Discurso durante a 123ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Questionamentos da população de Florianópolis com relação aos resultados das CPMIs em curso no Congresso Nacional. Participação de S.Exa. em reunião na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Questionamentos da população de Florianópolis com relação aos resultados das CPMIs em curso no Congresso Nacional. Participação de S.Exa. em reunião na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2005 - Página 26117
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • VISITA, ORADOR, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), RECEBIMENTO, QUESTIONAMENTO, POPULAÇÃO, RESULTADO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), MESADA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, POSSIBILIDADE, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, INVESTIGAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, APREENSÃO, PERDA, REALIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATUALIDADE.
  • ANALISE, NECESSIDADE, APERFEIÇOAMENTO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • PARTICIPAÇÃO, REUNIÃO, FEDERAÇÃO, INDUSTRIA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), DEFESA, PRESERVAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, APOIO, POLITICA SOCIAL, GOVERNO FEDERAL, ELOGIO, CRIAÇÃO, EMPREGO, AUMENTO, EXPORTAÇÃO.
  • DEFESA, DEFINIÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, PAUTA, INTERESSE NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA, REFORMULAÇÃO, LEGISLAÇÃO, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de quase dois meses de trabalho praticamente ininterrupto desde que tivemos as primeiras denúncias que, depois, desencadearam a abertura e o início dos trabalhos da CPMI dos Correios - agora já estamos com outras CPIs em andamento aqui, no Congresso Nacional, como a da compra de votos, do mensalão e também a dos bingos -, esse final de semana foi o primeiro, nesses quase dois meses, em que tive a oportunidade de descansar efetivamente. Aproveitei o final de semana que me deram para fazer, talvez, uma das coisas de que mais gosto naquela ilha maravilhosa em que moro, Florianópolis: circular e andar, conversar com as pessoas, jogar conversa fora, sentar no mercado público ao meio-dia de um belíssimo dia de sol e poder ter contato com as pessoas que circulam, que por ali transitam, que vão ali ter um momento de desconcentração. Fiz isso, nesse final de semana, na minha querida Florianópolis.

E nessa minha passagem, que acabou não sendo descontraída porque as pessoas estavam ansiosas por saber as coisas. Ouvi várias perguntas, algumas das quais extremamente repetitivas, que considero uma boa medida da angústia das pessoas neste momento do nosso País. Talvez a que mais tenha escutado tenha sido: “Em que isso tudo vai dar?” As pessoas estão curiosas por sabê-lo. A outra questão que as pessoas perguntaram: “Vão ser punidos mesmo? Vai haver punição?” Várias pessoas também me perguntaram: “E os de antes? Como ficam? Isso não é novidade. Já aconteceu outras vezes”. Perguntaram também: “E o que está dando certo continuará ou vamos jogar tudo no ralo, vamos deixar tudo se perder?”

Essas foram, fundamentalmente, as perguntas que tive oportunidade de escutar na convivência um pouco mais descontraída desse final de semana com a população da minha querida Florianópolis.

Registro que essas quatro angústias são as angústias de todos aqueles que estão comprometidos em encontrar, na situação em que o País se encontra nos dias de hoje, o rumo de como é que vamos transitar por este período, de tal forma que o resultado disso tudo seja efetivamente uma mudança de qualidade na administração pública, de bloqueio dos mecanismos de corrupção que efetivamente existem na máquina pública, para que possamos ter transformações de fundo não só no Executivo e no Legislativo, mas também no Judiciário, que embora passe meio despercebido nesse processo todo, tem um papel relevante no saneamento e de depuração da sociedade brasileira. E que possamos, além de dar esses saltos de qualidade em nível da estrutura do Estado brasileiro, realizar e efetivar as punições daquilo que realmente for comprovado e que não entremos numa lógica, como já tive a oportunidade de dizer, de prazo de validade. Ou seja, que não se mude o foco para que essa questão, que está entranhada na máquina pública da corrupção, não seja esquecida, não ocorra uma verdadeira amnésia de algumas personalidades ao fazerem suas declarações e, assim, possamos preservar o que está dando certo.

