Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações a respeito da crise política que reina no país. Novo valor para o salário mínimo.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL.:
  • Considerações a respeito da crise política que reina no país. Novo valor para o salário mínimo.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Mão Santa, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 17/08/2005 - Página 27744
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, CRISE, POLITICA NACIONAL, APREENSÃO, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, ARTICULAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DERRUBADA, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, APROVAÇÃO, SENADO, PROTESTO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, CONCLAMAÇÃO, DEPUTADO FEDERAL, TRAIÇÃO, POVO.
  • GRAVIDADE, AUMENTO, DESIGUALDADE SOCIAL, EXCESSO, LUCRO, BANCOS, EMPRESA, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, NECESSIDADE, MELHORIA, SALARIO, PREVENÇÃO, TENSÃO SOCIAL.
  • ANUNCIO, VISITA, ESTADO DA BAHIA (BA), PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREVISÃO, EXCESSO, PROMESSA.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez, ocupo esta tribuna para chamar a atenção do Governo, que não toma providência nenhuma quanto à moralidade pública.

O discurso do Presidente decepcionou até os seus correligionários. Creio que um homem como Eduardo Suplicy, por exemplo, deve estar pedindo um novo discurso do Presidente, em que diga as causas e cite os traidores do seu Partido.

Enquanto isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós estamos vivendo momentos não só de apreensão, momentos de desolação. O povo está desolado, o povo está sofrido, e o Presidente reúne Líderes para derrubar o salário mínimo aprovado por esta Casa, ou via Câmara ou, por meio de uma Medida Provisória, como disse o Secretário dele, Jaques Wagner, pensando iludir o trabalhador.

Mas o Brasil inteiro está vendo quem vai votar, e nós não vamos precisar fazer aqueles quadros que os nossos adversários faziam, apontando os que não votaram o salário mínimo com o Governo. Nós não vamos fazer essa prática porque o povo está amadurecido o bastante para saber, pelo painel, quais foram os traidores da vontade popular.

Enquanto não se discute para aumentar o salário de Ministros, de R$21.000,00 para R$24.000,00, o Governo não quer dar mais do que R$300,00 para uma família sobreviver. Governo cruel, Governo sem palavra, porque não cumpre a palavra da moralidade e nem cumpre a palavra do salário mínimo. Governo dos furtos multiplicados, Governo dos Marcos Valérios, Silvinhos e Delúbios. É este Governo que tem a coragem de procurar mobilizar Deputados de todos os Partidos com novas fórmulas que não sejam os mensalões, porque já estão desmoralizados. E muitos serão punidos por causa do mensalão.

Não sei com que artifício o Governo vai tentar comprar a consciência livre dos Parlamentares da Câmara. Sei, porém, Sr. Presidente, que aquele que votar contra o trabalhador ficará marcado para toda a vida, porque ele percebe o seu salário e tem muitas vantagens. Poucos são os que não recebem as vantagens. Na Câmara, nenhum, todos recebem as vantagens.

Enquanto isso, somas que vão a quase a R$40 mil não permitem, capitaneado pelo Sr. Severino Cavalcanti - Severino Cavalcanti! Eu repito esse nome para que os senhores não esqueçam essa figura tão “importante” da política brasileira. (Risos.) Severino Cavalcanti capitaneia os R$300,00 para bem servir ao seu patrão. Patrão temporário porque qualquer um que chegue lá será patrão de Severino.

