Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a Medida Provisória que trata do salário mínimo.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a Medida Provisória que trata do salário mínimo.
Aparteantes
César Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2005 - Página 27067
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, OPOSIÇÃO, VALOR, AUMENTO, SALARIO MINIMO.
  • REGISTRO, SUPERIORIDADE, LUCRO, BANCO PARTICULAR, AUMENTO, SALARIO, JUDICIARIO, COMPARAÇÃO, INFERIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, PREVISÃO, PLANO PLURIANUAL (PPA).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, Senadoras e Senadores da Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, ontem entramos quase pela madrugada adentro tentando fazer com que este Governo aceitasse conceder R$10,00 de aumento ao salário mínimo.

Senador Gerson Camata, dezenas de argumentações, de sugestões em prol de R$10,00 para o salário mínimo, para o trabalho do trabalhador. Senador Aelton Freitas - que representa José Alencar, uma esperança neste Brasil -, R$10,00! Atentai bem, Senador Gerson Camata, R$10,00! Eu me recordo, e talvez tenha sido por isso que votei em Lula. Não votei na primeira vez, não votei na segunda, não votei na terceira, Senador Papaléo Paes, mas parece que o cão me tentou e votei na quarta. Vi o Lula na televisão e acredito na palavra. Esse negócio de mentira aprendi com meu pai. Ele pouco fala do pai dele; quando o fez, falou mal. Do meu, não, falo bem: ele está no céu.

Senador Papaléo, meu pai ensinava que quem mente rouba. Eu tenho medo de mentira. Senador Gerson Camata, pois quem mente rouba - esse era o ensinamento de meu pai a nós. Vi o Lula dizer que o trabalhador merecia, no fim de semana, Senador Tião Viana, tomar uma cervejinha. Ó Lula, sei que você gosta mesmo é da cachaça e tem preferência pela Mangueira, do Piauí - pelo menos, essa é uma ajuda que vai dar ao Piauí, porque até hoje não ajudou o Estado em nada. Lembro que ele dizia que o trabalhador tem direito de, no fim de semana, com a sua mulherzinha, com a Adalgizinha, tomar uma cervejinha. Achei aquilo bacana, bacana. Eu gosto, tomo umas. Senador Leonel Pavan, o Senador Papaléo Paes tem que ser levado a Camboriú; S. Exª não bebe, é dessa religião aí... Vi Cristo multiplicar o vinho, eu acho.

Pois estamos pedindo os R$10,00, Senador Sérgio Guerra, aqueles com os quais Lula disse, de Pernambuco, que o trabalhador merecia, no fim de semana, tomar uma cervejinha; os R$10,00 que ontem aqui discutimos, implorando e ajoelhando para os insensíveis do PT. Mas eles são sensíveis... Não estudaram...

Senador César Borges, disse aqui, no começo, que isso não ia dar certo. Senador Sérgio Guerra, um dos Senadores mais experientes, disse-me: Mão Santa, isso são os desempregados e famintos que estão aí. Vão acabar com o País, mas nós estamos aqui para salvá-lo.

Dos R$10,00 não vamos abrir mão, porque o Lula disse que o trabalhador, o operário, merece, aos sábados, tomar uma cervejinha com a mulher, “uma gelada”. Pois é, Lula. Lula, aquela palavra, Lula! Quem mente rouba, Lula, assim ensinou meu pai.

Vossa Excelência tem de mandar o seu PT baixar a bola, para acabar hoje, logo cedo. Ontem ficamos até meia-noite aqui e não conseguimos os R$10,00, da cervejinha que o Lula prometia. Os R$10,00 têm de sair hoje e por quê? Porque esta Casa não é do PT, nunca foi.

O PT não tem nada a ver com a democracia. Esse Zé Maligno era metido a bravo, e eu aqui adverti: “Lula, acaba essa pelada e vamos trabalhar! Lembra-se, Senador Papaléo Paes? Os peladeiros estão é dando trabalho no campo da paz, que, ao invés de atenderem aos pobres, estão atendendo a eles aí. Acabe com esse negócio de núcleo duro. O que é duro na cabeça é o osso. Vocês não pensam; precisam é pensar, raciocinar. Há oxigênio na massa encefálica. Não é duro, não! É burro!

Eu dizia: “de verdade, em verdade, eu vou digo”. Isso é como doença. Eu sou médico, assim como os Senadores Papaléo Paes e Tião Viana. A doença está lá naquele livro de patologia, do William Boyd. Ela na pára. Ela vai para a cura ou para a morte. A corrupção é uma doença da sociedade. Ela também não parou; nasceu, em Santo André, alimentada pelo Zé Maligno e se expandiu em todo o País.

É, mas os R$10,00 saem, da cervejinha. Não vamos deixar o nosso Presidente ficar como mentiroso, porque eu ouvi ele dizendo que queria a cervejinha do sábado. E quem mente rouba, Lula! Nós ainda o estamos blindando aqui, dizendo que é bonzinho, porque a nossa missão é entender as coisas. Somos pais da Pátria. Ó, Lula, Moisés estava aperreado, e Deus lhe disse para buscar os mais velhos e experimentados, que eles lhe ajudarão com o fardo. Daí nasceu a idéia de Senado, Lula. Obedeça logo e dê os R$10,00. Você está dando muito pouco. E inspire-se no baiano, Rui Barbosa: “a primazia tem que ser dada ao trabalho e ao trabalhador”. Ele vem antes, ele é quem faz a riqueza. O Lula deu primazia aos banqueiros.

