Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a documento apresentado na CPMI dos Bingos a respeito do depoente Toninho da Barcelona.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Comentários a documento apresentado na CPMI dos Bingos a respeito do depoente Toninho da Barcelona.
Aparteantes
Ana Júlia Carepa.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2005 - Página 31502
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • LEITURA, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, TRECHO, DOCUMENTO, ESCRITURA PUBLICA, DECLARAÇÃO, APRESENTAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, REGISTRO, DIALOGO, ADVOGADO, ACUSADO, LAVAGEM DE DINHEIRO, TENTATIVA, CONTRAVENÇÃO.

           A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Sªs e Srs. Senadores que ainda se encontram nesta sessão, pedi a palavra para falar sobre um documento que foi apresentado à CPI dos Bingos, onde neste instante há a oitiva fechada do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona.

           Trata-se de uma escritura pública de declaração lavrada pelo Primeiro Tabelião de Notas de São Paulo. Juramentado, carimbado, reconhecido, é, portanto, um documento de fé pública extremamente importante.

           Quero ler alguns trechos do documento, porque, quando fiz um discurso há poucos dias, dizendo que, na crise política que estamos vivenciando, determinadas coisas já passaram de todos os limites, todos os limites, eu não imaginava chegar a esse tipo de passagem de limite. O caso é extremamente grave.

           Esta escritura de declaração pública foi feita pelo Sr. Marcelo Viana, brasileiro, solteiro, gerente administrativo - estão aqui todos os seus dados -, que de forma livre e espontânea, fez o registro, pediu que fossem registradas, para ter fé pública, as declarações.

           Ele declara “para os devidos fins e livre de qualquer constrangimento” que:

(...) no dia 18 de agosto de 2005, foi dar uma carona ao seu amigo RONALDO DE SÁ BATISTA ao escritório do advogado RICARDO HASSOM SAYEG, lá chegando, por volta das 15 horas. Quando ele se encontrava na sala de espera, adentrou SALVADOR CLARAMUNT, irmão de ANTONIO OLIVEIRA CLARAMUNT [o Toninho da Barcelona], pessoa para quem ele trabalhou por mais de 15 anos e hoje em dia é co-réu em processo criminal ao qual responde. Nessa oportunidade, Ronaldo havia sido chamado para conversar com o advogado RICARDO SAYEG, porque o seu cliente ANTONIO OLIVEIRA CLARAMUNT disse a ele que Ronaldo poderia saber de alguma coisa ligada às afirmações que esse, o Toninho, estava fazendo na imprensa. Considerando que o advogado RICARDO SAYEG havia ido com o jornalista da Veja POLICARPO JUNIOR até o Presídio de Avaré entrevistar ANTONIO CLARAMUNT [o Toninho da Barcelona], ele e Ronaldo permaneceram esperando na sala de espera do escritório até quase às 18h. Nesse horário, entrou na sala RICARDO SAYEG, seu pai e o jornalista Policarpo Junior, iniciando-se a seguinte conversa: SALVADOR: Ricardo, este aqui é o Marcelo, que foi condenado com o Toninho; RICARDO: Você tá condenado? 14 anos? Quantos anos você tem? Acabaram com a tua vida. A sua chance tá aqui. Este aqui é o repórter da Veja. Você trabalhou com o Toninho? Então, você pode confirmar algumas coisas que o Toninho disse para o repórter; MARCELO: se for algo que eu saiba, tudo bem; RICARDO: mostrou uma lista contendo diversas perguntas que já haviam sido feitas pelo repórter ao Toninho e respondidas por ele. O repórter dizia que queria ir embora e iria perder o vôo e MARCELO não sabia de nada. RICARDO disse ao repórter que mandaria um funcionário fazer o check-in no aeroporto, porque ele poderia ajudar muito e seria a sua grande chance. Diante da resistência do repórter, RICARDO disse que MARCELO era quem levava dinheiro no PT. As mesmas perguntas que eram feitas para MARCELO eram feitas para RONALDO, que se negava a respondê-las, pelo que continuou insistindo com MARCELO e a sua condenação pendente. RICARDO perguntou: Marcelo, você já levou dinheiro na Câmara dos Deputados? MARCELO: Sim; RICARDO: você levava dinheiro no gabinete do Deputado Devanir Ribeiro? Era para ele? MARCELO: levei no gabinete, mas para o Marcos [que é o filho do Devanir Ribeiro], nunca para o Deputado [aliás não é funcionário do Devanir]. RICARDO: qual o montante que levava? MARCELO: levei acho que duas vezes, o equivalente em reais a US$5.000. Nunca levou todo dia e nem perto de US$50.000, como disse TONINHO. Nessa hora, RICARDO ficava pedindo para ele dizer que era mais do que cinco mil dólares, com o que ele não concordou. RICARDO: você ta condenado a 14 anos, vai ficar no mínimo 5 anos preso, vai acabar com sua família...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Vou conceder a V. Exª os dois minutos de prorrogação, Senadora Ideli Salvatti.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Peço a condescendência de V. Exª porque o assunto é realmente muito grave, V. Exª verá pela frente.

