Discurso durante a 175ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lançamento de livro pelo Senador José Sarney. Considerações sobre o governo Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Lançamento de livro pelo Senador José Sarney. Considerações sobre o governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2005 - Página 34600
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, JOSE SARNEY, SENADOR, LANÇAMENTO, LIVRO.
  • ANALISE, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, INSUFICIENCIA, AUMENTO, SALARIO MINIMO, AUSENCIA, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, PROFESSOR, REAJUSTE, SALARIO, INEFICACIA, POLITICA SOCIAL, POLITICA HABITACIONAL, SUPERIORIDADE, DEFICIT, HABITAÇÃO, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, MAIORIA, RODOVIA, PAIS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Ilustre Senador Ribamar Fiquene, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem por meio do sistema de comunicação do Senado, quis Deus que esta sessão fosse presidida pelo Senador Fiquene, uma das figuras mais importantes da história do Maranhão. É um homem de dotes extraordinários! S. Exª é, Senador Efraim Morais, um Leonardo da Vinci!

Senador Geraldo Mesquita, o Senador Fiquene canta, toca. S. Exª foi advogado, promotor, jurista, professor e mestre. Plantou a semente do saber numa universidade do Maranhão. E é grande administrador.

Sou intimamente ligado ao Maranhão, pois sou filho de maranhense. O pai da Adalgisinha também nasceu naquele Estado.

Acredito que sou encantado pelo Presidente Sarney. Mas sou mais encantado ainda, Senador Efraim, por Aristóteles, que disse: “Errare humanum est”.

Ontem, foi uma beleza ver o Presidente Sarney traduzindo a cultura do Maranhão, que é grandiosa. São Luís é conhecida como a Atenas brasileira. Todos ficamos orgulhosos com o lançamento, nos Estados Unidos, de seu romance O Dono do Mar, que já li. Digo isso porque um dos mais belos livros que conheço é Saraminda, tão encantador que Fiquene, artista como Leonardo da Vinci, fez uma música inspirado nele.

Mas errare humanum est.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL - AC) - Senador Mão Santa, o senhor deveria ter-me revelado esse fato há mais tempo, porque eu também gosto muito de música, gosto de cantar e tenho algumas composições, que eu só canto no banheiro. Se soubesse disso há mais tempo, eu teria privado muito mais da companhia do Senador Fiquene.

O SR. PRESIDENTE (Ribamar Fiquene. PMDB - MA) - Muito obrigado, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Olha, ele nos lembra Nelson Gonçalves. Aliás, já há alguns anos, na minha cidade, fazem uma festa pública no meu aniversário, de 12 para 13, e quero convidá-lo para cantar. Lá é vizinho ao Maranhão e o cachê será apenas a nossa amizade, pois eu não ganhei mensalão. Seria uma oportunidade.

Senadora Heloísa Helena, o Presidente Sarney tem um brilho extraordinário e ímpar. Aliás, Senador Fiquene, há um livro recente, muito interessante, no qual um jornalista escreve a respeito dos conflitos dos Presidentes. Analisando o Presidente Sarney, ele disse que a sua virtude mais importante é a paciência.

Senador Geraldo Mesquita, Cícero disse: “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”.

Presidente Sarney, V. Exª, por ter paciência demais, disse que Lula é vítima. V. Exª quis ser elegante, mas vítima, Presidente Sarney? Lula não é vítima.

Aliás, Presidente Sarney, quero, não lhe dar um ensinamento, porque não é meu e não posso fazê-lo, mas quero buscá-lo na sabedoria italiana do Renascimento: Maquiavel, em O Príncipe, fala de fortuna, a sorte, e virtù, a virtude. Dois homens nordestinos tiveram sorte e chegaram ao ápice dos instrumentos da democracia, porque o poder é o povo. Não sou Montesquieu, eu sou do Piauí. Respeito os juristas que V. Exªs são e Montesquieu, que disse que existem três pilares, três poderes, mas não entendo assim. Entendo que eles são instrumentos da democracia, mas que poder é o povo, que paga a conta e merece respeito. Lula e Severino, do nosso Nordeste, tiveram fortuna, sorte, e chegaram ao ápice, mas quanto à virtù, um já caiu do cavalo e o outro está aí, ninguém sabe como. Todos rezamos para que chegue até o final. Faltam-lhes virtudes, Senador Geraldo Mesquita, entre elas a virtude do saber, a fome e a sede do saber.

Sócrates disse que existe apenas um grande bem, o saber, e somente um grande mal, a ignorância. O PT plantou a ignorância audaciosa e corrupta no nosso País. Então, vítima, Presidente Sarney, é o povo.

Ulysses, Presidente Sarney, disse: “Ouça a voz rouca das ruas”.

Senador Efraim, eu a ouço, bem como a decepção do povo.

São Francisco falou: “Onde houver desespero, que eu leve a esperança”. O povo, começando pela classe trabalhadora, está perdendo a esperança, porque foi enganado. O salário mínimo está menor, Senadora Heloísa Helena.

Fomos tombados pelo Poder Judiciário, que aqui invadiu, por intermédio do Presidente do STF, e pegou o pobre coitado do Severino, que se comprometeu a dar um aumento de R$27 mil para o Poder Judiciário, para o ano, já amarrado, já terminando.

