Discurso durante a 114ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários à entrevista do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedida em Paris a uma TV Francesa. Casos de corrupção no Governo Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários à entrevista do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedida em Paris a uma TV Francesa. Casos de corrupção no Governo Lula.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 20/07/2005 - Página 24877
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, VINCULAÇÃO, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • CRITICA, CONCESSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENTREVISTA, EMISSORA, TELEVISÃO, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Rodolpho Tourinho, que preside esta sessão, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, evidentemente temos que ser otimistas.

Entendo que Juscelino Kubitschek, escolhido recentemente, quando se comemoravam os quinhentos anos do Brasil, o mais importante brasileiro - e teve seu mandato de Senador cassado, simbolizando as crises que sucederam -, deixou um ensinamento ao País: “É melhor sermos otimistas”.

O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errando, Senador Eduardo Suplicy. Então, somos otimistas.

Nós somos cristãos. V. Exª também é cristão. É católico?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sou.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Houve uma crise enorme, um período negro. Quem não se lembra de César - não é o nosso César - Bórgia, da Itália, filho do Papa Alexandre VI? Era comum bispos e papas terem filhos, família, riqueza. Vendiam lugares no céu. A nossa Igreja vivia aquele período negro. Com a Reforma, de Lutero, ela melhorou e surgiram outros, com o mesmo sentido, a busca de Cristo, que disse “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida”.

Estamos nesta situação, mas está na hora de uma reforma, Senador Suplicy. A primeira reforma, antes da que estão falando agora, indevida no momento - e a Bíblia diz “sob os céus há um tempo determinado para cada propósito” -, é a reforma dos homens, a reforma do ser humano, a busca da verdade, das virtudes. Não adiantam modelos políticos enquanto os homens permanecem pecadores sem virtudes. Não adiantam!

Essa reforma, Senador Paulo Paim, deve ser feita agora. Este País ainda está na paz, porque há uma história que permitiu a este Senado se ver como o via o próprio D. Pedro I, que antes de entrar aqui tirava a sua coroa. Ele via aqui um Poder Moderador. E o foi. Em 181 anos, Senador Luiz Otávio, malis minus, o mal menor, não vou dizer que eles acertaram sempre, mas, pelo menos, evitaram uma guerra civil. Essa paz da nossa história deve-se ao Poder Moderador do Senado. E o País aceita essa cultura e essa história, a paz que ainda está aí, essa cultura de moderação que tem sido o Senado.

Os Parlamentares tiveram a coragem de abandonar suas férias, que nós chamamos de recesso, para ficar em vigília pela Pátria, para nos inspirarmos e trazermos uma luz para o drama que atravessamos. Talvez o pior de nossa história. Desde as capitanias hereditárias, os governos gerais, os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, as repúblicas, as ditaduras, esta situação tem sido a mais vergonhosa.

Senador Eduardo Suplicy, V. Exª busca a verdade. Quis Deus que estivessem aqui V. Exª e o Senador Paulo Paim, símbolos que o PT tem da sua razão de ser. Que o PT tenha pureza e seja forte. Eu o quero forte. Quero todos os partidos fortes. Só existe democracia com partido forte. Nós não desejamos isso que está acontecendo.

No entanto, Senador Luiz Otávio, queremos enfrentar o PT de peito aberto, frontalmente, pela democracia. Advertimos o PT: não admitimos o Partido cooptar, corromper o PMDB em busca de apoio. Se uns foram corrompidos, nós estamos aqui e não fomos. Isso nós não admitimos. Nós temos história e luta, inspirados em Ulysses, em Teotônio, em Tancredo Neves e no próprio Juscelino. Nós não admitiremos. Por isso, nós fomos o primeiro a nos rebelar, porque antevíamos isso. Eu fui prefeitinho e Governador, e percebi que as coisas não estavam tomando os bons rumos.

Mas digo ao Presidente Lula: “Ó, Presidente Lula, eu que votei em Vossa Excelência, medite”. Eu sei o que é isso. Como o Getúlio sofreu! Ó, bela Senadora Ana Júlia Carepa! Havia o DIP, que era um Departamento que enganava o Getúlio. Falavam: “Tudo vai bem, não tem nada”. Como há agora os Goebbels Mendonça da vida. Todas as porcarias surgiram da publicidade, a maioria delas, enganando.

