Discurso durante a 173ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Sugestões ao presidente do Senado, Senador Renan Calheiros, para que faça um apelo ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no sentido que seja discutido pelo Senado, o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, antes do início das obras. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Sugestões ao presidente do Senado, Senador Renan Calheiros, para que faça um apelo ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no sentido que seja discutido pelo Senado, o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, antes do início das obras. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2005 - Página 34058
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • SUGESTÃO, PRESIDENTE, SENADO, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACEITAÇÃO, DISCUSSÃO, PROJETO, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, ANTERIORIDADE, INICIO, OBRAS.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (S/Partido - DF. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço ao Presidente o tempo cedido à Liderança do PDT para que eu possa proferir este discurso sobre um bispo que está em greve de fome e de um rio que está condenado à morte.

Cabe lembrar que falamos de um bispo fazendo greve de fome, com a sua vida ameaçada, 2000 anos depois das perseguições romanas aos cristãos. Fazemos isso em um momento em que já seria possível a solução do problema da água sem a necessidade de realização de grandes obras.

Entretanto, não vou, aqui, tomar posição nem a favor do Bispo Luiz Flávio Cappio, nem contra o Projeto da Transposição. Venho trazer uma proposta, Sr. Presidente, para que não fiquemos alheios num momento de tanta gravidade.

Sr. Presidente, algo está errado quando um bispo, respeitado e respeitável, um homem de 58 anos de idade, está jejuando há 11 dias, protestando contra um projeto do Governo! Algo está errado, e não podemos ficar alheios. Algo está errado - e é muito grave -, ainda mais se, nos próximos dias, a greve de fome continuar e a fragilidade desse personagem brasileiro chamar a atenção do mundo inteiro. Imagine, Senador Mão Santa, Gandhi no tempo da CNN, no tempo da internet! É isso o que vai acontecer quando a população mundial vir um homem da Igreja prostrado, sacrificando a sua vida, às vésperas de uma possível morte, em pleno sertão brasileiro. O mundo verá o país que queima a Amazônia, o país dos meninos de rua, da violência urbana, impor um projeto que muda a realidade, para o bem e o mal, sem ouvir, sem ter a sensibilidade de ouvir a voz dos que a ele se opõem, entre as quais a de um bispo da Igreja Católica.

Um país, Sr. Presidente, não pode frear seu rumo por causa da vontade de apenas uma pessoa, nem mesmo de um grupo, mas também não deve tomar decisões tão drásticas sem considerar, sem consultar, sem ouvir a voz das pessoas. Refiro-me, porém, à voz com voto, não apenas à voz de audiência pública, que é uma voz consultiva: tem de ouvir a voz deliberativa.

O que está por trás desse gesto e dessa crise nacional criada pela vontade pessoal do Bispo Cappio não é tanto se ele tem ou não razão, mas se o Brasil deve tomar decisões tão grandes consultando ou não a opinião pública.

Nos últimos meses, o Governo Federal realizou muitas audiências, mas não submeteu sua decisão ao voto. Ouviu opiniões, não ouviu os representantes do povo, que é o Congresso Nacional. O Bispo Cappio, em greve de fome, não toma uma atitude contra o Brasil, mas contra um projeto que não foi votado, até porque a lei não mandaria ser votado...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (S/Partido - DF) - Não foi votado no Congresso.

Se o projeto de transposição do rio São Francisco tivesse sido debatido pelo Congresso, emendado aqui, votado e aprovado nesta Casa, estou certo de que o Bispo Cappio não estaria em greve de fome. Ninguém faz greve de fome contra o povo inteiro, somente contra governos.

O Brasil não deve parar seus projetos pela vontade de uma única pessoa ou de um grupo, mas não deve levar adiante projetos tão grandes sem ouvir aqueles que representam o povo.

Por isso, Sr. Presidente, neste curto tempo que tenho, quero fazer uma proposta: que o Congresso não fique alheio à situação. O Presidente Renan deve fazer um apelo ao Presidente Lula e ao Bispo Cappio. Ao Presidente Lula, no sentido de que, mesmo não sendo necessário submeter esse projeto ao Congresso, que aceite fazê-lo para ouvir a opinião, mas sob a forma deliberativa, do Senado Federal, seja no plenário seja em alguma comissão escolhida pelo Presidente Renan. Ao Bispo Cappio, que aceite, de antemão, qualquer que seja a decisão dessa comissão, qualquer que seja a decisão desse grupo de representantes do povo, que são os Senadores. Essa é a proposta que quero deixar aqui, Sr. Presidente, pedindo que ela seja transmitida ao Presidente Renan. Ele, repito, pediria ao Presidente Lula o voto do Senado em relação ao projeto e pediria ao Bispo que aceitasse, que se submetesse a essa decisão do Senado.

Quero aproveitar os últimos segundos, se o Presidente permitir, para dar um aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Professor Cristovam, quero dizer a V. Exª, com toda prudência, que esse projeto, como tudo do Governo, está desorientado. Está calado ali o Líder do Governo, Senador Fernando Bezerra. Ele foi Ministro do Interior, fez, levou a Sudene. O Piauí tem 40% de semi-árido, por isso, em Washington, no Bird, incluímos o Piauí, porque o Estado tem 40% de semi-árido também. É falta de conhecimento geográfico do Presidente Lula e de seus técnicos.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (S/Partido - DF) - Eu creio que opiniões como essa do Senador Mão Santa devem ser ouvidas, ao lado de opiniões a favor do projeto.

Eu, como pernambucano, quando vejo esse projeto, penso, primeiro, no risco de transferir, ainda que uma parte pequena - é preciso dizer -, as águas do rio; segundo, no risco de fazer esse projeto sem levar em conta a renovação de um rio que está à beira da morte; terceiro, penso no custo desse projeto; quarto, eu levo em conta os que estão sem água; quinto, eu me pergunto se a água vai chegar àqueles que precisam.

São diversas análises e pontos em conflito em relação aos quais somente um grupo daqui do Senado poderia ter autoridade para dizer sim ou não, tranqüilizando pessoas como o Bispo Cappio e o Governo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2005 - Página 34058