Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o desempenho do Governo Lula. Solidariedade a Senadora Heloísa Helena por episódio ocorrido em sessão da CPMI dos Correios, na semana passada.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Considerações sobre o desempenho do Governo Lula. Solidariedade a Senadora Heloísa Helena por episódio ocorrido em sessão da CPMI dos Correios, na semana passada.
Aparteantes
Heloísa Helena, José Agripino, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2005 - Página 33390
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • ANALISE, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, AUSENCIA, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, POPULAÇÃO, LEITURA, TRECHO, TEXTO, AUTORIDADE RELIGIOSA, DEFESA, IMPORTANCIA, PROXIMIDADE, GOVERNO, POVO.
  • SOLIDARIEDADE, HELOISA HELENA, SENADOR, DISCUSSÃO, DEPUTADO FEDERAL, REUNIÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • REGISTRO, ENCAMINHAMENTO, ARTIGO DE IMPRENSA, DECLARAÇÃO, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, POSSIBILIDADE, CONHECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, PLINIO ARRUDA SAMPAIO, EX-DEPUTADO, FRUSTRAÇÃO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REUNIÃO, ESTUDANTE, CRITICA, TENTATIVA, DESVIO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EFEITO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, FUTEBOL.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DECLARAÇÃO, REDUÇÃO, PERCENTAGEM, POPULAÇÃO, APROVAÇÃO, GOVERNO.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, ESCOLHA, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, CORRUPÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 28/09/2005


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 27 DE SETEMBRO DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é sempre bom voltar às experiências e ações bem-sucedidas ou a falas e gestos de figuras que deixaram para a História exemplos a seguir. É sempre bom neles nos inspirarmos.

Se tivéssemos que retroceder ao 1º de janeiro de 2003 não seria para nada disso, muito menos para encontrar inspiração. Apenas, no máximo, para lamentar.

A inspiração, preferimos buscá-la nos exemplos do passado, nas lições de advertência que se perpetuam e acabam fazendo com que a Nação entenda os porquês de malogros na condução da vida pública.

Tantos e tenebrosos são esses desacertos, a partir de 2003, que procurei alguma interpretação na obra de sábios do passado.

É de um passado muito remoto o fabulista grego Esopo, que nasceu no século VI A C. Ele contava histórias simples, mas de forte fundo moral, e usava sempre animais como personagens.

Na atualidade, as coisas da política e da Administração Pública não estão dando certo. Por isso, chega o momento em que a Nação, perplexa, indaga as razões de malogro ou de desvios de conduta na gestão pública.

Se agora quiséssemos interpretar esse espaço, que começa há dois anos e meio, e se recorrêssemos a Esopo, a sua fábula da Raposa e das Uvas ajudaria a entender o desastre em que se vai transformando este quatriênio perdido.

A raposa, conta a fábula, não conseguiu as uvas no alto da parreira. E a frase que ela disse - “estão verdes” - passou a ser expressão sempre que alguém busca coisas impossíveis. A dúvida é saber “quem está verde”? Os que procuram algo, ou o algo procurado por alguém?

Com a ajuda de Esopo, pode-se concluir que provavelmente a Nação tenha sido levada a uma mera tentativa, em nada, em nenhum milímetro, regida pelos exemplos históricos. Pelo despreparo, sim; e, de quebra, sem programa.

A fábula é uma espécie de lição de inteligência, de justiça e de sagacidade, mas, também, e principalmente, é um conto de moralidade popular, perpetuado pela voz de Esopo e seus seguidores, entre eles o francês La Fontaine.

No Brasil desta fase de retrocessos, os Esopo se multiplicam na voz do povo, que é a voz de Deus.

Não é fora de propósito, pois, quando se fala em Deus, relembrar Vieira, o Padre Antônio Vieira, dos sempre atuais ensinamentos.

Como as lições de moralidade das fábulas de Esopo, relembrar Vieira é adaptar suas palavras ao cenário que hoje o povo brasileiro amarga.

Dizia o grande pregador nos séculos e séculos passados - e quem fala agora é Vieira:

Ao assentar o trono do reino [aí, digo eu: portanto, também, ao assumir um Governo, daí a atualidade], a primeira coisa que o Rei fará será escrever, por sua própria mão, para ler todo dia que se deve temer a Deus.

            A boa interpretação sugere que ao governante impõe-se o cumprimento fiel do que está escrito na lei, começando pela construção do País.