Eu aprendi, Senador Suplicy, lá no Piauí, que é mais fácil se tapar o sol com a peneira do que se esconder a verdade. E a verdade está aí e é podre. Foi preciso um homem vir e dizer: “Getúlio, será mentira a Viúva? Serão mentiras o órfão, os assassinatos, o mar de lama?”

Senador, poucos dias depois desse pronunciamento, Getúlio não resistiu à verdade. E a verdade está aí. Serão mentiras, meu amigo Lula, os Waldomiros, os Cachoeiras, os Delúbios, os Silvios, os Valérios? E Santo André, Senador Suplicy? O homem da cueca e não sei mais o quê. Quanta podridão! Há umas verdades de que ninguém pode fugir: os princípios.

Administração é uma ciência e é velha, veio de um engenheiro dirigindo uma fábrica, Henry Fayol. Daí nasceram todas as escolas de administração do mundo. E ele falava em unidade de comando e direção. Sua Excelência não foi essa unidade, ninguém sabia de quem seria o comando.

Planejar, disciplinar, coordenar e orientar, mas e o controle? Cabe ao administrador.

A entrevista na França foi um desastre. O órgão de comunicação poderoso facilitou. O Presidente talvez não estivesse emocionalmente preparado.

Senador Suplicy, seria o mesmo que se V. Exª fosse Presidente da Câmara e fosse acusado de algum ato ruim e péssimo de corrupção e dissesse: “É teve, mas a Câmara...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, V. Exª, como líder maior do PMDB, pelo corporativismo do nosso Partido, pode me conceder mais cinco minutos.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Permitirei já.

Então, acusado, saiu dizendo que os outros também faziam. Essa do Presidente da República de defender o seu Partido dizendo que todos faziam foi uma infelicidade. Não fazem. Eu não fiz, Senhor Presidente Lula.

Para se fazer oposição tem que se ter coragem, Paulo Paim, Luiz Otávio, e vida limpa. E eu fui o primeiro aqui. O primeiro. Está no Hino do Piauí:

Piauí, terra querida,

Filha do sol do Equador,

Pertencem-te a nossa vida,

Nosso sonho, nosso amor!

(...) O primeiro que luta é o Piauí.

E eu cheguei e disse que tinha votado no PT. Mas, na reforma da Previdência, eu bati. Tentaram me corromper. E eu bati pelo amor à verdade e pelo compromisso de representar bem o Piauí e o povo do Brasil. E eu disse que há coisas só se fazem uma vez na vida: nascer, votar no PT. Eu já tinha feito. E aí está.

Senador Suplicy, é um prazer ouvi-lo. V. Exª representa a pureza, o trabalho, a dignidade e tenho certeza de que o povo de São Paulo haverá de fazer V. Exª voltar a esta Casa para recuperar o prestígio do PT.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Mão Santa, avalio que seja muito importante o apelo de V. Exª no sentido de que o Congresso Nacional precisa se empenhar para trazer a verdade inteira à tona. Também esta foi a palavra do Presidente da República na entrevista que V. Exª critica. Mas gostaria, até aproveitando esta oportunidade, de fazer uma recomendação ao Presidente Lula: que leve em conta as suas observações. Notei que, de grande parte da imprensa brasileira, todos estão se ressentindo do fato de o Presidente Lula ter concedido a entrevista ao canal francês. Tudo bem, Sua Excelência estava na França e deu uma entrevista exclusiva ao canal francês, que foi comprada e exibida pela Rede Globo. Mas o que se percebeu? Que os jornalistas brasileiros, diante do quadro que se apresenta, gostariam de formular perguntas e aprofundar os esclarecimentos. Naquela entrevista o próprio Presidente Lula mencionou a importância de sempre se falar a verdade, porque, quando uma pessoa fala uma mentira, depois começa a ter que contar histórias e outras histórias, como ocorreu com o Sr. Adalberto, que foi encontrado com R$ 200 mil e US$ 100 mil e até agora não trouxe a verdade inteiramente à tona. Então, como o propósito do Presidente Lula é contribuir para que a verdade inteira venha à tona, a minha sugestão ao Presidente é que, o quanto antes, marque uma entrevista coletiva na circunstância presente e responda a toda e qualquer pergunta da imprensa brasileira. É a recomendação que formulo, levando em conta as suas ponderações.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É sábia e que Sua Excelência atenda, porque o Presidente foi muito infeliz.

