Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto pela exclusão do artigo de autoria do Senador Jorge Bornhausen, intitulado Raça segundo São João, que seria publicado na Mídia Impressa de hoje.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Protesto pela exclusão do artigo de autoria do Senador Jorge Bornhausen, intitulado Raça segundo São João, que seria publicado na Mídia Impressa de hoje.
Aparteantes
Heloísa Helena, Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 30/09/2005 - Página 33497
Assunto
Outros > IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • PROTESTO, EXCLUSÃO, BOLETIM, EMPRESA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO S/A (RADIOBRAS), ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, JORGE BORNHAUSEN, SENADOR, ESCLARECIMENTOS, MA-FE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), TENTATIVA, COMPROMETIMENTO, PRONUNCIAMENTO, REFERENCIA, RAÇA.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, JORGE BORNHAUSEN, SENADOR, JUSTIFICAÇÃO, DECLARAÇÃO, REFERENCIA, RAÇA.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pretendo, de forma rápida, fazer um protesto e gostaria que encontrasse eco nesta Casa. Protesto contra a renovação de uma prática que não é democrática, nem aceitável por parte do meu Partido.

Todos os Srs. Senadores e Senadoras conhecem a Mídia Impressa, trabalho feito pela Radiobrás de compilação das notícias mais importantes dos jornais de circulação nacional, dos mais importantes do Brasil. É obrigação da Radiobrás colocar na Mídia Impressa as matérias mais importantes de cada jornal. Nada mais importante no jornal Folha de S.Paulo do que os artigos da terceira página, que, normalmente, são transcritos, porque fazem opinião; são artigos bem escritos por pessoas eméritas e transcritos com propriedade na Mídia Impressa.

Outro dia, Sr. Presidente, o Senador Heráclito Fortes, referindo-se à Mídia Impressa das revistas fez um protesto pela curiosa exclusão, por parte da Radiobrás, de matérias cuja publicação não eram do interesse do Governo. Foram curiosamente, Senador Marco Maciel, escoimadas da Mídia Impressa, e o Senador Heráclito Fortes, com muita razão, lavrou aqui um protesto, endossado por nós, seus companheiros de Bancada.

Agora, faço um protesto muito mais veemente, sobre o artigo intitulado “Raça, segundo São João”, de autoria do Senador Jorge Bornhausen, em que tratou de um assunto que o incomodou: a deturpação de suas palavras por segmentos do Partido dos Trabalhadores, que verbalizaram na imprensa, de forma distorcida, que S. Exª se referia de forma pejorativa à raça como menosprezando segmentos da sociedade. S. Exª, na verdade, respondendo a uma pergunta num debate, referiu-se ao que escreve no artigo.

Tentarei ler pedaços do artigo, mas quero lavrar o protesto pela exclusão desse artigo na Mídia Impressa do dia de hoje. Por que razão? Quero conhecer a razão. Por que é que todos os dias esse tipo de artigo sai na Mídia Impressa e hoje não saiu? Porque o Senador Jorge Bornhausem recolocou o assunto com propriedade e isso não interessava ao Partido dos Trabalhadores? É porque ele coloca de forma clara qual é o seu conceito de Esquerda e o respeito que ele tem por petistas? Apenas faz diferenças entre petistas e petistas ou entre petistas e Esquerda? É porque não querem aqueles que podem operar - e a Radiobrás é uma estatal - a vontade da Radiobrás que este artigo seja do conhecimento democrático daqueles a quem chega a Mídia Impressa? Quero lavrar o meu protesto, Sr. Presidente, e quero ler pequeno trecho do artigo de S. Exª o Senador Jorge Bornhausen intitulado “Raça segundo São João”.

A pergunta veio anônima, do auditório - claramente, de alguém que precisava de um sinal de esperança.

“O senhor não está desencantado com tudo isso que acontece no Brasil?”

‘Desencantado? Pelo contrário. Estou é encantado porque estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos.’

Ele se referia ao Governo do PT, ao Go-ver-no do PT. Não era aos petistas nem ao Partido dos Trabalhadores na sua essência ou na sua formulação.

