, quem disse, quem não disse -, façam uma acareação entre aqueles que estão mentindo. Suponho que um advogado recomendaria isso. Façam uma acareação entre eles com documentos na mão, para apressar a solução, porque o povo está esperando o resultado.

Existem quatro comissões. Elas chegarão ao fim? Perguntando daquela maneira, como estamos assistindo, não chegarão a nenhum lugar, suponho eu, com a experiência de engenheiro, em primeiro lugar, com o desconhecimento em leis, porque não sou advogado. Mas, se fosse, eu proporia documentos na mão e uma acareação entre os que estão mentindo. Aí, creio que se chegaria mais depressa ao resultado que o povo está esperando.

Essa é a minha intervenção a respeito do drama que está ocorrendo neste País, e não poderia ficar omisso, porque fui Governador duas vezes, Prefeito duas vezes, Deputado Federal, segundo mandato como Senador. Assistindo a tudo o que ocorreu neste País, eu não poderia ficar indiferente ao que se discute. O meu desejo é que se apure rapidamente e que não se estiquem essas comissões por seis meses, porque o País não pode parar.

Agora, paro de falar sobre o que estou falando, sobre o que todos estão querendo que aconteça, um resultado, e volto...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Alberto Silva, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Eu pediria, meu caro, que seja bem rápido, porque o meu tempo já está reduzido. Eu estava em uma lista...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas vai ser uma grande colaboração. Eu o assisto desde 1948. V. Exª enfrentou muitas fases políticas: na democracia, na ditadura, suicídio do Vargas. Na ditadura do regime militar, foi uma bênção para o Piauí V. Exª como Governador do Estado e em outros cargos federais. Permita-me. Todo o País, eu mesmo vi e senti, pois estava no Piauí, entusiasmado com as suas idéias. No biodiesel, V. Exª foi um ícone e agora na alimentação de soja. V. Exª é - e aí foi um acerto do Presidente Lula - conselheiro da República. V. Exª, que talvez seja o mais experiente, o que tem uma vida pública maior, reúna e aconselhe o Presidente da República. Senador Alberto Silva, vim do Piauí e vi o povo da nossa Parnaíba. Os aposentados me disseram: “Senador Mão Santa, está chegando a hora dos verdinhos”. Estão desejando os verdinhos, que são os militares. V. Exª, como conselheiro da República, talvez o mais experiente, deve reunir e mostrar o quadro que atravessamos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado, Senador. Eu ia falando isso. Como já entrei e dei a minha opinião sobre como as Comissões devem fazer, volto ao meu Partido. Afinal, o PMDB tomou uma posição clara, definitiva, de apoio ao Governo do Presidente Lula, antes de acontecer tudo isso. Mas, durante o período em que aconteceu, o meu Partido não recuou no apoio ao que nós chamamos de governabilidade. Vinte Senadores e pouco mais de cinqüenta Deputados do meu Partido assinaram o apoio ao Presidente, ao Governo do Presidente, à governabilidade. Agora o Partido indicou e o Presidente nomeou três Ministros que, na minha opinião e de todos, são sérios, competentes, capazes, assumem as suas Pastas e, naturalmente, vão partir, daqui para frente, propondo soluções do nosso Partido, do nosso programa para o desenvolvimento do País. Isso é o que esperamos e é o que vai acontecer.

Entretanto, durante tudo isso que está ocorrendo, eu me reporto, por exemplo, ao fato de que houve algo no Brasil como aconteceu lá em Londres: explodiram não sei quantos carros do metrô, morreram dezenas de pessoas e, no entanto, o Governo inglês se manteve calmo, a população esperando o resultado das pesquisas para saber quem explodiu, mas o País não deixou de trabalhar. Isso é um exemplo fantástico para o mundo.

Então, agora, por que é que eu falei em biodiesel, por que eu falei em fome? Porque o Brasil que está nos ouvindo através dessas emissoras espera duas coisas: que se apure quem são os responsáveis e os punam. A Comissão tem esse dever. Deve acelerar para não esticar isso com aquelas perguntas que não levam a nenhum lugar. Repito, se eu fosse advogado, arranjaria os documentos e faria a acareação entre os que estão mentindo. Aí saberíamos já a verdade. Seria muito mais rápido.

Mas voltemos ao povo. O povo brasileiro ouve falar que a economia vai bem e que os números apresentados pelo Ministro Palocci são os melhores - já ultrapassamos a casa dos R$100 bilhões. Mas o nosso Senador Pedro Simon, com a sua experiência vivida, já tendo passado, também como eu, por duas ou três vezes por esta Casa, disse que 50 milhões de brasileiros estão vivendo abaixo da linha de pobreza. Então, é miséria!

Por isso, ontem eu trouxe aqui seis bifes de soja, um litro de leite de soja e mais a farinha de soja. Disse que nós podemos alimentar, por exemplo, as crianças de zero a seis anos, que, pela legislação brasileira, estão fora do contexto da educação. E sabem por quê? Porque aqui as crianças só têm merenda quando completam sete anos e entram na rede escolar. E os meninos de zero a seis anos? Eles não têm merenda nem escola. E nós vamos fazer o quê?