Conseqüentemente, venho fazer o meu protesto contra o Presidente da Câmara estar arrebanhando Líderes ou mesmo Parlamentares, fazendo promessas, iludindo mais uma vez, mentindo sempre, para que votem contra o salário mínimo aqui aprovado de R$384,29.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com prazer, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Antonio Carlos, a vitória do salário mínimo é a continuação da corajosa luta que V. Exª começou aqui, com leis combatendo a pobreza e a desigualdade da distribuição de renda, que se acelera - cada vez os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres. E eu quero ensinar ao núcleo duro, e burro - não melhorou nada a substituição que houve. Fui prefeitinho e, no tempo da inflação, Senador Jefferson, eu ficava atualizando salário nas caladas da madrugada, todo mês, e com justiça. Eu não fazia atualização imoral como essa realizada no Brasil, que deu um bom aumento apenas ao Poder Judiciário: eles já estão esperando R$27 mil. Apenas isso garantiria um salário mínimo de R$2,7 mil, porque, numa sociedade civilizada, a relação entre o menor e o maior é de 10 vezes. O Suplicy diz que na Alemanha é de 7 vezes. Então, Senador Antonio Carlos, V. Exª teve essa coragem, e eu fiz isso mensalmente no período da inflação. Havia mês em que dava 80%, e era para todos. Às vezes, eu pensava que não conseguiria pagar. Mas o que estraga a Prefeitura não é isso, não; é corrupção. É isso. No mês seguinte, eu conseguia pagar a folha, porque aumentava o ICMS, aumentava o consumo dos funcionários. Então, aumentava a renda do Governo municipal e do Governo estadual, a arrecadação. Então, é uma falácia dizer que isso leva a Prefeitura à falência. O que acarreta a falência é esse mau exemplo de corrupção que está sendo dado no País.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Senador Mão Santa, V. Exª tem absoluta razão. Dos que querem a desigualdade salarial, que é terrível, os bancos têm um lucro de R$2,6 bilhões num semestre; a Vale do Rio Doce, que não paga imposto, porque é exportação, tem lucro de R$10 bilhões; a Gerdau, tem um lucro quase igual ao da Vale do Rio Doce. E, assim, uns ficam cada vez mais ricos e outros, cada vez mais pobres. Tenho autoridade porque há 10 anos luto por isso. Desde a posse do Fernando Henrique, lutei contra o Ministro José Serra, do Planejamento, e acabei vencendo para que fosse R$100,00 naquela ocasião. E continuo a minha luta, apoiado agora pelo Senado e pelos grandes Líderes desta Casa, certo de que a Câmara dos Deputados não vai trair os interesses da Nação. Chegou o momento da ruptura dessa questão salarial. Se não rompermos isso, aí sim, vão-se multiplicar os assaltos, os crimes, os furtos e tudo no Brasil. O Governo poderia gastar em salário mínimo o que vamos gastar em presídios. Os gastos extras com a própria Polícia Federal poderiam ser revertidos para o salário mínimo. O que gastaram agora com Marcos Valério, para comprar Parlamentares e outras figuras da República, seria o bastante para pagar o salário mínimo.

Não sei, Sr. Presidente, até que ponto vai a inconsciência do Presidente da República, que prometeu, na sua campanha, dobrar o salário mínimo. Nós não o estamos sequer dobrando, mas estamos chegando a um número menos infortunado; estamos chegando a um número mais decente, para que tenhamos coragem de olhar o trabalhador brasileiro.

Amanhã, o Presidente Lula estará na minha terra fazendo assentamentos para pessoas que não têm sequer a renda mínima pela qual luta o Senador Eduardo Suplicy. Sua Excelência fará discursos demagógicos, com certeza; mentirá, mais uma vez, à Nação; mentirá na minha terra, como mentiu na campanha, iludindo tantos e tantos, inclusive a mim próprio.

Por isso, Sr. Presidente, faço este pronunciamento. Concederei um aparte aos Senadores Eduardo Suplicy e Sibá Machado, se V. Exª permitir.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, V. Exª me permite fazer um aparte? Senador Antonio Carlos Magalhães, primeiramente, gostaria de transmitir que considero importante que o Presidente Lula complete o seu pronunciamento dado à Nação na última sexta-feira. Avalio que, como ele se disse traído e pediu desculpas à Nação, inclusive em nome do PT, por tudo aquilo que vem ocorrendo, cabe um esclarecimento maior, que ocorrerá - acredito - na hora em que o Presidente considerar adequada, até porque estamos completando o processo de averiguação, no qual Sua Excelência está muito interessado. Será natural que venhamos obter os esclarecimentos. Mas é muito relevante que saibamos dos fatos que o Presidente já conhece. Desde quando se iniciou o processo de apuração, ele teve a oportunidade de dialogar com inúmeras pessoas que, então, lhe transmitiram as informações das quais não tinha conhecimento. Com relação ao salário mínimo, tenho a convicção de que o Presidente Lula quer fazê-lo aumentar no limite daquilo que é possível e que está conforme a sua própria proposição de aumento do valor real. Mas acredito que a decisão encaminhada por ele foi responsável. Não terei agora a possibilidade, respeitando o direito de aparte que tenho, de desenvolver toda a relação que creio deva haver entre a garantia de uma renda básica de cidadania e o valor do salário mínimo. Espero ter a oportunidade de explicar-lhe em maior profundidade, mas estou convicto de que, para o presente estágio, a decisão sobre o valor do salário mínimo aqui proposta pelo Presidente é uma decisão que guarda responsabilidade com a possibilidade orçamentária, sobretudo com respeito aos seus impactos na Previdência.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Senador Suplicy, agradeço a V. Exª o aparte em que disse que o Presidente se “distraiu” no primeiro discurso. Ele está se distraindo muito, e por isso é que acontece tanta coisa ruim no Brasil.