Por que isso? De novo, tento interpretar Vieira: Para ler todo o dia que se deve temer a Deus. E respeitar e agir em favor do povo e do País, que, como ensina Vieira, são expressões de Deus.

Deus se escreve com quatro letras; povo também tem quatro letras. Com quatro letras também se escreve país. E o que é país senão o povo? O povo de Deus!

            Esse trecho de um dos Sermões de Vieira, mais do que sugerir, adverte que, ao assumir - como o rei ao assentar-se no trono - o governante (o presidente, o governador, o prefeito) não se devem distanciar de Deus; portanto, não se deve distanciar do povo; portanto, não se deve distanciar do País.

Bem interpretado, eu diria que do dirigente o que se espera é, ao menos, atenção às quatro letras já mencionadas, às quatro letras com que se escreve Deus, significando povo e o País.

Para o brasileiro, a espera foi em vão. Em vão, sim!

Primeiro, porque, a despeito dos corretos conselhos de Vieira ao capítulo brasileiro iniciado quase três anos atrás, faltou a leitura. O protótipo local do rei nada lê. Nem ao menos a lei.

Vieira ensina: Da lei não se aparte nem um ponto, nem para a mão direita nem para a esquerda para, desse modo, conservar o reino, [no caso, o País]. Conservar e pulsionar.

Sigo, adaptando aos dias de hoje a semântica e a ortoépia que Vieira usava:

Esta é a arte de reinar, dizia Vieira, e eu interpreto: quer dizer, de governar. E esses são os documentos políticos e estas são as razões de Estado. Estas são e nenhumas outras...

Estas são a verdadeira e única sabedoria...

            E, após, o conselho: Estudem-se, aprendam-se e sigam-se as razões de estado, de Deus.

            Repito Vieira: Estudem-se, aprendam-se!

            Sei que isso pode soar estranho a quem apenas assentou. Assentou e nada mais! Nada lê.

Volto a outra advertência de Vieira, insistente do bom conselho, que se torna atualíssimo:

Não digo que se não leiam os livros; mas toda política sem a lei (de Deus) é ignorância, é engano, é desacerto, é erro, é desgoverno, é ruína.

Pelo contrário, [prossigo com Vieira] a lei de Deus [portanto do povo, do País - volto às quatro letras -] só, sem nenhuma outra política, é política [a repetição é de Vieira, para maior ênfase], é ciência, é acerto, é governo, é acerto, é conservação, é seguridade.

Sigo, com mais conselhos de Vieira, atualíssimos e que caem como uma luva nos procedimentos que o Brasil tanto estranha, porque não merecedor do desprezo às quatro letrinhas: de Deus, de povo, de País:

Vieira observa que o fim de toda política é o aumento (no sentido, eu entendo, de desenvolvimento).

Ele, Vieira, faz uma interrogação, igual à que fazem os brasileiros de hoje: aí fala novamente, Senadora Heloísa Helena, o Padre Antonio Vieira: Como se hão de aumentar os reinos, se não tiverem por si a Deus [aí eu acrescento: se não tiverem o povo, o País], que os dá?

E aí volta Vieira com sua invejável didática: Se não tivermos contra nós a Deus, segura está a conservação; se tivermos por nós a Deus, seguro está o aumento (aumento, para nós, eu interpretaria como desenvolvimento, mais uma vez).

Ponha-me Deus, diz Vieira - e eu interpreto o povo, o País -, junto a si, e venha todo mundo contra mim, dizia Job, que também era rei.

Se tivermos da nossa parte a Deus [à Pátria, eu entendo], ainda que tenhamos contra nós todo mundo, todo mundo não nos poderá ofender: mas se tivermos a Deus [o povo, o País] contra nós [insatisfeita e maltratada], ainda que tenhamos todo mundo da nossa parte, não nos poderá defender todo o mundo.

            À última frase de Vieira, acrescento uma interpretação, devidamente adaptada ao Brasil da atualidade:

Primeiro, a frase: Fazer liga com Deus, ofensiva e defensiva, que estaremos seguros, diz Vieira.

A interpretação e a adaptação: Fazer liga com o povo, com o País, ofensiva e defensiva, que estaremos seguros.

            Vieira não foi ouvido. Era preciso.

Deus também não foi ouvido.

O povo também não foi ouvido.

O País também não foi ouvido.