Surpreendi-me eu mesmo por ter respondido de bate-pronto. Quem me acompanha sabe que não costumo reagir precipitadamente a provocações. Mas fiquei satisfeito por ter dado aquela resposta, embora reconheça possível exagero. Trinta anos foi pura explosão de otimismo. Eu sei que a democracia adota limites humanos, e o humano abrevia as penas, esquece, compreende as contingências das quedas, oferece novas chances.

Além do mais, o petismo é representativo de parcela respeitável da sociedade. (...)

Escreve o Senador Jorge Bornhausen: “O petismo é representativo de parcela respeitável da sociedade.”

Livre dos fariseus, a camarilha que o arrastou ao atoleiro, bem que pode se recuperar mais cedo. Desde que não insistam em destilar o veneno com que abriram o caminho ao poder, insultando, difamando, fingindo a indignação moralista que jamais tiveram. (...)

            Mais para frente - considero importante ler -, S. Exª conceitua as Esquerdas e faz a distinção corretamente. O Senador Jorge Bornhausen deseja muito que seus Pares conheçam o seu pensamento.

Grandes malandros, querem se confundir com o pensamento socialista brasileiro!

Ora, os setores de maior representatividade da esquerda brasileira já estão na oposição. Desenganaram-se a tempo, antes que fossem conspurcados pela lambança. Ou aparece alguém para negar representatividade ao PDT, de Brizola? Sou testemunha pessoal, porque ouvi dele próprio seu desencanto. Ou também o PPS, liderado pelo deputado Roberto Freire, não representa a esquerda? Ou há dúvida sobre a autenticidade do emblemático Deputado Gabeira? Ou os petistas ideológicos expulsos do partido por cobrarem coerência e honestidade, insurgindo-se contra o grupo, camarilha ou raça - o sinônimo que escolhi - não são esquerda? (...)

Neste momento, neste País, são conhecidos e notórios os políticos inescrupulosos a quem visei. Os políticos inescrupulosos de quem se fala, todo mundo os identifica pelo nome, profissão, endereços, fortunas recebidas, CPF, RG e até cacoetes. (...)

Confesso que falei “dessa raça” espontaneamente, sem premeditação, usando o meu modesto universo vocabular, a linguagem coloquial brasileira com que me expresso, embora meus adversários tentem me isolar numa aristocracia fantasiosa.” (...)

Tentaram colocá-lo como nazista. O seu artigo é intitulado “Raça, segundo São João”, Senadora Heloísa Helena. Muitas pessoas escreveram, justificando a posição do Senador, como que traduzindo o significado correto, o sentido reto da palavra raça, para evitar a deturpação - a que se refere o Senador - feita pelos petistas, que são a camarilha, como se refere, do Governo: os investigados, aqueles que estão levando o País à desgraça que estamos assistindo. O artigo intitula-se “Raça, segundo São João, Senador Marco Maciel. É um artigo muito bem feito. E termina referindo-se às manifestações sobre o vernáculo raça.

O melhor, porém, é a origem histórica desse uso da palavra. Outro amigo veio me abrir o Novo Testamento, no Evangelho de Mateus, capítulo 3º, versículos de três a dez. É um registro de São João Batista chamando de “raça de víboras” aos “fariseus e saduceus” (...)

A Senadora Heloísa Helena está rindo porque conhece bem a Bíblia, tem sempre uma Bíblia aberta, e sabe ao que o Senador Jorge Bornhausen está se referindo com essa citação da Bíblia.

Repito:

É um registro de São João Batista chamando de “raça de víboras’’ aos ‘‘fariseus e saduceus”, que, desconfio, deviam ser a camarilha corrupta da época, oportunistas e que pretendiam ser melhores que os outros. Raça de víboras. E bote víboras nisso.

Termina o Senador Jorge Bornhausen.

            Ouço com muito prazer o Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador e Líder José Agripino, quero cumprimentar V. Exª pelo protesto que faz na tarde de hoje sobre um tema extremamente importante, que é a Mídia Impressa que recebemos diariamente.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - E que não contém esse artigo precioso.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Exatamente, e que nos surpreende. Quer dizer, matérias estão sendo excluídas, fora, portanto, de uma rotina adotada pela Radiobrás. Tive a oportunidade de ler o artigo pela manhã, posto que assinante da Folha de S.Paulo. E quero, por intermédio de V. Exª, cumprimentar o Presidente do Partido, Senador Jorge Bornhausen, pelo artigo que produziu e pelos esclarecimentos que ofereceu. Mas acho também que o protesto de V. Exª devia ser o protesto dos demais Líderes, porque, se isso hoje aconteceu com o PFL, quem pode garantir que não ocorra com integrantes de outras agremiações? Então, eu deixaria com V. Exª esta questão: se esse não deve ser um protesto que envolva o Colégio de Líderes desta Casa.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Marco Maciel, e faço aqui meu fecho, antes de ouvir a Senadora Heloísa Helena.

