Discurso durante a 141ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração ao centenário de nascimento do escritor Érico Veríssimo.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração ao centenário de nascimento do escritor Érico Veríssimo.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2005 - Página 28906
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, ERICO VERISSIMO, ESCRITOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, OBRA LITERARIA.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Renan Calheiros, Presidente desta Casa, meio fora de protocolo, gostaria de começar agradecendo ao Senador Renan Calheiros, pois, numa sessão especial, normalmente fala um Senador de cada Partido. V. Sªs podem ver que houve uma disputa muito boa dentro do PT, e três petistas queriam usar da palavra. Falaram o Senador Eduardo Suplicy e a Senadora Serys Slhessarenko, e o Presidente permitiu que eu também falasse. Agradeço, também, ao Senador Pedro Simon, que propôs esta sessão, pela insistência ao dizer-me: “Paim, não abro mão de que você fale”. Também agradeço ao Senador Sérgio Zambiasi.

Cumprimento a Mesa, o Ministro Nelson Jobim, gaúcho, Presidente do Supremo Tribunal Federal; o Ministro Marcos Vilaça, do Tribunal de Contas da União; o nosso Vice-Governador do Estado, Sr. Antônio Hohlfeldt, o nosso também homenageado nesta manhã, Luis Fernando Verissimo; e o Sr. Evandro Kruel, Presidente da Fundação Erico Verissimo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. convidados, Srs. Embaixadores, Srs. Deputados, nosso Inocêncio Oliveira, representando a Presidência da Câmara dos Deputados, confesso a V. Exªs que pretendo ser muito rápido, mas tenho de demonstrar a minha enorme satisfação de participar desta homenagem, organizada pelo Senador Pedro Simon, ao grande, inesquecível e sempre presente entre nós Erico Verissimo.

Fiz questão de estar aqui. Hoje, eu tinha de estar num debate sobre o desemprego, mas a saudade de Verissimo está em todo o povo brasileiro. Por isso, nós todos estamos aqui.

Confesso também que, nos últimos dias, dediquei parte das minhas noites de insônia, pela crise que atravessa o nosso País, pela situação - podem crer - muito doída que atravessa o Partido dos Trabalhadores, para folhear alguns escritos de Erico, pois estava intimado a falar, pelo Senador Pedro Simon. Confesso a V. Exªs que, em certas horas, os ponteiros ousaram parar os minutos, e o brilho das estrelas, em parceria com a lua, adentrava as frestas da janela... Confesso também a este Plenário, sem vergonha alguma, que, quanto mais eu lia, era como se as minhas veias explodissem, prenunciando o desaguar da loucura, mas aquela loucura de Roterdã, a boa loucura, a loucura consciente, atrevo-me a dizer, a loucura de Erico Verissimo, a loucura de alguém que é eternamente universal.

Nesse momento, dei-me conta da força que existe e da magnífica realidade e experiência do que é ser um escritor. Um escritor que consegue fazer com que um menino do interior da Rússia, um professor italiano de uma conceituada universidade, um camponês mexicano, um estudante brasileiro, um cidadão africano, um parlamentar de algum país latino-americano tenham todos algo em comum.

Essa universalidade de Erico Verissimo nos dá esperança de que é possível ainda que os homens usem mais as palavras para se irmanarem em atos de solidariedade e amizade. Se os senhores que comandam as decisões mundiais lessem um pouco mais do Erico, do nosso Erico, com certeza, o mundo seria bem melhor.

Uma das qualidades de Erico, com a qual me identifico, e tenho a ousadia de dizer que tento copiar, é o idealismo e o humanismo. E tenho preferência por Saga, escrito em meados de 1940, baseado no diário de um ex-combatente da Brigada Internacional na guerra civil espanhola. E fiquei a me perguntar o que fez com que aqueles 16 brasileiros se apresentassem como voluntários para lutarem contra o fascismo de Franco. Só pode ser coisa de idealista em busca da liberdade, só pode ser coisa de homens como Erico.

E a liberdade sempre esteve junto às obras do nosso Erico. Yupanqui imortalizou “eu tenho uma irmã que se chama liberdade”. Que coisa linda esquecer a vida em busca de liberdade! Gracias, capitão Rodrigo Cambará.

E, como cúmplice da liberdade, Erico era um grande admirador de Albert Camus: “O escritor é a testemunha da liberdade”. Erico não hesitou em discordar abertamente, sempre que possível, dos responsáveis pela ditadura, recusando submeter qualquer escrito seu à censura prévia, porque “fazer isso seria uma triste forma de suicídio moral”.

Em pleno Governo Médici, declarava ele, numa entrevista ao Correio da Manhã (19/11/71): “No Brasil hoje em dia predomina uma atmosfera de medo. Amigos tenho, apolíticos, que temem falar em certos assuntos pelo telefone. Ora, nenhum governo sem contestação poderá manter-se em permanente renovação. O direito de criticar construtivamente deve ser mantido. A imprensa deve ser livre e responsável. É um erro funesto confundir crítica patriótica com subversão . Estamos correndo o risco de perder o hábito de pensar”.

Sr. Presidente, a obra de Erico Verissimo é de uma imensidão oceânica: O Tempo e o Vento, Incidente em Antares, Caminhos Cruzados, Clarissa, O Prisioneiro, Israel em Abril, Um Lugar ao Sol, e tantos outros.

Para terminar, arrisco, com um carinho todo especial a seus familiares que estão aqui e àqueles que já não estão. Se me dessem a oportunidade de ser um crítico de literatura e perpetuar nas páginas dos jornais, diria que a obra de Erico Verissimo é atemporal, perpassa os tempos, as terras e os idiomas, não tem estilo nem escola, simplesmente, como já disse o poeta, é como o canto dos pássaros, é eterno.

Quando eu estive em outro país, a Nicarágua, lembro-me que ouvi uma frase de um líder, com a qual vou terminar meu pronunciamento: “Quando estávamos no cárcere, alguém veio e disse-me que Carlos Fonseca havia morrido; eu respondi: Carlos Fonseca não morreu, porque as suas idéias, a sua conduta, os seus ideais estão sempre entre nós”.

E eu digo: Erico Verissimo não morreu! Erico estará para sempre junto de todos nós, pela sua conduta, pelas suas idéias e a forma de apontar um caminho novo para toda a humanidade.

Um abraço a todos. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2005 - Página 28906