E nem atendidos.

E era preciso!

Era. Já agora se revela tardiamente a ligação.

Senadora Heloísa Helena, eu, antes de mais nada, faço aqui o que já foi feito pelo meu Partido, pela palavra do Senador Alvaro Dias, a manifestação de solidariedade a V. Exª pela covardia que sofreu. E digo covardia com muita clareza, partiu de uma figura menor, mas as pessoas sempre dizem que não se briga para baixo, mas covardia é covardia. E digo covardia porque observei bem aquela cena deplorável pela televisão - e V. Exª não fez a não ser reagir -, e eu percebi muito mais valentia em relação a V. Exª do que em relação ao Deputado João Fontes.

Estranhei; eu estranhei. Eu me criei de outra maneira; eu teria sido mais valente com o Deputado João Fontes do que com V. Exª - V. Exª me conhece bem. Estranhei muito e lamentei.

Lendo os jornais de fim-de-semana, vejo coisas incríveis: José Dirceu disse que Lula sabia, do jeito José Dirceu de ser, mas disse. Acabei de encaminhar para os Anais entrevista de V. Exª, também dos últimos momentos, do dia 25, se não me engano, dizendo que não se poderia montar algo tão sistêmico, um esquema tão sistêmico de corrupção sem o Presidente saber. Encaminhei também aos Anais, ainda há pouco, artigo publicado hoje no jornal Folha de S.Paulo, pelo, para mim sempre Deputado, Plínio de Arruda Sampaio Júnior.

Plínio de Arruda Sampaio Júnior, tanto quanto V. Exª, de mim discrepa quando nós pensamos o mundo, quando examinamos economia, quando nós examinamos a figura e a forma da administração pública. Mas Plínio de Arruda Sampaio Júnior, que não teve de mim nenhum motivo para que ele não me respeitasse, e eu não encontrei nenhum motivo para desrespeitar Plínio de Arruda Sampaio Júnior. Então, estou saindo no lucro, porque ele demonstrou claramente que já não respeita o Partido que integrava. Ele não precisa ser meu aliado, basta me respeitar. Ele poderia ser aliado ou ser adversário de quem já foi aliado, mas ele demonstrou claramente que, por eles, perdeu o respeito. Isso é um fato. Eu não faço questão da opinião a meu favor. Faço questão do respeito. É o que posso cobrar. Estive ontem no Grêmio Estudantil 11 de Agosto - aliás, pediram-me que transmitisse a V. Exª o convite deles para que V. Exª fosse lá. Querem que V. Exª faça a próxima palestra. Percebi que toda aquela agitação de quando foi um outro personagem da política lá há pouco tempo comigo não houve. Tratamento respeitoso, perguntas, algumas duras - e teria de ser assim -, mas extremamente respeitosos do começo ao fim do debate, que teria ido noite a dentro se não tivesse havido a intervenção do Presidente da Mesa que disse: vamos limitar até tal hora da noite. Já estavam as pessoas voltando para fazerem mais perguntas, e percebi que foi um momento muito bom de encontro com pessoas tão mais jovens e que, no entanto, revelam tanto amadurecimento e tanta capacidade de estabelecer sua visão crítica sobre o mundo.

Mas estamos vendo de tudo no País. Vimos, por exemplo, a tentativa de transformarem o escândalo do futebol num mix com os assuntos da CPI dos Bingos. Então, falo agora até como flamenguista. O Flamengo ganha uma posição se essa roubalheira toda do futebol for decidida. Mas não quero emascular a CPI dos Bingos e tirá-la dos seus assuntos para cuidarmos agora de futebol. Podemos até pensar numa CPI para o futebol, outra se quiserem, a CPI do Apito, enfim, mas não entrarmos mais nesse jogo de permitirmos que atenções sejam desviadas do essencial, do fundamental. E o fundamental e essencial, sem dúvida alguma, são os casos que estão colocados ali.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador, V. Exª me permite um aparte, somente para uma informação?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo o aparte ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Se V. Exª me permitir, é sobre esse caso do futebol, do juiz e do Sr. Nagib Fayad. Falei, há pouco, com o Deputado Romeu Tuma Júnior, que tem conhecimento profundo do futebol paulista, e a Comissão das Lideranças da Assembléia Legislativa estava decidindo sobre a instalação já requerida de uma CPI Especial, objetivando a apuração deste caso. Acho que São Paulo, em razão dessa situação, se instalada a CPI, terá mais condições do que nós em aprofundar o levantamento total do que for necessário. Depois, poderemos colher informações caso apareçam problemas de interesse da CPI dos Bingos. Não sei se V. Exª concorda ou não, mas eu acho que São Paulo...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sem dúvida. Eu creio que essa é uma saída, sábia e legítima. É uma saída e legítima. Não caberia misturarmos os assuntos e, misturando os assuntos, perdermos o foco e deixarmos, assim, de maximizar, otimizar os objetivos da CPI e os resultados que ela pretende alcançar.