E quanto à segunda parte, eu não estou na posição de V. Exª, que deveria estar aqui, no meu lugar, cobrando o salário mínimo, porque foi a palavra dele, não a minha. Quem falou que ia dobrar o salário mínimo foi o Presidente Lula; V. Exª não vai negar isso. Então, V. Exª quer dizer que ele não vai, sequer, cumprir a sua palavra.

Concedo o aparte ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Antonio Carlos, o respeito que temos por V. Exª é muito grande. Falando da preocupação de V. Exª, da indignação a respeito dos episódios que culminam com os trabalhos das CPIs, nós temos a dizer que a nossa indignação é em dobro. Por quê? Primeiro porque o processo de corrupção, no nosso entendimento, vem de muito longe. E a nossa segunda indignação é pelo fato de termos visto pessoas do PT ligadas a ela. Então, a nossa indignação é dupla. Quanto à situação do salário mínimo, concordo com V. Exª quando diz que, em seu discurso de campanha, o Presidente Lula disse que ia dobrar o valor nominal, o valor de compra do salário mínimo, em um período de 4 anos. Agora estamos vendo a situação do País quanto à possibilidade de se dar ou não o aumento do salário mínimo. O valor aprovado aqui, de R$384,00, pelo pouco que ouvi do IBGE, levaria à extinção, logo de início, 1,27 mil Municípios, porque a soma do PIB deles seria menos de 1%. Ou esses prefeitos todos estão inventando histórias, estão mentindo à Nação, ou, se isso é uma realidade, teríamos que repensar o tamanho da municipalidade brasileira e até de alguns Estados. Portanto, entre a angústia de ter ou não cumprido a meta de dobrar o salário mínimo e a responsabilidade administrativa do País de evitar que façamos aqui uma pirotecnia administrativa, concordo com a indignação de não se dobrar o salário mínimo, mas é melhor garantir a governabilidade e a saúde financeira do País. Contudo, felicito V. Exª pelas preocupações, que são justas.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Agradeço a V. Exª, que é hoje o verdadeiro líder do seu Partido. V. Exª, dia a dia, cresce na admiração dos seus Colegas; na sua Bancada, é a figura hoje de maior expressão. Por isso mesmo, fico feliz de receber um aparte de V. Exª.

Mas não concordo com seu aparte, porque ninguém ia falir, todos iam pagar e não ia acontecer coisa alguma. O Presidente usa esse artifício dos municípios como muitos aqui o usaram para reduzir o número de vereadores, o que não adiantou coisa alguma; ao contrário, esse número deve voltar, de acordo com o projeto que foi apresentado pelo Deputado Jairo Carneiro. E, realmente, não foi para Município algum diminuir sua renda: tiraram os vereadores e mantiveram a mesma renda. Logo, V. Exª vê que o seu Governo nunca se conduz com a “retilinidade”, que era indispensável à questão salarial do País.

Sr. Presidente, não abusarei da sua paciência. Quero agradecer-lhe a gentileza de me permitir falar.

Apelo mais uma vez para os Srs. Deputados no sentido de que sigam o antigo Paim, não o de hoje, mas o antigo Paim, que sempre lutou pelo melhor salário mínimo possível. Mas, coitado, foi obrigado a votar a abstenção na última vez, por causa da linha partidária.

Vamos marchar juntos com a minha tese de sempre: a tese do Senador Paulo Paim, que, desde Deputado, luta por um salário digno para os trabalhadores do Brasil.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/08/2005 - Página 27744