O Senador Jorge Bornhausen, que não é homem de se desculpar de coisas que não queira se desculpar, não se desculpa nesse artigo. S. Exª justifica e esclarece a quem ele se referiu no momento em que, de bate-pronto, como diz, respondendo a uma pergunta num debate, falou da raça. A raça são os Delúbios, os Silvinhos, os enganadores da Pátria, de quem se espera um fim próximo, para que não fiquem mais trinta anos no poder. S. Exª se refere a essa raça e respeita as Esquerdas e deixa claro isso, respeita até o petismo, Partido que tem história no País e que não é de todo ruim, apresenta uma banda boa que se está debatendo para se mostrar. Mas quem manda no PT e no Governo é a raça a que se refere o Senador Jorge Bornhausen.

            Ouço, com muito prazer, a Senadora Heloísa Helena.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senador José Agripino, vou até entrar na provocação legítima feita pelo Senador Marco Maciel, porque prefiro acreditar que foi um lapso. Respeito muito os trabalhadores da Radiobrás. Respeito-os muito mesmo. Já os defendi aqui várias vezes. Prefiro imaginar que foi um lapso, como muitas vezes também prefiro imaginar que é um lapso quando, às vezes, a própria estrutura de comunicação do Senado privilegia um ou outro Parlamentar governista em detrimento do outro. Então, prefiro pensar que foi um lapso dos trabalhadores e creio que não deve haver mesmo seletividade em relação a nenhum argumento. Sabem todos, inclusive V. Exª, que o pensamento do Senador Jorge Bornhausen é completamente antagônico ao meu. Já o disse aqui várias vezes. S. Exª defende o mundo, a concepção liberal, que é absolutamente distinta da minha, e não sei ao certo onde é que entrou essa polêmica da raça, que podia até ser comigo, porque, freqüentemente, uso esta expressão: “essa raça de neoliberais”, seja do PSDB, seja do PFL ou do PT. Às vezes, eu digo isso. Então, eu nem sabia de toda essa turbulência criada. Nós, nordestinos, dizemos muito isso. Inspirados ou não em João Batista, às vezes, acabamos dizendo isso também. Muitas vezes, uso tal expressão - “essa raça de neoliberais” -, quer referindo-me aos de estrelinha ou aos de tucaninho ou a quem quer que seja, pois vivemos realmente para combatê-los. Ainda bem que não foi comigo. Mas quero igualmente deixar claro algo com relação a toda a seleção de textos a serem apresentados. Do mesmo jeito que ocorre em algumas colunas, notamos isso também, colunas de determinados jornalistas não entram aqui, como as do Cláudio Humberto. Se for para ser contra quem era da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor, há outros aqui nesta Casa que foram muito amigos dele, mesmo sabendo quem ele era, como o Senador Renan Calheiros e vários outros Senadores, além do jornalista Cláudio Humberto. Então, ele devia entrar também, porque todo mundo acaba lendo o que ele escreve. Seria até bom que ele entrasse também, porque, do mesmo jeito que lemos pela Internet, por que não podemos ler nessa seleção, já que vai para muitos órgãos de comunicação do Brasil todo? Portanto, a provocação do Senador Marco Maciel, que, pelo contrário, é incapaz de fazer qualquer provocação com ninguém, foi legítima. Não é nem provocação. Não sei qual seria o termo - talvez a repreensão ou o alerta. Eu acabaria não me sentindo no direito de reivindicar que um artigo de minha autoria constasse, se o artigo de uma outra pessoa, como o Senador Jorge Bornhausen, também não constasse. E volto a repetir, sabe V. Exª do carinho pessoal que lhe tenho, mas sabemos que representamos visões de mundo antagônicas, distintas. Se houvesse uma revolução socialista, estaríamos em mundos diferentes, completamente diferentes. Acho que o pouco que conquistamos aqui, é bom que seja assim, que em tantos momentos nós discutimos e aprovamos pautas semelhantes. Em tantos momentos estamos aqui - e algumas pessoas de fora até se surpreendem -, aprovamos determinadas matérias comuns e temos concepções de mundo completamente distintas. E o Senador Bornhausen, inclusive, Senador Agripino, uma vez quando eu estava passando uma proposta que tratava de plebiscito ou proposta relacionada à questão da exclusividade dos recursos para universidade pública, e ele me disse - e podia ter feito demagogia comigo -: “Não, Senadora Heloísa, eu não posso assinar essa proposta que V. Exª está defendendo; respeito que V. Exª defenda, mas não vou assinar porque ela é completamente antagônica ao que defendo”. Disse-me, com delicadeza, com educação, mas realmente me disse. Até não acho que ele seria capaz de fazer um gesto como esse. Graças a Deus não fui eu que usei esse termo, senão, imaginem como iam bater em mim, porque falo termos que, para alguns, são fortes demais. Então só para dizer que também concordo com a observação feita pelo Senador Marco Maciel, no sentido de que possa ser excluído, não haja a seletividade. Sinceramente, prefiro pensar que não tem nada a ver, que foi um lapso dos trabalhadores da Radiobrás, por quem tenho o maior carinho e respeito, e sei inclusive o que sofreram em relação a processos que ocorreram por lá.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço a V. Exª o aparte, que me enseja a fazer uma observação.