Mas continuo referindo-me a momentos que a imprensa registrou no último fim de semana: a entrevista de Paulo de Tarso Venceslau, a saída de Parlamentares da chamada “esquerda do PT”, desse partido às vésperas dessa decisão na Câmara. O PT saindo com um nome que reputo respeitável, tenho estima pessoal pelo Ministro Aldo Rebelo, mas o PT saindo com uma candidatura que não é do PT, recrutada num pequeno partido. O PT, portanto, sem condições de apresentar um nome seu. Ele, que tem tantos nomes bons, tantos nomes que poderiam até ter sido, quem sabe, aceitos por nós. Falamos no Deputado Paulo Delgado. E eles acham que o Deputado Paulo Delgado, por ser uma pessoa aberta, pertence aos nossos quadros. E não é verdade. Seria alguém independente - e talvez isso eles não queiram -, mas acredito até que Aldo Rebelo seria também alguém independente, e alguém que viria... Mas, enfim, eles disseram assim: nós não temos condição de apresentar um nome. E não apresentaram nenhum nome. E nós temos condições de apresentar um nome e apresentamos um nome, Deputado José Thomaz Nono, e vamos com ele para a decisão.

Quero apenas advertir o Governo de que eu cheguei de São Paulo ainda há pouco e vi, por várias pessoas que me abordaram no aeroporto, no BBrestaurante antes, o interesse que a sociedade brasileira tem, Senador Teotonio Vilela Filho, por essa eleição. Um interesse enorme. A sociedade está de olho. Está cada dia mais atenta.

Eu diria que este País vai sair melhor, sim, após o episódio da apuração de todos esses delitos cometidos sob inspiração deste Governo. A corrupção começou no Executivo e se espalhou para o Legislativo. Assim foi o movimento que abalou a estrutura moral do País. Vai sair um País mais exigente, vai sair um País mais cobrantino, vai sair um eleitor melhor, vai sair uma sociedade mais envolvida na expectativa e na figura de procurar evitar que joio e trigo se misturem a ponto de comprarmos joio como se fosse trigo. Eu sempre digo que a sociedade não se pode colocar, Senadora Heloísa Helena - já lhe concedo o aparte -, alienada deste momento, como se a corrupção fosse uma coisa dos de Brasília, como se a sociedade não tivesse nada a ver com isso, como se jabuti subisse em árvore sem ser pela mão de gente ou por enchentes.

É fundamental uma autocrítica também por parte da sociedade brasileira. Que ela não compre mais gato por lebre e que entenda a importância do seu voto. O voto é que será capaz de fazer uma Câmara dos Deputados ou um Senado, melhor a Câmara e pior o Senado, ou melhor o Senado e pior a Câmara ou melhor os dois, como gostaríamos tanto de ver.

Senadora Heloísa Helena, concedo o aparte a V. Exª, com muita alegria.