Como essas preocupações estão na mente e no coração dos que estão envolvidos e imbuídos em encontrar alternativas, na sexta-feira, apesar de terem me dado três dias para descansar, fui trabalhar um pouco. Participei de uma reunião importante, a última da administração do Presidente da Federação das Indústrias do meu Estado, Dr. Xavier Faraco, com quem mantive uma boa parceria ao longo do período em que esteve à frente da Presidência por conta de várias demandas que tivemos em Santa Catarina ligadas à infra-estrutura do nosso Estado.

Fui, então, à reunião da última diretoria, comandada pelo Dr. Xavier Faraco, para dar um abraço de solidariedade e até de agradecimento por tudo que tivemos condições de realizar em conjunto, no interesse de Santa Catarina. Mas ele acabou me segurando e participei da última reunião administrativa comandada pelo Dr. Faraco. E foi muito interessante debater com todo o PIB de Santa Catarina, pois estavam lá todos os segmentos econômicos do nosso Estado. A maior parte dos empresários catarinenses têm a preocupação, que já tinha sido demonstrada inclusive ao longo dos últimos dias, de que essa retomada de crescimento, essa situação criada no nosso País, onde estamos tendo indicadores e mudanças econômicas significativas, enfim que tudo pudesse ser preservado, mantido, para que a crise política passe de tal forma que não se jogue, como se costuma dizer, a água junto com a criança na hora de esvaziar a bacia.

Então, o debate feito com o setor empresarial de Santa Catarina me foi muito elucidativo sob a ótica de como o empresariado estava vendo, no meu Estado, toda essa questão.

E para nós é muito importante registrar, apesar das declarações de vira-casaca - toda semana tem declarações bombásticas, contundentes -, que aquilo que tivemos condição de fazer neste País, que o Presidente Lula teve condição de fazer, vem da lógica dos compromissos. Vem a Vox Populi e apresenta um resultado de uma pesquisa em que 60% da população reconhece, na política social do Governo Lula, exatamente o compromisso do Governo Lula com a inclusão social. Porque, se assim não fosse, a população não reconheceria, comparativamente com o Governo que antecedeu o Governo Lula, essa diferença significativa de 60% da população reconhecendo como eficiente, como uma política propositiva, inclusive da população de mais baixa renda - 60% comparativamente com 15% que do Governo anterior.

Houve crescimento, geração de emprego - e os números são extremamente contundentes - com toda a situação que vivenciamos e da forma como recebemos o País, com a pequeníssima margem de manobra para colocar novamente este País para crescer, já que estava comprometido com o pagamento da dívida, com o pagamento dos compromissos anteriores, dos contratos, inclusive a própria administração da inflação com os contratos nos preços administrados das tarifas públicas, isso tudo criando uma grande dificuldade.

Houve a retomada significativa do crescimento, com a geração de emprego, cujo índice já ultrapassou a faixa de três milhões de empregos com carteira assinada em dois anos e meio, um número significativamente maior que os empregos criados no Governo anterior. Isso tudo é uma demonstração de compromissos efetivamente apresentados por este Governo para com aqueles que o apoiaram, os 53 milhões de votos que lhe deram o direito de governar este País.

Portanto, para nós, é muito importante, neste momento, vivenciar uma situação em que temos que administrar, sim, a crise política aí posta. Temos que encontrar uma alternativa de saída dessa crise política, fazendo mudanças significativas na estrutura da máquina pública, na eliminação dos ralos por onde se esvaem os recursos públicos, pela corrupção ou por mecanismos em benefício de grupos econômicos ao invés do interesse da maioria da população, mas com a convicção de que temos que fazer isso, punindo os responsáveis, sem jogar fora, sem eliminar os avanços que a população enxerga e a população vivencia no nosso País.

Procurar o bom caminho é procurar o caminho da responsabilidade de cada um, e a responsabilidade de cada um está posta neste momento quando se trabalha uma agenda mínima de votações aqui no Congresso Nacional. Considero da maior importância e da maior relevância neste momento que possamos, nessa retomada dos trabalhos legislativos, a partir de amanhã, no Senado e também na Câmara, votar as matérias que podem dar sustentabilidade ao crescimento retomado, com uma agilidade que a população está a esperar de todos nós.

