Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo de autoria da escritora Lya Luft, publicado na revista Veja desta semana, intitulado "A República do Rabo Preso". (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Comentários ao artigo de autoria da escritora Lya Luft, publicado na revista Veja desta semana, intitulado "A República do Rabo Preso". (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2005 - Página 27093
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, EXPLORAÇÃO, CLASSE POLITICA, IMPRENSA, CRISE, NATUREZA POLITICA, PAIS, PREJUIZO, POPULAÇÃO, INFERIORIDADE, ESCOLARIDADE, DEFESA, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste momento de grave crise que vive o País, melhor do que os discursos de políticos nem sempre sinceros que freqüentemente os proferem de maneira contundente, mas abusam dos maus exemplos, às vezes, melhor do que esses discursos, são os textos dos homens e das mulheres de letras. Eles, com sensibilidade e à distância, traduzem melhor do que nós, políticos, o sentimento nacional.

Vou ler para o Senado, e peço a inserção nos Anais, Sr. Presidente, do artigo publicado pela escritora Lya Luft, na revista Veja desta semana, intitulado “A República do rabo preso”:

Senhores, andamos falando demais, e mal. Usamos frivolamente termos perigosos e abusamos das palavras de respeito. Exageramos nos clichês e nos rótulos, geralmente burros e pobres, embora às vezes necessários - como tantas coisas pobres e burras que é preciso suportar neste mundo.

Usar o termo “elites” requer muito cuidado. É temerário empregá-lo como se falássemos de uma entidade abstrata, bicho-papão para assustar - não criancinhas, mas os tolos. Usamos a palavra sem sequer a definir direito. O conceito “elite” significa “o melhor, os melhores”, o que não envolve necessariamente dinheiro nem sede de poder, muito menos arrogância, mas decência, por exemplo. Honradez, pudor e consciência, por exemplo. Boa educação e cortesia também, não vamos esquecer. Nada disso é privilégio de ricos e poderosos.

O que deve nos assustar é o predomínio de um tipo de ralé: a da hipocrisia, da ambição e do cinismo, o que passa por cima do cadáver - não da mãe, mas do povo e da pátria. Nós, a gente brasileira, não somos mais tão bobos assim. Um populismo tardio e a velha demagogia barata ainda tentam seduzir o povo, fingindo que o protegem para melhor o explorar. Porém, acho que falas delirantes, acusações falsas e auto-elogios pueris enganarão cada vez menos os mais pobres e menos cultos, que merecem algo bem melhor. Talvez ainda os contaminem alguns conceitos superados, fazendo-os pensar que estão sendo ajudados, quando apenas os manipulam. Mas esta crise deve nos tornar mais lúcidos. Esperemos que sim.

Paira no ar uma - espero que passageira - sensação de que tudo poderá se resolver nos velhos moldes do grande PIP, o Partido do Interesse Próprio. Fala-se em tentar estabelecer pactos dos quais nós, comuns mortais, em outros tempos nada saberíamos. Mas hoje em dia, com políticos honrados, jornalistas íntegros e pessoas conhecidas ou anônimas avisando, ninguém mais vai poder dizer “Eu não sabia”. Por isso tenho esperança de que os atuais boatos de acordos e arranjos para que todo mundo se acomode e continue se locupletando em paz sejam apenas boatos.

Cautela, senhores: não se pode enganar muita gente por longo tempo com tamanha desfaçatez. Somos um país pouco desenvolvido, com muita gente ainda desinformada e por isso facilmente manobrada, mas somos um povo honrado. E os honrados podem se manifestar e agir na indignação da integridade - privilégio de poucos.

“Blindar” um tumor não ajuda na cura do corpo, ao contrário: é preciso refletir bem nisso. Que a dolorosa crise propicie uma grande mudança, servindo para crescimento e esclarecimento, novas tomadas de posição, e um recomeço positivo. Depende de cada um de nós. E, à medida que os crimes forem comprovados, que sejam varridos os elementos maus de todos os partidos, e eliminados de seus cargos os corruptos, os incompetentes e os omissos - que são seus cúmplices.

Caso o que deveria ser rigorosíssima investigação de dinheiros mal ganhos e mal aplicados (portanto de corrupção) acabe numa ciranda geral, em que os enganadores dançam segurando o rabo do vizinho, senhores, afundaremos todos juntos num mar morno e de odor suspeito. De lá não se retorna fácil.

Se a verdade não for perseguida e as conseqüências honestamente tiradas, vamos naufragar, sim: cúmplices do cinismo que vai recobrir esta boa terra - enquanto o povo trabalha com salários indecentes mas paga impostos, acredita em promessas mas morre nas filas, e nossos jovens deixam um país que não lhes dá estímulo, para eventualmente morrer de forma miserável em terra estrangeira. Não é hora de falar de esquerda, direita, centro, elite ou povão, termos caducos e mofados. Falemos da grande faxina moral, judicial e institucional que deve estar começando, sem a qual seremos meros sobreviventes. Todos nós, os enganados e os enganadores, seremos os humilhados habitantes da República dos Rabos Presos.

Se isso acontecer, condolências, senhores.

Espero que a classe política brasileira, a parte saudável, tenha a perfeita consciência do que está acontecendo neste País.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Jefferson, V. Exª me concede um aparte?

O SR. JEFFERSON PÉRES (PMDB - ES) - Pois não, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - A figura de V. Exª, um amante do Direito e da justiça, faz-me lembrar outro da democracia, Abraham Lincoln, que ela quis citar nesse grandioso trabalho. Dizia ele: “Poucos podem ser enganados por muito tempo, muitos podem ser enganados por pouco tempo, mas ninguém consegue enganar a todos o tempo todo”. Acabou a enganação. Agora é a hora da verdade. E V. Exª representa essa verdade. O próprio Cristo disse: eu sou o caminho, a verdade e a vida.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

Com o pronunciamento do representante do Piauí, encerro minha presença nesta tribuna, Senador Tião Viana.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2005 - Página 27093