Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre as eleições para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados e a repercussão na mídia. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. LEGISLATIVO.:
  • Reflexões sobre as eleições para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados e a repercussão na mídia. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 30/09/2005 - Página 33479
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. LEGISLATIVO.
Indexação
  • REGISTRO, NOTICIARIO, IMPRENSA, DENUNCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, LIBERAÇÃO, EMENDA, CONGRESSISTA, FAVORECIMENTO, VITORIA, CANDIDATO, BANCADA, GOVERNO, DISPUTA, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, CRITICA, DEPUTADO FEDERAL, COMEMORAÇÃO, RESULTADO, ELEIÇÃO.
  • EXPECTATIVA, ALDO REBELO, DEPUTADO FEDERAL, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, CUMPRIMENTO, ANDAMENTO, REFORMA POLITICA, REFORMA TRIBUTARIA.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria inicialmente de rapidamente fazer uma retrospectiva do que está ocorrendo, em matéria de disputa, na Câmara dos Deputados.

O Deputado Aleluia, que era Líder do PFL e hoje é Líder da Minoria - foi escolhido o terceiro Parlamentar mais ativo do Congresso-, quando foi candidato a Presidente da Câmara, teve 53 votos - com todos os méritos dele, 53 votos. O Deputado José Thomaz Nonô, igualmente do PFL, igualmente da Oposição, com forças da Oposição, na eleição de ontem, no primeiro turno, teve 182 votos. No segundo turno, Senador Antonio Carlos Magalhães, ele era Oposição, só Oposição. O discurso dele era de Oposição. O outro era Governo.

Severino Cavalcanti ganhou a eleição sendo uma espécie de cobra de duas cabeças: era Governo e Oposição. Depois, aderiu ao Governo.

Na disputa de ontem, Nonô era só Oposição. Ele teve 243 votos contra 258 do Governo - quase ganha a eleição -, e o Governo, no primeiro turno, o que teve foram 182 votos. O resto é como a Senadora Heloísa Helena acabou de denunciar: é produto de transação que está em todos os jornais do Brasil de hoje.

Jornal O Globo, primeira página: “Negociação com partidos do mensalão elegem Aldo”. Olhem o tamanho das letras: garrafais. Na terceira página: “Fundos e mundos elegem Aldo”. Fundos - recurso, dinheiro - e mundos elegem Aldo. Isso é a imprensa livre do Brasil. Não, mas é só O Globo? Não! Vamos ver O Estado de S. Paulo: “Governo abre o cofre e elege Aldo por 15 votos”. Comprou a eleição. É o que o jornal, na primeira página, está dizendo: comprou a eleição. A eleição era 182 a 182. Se deixassem correr livre, ganhava Nonô.

Não, mas é só jornal de São Paulo e do Rio de Janeiro! Vamos a Brasília, Correio Braziliense: “Lula elege Aldo, mas no sufoco”. E dentro há um mundo de matérias: “Aposta pesada do Governo”, “Ufa! Aldo vence por apenas 15 votos” - o que acabei de dizer.

E aí vem o que preocupa a mim e à Senadora Heloísa Helena. A sociedade brasileira deve estar estupefacta com o espetáculo da liberação de R$1,5 bilhão a emendas na véspera da eleição, da presença de Ministros de Estado dentro do recinto das Comissões da Câmara dos Deputados, cabalando votos. Mas o que me preocupa mais...

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Pessoas do “mensalão”!

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - É o que me preocupa mais, Senador Antonio Carlos Magalhães. Aqui está a fotografia da primeira página da Tribuna da Imprensa: “Aldo é Presidente, mas Câmara está dividida”. Sabe quem está na primeira página? Aqui está Aldo fazendo o sinal do polegar para cima, da vitória. Quem está em volta dele com ar sorridente de vitorioso? João Magno, José Dirceu, Professor Luizinho, José Mentor. Todos os quatro cassáveis. Todos os quatro com ameaça de cassação, comemorando com Aldo a vitória. Comemorando com Aldo! O que me preocupa é esta fotografia, por exemplo: Aldo carregado nos braços, José Dirceu atrás batendo palma. Aldo foi testemunha a favor de José Dirceu no Conselho de Ética. Ele agora é Presidente da Câmara, ele tem o poder de receber ou não o pedido de impeachment e dar andamento ou não ao processo de votação para cassação dos cassáveis. Essa turma toda está aplaudindo a eleição de Aldo Rebelo.

Eu não tenho nenhuma razão para fazer críticas aqui ao Deputado Aldo Rebelo, em quem reconheço um cidadão decente. Até hoje, vi nele atitudes decentes. Mas me preocupa esse entorno. O que aconteceu ontem, o que foi a página negra que os jornais todos estão mostrando foi uma eleição - não sou em quem diz, é a sociedade, interpretada pelo pensamento dos jornais do Brasil - que foi adquirida. Pelo voto livre, o Governo teria perdido a eleição na Câmara. Mas quem é que atuou? Foram os “mensalões”. Está aqui a fotografia dos sorridentes, os que estão aplaudindo, os que estão enlouquecidos de alegria com a eleição de Aldo.

Será que Aldo vai comprometer o seu passado? Será que Aldo Rebelo vai proteger os cassáveis? Será que Aldo Rebelo vai, a partir de agora, agir sectariamente, em nome das piores causas do Brasil? Será que ele vai ser pior do que Severino? Se ele adotar essa postura, Senador Alvaro Dias, ele será muito pior do que foi Severino Cavalcanti. O que nos resta? Vigiar. Ah! Vigiar sim, Presidente.

Eu não quero fazer nenhuma acusação ao Presidente Aldo Rebelo, a quem desejo todo o êxito do mundo na sua gestão à frente da Câmara dos Deputados. Agora, dele o PFL vai querer que a Câmara, sob o seu comando, ande; que a Câmara vote a reforma política; que a Câmara complete a votação da reforma tributária. Estão os Municípios quebrados, falidos, e o 1% dos Municípios a mais no Fundo de Participação parado, por inércia da Câmara, que estava sem comando. O que agora nós vamos querer é que a Câmara entre em marcha. E nós vamos ficar de olho bastante vivo. Nós vamos ficar vigiando o tempo todo os passos do Presidente que é eleito e aplaudido pelos cassáveis, por aqueles que estão nas primeiras páginas dos jornais aplaudindo, exultantes.

Acho que o Presidente Aldo Rebelo, com as fotos e a vibração dos cassáveis, deve estar se sentindo um Presidente com a espada de Dâmocles na cabeça, porque a Oposição confia nele, desconfiando. A Oposição dá um voto de confiança a ele, desconfiando. A Oposição cobrará dele a ação de Presidente da Câmara dos Deputados que ganhou a eleição sob a ação direta e explícita do Poder Executivo interferindo dentro do Legislativo. E a Oposição não vai esquecer as fotografias daqueles que estão comemorando, com maior exaltação, a sua vitória. Aqui está José Dirceu; aqui está João Magno; aqui está José Mentor; aqui está Luizinho. Todos cassáveis acusados de corrupção.

Sr. Presidente, com essas palavras, quero dizer que o meu Partido teve, na figura do Deputado José Thomaz Nonô, um soldado da melhor qualidade, de quem se orgulha e a quem cumprimenta com saudável entusiasmo e com o aplauso democrático de quem aplaude um homem decente, acima de qualquer suspeita.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/09/2005 - Página 33479