Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a episódio ocorrido em sessão da CPMI dos Correios, na semana passada, envolvendo a Senadora Heloísa Helena.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Comentários a episódio ocorrido em sessão da CPMI dos Correios, na semana passada, envolvendo a Senadora Heloísa Helena.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 28/09/2005 - Página 33195
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • CRITICA, CONDUTA, PARTICIPANTE, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), AGRESSÃO, HELOISA HELENA, SENADOR, REGISTRO, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO.
  • DENUNCIA, FOTOGRAFO, DISTRIBUIÇÃO, DOCUMENTO, ORIENTAÇÃO, QUESTIONAMENTO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTICIPAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, TENTATIVA, BENEFICIO, BANCO PARTICULAR, REGISTRO, CONDUTA, ORADOR, REMESSA, DOCUMENTAÇÃO, DELEGACIA, SENADO.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, INTERESSE, BANCO PARTICULAR, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), CONTRADIÇÃO, HISTORIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu caro Senador Mão Santa, o que me trouxe inicialmente a esta tribuna foi um assunto que abrange de maneira muito particular o nosso Estado, exatamente liberações e aplicações de recursos da Cide para a construção de estradas no Estado do Piauí.

No entanto, mudei o foco, em homenagem à Senadora Heloísa Helena. Mudei por um fato muito simples: esta Casa é a ressonância do pensamento nacional.

Eu testemunhei os fatos já narrados aqui, no dia do depoimento, na semana passada, do banqueiro Daniel Dantas. A Senadora Heloísa Helena começou a ser agredida até pelo silêncio. Foi algo desproporcional, Deputado João Fontes, que está aqui presente. Eu me assustei. Eu nunca vi, Senador Teotonio Vilela Filho, uma agressão desproporcional a uma pessoa, movida não sei por que força - talvez pelo desespero de quem a atingiu. Naquele momento, naquele plenário, várias pessoas, inclusive eu, merecíamos ter sido agredidos antes da própria Senadora, que tem seu estilo de ser, sua maneira de reagir, mas, naquele momento, foi vítima de uma ira desproporcional, e venho me perguntando até hoje o porquê daquele episódio.

Senadora Heloísa Helena, há um fato que me leva a entender algumas coisas. Na véspera do depoimento, um cidadão, usando um crachá de repórter fotográfico, distribuía dossiês no plenário da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, e fui alertado por dois jornalistas profissionais que se sentiram incomodados - elogio a imprensa brasileira por isso - pelo fato de alguém, usando uma credencial vencida de fotógrafo, distribuir esses dossiês. Alertaram-me porque os dossiês apresentavam algumas citações a vários Deputados e Senadores, inclusive contra mim. Qual era a acusação que me faziam? Que eu defendia, nessa contenda, um determinado grupo.

Senadora Heloísa Helena, vou enviar uma cópia do dossiê a V. Exª para que entenda um pouco do que lhe aconteceu. Era o dossiê detalhado; em algumas das perguntas, havia a resposta, uma suposição de reação à resposta e a contra-resposta. Foi uma das coisas mais bem feitas que já vi se fazer aqui desta Casa; e foi distribuído fartamente com a bancada do Governo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não entendi por que a campainha, Sr. Presidente. (Pausa.)

Ah, não é comigo. Muito obrigado.

Ao ser avisado, chamei a Segurança do Senado e pedi que recolhessem 15 ou 20 desses dossiês. No entanto, no meio daqueles dossiês encontrava-se encaixado um gravador e um microcomputador. O rapaz responsável, com o crachá, correu atrás me pedindo - primeiro, de maneira arrogante e depois, de maneira humilde - a devolução do material. Aí, eu disse para o segurança: recolha tudo à delegacia do Senado ou coisa que o valha, para fazer a devida perícia, a devida avaliação.

Senador Wellington Salgado, no dia seguinte, vi uma das cenas mais cômicas e desmoralizantes já presenciadas neste Senado da República: eram cerca de 110 perguntas.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Senador Heráclito Fortes, a campainha é automática.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Qual é o meu tempo, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Inicialmente seriam dez minutos.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª me disse 15 minutos, e eu fiquei feliz da vida. Estou com três.

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - V. Exª está com sete. Vou prorrogar por mais dez minutos o tempo de V. Exª.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Fico feliz, porque é importante o registro que faço.