A indignação do Senador Jorge Bornhausen, que me transmitiu inclusive, é que a Mídia Impressa, em enorme centimetragem, publicou em edições anteriores ou reproduziu em edições anteriores matérias e mais matérias que batiam no Senador Jorge Bornhausen, interpretavam de forma maldosa a questão referida como raça a que V. Exª se refere também como de uso corriqueiro por V. Exª.

Então, na hora em que ele repõe, por intermédio de um artigo - não foi nem uma entrevista, mas um artigo que ocupa espaço nobre no jornal -, curiosa e coincidentemente, na Mídia Impressa, que dedicou espaços e espaços à deturpação da colocação de S. Exª, a reposição do fato correto não sai.

Claro que S. Exª tem o direito de se indignar e, em não estando presente, como Líder do Partido, eu aqui faço o alerta e, mais do que o alerta, o protesto. V. Exª tem todo o direito a ter a dúvida. “Não; eu prefiro achar que houve um lapso”. Tudo bem; pode ter havido o lapso. Mas quem deseja fazer correção de rumo e correção de fatos e trazer a interpretação dos fatos para o que ele deseja e escreve tem o direito à indignação. Na hora em que a mídia dedica muitos centímetros a uma versão, e a versão correta não merece um só centímetro quadrado, a indignação é procedente, justa e razoável.

E em nome do Partido que o Presidente Jorge Bornhausen dirige, eu lavro aqui o meu protesto e a minha dúvida.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Senador José Agripino, permite-me um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Ouço o Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Senador José Agripino, sem querer polemizar, eu gostaria apenas de frisar o seguinte: não pretendo com as minhas palavras, fazer nenhuma acusação àqueles que operam a mídia. Eu apenas quero estranhar o ocorrido. Faço votos que tenha sido um mero equívoco, ou um acaso, ou um lapso, não quero fazer nenhuma acusação, mas acho que não deixa de ser um fato que não pode se repetir, que não deve se repetir. Espero, portanto, que os que fazem a mídia, do qual somos todos leitores, tanto no Senado quanto na Câmara, que os responsáveis por esse tão importante trabalho procurem ser mais cuidadosos para que fatos dessa natureza não se repitam.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Perfeito, Senador Marco Maciel.

O que colocaram em muitas matérias fabricadas, produzidas, com endereço certo, é que a menção à raça feita pelo Senador Jorge Bornhausen era uma forma de generalizar um Partido por inteiro e de forma nazista. É como se, de forma sectária e nazista, o Senador Jorge Bornhausen usasse o termo raça. Na hora em que ele recoloca os fatos e apresenta a sua versão verdadeira, pela sua própria pena, por intermédio de um artigo escrito e assinado por ele, sonegam espaço.

Na dúvida, o protesto e a advertência que faço em nome do Partido da Frente Liberal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/09/2005 - Página 33497