Eu era menino e ouvia: Raul Brunini apresenta Carlos Lacerda. E ele trazia os documentos. Olha a falta de vergonha, Lula! “Bradesco lucra R$2,6 bilhões, 110% a mais que em 2004”. Por que você não dá, Vossa Excelência, Lulinha, paz, amor. Tenha juízo. Não é assim, paz e amor, Lula. Aprenda as coisas; está no Livro de Deus: primeiro, a justiça - ô, Camata, atentai bem, despertai! Da justiça é que vem a paz; da paz é que vem a alegria. Então, é isso: vamos fazer justiça. Os bancos ganham 110% de aumento, Papaléo, e como ao aposentado não pode dar R$10,00? E a vergonha, Lula? Você não tem coragem nada! Você se agachou para o Poder Judiciário; estão ganhando R$24.500,00. Aprenda a matemática elementar de Trajano, Lula, do Dr. Trajano.

Ô, Camata. Ontem, ouvi que, em uma sociedade organizada e civilizada, é dez vezes a diferença do maior para o menor salário. Se o maior que ele deu para os magistrados é R$24.500,00, eu acho que essa gente toda está com medo de processo.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vai já.

Então, dez vezes menor, V. Exª, que é matemático e engenheiro - porque a matemática do Palocci é pequena, é de médico, igual à minha. Então, dez vezes menor o salário, deveria ser R$2.450,00, para ter esse salário gigantesco do Poder Judiciário. Esse ele deu. Por que não dá R$10,00 para o salário mínimo? Olha, o Figueiredo foi muito mais gente do que você, Lula. Foram perguntar: e o salário mínimo, se fosse você, o que você fazia? “Eu dou um tiro na cabeça.” Só fez dizer. Seria bom que o Lula desse mesmo.

Pois está aí. Esta é a história: R$2,6 bilhões. E olhem a imoralidade: um banco ganhou R$2,6 bilhões! Lula, remaneja; vai gastar no País todo R$1,3 bilhão, em obras, em infra-estrutura, saneamento, estrada, fossa, esgoto, água - a metade do que ganhou um banco. Aprendi no Livro de Deus que ninguém pode servir a dois senhores. Ou a Deus ou o diabo. E ele não está servindo ao trabalho e ao trabalhador; está servindo ao banqueiro. Só se fala em FMI, em Bird, em BID. É. Mas é o banquinho daqui, não são nem esses grandões aí, não; é o Bradesco. Ganhou, num ano, R$2,6 bilhões, 110%; depois, vem o Itaú. São só os bancos, só os bancos.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, investimentos federais.

Sr. Presidente, ainda tenho tempo, né? Ninguém pode negar à Bahia.

Os jornais informam que o Presidente Lula está remanejando obras para ver se consegue investir R$1,3 bilhão nesses meses que faltam para terminar o ano. O Plano Plurianual previu investimentos, em 2005, de R$2,87 bilhões, mas isso não vai acontecer. A lentidão dos gastos é algo assustador.

Por outro lado, hoje, o Bradesco anunciou um lucro de R$2,6 bilhões, só no primeiro semestre deste ano. Houve um crescimento de 110%. Esse é o maior resultado do sistema financeiro.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador Mão Santa, vou conceder mais dois minutos a V. Exª. Nós temos 31 oradores inscritos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Está na Bíblia. É preciso dar um aparte à Bahia e homenagear Rui Barbosa. Pelo art. 14, o representante dele, que é o Senador da Bahia, merece.

Esse é o maior resultado do sistema financeiro na história dos períodos.

Vamos mudar o nome do PT, já que o Partido está nessa confusão, para PB, Partido dos Banqueiros. O mais ridículo é ouvir o Presidente Lula dizer que as elites estão contra o seu Governo. Só se estivessem doidos, o que não estão.

Concedo um aparte à Bahia, em homenagem a Rui Barbosa, que tanto ensinou, e o Lula não aprendeu.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Mão Santa, V. Exª, como diz bem, foi prefeitinho do interior e governador do seu Estado, e aprendeu a ter essa sensibilidade em relação à população. É preciso manter as contas ajustadas, contas de qualquer órgão, seja das prefeituras, dos Estados ou do Governo Federal. No entanto, é necessário que se elejam as prioridades. V. Exª, quando governador e prefeitinho do interior, na sua cidade de Parnaíba, soube escolher prioridades e atender à população que o elegeu. No entanto, Lula nunca passou por isso. Lula nunca foi isso; nunca foi prefeito, nunca foi governador, nunca administrou absolutamente nada. Nós nem sabemos como ele viveu, quem o sustentou durante esse período todo. Ele era presidente do PT a soldo, pago pelo seu Partido. Era funcionário do PT para sobreviver e não tem essa sensibilidade, sensibilidade social para dar um aumento de salário mínimo, como V. Exª está dizendo, que sequer daria mais do que a cervejinha; e nem assim ele quer fazer com o trabalhador brasileiro. Parabenizo V. Exª pelo seu pronunciamento e pela sua sensibilidade.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo...

Sr. Presidente, espere aí, isso é como jogo de futebol: é preciso dar os descontos.

O intelectual da Casa é o Shakespeare; este livro é de 1846, aqui...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Um minuto improrrogável, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Aí é a ordem. Ainda tem esperança o PT. Está aí um homem bom... Nós queremos o PT forte, puro, honrado.

Mas diz o seguinte, aqui, queixando-se ao povo. Em 1846, já dizia: recebe dinheiro do banco, tem que passar quatro anos trabalhando. Então, nós estamos escravizados.

Mas, tenho ainda 30 segundos. Cristo fez o Pai Nosso em um minuto; Em 27 segundos, inspirado em Cristo e na CNBB; é o partido dos bispos, forte, igual ao PMDB... E o bispo disse assim: Lula, viaje menos, fale menos e trabalhe mais. E vamos juntos com Deus e o povo às novas eleições fazer alternância do poder...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) -...para trazermos prosperidade e felicidade ao povo do Brasil, mesmo sem som.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2005 - Página 27067