Seria o mesmo, Ana Júlia Carepa, de eu ser acusado de ter roubado do Governador do Piauí e dizer: “É, eu roubei, mas o Tarso Jereissati roubou, o Garibaldi roubou, o Mariano roubou, a Roseana na época, todos que foram Governadores.” Não, aquilo foi um momento de infelicidade, que Sua Excelência tem que se desculpar; perdão, estresse, nervosismo.

Sua Excelência disse que o PT tinha feito isso e tal...que negócio é esse? Não tive, não. Pode buscar. Não tem essa enrolada, não. Não existe, não. Assuma a culpa! É o PT, ele que se defenda e não separe esse negócio de joio do trigo, não. Separe o joio do joio...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ...para deixar mulheres, Senadoras, encantadoras, como a Carepa, V. Exª, Paulo Paim...

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR. Fazendo soar a campainha.) - V. Exª tem mais um minuto, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Tem que separar. Ele não tem que meter os outros nessa história, não.

Temos 62 anos e não era isso o que estava ocorrendo.

Nesses dois minutos, serei breve, um quadro vale por dez mil palavras. Senador Suplicy, atentai bem, a mídia de hoje, que reúne todos os jornais, e os Senadores recebem só os assuntos políticos. Não vou cansá-los. A manchete do jornal O Globo diz: “Valério conseguiu R$45 milhões para PT com garantia de estatais.” Estou lendo apenas a capa do jornal, cuja matéria ocupa quase que o jornal inteiro.

A Folha de S. Paulo, que todos têm, diz: “Oposição pede bloqueio de verba do PT.”

O terceiro jornal, O Estado de S. Paulo, diz: “Petistas querem expulsão de Delúbio e o calote das dívidas.”

A manchete mais importante do Jornal do Brasil: “PT corre o risco de ir à falência.”

O Correio Braziliense diz: “Cinco contratos ligam o Governo à operação ‘Paraguai’”. “Depoimento sigiloso de Marcos Valério (...) Dirceu sabia de tudo.”

Outra manchete, da Gazeta Mercantil: “Estabilidade com cheiro de estagnação.” O Brasil está parado.

A manchete principal do jornal o Estado de Minas: “Valério revela a Procurador que Dirceu sabia dos empréstimos.”

            Diário de S.Paulo: “Sílvio e Delúbio irão depor sob proteção”. O último jornal, Correio da Bahia: “Mensalão. Ex-dirigentes do PT vão depor com ‘habeas corpus’”.

Capa da revista Veja, referindo-se ao Presidente Lula: “Quanto ele sabia”. “O PT em frangalhos”, capa da Época, e o belo José Dirceu; “A CPI pega fogo”, IstoÉ. “As mais valiosas marcas do Brasil” - só os banqueiros ganharam dinheiro -, revista IstoÉ Dinheiro; “O medo da reeleição” Carta Capital.

Esperamos que esta Casa, Senador Leite, como ocorreu ao longo de 181 anos, tire o Brasil dessa crise. Senador Augusto Botelho, minima de malis, pelo menos evitou-se a guerra civil.

Abraham Lincoln disse: “Não faça nada contra a opinião pública que malogra. Tudo com ela tem êxito”. Juscelino Kubitschek dizia: “Como vai o monstro?”, referindo-se ao povo. Quero lhe dizer, Senador Suplicy, que tenho visto o monstro. Ele está enfurecido, está desesperançoso.

Não podemos, neste mês, deixar a Pátria sem uma solução de verdade, sem a busca da verdade e sem punição. Caso contrário, este País sofrerá a primeira guerra civil. Não é justo. Não é justo que a situação permaneça como está: o povo sem esperança, sem emprego, sem teto, sem casa. E, aqui, um mar de corrupção. É preciso lembrar que Getúlio Vargas, por muito, muito menos, teve a coragem de se sacrificar para salvaguardar a democracia.

Presidente Lula: pense, reze, tenha coragem, faça suas orações para que Deus ilumine o Senado, a fim de que ele encontre uma solução de paz para este País.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/07/2005 - Página 24877