A Sr. Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senador Arthur Virgilio, primeiro agradeço de coração pela solidariedade de V. Exª. Sabe V. Exª que nos respeitamos exatamente porque somos capazes de assumir nossas diferenças. V. Exª, com veemência, condena qualquer crítica que eu faça ao Governo que liderou. V. Exª sabe exatamente que eu estou convencida de que aconteceram crimes contra a administração pública no processo de privatização do Governo Fernando Henrique. Mas a minha estima por V. Exª é muito maior, porque V. Exª sabe combater com veemência quando faço crítica ao Governo que V. Exª liderou, mas sabe do respeito que tenho por V. Exª ter a coragem de ir à tribuna defender com veemência, como também faço. Acho que respeito, numa tentativa de democracia representativa, se dá exatamente dessa forma, da estima que tenho por V. Exª. Não confiaria o meu filho para estar com alguém se não tivesse estima, consideração e respeito, como tenho por V. Exª e por sua esposa, e o carinho que tenho, direta e indiretamente, pelos seus filhos. Então, agradeço-lhe pela generosidade, pela solidariedade de V. Exª. Chego a ficar emocionada, às vezes, porque tenho certeza de que se eu fosse uma Senadora da canalha do Senado ou da Câmara, ou mulher de banqueiro ou de Senador poderoso, de que ele acabaria não fazendo o que fez, mas, se alguém acha que esse tipo de atitude desrespeitosa é capaz... Fico emocionada porque sou mãe, sei a preocupação que dou aos meus filhos, aos meus amigos. Só por isso é que fico. Agora, em nenhum momento, significa uma única gota de medo ou de uma complicação. Nenhuma, porque sou desse jeito mesmo. O homem, o pai de família que aceitar que sua esposa, sua mãe, sua filha, sua irmã seja tratada de uma forma desqualificada, desprezível e desrespeitosa pode condenar a minha atitude. Uma mulher que aceita que alguém lhe dirija uma palavra de baixo calão e fica mansa, domesticada pode condenar a minha atitude. Mas quero deixar absolutamente claro que se, a minha atitude foi considerada violenta, ninguém nem viu o que é que sou capaz de fazer daqui para frente. Ninguém nem viu. Então, se alguém acha que esse tipo de atitude que acabou gerando reação do Deputado João Fontes e de outros Parlamentares, da minha querida companheira Luciana Genro, do Deputado Babá, se alguém acha que é capaz de, pela palavra desqualificada, de baixo calão, da ameaça sórdida... Sei que tem gente que é capaz de qualquer coisa, de roubar e de matar. Isto para mim é mais doloroso ainda conseguir identificar: do que essas pessoas são capazes. Porque, quando você encara alguém e vê que a pessoa é capaz de matar e de roubar, já imagina que as pessoas são absolutamente sem limites. Mas estamos naquela fase de que pode vir fervendo porque estamos feito larvas vulcânicas. Não adianta tentar atemorizar pela forma desqualificada, machista, desrespeitosa, pela ameaça, pelo medo, porque não vai conseguir viabilizar nenhum passo para trás em nossas lutas políticas. Então, quero agradecer pela solidariedade de V. Exª, porque nos respeitamos exatamente pelo que somos. V. Exª defende um mundo completamente distinto do meu, e sei que defendo um mundo completamente diferente. Talvez estivéssemos em campos tão diferentes, tão opostos em um determinado momento da vida nacional que poderíamos ser considerados inimigos, adversários ou o que quer que seja. O importante é vivermos num mundo em que nos respeitamos não pela forma sórdida, cínica, dissimulada, às vezes sofisticada, mas igualmente desprezível. Olhamos o adversário no olho, sabemos que defendemos mundos distintos e fazemos o bom combate. Por isso, acho importante respeitarmo-nos. Agradeço a solidariedade de V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª, na verdade, só fez reagir. Percebi que a figura menor tentou ser mais veemente com V. Exª do que com o Deputado João Fontes, que agora está aqui presente. Isso para mim é uma marca, porque sou de instinto. Assumo este meu lado animal com muita tranqüilidade: sou de instinto. Isso, para mim, é uma definição de caráter, afinal, meu pai me acostumou a ser mais valente com homem do que com mulher. E tenho sido assim ao longo do tempo, por isso estranho.

V. Exª não fez mais do que se defender. Também tenho muito orgulho da sua amizade, dos momentos de companheirismo que temos aqui, da sua bondade pessoal, já experimentada por minha família em determinado momento - V. Exª se lembra. Creio que o importante mesmo é todos saberem que uma figura como V. Exª não se deixa desrespeitar e não o fez. Não adianta tentarem dizer que houve baixaria, porque não houve. Insultada de maneira vil, V. Exª reagiu de maneira candente, com algumas hipérboles, e o Deputado João Fontes foi contido, porque, parece-me, ia reagir de maneira ainda mais candente, sem usar palavras. Foi o que percebi pela televisão.

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Senador Arthur Virgílio, interrompo V. Exª, para prorrogar a sessão por mais 15 minutos. São cinco minutos para V. Exª e 10 minutos para o Senador Heráclito Fortes.

