Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Ministro da Educação para que encontre uma solução que ponha fim à greve nas universidades federais e nos hospitais universitários.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Apelo ao Ministro da Educação para que encontre uma solução que ponha fim à greve nas universidades federais e nos hospitais universitários.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2005 - Página 34300
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • ANALISE, GREVE, PROFESSOR, UNIVERSIDADE FEDERAL, CRITICA, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), SOLIDARIEDADE, REIVINDICAÇÃO, GREVISTA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Eduardo Azeredo, que preside esta sessão, Senadoras, Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, há um provérbio, uma sabedoria do povo do meu Piauí, que diz: “O feitiço virou contra o feiticeiro”.

Ó Lula, ensinastes a fazer greve. Réu confesso que não gosta de estudar, que não gosta de ler, e mestre que ensinou muita gente a fazer greve. Lula, é uma vergonha! E está aqui a mocidade estudiosa.

Professor Azeredo, a universidade federal, pela segunda vez no curto e desastroso período de Governo do PT, está em greve! Atentai bem, o Professor Cristovam, um mestre, foi demitido por telefone, e, Professor Fiquene, de repente, um desconhecido se torna Ministro da Educação. Está em greve a universidade federal!

As ações do Governo servem para dar exemplo, para ser modelo, Lula. Este Brasil, Senadora Lúcia Vânia, nos primórdios da educação, criou um colégio a que deu o nome de Pedro II. E o Imperador, ó Lula, ficou na História porque levantava os fundos da cadeira - não é isso que você dizia? - e ia sentar nas carteiras escolares. Pedro II ia assistir às aulas, Flexa Ribeiro, saber como ia o ensino. Porque aquele era o modelo, era o exemplo - e o exemplo arrasta.

Senador Gilberto Goellner, Senador Ribamar Fiquene, a nossa geração estudava por livros vindos do Colégio Pedro II. Eu fui professor de Biologia - Biologia Geral, Botânica e Zoologia, Professor Waldomiro Potch. E, de lá, irradiavam-se a cultura e a educação para o País todo. E assim nasceu a nossa educação.

O Governo tem que ser exemplo. A escola do Governo tem que ser o exemplo a ser seguido pelas outras escolas. Tem que ser a luz, como foi dito aqui, comemorando-se a festa do Círio. Círio é vela, é luz. A luz é a educação oficial do Governo. E, Senadora Lúcia Vânia, a luz está apagada. Apagou por um tempão, acenderam... E as universidades todas estão em greve. E eu pergunto a este Senado: como é o nome do Ministro da Educação?

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - (Intervenção fora do microfone.) - Fernando Haddad.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ora, veio e pronto. A luz chegou, o Círio. Tinha que ser iluminada para saber, porque eu não sei, como nenhum dos 81 Senadores. Apenas uma, a luz do PT sabe, porque é do PT.

Ontem, o Senador Arthur Virgílio denunciava que o Ministro não recebia. Então, é mal educado e não pode ser Ministro da Educação. Não recebia os professores, o alunado. Senadora Ana Júlia Carepa - que chegou como um círio, a vela, a luz e a beleza da mulher paraense -, atentai bem: Pedro II ia assistir às aulas do Colégio Pedro II, dando um exemplo de administração, que deve ser seguido, ó Lula. A história é para nos levar a melhores caminhos.

Estão em greve, Professor Valdir Raupp, todas as universidades. Atentai bem! Eu mesmo tenho uma filha universitária, Senadora Lúcia Vânia, e, de repente, vindo para cá, pensei: “Quando você vai terminar e ser doutora?”. Ela respondeu: “Não sei, não. Estão em greve”. Isso não existe no mundo civilizado. O mundo civilizado tem um calendário e, aqui no Brasil, já foi assim. Fala-se da ditadura, mas a educação foi muito boa. Eu estudei nessa época, aprendi e estou aqui e nunca ouvi falar em greve. Mas o Lula ensinou a fazer greve. Ele ensinou a fazer, mas não sabe acabar. Aí é que está! É como se diz no Piauí: “O feitiço virou contra o feiticeiro!”

Ó, Lula, isso é uma vergonha! Boris Casoy, é uma vergonha! Tudo parado, todo o ensino universitário federal deste País. E o Ministro, mal-educado, não recebe os professores para dialogar com eles. Eu não admito isso, ó, Lulinha! O Ministro da Educação tem de recebê-los!

Nunca deixei de receber. Fui Prefeitinho, fui Governador, fui médico e nunca deixei de receber as pessoas. Deve-se receber, dialogar. É aí que nasce a luz - Círio de Belém! A luz nasce do debate, das necessidades dos professores, das condições de trabalho. E o fato é que estão em greve. Ó, Lula! Atentai bem!

Padre António Vieira disse que o bem nunca vem só, vem sempre acompanhado de outro. Mas, Senador João Batista, o mal também vem acompanhado de outro; uma desgraça nunca vem só.

Falo daquilo que entendo: as escolas de saúde. Além da mocidade estudiosa, desesperada, decepcionada, que está com a luz apagada, ele não respeita nem o Círio! Círio é vela acesa.

Os hospitais universitários, Senador Azeredo, quantos milhares! Senador Mozarildo, V. Exª que é da área da saúde, quantos milhares de pobres brasileiros estão, neste instante, a esperar, a lamentar, a sofrer! Senador Fiquene, os pacientes estão nos corredores dos hospitais, porque estão todos de greve.