Eram aproximadamente 110 perguntas feitas no relatório. Das 110, 77 foram repetidas por representantes da Base do Governo, algumas de maneira vergonhosa - não trocaram nem a ordem, nem a seqüência. E vejam bem: todas elas defendendo o Citibank, Senadora Heloísa Helena. E V. Exª viu, ao longo da vida, os seus companheiros daquele PT de antigamente dizerem que era o responsável, o dragão da maldade que carcomia, enquanto o brasileiro dormia, a nossa poupança, por ser o representante do FMI.

O dossiê tinha uma participação estranha, defendendo os interesses do Citibank, que responde a processo no Chile, na Argentina, no México, no Japão, por mau comportamento, e alguns Senadores da República, que antigamente ostentavam, de maneira orgulhosa, a estrela incorruptível e virgem do PT, hoje o defendem.

A partir do momento em que a oitiva se iniciou e que os fatos começaram a ser esclarecidos, o desespero tomou conta. Aliás, Senadora Heloísa, era o mesmo PT que combatia o FMI e que, nesses três anos, já pagou mais juros e já antecipou mais débitos ao FMI do que o Governo que é, hoje, seu objeto de desejo: o Governo Fernando Henrique Cardoso.

Aliás, vejo alguns Senadores que, em praça pública, condenaram a Alca, defenderam o rompimento do Brasil com a Alca e, para tanto, atraíram e enganaram a Igreja, e, hoje, defendem-na para angariar votos.

Senadora Heloísa Helena, o PT em que V. Exª militou era monopolista da honra e, acima de tudo, da gestão honrada da coisa pública. Hoje, no entanto, quando assume a tribuna se justifica dizendo que rouba porque o outro também rouba, faz caixa dois porque o outro também faz, ou seja, quer tornar uma prática comum o que combateu ao longo da vida.

Senadora Heloísa Helena, só tive noção da repercussão daquele debate no dia seguinte. À noite, quando peguei um avião para o Rio Grande do Sul, onde fui participar, como membro do Senado, em Camaquã, de uma audiência pública - e guarde isso para o seu currículo e para sua biografia - os pilotos, as comissárias, os passageiros, enfim, todos me pediram que lhe transmitisse solidariedade pelo que a senhora havia passado. Quando cheguei na distante Camaquã, ouvi coisas semelhantes. Algumas pessoas até questionavam onde estaria o grupo de Parlamentares mulheres, sempre unidas em torno de coisas fúteis, que, de maneira conjunta e solidária, não estavam a seu lado. Estou lhe transmitindo o que ouvi.

            Peguei outro avião e fui a São Paulo. Fiquei algumas horas no aeroporto de São Paulo. Santa TV Senado, que faz com que o Brasil acompanhe, passo a passo, o que acontece: os nossos erros e as nossas virtudes! Fui abordado, também, por dezenas de pessoas que me pediram que lhe desse um abraço de solidariedade. E isso na fria São Paulo, que tem em seu aeroporto um entra-e-sai do Brasil inteiro. Voltei para Teresina, fui para o Piauí, visitei três Municípios. Em todos eles, ouvi a mesma coisa: “O senhor conhece a Senadora Heloísa Helena?” Ao que lhes respondia: “Claro que a conheço.” “É sua amiga?” Eu respondia: “Não digo que é amiga, mas somos companheiros de Senado. Temos divergências, mas temos admiração - pelo menos eu em relação a ela.” Todos, então, diziam: “Diga que o Brasil todo sofreu com ela a injustiça, a agressão.” Ninguém estava discutindo, naquele momento, nada que envolvesse milhões e milhões de dólares...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - É um Brasil hoje, infelizmente, “Jeany cornerizado”.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois é. E que o PT quer passar para baixo do tapete. Não adianta, Sr. Presidente, o PT está envolvido na república da Previ, do fundo de pensão... A corrupção do PT é essa! O que se apurou até agora é pinto. É pinto! Não adianta querer esconder e jogar debaixo do tapete!