...vai ficar no mínimo 5 anos preso, vai acabar com sua família, com o seu pai, com seu casamento. Você não pode ser preso de novo. Você não tá vendo a revolução que eu tô fazendo no processo, eu tô brigando com o Governo. Essa é a sua única chance, você pode ser beneficiado como o TONINHO.

Aí o Marcelo disse que precisava falar com a advogada dele, a Drª Carla. O Ricardo disse:

Não, não precisa ligar. Eles (...) são seus amigos. Ele teve lá esta semana e eles não tão dando atenção à causa de vocês, eles tão dando o caso como assunto encerrado. MARCELO: e a apelação? RICARDO: não tem a menor chance, pode se conformar com os 14 anos. Você tem que falar que é um preso político e pedir a delação premiada e se os seus advogados não quiserem, é só pegar um substabelecimento que eu cuido disso pra você(...).

Disse que ficaria tudo num bolo, junto com o Toninho. E continua:

RICARDO: nem ouvido você vai ser. Confirmando a delação do TONINHO, você vai ser beneficiado também ou até pode absolvido. Para convencê-lo a falar com o repórter, lhe disse que poderia falar sobre a injustiça de sua condenação, e que ele ia estragar o seu casamento, sua família, seu pai sofreria muito se ele fosse preso. Acabou concordando em responder a três perguntas: 1) Se o TONINHO conhecia o PACO? Ele disse que sim. 2) Se ele levava dinheiro ao PT? Ele disse que não, que levou por duas vezes para o MARCOS na Câmara, e não sabia se ele era do PT ou não. 3) Se ele já tinha visto o TONINHO com o PACO? Ele disse que sim. RICARDO e o repórter fizeram várias outras perguntas, insistindo para que ele respondesse e se lembrasse se algumas pessoas tinham estado na empresa Barcelona ou de lá eram clientes, entre outras coisas, como exemplo, lhe perguntaram sobre a Banus Banval; Trade Link Bank; Contas nas Ilhas Cayman; se o PT mandava dinheiro para fora; qual político ia na Barcelona; se tinha conhecimento...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Senadora Ideli Salvatti, vou prorrogar o tempo de V. Exª por mais dois minutos, e peço que encerre seu pronunciamento a fim de que eu possa encerrar a sessão.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Vou concluir nesse tempo.

Perguntaram:

...se tinha conhecimento sobre qualquer relação do MARCOS VALÉRIO, JOSÉ DIRCEU, com o TONINHO; se conhecia a agência de Turismo de Santo André e se já tinha levado dinheiro lá, se o Ministro MÁRCIO THOMAZ BASTOS era cliente ou já tinha ido na empresa Barcelona; se o ex-Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, era cliente ou já tinha ido na empresa Barcela. Todas as perguntas foram respondidas negativamente. [pelo Marcelo].

Mas essa é a forma de operação, Senadora Ana Júlia Carepa; ou seja, constroem ilações e depois saem a campo tentando construir, comprar, arregimentar quem possa comprovar as ilações feitas. O rapaz tomou uma atitude cidadã. Ele fez uma escritura de declaração pública, contando a forma como o advogado de Toninho da Barcelona fez propostas indecentes, indecorosas, para que ele mentisse, confirmando as declarações mentirosas do Sr. Toninho da Barcelona.

Portanto, eu não poderia deixar de fazer esse registro.

E peço, Sr. Presidente, que a escritura de declaração conste, na íntegra, desta sessão do Senado Federal, com o meu repúdio.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - V. Exª me permite um aparte, Senadora Ideli Salvatti?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Pois não, Senadora.

Sr. Presidente, se ainda houver alguns segundos, ouvirei a Senadora Ana Júlia Carepa.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Sr. Presidente, são poucos segundos. Gostaria apenas de dizer que concordo totalmente com V. Exª, Senadora. É o que está acontecendo no País. E pior: por um repórter de uma revista nacionalmente conhecida como sendo uma revista que levanta calúnias.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Inclusive contra V. Exª, no último fim de semana.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Exatamente. E que serão desmentidas. Mas como serão desmentidas daqui a pouco, é preciso levantar calúnias. É preciso levantá-las para que sejam divulgadas e levantadas como verdade, como está fazendo esse cidadão. Eu já disse: qualquer estuprador, traficante, doleiro, condenado, grileiro, assassino que fizer denúncias contra o PT ganhas ares de verdade. Assim não é possível, Sr. Presidente.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Exatamente.

(Interrupção no som.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno)

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Matéria referida:

“Escritura de declaração de pessoa que recebeu propostas do advogado de Toninho da Barcelona.”

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2005 - Página 31502