V. Exª continua com a palavra, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Quanto à visão de mundo diferente, já me acostumei com isso. Por exemplo, as privatizações: tenho certeza de que, com elas, o Brasil passou a ter uma economia mais produtiva, mais competitiva. Não é essa sua visão, mas há um ponto em que concordamos, tenho certeza. Imagine mais teles nas mãos dessa gente; imagine mais estatais nas mãos desse pessoal: ia ser uma farra, uma “jeanycornerização” político-econômica desta República, infelizmente já tão “jeanycorneracanalizada”. Enfim, quanto a isso, nós estamos de acordo, tenho certeza.

Mas, Sr. Presidente, eu gostaria de registrar minha perplexidade diante desse quadro. Tenho falado com pessoas do Governo - pessoas que até estimo -, e dizem assim alguns: a coisa parou de piorar. Parar de piorar é agora um terço dos jornais falar de escândalo todos os dias e não mais a metade das revistas e dos jornais. Qualquer um desses casos de corrupção seria o bastante para desestabilizar qualquer Governo.

A revista O Cruzeiro, muita antiga, tinha um grande chargista, cujo nome não lembro, que fazia o Ministério das Perguntas Cretinas - meu pai repetia muito isso, por isso ficou marcado da minha infância para cá, Senador Teotonio Vilela Filho. Esse humorista brasileiro, por meio dessa seção, brilhava na revista O Cruzeiro. Então, o Ministério das Perguntas Cretinas teve, agora, a participação presidencial outra vez - ministério das perguntas, não, das respostas dessa vez. O Presidente, disse, achando-se o máximo: estou com uma cotação baixa nas pesquisas, mas não está ruim, porque, se fosse outro, estaria com zero. Ou seja, ele acha que merece zero, mas, por qualquer razão, o povo lhe dá alguma coisa. Foi uma auto-reprovação muito clara: ele se acha merecedor de zero e se considera uma figura tão simpática, tão fabulosa, dono de uma história que imagina tão superior à de todo mundo, que diz: ainda bem que sempre me sobra alguma coisinha.

Fico impressionado. O Brasil sabe que não pode repetir essa aventura, essa experiência; o Brasil sabe que não pode repetir esse caos. O Brasil sabe que, não fosse a conjuntura internacional tão favorável, que ainda garante certo suspiro econômico para este Governo, haveria algo parecido com a mazorca, com a anomia, em um Governo que não tem o controle da Câmara e que trabalha organizadamente sob a maioria que se constitui oposicionista nesta Casa. O Senado funciona muito bem: sob o comando da Oposição, e a Câmara hoje não está funcionando. A partir de amanhã, vai definir, Senador José Agripino, qual o entendimento que tem de maioria. Amanhã vamos saber disso ou, quem sabe, na madrugada, de depois de amanhã.

Senadora Heloísa Helena, ouço V. Exª.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Será bem rápido, só para complementar uma coisa de que já havia falado. Em todos os momentos, é sempre bom - já que V. Exª está na tribuna - deixar registrado o repúdio. Como não bastasse o povo brasileiro olhar para o Congresso Nacional como uma Casa desmoralizada, porque ela funciona como base de bajulação para um Governo desmoralizado, liberar mais de R$500 milhões para definir uma eleição da Câmara é contar muito com a impunidade. Como diz o Deputado João Fontes, em plena crise, com todo o olhar da sociedade, num misto de tristeza e indignação diante da postura do Congresso Nacional - é claro que, quando falo do Congresso Nacional, refiro-me a alguns que se submetem a esse jogo sujo e sórdido -, o Governo confia tanto na impunidade e na mediocridade do Congresso Nacional em continuar sendo medíocre anexo arquitetônico dos interesses do Palácio do Planalto, que comete a ousadia de liberar mais de R$500 milhões, para viabilizar os interesses da sua candidatura na Câmara dos Deputados. Faço esse aparte, apenas para, mais uma vez, registrar repúdio. Não é possível uma coisa como essa!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, peço mais um minuto para concluir. Demonstrarei agora, sociologicamente, por que confio na Câmara, com muita tranqüilidade, Senador José Agripino.

As instituições, sobretudo as seculares, não nasceram para morrer, mas para se reproduzirem como modelo. A Igreja Católica, em algum momento, sentiu necessidade de algo mais ousado, e nasceu o Movimento Carismático; as seitas protestantes não deixam de ser uma tentativa de aumentar o proselitismo mais aguerrido em comparação com as igrejas protestantes, com as igrejas evangélicas tradicionais. Portanto, tudo que é mais tradicional é mais acomodado: a Igreja Católica, à qual me filio, as igrejas batistas. As mais antigas tendem a ser menos aguerridas que o movimento carismático, que as seitas evangélicas mais recentes, as seitas pentecostais, por exemplo.