Senadora Heloísa Helena, estava convocado para depor hoje o presidente do Citibank, um paraguaio de nome Gustavo Marin. Fugiu do Brasil. Alegou que foi convocado para uma reunião do FMI. Como se fôssemos idiotas e o FMI convocasse bancos privados...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Senador, mais um minuto para V. Exª encerrar.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Tenho certeza de que vão vir aqui para defender o FMI, o banco e os banqueiros. Não é mais aquele PT que conhecemos, mas estarão cumprindo a orientação de uma ala do PT que, hoje, tem duas facções: a dos endividados, dos que têm seus cheques no vermelho; e a dos monetaristas, que estão em cima, defendendo banqueiro, defendendo o FMI, defendendo o Citibank. E o povo brasileiro que vá às favas!

Como mudou esse Partido...! Mas quero ver no ano que vem, Senadora Heloísa Helena, a bandeira desse Partido que, por vinte anos, enganou o povo brasileiro. Eu quero ver quem vai estar ao lado do Presidente Lula, defendendo aquelas bandeiras de ontem, aquela venda de bótons, de estrelinhas e de camisetas nas praças públicas, substituídas pelo dinheiro do caixa dois, substituídas pelo entra-e-sai dos bilhões que se tenta apurar e que o próprio Partido dos Trabalhadores, por meio de mecanismos poderosos, boicota.

            Se se convoca um presidente de um banco, dá-se cobertura para que não aconteça! Desqualificam-se as pessoas!

            Gente, o que aconteceu em Santo André, com a desqualificação da família do Prefeito falecido, Celso Daniel, é um retrato desse Partido e é um retrato do Brasil hoje. Fizeram do irmão desse infeliz ex-Prefeito a figura do louco, do vigarista, do desacreditado, mas o que vimos foi um homem equilibrado, que veio aqui, com a dor da família que perdeu um ente querido - e ninguém tem resposta para isso.

            E o Governo, com o seu poder, com a sua força, Senador Teotonio Vilela Filho, transformou uma audiência pública do Chefe da Casa Civil, do Chefe de Gabinete do Presidente da República, numa audiência privada. Pede-se uma acareação...

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Deu-se a ele o direito de escolher se queria pública ou privada, secreta ou reservada. Até hoje, ele não respondeu.

O irmão que até então tinha se manifestado, João Daniel, era doido. O Fábio era o “santo”. Pois o João e o Fábio foram para um programa de televisão e mostraram o que aconteceu...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Senador, V. Exª já está com 17 minutos.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - ... com legista presente, e não se fala mais nesse assunto.

Senadora Heloísa Helena, fique tranqüila. O que fizeram, ou tentaram fazer com V. Exª, é uma amostra grátis do que são capazes de fazer.

Ouço o Senador Mão Santa, com muito prazer.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito, estou aqui como piauiense orgulhoso...

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Senador Mão Santa, S. Exª já passou em dois minutos o tempo de 15 minutos a que teria direito, e ainda há dois Senadores para falar. V. Exª tem dez segundos, Senador Mão Santa.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - O poder de síntese do Senador Mão Santa é conhecido no Brasil inteiro.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - O orgulho de ser piauiense e ver o Heráclito representar tão bem, sintetizar... E a virtude de S. Exª em fazer amizades fez com que ele convivesse com Ulysses Guimarães, com Tancredo Neves na intimidade; com Renato Archer. Ninguém mais conviveu com Luís Eduardo. E S. Exª sintetiza toda essa sabedoria parlamentar e democrática prestando solidariedade à mulher brasileira, ao apresentar-se na defesa da Senadora Heloísa Helena. Quero dar o meu testemunho. Na reforma da Previdência, defendi os aposentados, que iam ao meu gabinete e diziam o que Heráclito aponta: que a grande vergonha se instala nesses fundos de pensão da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, da Petrobras, o que o Senador Heráclito Fortes, sábia e corajosamente, está denunciando no Brasil.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senadora Heloísa Helena, vou finalizar meu pronunciamento.

Senadora Ana Júlia Carepa, desde jovem, tive a coragem de dizer que não sabia o que era ideologia. Sou de uma geração em que ideologia era a UDN e o PSD, que foram extintos por ato institucional. A Senadora Heloísa Helena acreditou em ideologia e quebrou a cara. São exatamente os companheiros que S. Exª julgou da Esquerda, colegas de luta e de convicção, que lhe agridem, que lhe acusam, que lhe atacam quando lhes faltam argumento e motivação.

E continuo com a minha fé santa: ideologia para alguns é a caneta. Dê a caneta e a ocasião, que você saberá quem é o ladrão!

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/09/2005 - Página 33195