Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a necessidade de transição, após mil dias do Governo Lula, a fim de que a economia seja dinamizada a partir da educação, do social, da igualdade.

Autor
Cristovam Buarque (S/PARTIDO - Sem Partido/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Considerações sobre a necessidade de transição, após mil dias do Governo Lula, a fim de que a economia seja dinamizada a partir da educação, do social, da igualdade.
Publicação
Publicação no DSF de 28/09/2005 - Página 33160
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, ESTABILIDADE, ECONOMIA, APOIO, DECISÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, INICIO, GOVERNO FEDERAL, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, ATUALIDADE, PRIORIDADE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, UTILIZAÇÃO, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • DEFESA, PROGRAMA, HABITAÇÃO POPULAR, CONSTRUÇÃO, ESCOLA PUBLICA, SANEAMENTO BASICO, CRIAÇÃO, EMPREGO, RENDA, BEM ESTAR SOCIAL, NECESSIDADE, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, REDUÇÃO, BUROCRACIA, LEGISLAÇÃO COMERCIAL, COMBATE, VIOLENCIA, INCENTIVO, TURISMO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vim falar de transição. Oito anos atrás, Senadora Serys Slhessarenko, numa entrevista à revista Veja, declarei que o então candidato, companheiro Lula, se fosse eleito, deveria manter o então Ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o Presidente do Banco Central, Gustavo Franco, por cem dias nos cargos que ocupavam. A minha idéia era que precisávamos de uma transição para que o novo governo pudesse começar a implantar a sua economia.

Hoje estou absolutamente convencido de que eu estava certo quando defendi aquela posição. Qualquer risco poderia levar a economia brasileira a perder a estabilidade que havia conquistado. Em 2002, eu já não defendi que fossem aqueles dois que continuassem, mas defendi que era necessário manter uma política econômica que não permitisse gerar desequilíbrios, e achava que eram necessários um pouco mais de cem dias.

Mas hoje, Senadora Serys, estamos completando mil dias. Mil dias do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva! E em mil dias, precisamos trabalhar a idéia de uma transição. A economia tem que ser mantida em pé, mas tem que começar a caminhar. E não pode caminhar, como muitos desejam, correndo o risco de cair.

Por isso insisto em que comecemos a trabalhar a idéia de uma transição. Essa economia, que eu sempre disse que nenhum de nós gosta e não temos outra para colocar no lugar, precisa de uma transição. E essa transição, insisto, não virá de dentro da própria economia.

A economia segue certas regras no mundo, das quais não vai permitir abrir mão, relegar e desprezar certas características. Por exemplo, não há como acreditar que se pode mudar a economia voluntariosamente, conforme se deseja, relegando as regras de mercado, fechando as fronteiras e estatizando setores. A transição tem que ser feita para que a economia caminhe e não para que a economia titubeie e caia na instabilidade.

Por isto, aproveitando esses mil dias que, aparentemente, não vêm sendo comemorados por nenhuma das instâncias políticas, nem mesmo pela mídia - eu não vi nenhuma referência a esta data de mil dias - eu quero insistir na necessidade de pensarmos numa transição de fora para dentro da economia, uma transição que venha da determinação do Governo de, através de um choque social, propiciar não apenas a reversão da desigualdade com que este País insiste em continuar, como também através de medidas de políticas econômicas que permitirão reverter a desigualdade e fazer a economia entrar em marcha. Não há dúvida de que se tomássemos medidas para fazer com que este País comece a lutar contra o quadro de pobreza, nós teríamos também, automaticamente, medidas que retomariam o crescimento. Um programa de habitação popular, um programa de construção de escolas, um programa de colocação de água e esgotos, não apenas têm o papel de reverter a desigualdade, mas também de dinamizar a economia, não por dentro dela, mas de fora para dentro.

Mais do que isso, é preciso saber que o que amarra a economia brasileira hoje não é exatamente o que está dentro dela, mas situações de fora. Por exemplo, não podemos esquecer que o quadro de pobreza restringe o mercado da economia brasileira. Medidas que dêem uma dinâmica na parte pobre da população tendem a gerar crescimento econômico.

Não há dúvida de que a falta de educação de uma população gera baixa produtividade, com a qual a economia pode até ficar em pé, mas não caminha. Não há dúvida de que um choque de gestão que quebre a burocracia que hoje emperra empresas de serem criadas teria um papel dinamizador de fora para dentro da economia.

É claro que o clima de violência em que vivem as cidades brasileiras impede o turismo de florescer e, por isso, impede o crescimento. Precisamos manter a economia em pé, como o Presidente Lula vem mantendo, mas também fazer com que caminhe, marche, avance, porque, mesmo em pé, ela está ficando para trás.

Por isso, Srª Presidente, vim aqui para lembrar esta data dos mil dias de uma economia com duração muito longa, mas que, ao mesmo tempo, a meu ver, continua em condições de risco, a ponto de qualquer passo em falso poder trazer, pior do que paralisação, uma queda dessa economia, uma instabilidade.

Gostaria de insistir aqui não apenas com o Governo do Presidente Lula, mas com o Senado, para que comecemos a trabalhar, passados os mil dias, na necessidade de uma transição, que, a meu ver, não virá de dentro da economia, mas de fora dela. Uma transição que vai inventar a economia que o Brasil precisa para as próximas décadas, mas sendo dinamizada a partir do sistema social, a partir da educação, a partir da habitação, a partir de uma luta pela reversão das desigualdades.

Eu sempre disse da frustração que sinto com o fato de o Governo do Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores não termos dado a prova de que evoluíamos para uma mudança. Mas sempre defendi que essa mudança não poderia ocorrer jogando fora as conquistas que o Brasil e a economia brasileira tiveram nos últimos anos.

Por isso, fica aqui o meu registro. Defendi cem dias como necessários para a transição, e hoje estamos comemorando mil dias, sem dar salto ainda para a transição.

Há muitos que defendem não a transição, mas a mudança. Temo que, com a mudança rápida, possamos ter não a transição, mas um retrocesso.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/09/2005 - Página 33160