O mesmo se aplica às Forças Armadas. As Forças Armadas hoje não se lembram mais de nada. Ninguém se lembra mais de tortura. Ninguém se lembra mais de nada. Elas souberam limpar-se, purificar-se.

Assim, a Câmara, que é uma instituição secular, tem dois caminhos. O Brasil é o terceiro país em funcionamento linear e extensivo do parlamento.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Em jornada de funcionamento, o parlamento do Brasil perde apenas para o da Inglaterra, a mãe do parlamento ocidental, e para o filho primogênito da tradição parlamentar anglo-saxônica, que são os Estados Unidos. Temos mais tradição de parlamento do que a Suécia. Esse é um fato estatístico e registrável por todos os livros que se interessam pelo tema.

A Câmara tem duas alternativas, se não quiser sucumbir como instituição: uma é mostrar que não se rende, nem se vende por R$500 milhões; a outra é, sem dúvida alguma, afirmar a sua independência elegendo, primeiramente, alguém independente e, em um segundo momento, punindo quem tiver de punir, absolvendo quem for inocente e fazendo justiça, para que possamos olhar para o Congresso, como um todo, com o respeito de antes.

Concedo um aparte ao Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª, eu e tantos outros companheiros nos temos revezado nesta tribuna, procurando levar uma palavra equilibrada, de denúncia, de cobrança, de fiscalização. A Senadora Heloísa Helena é outra que se junta à nossa palavra permanente de fiscalização. O que fazemos é nada mais nada menos do que alimentar a temperatura, para que o desfecho aconteça, sem que o ímpeto esmoreça. Vou chegar lá. Não existe nada que me irrite mais, Senador Arthur Virgílio, do que, na rua, em locais públicos, receber as seguintes perguntas, cada vez mais freqüentes ultimamente: Vai dar em pizza essa investigação toda? Fulano de tal vai escapar? Beltrano não vai ser cassado? Tudo isso está-se repetindo com freqüência. A nossa obrigação, como V. Exª está falando agora, ao recuperar fatos, fazer análises, dissecar com argumentos os problemas do Governo e do País, é a de levar à frente algo que aconteceu no primeiro placar. Daí minha confiança em que nem vai dar em pizza, nem Fulano, Sicrano e Beltrano vão escapar da cassação. É o placar de 313 a 158. O Deputado Roberto Jefferson, que teve o mérito de ser o denunciador de tudo o que estamos investigando hoje, foi cassado, num ato de autopurgação da Câmara dos Deputados, com 313 votos. Os mais otimistas esperavam que se chegasse a 300 votos, 290, e se chegou a 313 votos, surpreendendo até o próprio Deputado Roberto Jefferson. É a autopurgação da Câmara dos Deputados. O que digo a essas pessoas é o seguinte - e digo em tom fora do meu normal: quem criar expectativa, quem apostar em pizza vai perder o bonde da história, porque não há hipótese de isso dar em pizza. Se percebermos movimentos nesse sentido, vamos virar bicho, vamos sair do nosso normal, vamos elevar o grau das denúncias, dos debates, porque não é possível. Estamos vivendo a hora da verdade, e a banda podre do Congresso vai ter que purgar, vai ter que ser eliminada. Essa é a nossa hora também! Então, esse debate, esse tipo de declaração que fazemos, os argumentos que expomos aqui são nada mais, nada menos do que a manutenção da temperatura, para que o fato aconteça, para que a purgação ocorra e para que o Congresso repita 313 a 158 e coloque para fora desta Casa aqueles que desonram a vida pública no Brasil. Cumprimentos a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador José Agripino.

Concluo, Sr. Presidente, dizendo que, se eles se referem à palavra pizza de modo simbólico, também vou dizer que a exigência que se coloca pela Nação ao Parlamento agora é de modo simbólico também: alertando que pizza é calórico, partirmos pela condenação e pelo emagrecimento cívico de todos os gordinhos simbólicos que se locupletaram com a corrupção mais deslavada que essa República indigitada já presenciou.

Obrigado, Sr. Presidente.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2005\20050928DO.doc 12:33



Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2005 - Página 33390