Em um discurso anterior ao meu, disseram que não se sentariam à mesa para negociar, mas que estariam aqui para cumprir com a responsabilidade de votar as matérias relevantes.

Entendo que seria bom conversar; conversar nunca é demais. Mas, mesmo não querendo conversar, precisamos ter o compromisso de fazer as votações importantes que estão pautadas no Congresso Nacional, como, por exemplo, terminar a reforma tributária. Precisamos fazer, de uma vez por todas, a unificação do ICMS, abrindo caminho para que possamos ter a simplificação tributária. Isso é de fundamental importância. Votar o projeto da pré-empresa, Senador Paulo Paim, que pode trazer para a formalidade milhares de trabalhadores e de pequenos empresários, que só estão aguardando uma diminuição da carga tributária, uma diminuição da burocracia para virem para a formalidade, colocando dentro da visibilidade o seu empreendimento, registrando os seus empregados.

Há ainda a reformulação necessária da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que já foi protocolada na Câmara dos Deputados. Ou seja: temos uma lista de matérias, Senador Sérgio Guerra, importantíssimas para serem votadas e essas matérias são da nossa responsabilidade.

Portanto, mesmo que setores da Oposição não queiram conversar - e têm todo o direito -, a agenda de votação deste Congresso Nacional é de responsabilidade nossa, sim. E seremos cobrados pela população se, ao longo desse processo de crise política, não dermos respostas à altura para manutenção - volto a dizer - daquilo que está dando certo, daquilo que se tem desenvolvido no cotidiano das pessoas e que foi implementado por uma série de ações do Governo. Afinal, as coisas não acontecem de graça. Não se gerariam três milhões de empregos da noite para o dia, se não tivesse havido ação de Governo; não se bateria recorde sobre recorde nas exportações se não houvesse agenda propositiva do Governo. Apesar de todas as críticas que possam ser feitas cotidianamente aqui, no plenário, as exportações cresceram significativamente pela abertura de novos mercados e de novos produtos que a ação do Governo Lula, de forma muito especial, e até de alguns Ministros que se transformaram em verdadeiros mascates juntamente com o Presidente, abriu em nível de mercados internacionais.

São essas as questões de fundamental importância que precisamos trazer nesse processo de equação da crise política, das investigações e das punições.

E é por isso que, neste fim de semana, apesar de ter sido profundamente questionada em relação ao tipo de lazer que resolvi ter, qual seja o contato com a população nas ruas, percebi em todos que encontrei, em primeiro lugar, uma preocupação muito grande, sim, com os destinos do nosso País, com o que está acontecendo, com os rumos que vamos dar a essa situação, mas uma preocupação, eu diria, até carinhosa comigo e com todos aqueles que estão preocupados...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - (...) em sair dessa crise, aproveitando o que toda crise tem de produtiva, que é fazer com que nos viremos, nos mexamos e busquemos a melhor alternativa para superar o impasse.

E qual seria a melhor alternativa para superar o impasse de todas as pessoas? Elas me perguntavam, mas a resposta era dada pelas próprias pessoas com quem conversei. A resposta de cada uma era uma só: “Investiguem, punam, não joguem o que está dando certo fora e dêem conta de fazer com que essa crise resulte em um Brasil melhor, menos corrupto e a serviço da maioria da população”.

Essa foi a mensagem que a pessoas me passaram, de forma muito afetiva e muito tranqüila.

Quero dizer...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Sérgio Guerra. PSDB - PE. Fazendo soar a campainha.) - Concedo mais um minuto a V. Exª.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Preciso de menos de um minuto.

Eu me dei o melhor lazer neste final de semana. Foi um lazer de muita conversa e de muita interação com a minha querida Ilha de Florianópolis, com os seus moradores, que me deram o termômetro certo do que precisamos fazer neste momento, Senador Sérgio Guerra.

Agradeço a V. Exª a gentileza de ter me concedido mais uns minutinhos e registro que nada melhor do que estar em sintonia com o que a população quer. E ela quer, indiscutivelmente, o melhor para o nosso País e que nós tenhamos capacidade política de fazer.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2005 - Página 26117