Hospitais universitários! Isso é uma vergonha! E o Ministro da Educação diz que não recebe. Ele pode até não entrar em concordância com as reivindicações dos grevistas, mas receber, seu mal-educado, você tem de receber! Você tem de receber, em homenagem aos que foram Ministros: ao Cristovam Buarque, com quem se abraçava!

Já que o Ministro não recebe, pelo menos o Lulinha vai ouvir isto: “Lá, no Senado, eles falaram o que querem”. É o seguinte: em relação aos professores, ó, Lula, atentai bem!

A sociedade não chama um metalúrgico de mestre; não chama um doutor; não chama um senador; não chama um presidente; não chama um empresário; não chama um bingueiro; não chama os traquinas, que estão roubando o dinheiro do País. Só uma classe trabalhadora a sociedade chama de mestre: a dos professores.

Ó, Ministro da Educação, tenha respeito pela história da civilização, por aqueles que simbolizam Cristo e o mestre!

O que eles pedem? Valorização do trabalho docente, em defesa da universidade pública gratuita, autônoma, democrática, laica e de qualidade socialmente referenciada; são contra essa mercantilização da educação. É isso o que eles pedem. Um reajuste.

            Senadora Lúcia Vânia, eles mesmos dizem que há inflação! Senador João Batista...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Senador Mão Santa, V. Exª já recebeu a proteção da Virgem de Nazaré, porque, quando o Senador Eduardo Azeredo me transferiu a Presidência, tanto ele quanto eu esquecemos de marcar o tempo de V. Exª. Então, começamos a marcá-lo no meio do seu pronunciamento. Mas, em homenagem a V. Exª e pela proteção da Virgem de Nazaré, vou prorrogar o seu tempo em cinco minutos, em vez de dois.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É uma graça! Eu não estou dizendo? “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Vida! Vida! Já é um milagre do Círio de Nazaré. Essa é uma conquista da fé dos professores, igualados a Cristo, chamado Mestre, que sofre.

Ó, Lulinha, a inflação existe! O Governo mesmo diz que existe - se são 5%, 6% ou 7%, creio que é muito mais.

Senador João Batista, ontem, ouvi atentamente o seu melhor pronunciamento. V. Exª mostrou aquilo que Shakespeare disse: “Não há bem nem mal”. Não há esse negócio de MP do bem. Shakespeare disse, Senador Fiquene, que não existe bem ou mal. O problema é a interpretação. Há aqueles benefícios, mas V. Exª mostrou o lado mau da medida provisória.

Um quadro vale por dez mil palavras. Só perguntei ao Presidente - ao nosso Presidente, em quem confiamos, tão jovem, tão idealista o Senador Renan! - se poderia me informar, com o auxílio da sapiência de Carreiro Silva, se aquela medida provisória - não quero sair daqui com esta dúvida - era bem maior do que a Constituição dos Estados Unidos. Atentai para aonde vamos! Uma medida provisória é maior do que uma Constituição! Isso traduz a salada de complicação nos instrumentos da democracia.

Queremos aproveitar o tempo para dizer o seguinte: a inflação existe. O salário deles foi aumentado em 1%. 

Senadora Lúcia Vânia e Senadora Ana Júlia Carepa, as mulheres têm mais coragem do que os homens! O dia mais vergonhoso foi quando o STF, por intermédio do seu Presidente, imiscuiu-se aqui e aqui se curvou, por meio das medidas nojentas, provisórias; e nós demos um aumento para os membros do Poder Judiciário, que lhes garante, já para o próximo ano, um salário de R$27 mil.

Essas são medidas provisórias do mal. Existe um pedacinho do bem, mas, como disse Shakespeare, não há bem nem mal; o que vale é a interpretação. Demos o aumento. E para os professores? Não demos nada! Ó, Carreiro, não demos nada! E nos curvamos. Que vergonha!

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Nós nos curvamos, o Severino se curvou, o Renan reagiu um pouquinho, mas se curvou. E os professores, Carreiro, só tiveram 1% de aumento. Calculem V. Exªs, os matemáticos do Congresso, o percentual que foi dado à Justiça!

Os professores querem um reajustinho, Lula! E o mal-educado Ministro não os recebe. Não receber é falta de educação! Como é que não se recebem os professores? Podem até dizer que roubaram para o mensalão, que roubaram para as viagens, que estão pagando o aerolula, que existem as outras campanhas, e muitos deles só voltarão com muito dinheiro. Mas receber, o Ministro tem de receber!

Ele não é Ministro da Educação. Ele leva daqui, do Senado, onde estamos, o diploma de mal-educado. Ele tem de receber os professores.

Eles querem estudar, porque não estão mais conseguindo sobreviver com a dignidade. Nós agradecemos aos professores, à nossa professorinha.

Lembrem-se: no Poder Judiciário, estão ganhando R$27 mil, graças aos “professorinhos”, aos professores! Se não fossem estes, eles não estariam lá, nem V. Exª estaria aqui. É apenas isso.

Fazemos um apelo para que o Ministro da Educação os receba e tenha sensibilidade, a fim de que possamos trazer à mocidade estudiosa aquela luz que em Belém brilhou, a vela, a luz da esperança, do saber e de dias melhores, com a reabertura das universidades brasileiras.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2005 - Página 34300