Discurso durante a 173ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que está havendo uma onda de denuncismo. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que está havendo uma onda de denuncismo. (como Líder)
Aparteantes
Jefferson Peres, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2005 - Página 34047
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPUTAÇÃO, RESPONSABILIDADE, IMPRENSA, BANCADA, OPOSIÇÃO, EXCESSO, DENUNCIA, TENTATIVA, RETIRADA, ESTABILIDADE, GOVERNO.
  • CRITICA, INCOMPETENCIA, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AGRAVAÇÃO, CRISE, NATUREZA POLITICA, PAIS, RESULTADO, CORRUPÇÃO, FALTA, CONFIANÇA, GOVERNO.
  • SAUDAÇÃO, RETORNO, ANTERO PAES DE BARROS, SENADOR, EXERCICIO, PRESIDENCIA, SENADO, POSTERIORIDADE, TRATAMENTO, SAUDE.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente da República, na sua rotina medíocre - e é medíocre a rotina de quem não governa o seu país embora eleito para fazê-lo - demonstra muito pouco apreço à vida do bispo que pretende imolar-se no mito, nas águas e na vida do rio São Francisco.

Não tenho definição técnica alguma quanto ao que é melhor para algo que interessa, sobretudo, ao Nordeste, mas tenho a certeza de que este Governo está demonstrando descaso, está menoscabando a vida de um ser humano. Por falta de diálogo, por prepotência, por falta de seriedade no tratar das questões públicas. É o mesmo Presidente que diz que não passa de denuncismo o que ocupa há quatro meses ou mais as manchetes dos jornais brasileiros. Diz ele: É mentira da Oposição.

Aí eu me lembro de Afonso Arinos, genial orador, se referindo, a meu ver, com injustiça, a Getúlio Vargas no velho discurso do “É mentira! Isso é mentira, o sangue do Major Rubens Vaz. É mentira o pranto da viúva”. E eu pergunto: É mentira o dólar na cueca? É mentira envolvimento do Ministro José Dirceu com esse esquema do mensalão? Se não há mensalão, então, por que é que José Dirceu não é reentronizado na cadeira de Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República? Se nada pesa contra ele, se é um injustiçado, se merece a confiança do País, se merece a confiança do Presidente da República, por que não reassume a cadeira de Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República? Se nada existe, se não há mensalão, se não há mensalinho, se não há “semestrão”, se não há “semestrinho”, se não há nada, por que então tantos Parlamentares ameaçados de cassação? Por que tantas empresas arroladas - e ontem citei o nome de todas elas, uma por uma. Passei 25 minutos na tribuna, Sr. Presidente, - como corruptoras e tantos cidadãos, Partidos não foram tantos, foi o PT e mais alguns arrolados como corrompidos? Se não há nada, então por que, pura e simplesmente, o Presidente não anula essa má impressão que a Nação tem hoje de seu Governo?

Não será à base do cinismo que Sua Excelência vai se livrar da condenação da História. Não será. Não será. Não será à base da impostura, não será à base de - aspas para o Presidente Lula, que deve estar pensando isso em seus delírios - o povo não tem memória comprida, o povo tem memória curta. Povo não tem memória curta coisa alguma, a figura que se demonstra trêfega não vai longe, está sendo apenada pelo julgamento dos contemporâneos e vai ser condenada terrivelmente pelo julgamento dos pósteros. Teríamos que ter respostas claras a tantas acusações de corrupção. Agora mesmo, na CPI dos Bingos, cinco pessoas estão sendo acareadas - algo jamais visto. Temos uma clara idéia, mas faltam detalhes. A corrupção está provada, senão não haveria os cassáveis, não haveria o cassado, não haveria os ameaçados, não haveria os demitidos. Quase uma centena de pessoas caíram da administração do Sr. Lula. Então não tem nada? Como é que aconteceu tudo isso?

Era muito mais fácil Sua Excelência se penitenciar mesmo, diante da Nação, confessar sua incompetência, a sua omissão. Se é que pretende, Senador Jefferson Péres, que continuemos acreditando na honradez pessoal dele. Pode ser que a partir daí já não mereça isso, nem mais mereça isso. Porque se continua mentindo é porque tem culpa no cartório. Se continua mentido é porque já não tem a confiança plena nas suas próprias mãos limpas. Se continua mentindo é porque não quer, pela explicação da verdade efetiva, não quer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não quer ficar diante da Nação, esperando que a Nação, ela própria defina sob que verdade ela está vendo. A verdade não é o que projetam os áulicos nem a propaganda palaciana; a verdade é o que projetará a Nação a partir das suas conclusões.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, reconheço que o pai de V. Exª foi um extraordinário homem público - Senador. Mas o meu não foi homem público, mas foi um extraordinário pai que nos ensinou a virtude. Ele dizia o seguinte: - Quem mente rouba! Quem mente rouba! E eu prefiro acreditar no meu pai.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª tem toda razão. E a recíproca é verdadeira: quem rouba, certamente mente. Ou será que a gente pode dizer que nem todo mentiroso é ladrão e nem todo ladrão é mentiroso? Eu não sei. Toda regra tem exceção. Mas agradeço muito a contribuição sempre sábia e oportuna de V. Exª.

Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Arthur Virgílio, sou testemunha e V. Exª também, fizemos o possível para preservar o Senhor Lula, devido à instituição Presidência da República, mas está chegando a um ponto em que é impossível, mesmo que queiramos preservá-lo. Veja esse episódio, Senador Arthur Virgílio, do Sr. Gilberto Carvalho, Secretário Particular do Presidente da República, homem da sua mais absoluta confiança, com uma acusação gravíssima, que já tinha sido feita há dois anos, mas agora reiterada neste Senado por um médico, irmão da vítima, do Celso Daniel, e que ouviu o Sr. Carvalho dizer que angariava, arrecadava dinheiro sujo das empreiteiras e concessionárias de Santo André para levar e entregar nas mãos do José Dirceu. O Presidente da República deveria tê-lo afastado imediatamente, por cautela, não por prejulgamento. Ontem, a CPI tomou providência que já deveria ter tomado antes, de fazer uma acareação entre os dois. O Presidente da República reage irritado, acusando a CPI. Não é possível mais acreditar na inocência do Senhor Luiz Inácio Lula da Silva. Só quem acredita em Papai Noel, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª tem toda a razão. O Presidente Lula age como alguém que tem peso na consciência, sim. E V. Exª mesmo, Senador Jefferson Péres, é quem disse algo que tenho tomado para mim como pensamento a ser expendido: V. Exª disse, certa vez, que acredita na ciência do Presidente sobre esses assuntos, mas que entre a certeza de V. Exª e a verdade verdadeira dos fatos há uma distância que o democrata não pode ultrapassar. Eu mesmo, que não me considero o Supremo Tribunal Federal, o jurisprudenciador de nada, o tribunal de última instância nem sou tribunal de exceção, não sou tribunal para condenar quem quer que seja a Torquemada, apenas fico com a convicção, que é a de V. Exª, de que o Presidente sabe, mas prefiro, por enquanto, em não o vendo com a mão na massa, provadamente com a mão na massa da corrupção, ele próprio, pessoalmente, imaginar que o melhor seja mesmo termos tido a cautela que temos tido em relação a ele.

Em relação ao Sr. Gilberto Carvalho, fui muito cauteloso, fui Ministro, servi no Palácio do Planalto, considerei que era grave levar-se o Secretário particular do Presidente lá, e a reunião reservada me deixou tranqüilo em relação à minha própria consciência, mas entendo que, depois desses eventos e tendo a CPI convocado a acareação, tenho a impressão de que, a essa altura, não resta ao Presidente Lula a não ser mesmo afastar o Sr. Gilberto Carvalho, e não resta ao Sr. Gilberto Carvalho a não ser ele próprio tomar, até para não constranger o Presidente, a atitude de se afastar temporariamente que seja, se conseguir provar, e espero que prove, que nada pesa contra ele, que retorne.

No final, volto ao começo do meu discurso: se nada há contra, Sr. Presidente Antero Paes de Barros - vê-lo de volta a esta Casa nos dá muito prazer, depois de êxito no tratamento de saúde a que se submeteu - se o Presidente diz que é tudo denuncismo da Oposição, então, por que tem tanto Deputado ameaçado de ser cassado? Em outras palavras, tire o Presidente. e tire este Governo, o cavalinho da chuva porque não vai haver pizza. Quem é culpado, vai ser punido: quem tiver mandato, vai ser cassado; quem não tiver mandato, vai ser processado, mas não vai sobrar pedra sobre pedra deste edifício de corrupção que erigiram em cima da dignidade brasileira.

Este é um fato, esta é uma verdade; os dois iniludíveis. Quem viver, verá, porque estamos prontos para exercer toda vigilância, sem a qual a Nação sairá humilhada e decepcionada com esta instituição. Esta instituição não pode deixar de dar a sua contribuição à democracia e só pode dá-la se estiver limpa e se obrigar o Governo, na parte que toca ao Governo, a ficar ele próprio limpo também.

É papel do Congresso velar para que a democracia saia sólida e forte, e ela não sairá forte e sólida pelos panos quentes, mas pela punição de quem quer que esteja envolvido em qualquer tipo de falcatrua neste País, Sr. Presidente.

Portanto, que o Presidente Lula aterrisse, que aterrisse seu “aerolula”, que o faça simbolicamente, pisando o chão duro da realidade; que o Presidente Lula acredite que ninguém no Brasil acredita mais nele, porque só ele mesmo acredita que alguém vai acreditar que tudo o que se escreve nos jornais é denuncismo. O que há, Sr. Presidente, é a mais grossa e deslavada corrupção, e este é o Governo mais corrupto da história republicana deste País.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2005 - Página 34047