Por isso, ontem, eu pensei: se exportamos 40 milhões de toneladas de soja em grãos - creio que os países que estão importando essa soja não vão transformá-la em alimento para frangos, ou seja, para o consumo animal ou para o leite ou a carne. Seguramente, dois terços desse produto importado vai alimentar as famílias dos povos que compram a nossa soja. Tenho certeza disto: que a soja talvez seja o alimento mais rico produzido na natureza. Salvou dezenas e centenas de civilizações ao longo da história. E nós, o maior produtor de soja do mundo hoje, exportamos a nossa soja. Por que não ficar com um milhão de toneladas aqui?

E, como o tempo é curto e a campainha já tocou, deixo para outro dia. Mas, ontem mostrei que, se eu tiver um quilo de soja, tenho oito litros de leite. E o leite de soja vale muito mais do que o leite de vaca.

Termino, Srª Presidente, como fiquei na fila, atendendo a todo mundo, pediria que me desse alguns minutos só para concluir.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Estão concedidos, pela sua espera, Senador Alberto Silva, mais cinco minutos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Fico grato a isso, seguramente. Mas, queria apenas fazer essa comparação. Vejam bem, o Ministro Patrus Ananias, se não me engano, declarou que já conseguiu colocar o Programa Bolsa Família para 10 milhões de famílias brasileiras. Na verdade, é um auxilio, é um dinheiro que se dá para ajudar a família que está desempregada. E, quem sabe, com esse dinheiro, ela talvez não compre o alimento das crianças, de zero a seis anos, tenho certeza disso, porque o leite é caro, custa entre R$1,50 e R$1,60. A carne não é barata, o feijão, ainda, ainda, mas, uma família que não tem emprego dificilmente sobrevive. Quando falei na soja, é porque a soja é barata. Um quilo de soja dá oito litros de leite e sobram seiscentos gramas que dão seis bifes de carne de soja de cem gramas. Se uma pessoa adulta ou pequena comer um bife de soja de cem gramas por dia e beber um copo de leite de soja, estará alimentada tanto quanto se comesse feijão, arroz ou muito mais. O que eu propus é que se faça isso para o Brasil todo.

            E ainda disse mais. Vou concluir com esses números. Como a TV Senado transmite para o Brasil inteiro, e até para o mundo, vou citar um número aqui. Um milhão de toneladas de soja transformada em bife de soja e leite de soja alimenta cinqüenta milhões de famílias brasileiras. E as crianças de zero a seis anos não ficarão sem o café da manhã. E os meninos de sete anos, das famílias carentes, que saem de casa, a primeira refeição delas, por incrível que pareça, é a merenda escolar. Eles saem em jejum de casa. Isso nós não podemos aceitar.

E, em nome do meu Partido e como programa dele, eu lanço o Leite de Soja para Todos, como o Senador José Sarney fez o Programa do Leite para Todos. Podemos conseguir? Podemos. Vou atrás dos Ministérios adequados e farei uma proposta. Depois, trago à consideração dos meus Pares.

            Enquanto se julgam os culpados naquelas Comissões, não paremos o País. E, com relação ao Presidente, a recomendação do nosso companheiro Mão Santa, tudo bem. Mas, o Conselho da República se reúne quando convocado pelo Presidente. Então, se ainda não fomos convocados, apenas diria: o meu Partido confia no Governo do Presidente, e temos a obrigação de apresentar propostas válidas. Eu tenho três: a primeira é o reparo das estradas, sobre o qual estou com um documento pronto, que farei chegar ao Palácio, ao Presidente Lula, em meu nome e no do meu Partido; a segunda, um programa do biodiesel que atende ao plantador de mamona, o que significa dar emprego no campo; a terceira, o leite a partir da soja, ou seja, comida.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador, fui prefeitinho; não fui prefeitão, como V. Exª, melhor do que eu, foi da minha cidade, mas fiz um serviço social, um programa com esse leite de soja, que tem um sabor ruim. V. Exª deve lembrar-se de João Batista Figueiredo. Naquela época nós o fazíamos com banana, com bananada. Vi uma criança, um rapazinho tomar nove copos de bananada com leite de soja.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Eu respondo, Senador Mão Santa. A tecnologia de hoje não é aquela do tempo do Presidente Figueiredo. O leite de soja que eu trouxe ontem fiz em casa. Eu tenho a tecnologia, a indústria brasileira a tem. O leite de soja é tão bom quanto qualquer outro produto, quanto qualquer suco que se vende no supermercado. Ontem eu o trouxe aqui. É um leite que não tem um sabor ruim e que leva um choque térmico; o restante da tecnologia não ensino aqui, porque muita gente já sabe. Oportunamente, direi como se faz leite de soja, melhor do qualquer outro suco e muito mais nutritivo.

            Agradeço a tolerância da Presidente e deixo no ar três programas: o reparo das estradas, imediatamente; o programa do biodiesel, dando trabalho no campo; e a proposta “leite para todos”. Como fez Sarney com o leite de gado, faremos com o leite de soja, já que somos o maior produtor de soja do mundo.

Não exportemos somente grãos; façamos com que a soja fique aqui e alimente os 50 milhões que vivem abaixo da zona de pobreza.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/07/2005 - Página 24866