Senador Efraim, em qualquer país civilizado, a diferença entre o menor e o maior salário é de dez vezes o menor salário. O justo, então, seria um salário mínimo de R$2,7 mil, mas não temos isso.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça: o povo, o trabalhador, o professor. Presidente Sarney, o professorzinho, a professorinha, que eram sorridentes e encantadas.

Senador Efraim, fui buscar a Adalgisinha terminando a Escola Normal; era o sorriso das professoras. Hoje, aí estão numa greve, e o Ministro, mal-educado, Presidente Sarney, não atende os professores. Ô, Ministro mal-educado, sem os professores não haveria os que ganham R$27 mil na Justiça, os engenheiros que vão fazer a transposição do rio, e os médicos, como nós.

E o que eles querem? Olhem, Lula e Presidente Sarney, depois de tanto estudo e da porta estreita do concurso - não da porta escancarada e larga da corrupção, da vergonha e da nomeação do PT -, querem salário. Vítimas são eles que, depois de tanto estudo na universidade, recebem um salário de R$700,00 a R$1,3 mil, para os mais titulados. Eles querem uma negociação, um reajuste.

Vítima é o funcionário público, Sarney, que, em dez anos, teve 1% de aumento.

Presidente Sarney, lembre-se de que o filho de Lula, de chofre, de repente, num milagre, ganhou R$5 milhões de uma empresa dessas aí. E um professor, quando vai ter R$5 milhões, ó Fiquene?

Vítimas, Senador Efraim, são os bancários, os que trabalham, os que não roubam, os que vêem essas contas e esses mensalões passando, que assistem a essa roubalheira. Vítimas são eles, que trabalham e ganham tão pouco dos banqueiros.

Ó, Presidente Sarney, lembre-se que Rui Barbosa disse só haver uma saída: o trabalhador e o trabalho. Eles devem ter primazia, porque vêm antes e fazem a riqueza.

Vítimas são os bancários, porque o Partido dos Trabalhadores se transformou no “Partido dos Banqueiros - PB”. Os universitários. Senador Fiquene, V. Exª teve esse sonho e plantou-o no Maranhão junto com outro Senador, nosso Senador Mauro Fecury, a semente do saber. São os universitários do Governo.

Eu fui também universitário e não era assim, não, Presidente Sarney! Eu me formei e não tive um dia de greve. Em poucos anos, é a segunda greve da universidade. A vítima são os universitários. Eu tenho uma filha que não sabe quando vai se formar.

E mais ainda, Padre Antônio Vieira, lá do Maranhão, diz: “O exemplo arrasta, o bem nunca vem só”. Mas o mal também é a desgraça - os hospitais universitários.

Vítimas são os que estão na fila, que não têm acesso a essas instituições privadas de assistência médica, que não têm dinheiro para pagar e estão à espera de atendimento nos hospitais universitários. Esses é que são as vítimas.

Os prefeitinhos... Presidente Sarney, a Constituição, beijada por Ulysses, que disse que desrespeitar a Constituição é rasgar a bandeira, previa 53% para a União, para o Lula, 22,1% para os Prefeitos, 21,5% para os Governadores, 3% para os fundos constitucionais. Com a fome do PT, o Lula já está com mais de 61%, roubando dos Prefeitos.

As vítimas são eles. Eu fui prefeitinho, e fui um bom prefeitinho porque se respeitava a Constituição. Vítimas somos nós, porque o símbolo de nossa bandeira, Senador Efraim Morais, Ordem e Progresso... Aquela briga na Câmara é a desordem, e o “progresso” é o regresso. Está todo mundo ganhando menos, desempregado. Esses é que são vítimas.

Vítimas são os sem-terra do Maranhão.

Engenheiro Efraim, sabe qual é o déficit de casas? Ó Lula, aprenda!

O PT só tem a ensinar essa malandragem, a traquinagem, a trampolinagem, a roubalheira mesmo. Isso eu não tenho como ensinar. Senador Efraim Morais, sabe qual é o déficit de casas neste País? É de 7,8 milhões. Cada casa no Brasil tem cinco familiares, são quase 40 milhões. É uma conta fácil, Lula. São quase 40 milhões!

Senador Fiquene, quem fala aqui é alguém que foi prefeitinho e Governador do Estado. Fiz - eu não, o povo, porque foi ele que pagou -, foram feitas no meu Governo pelos engenheiros, pelo povo, 40 mil casas para os pobres. O Piauí, Lula, tem 3 milhões de habitantes. Fazendo uma conta rápida, são 2% da população. Na devida proporção, se todos fizéssemos o mesmo que fez o Piauí e tivessem um grande Presidente a liderá-los, teríamos quase 5 milhões de casa. O déficit é de 8 milhões, mas isso não acontece. Não acontece.

Vítima é o povo que está debaixo das pontes, que está nas favelas, que está, nas palafitas no Amazonas, que está sob as pontes, sob os cajueiros; não é o Lula que está na Granja do Torto, no bem-bom, que está no Alvorada e na Granja do Torto. Amanhã, com certeza, ele vai tomar sua pinga. Se fosse pelo menos a Mangueira, do Piauí, estaria nos ajudando. Vítima é o Piauí, que votou nele e escolheu um Governador do PT!

Vítimas são os motoristas. Atentai bem: mais de 70% das estradas estão esburacadas. Imaginem os motoristas guiando, à noite, com os carros virando, as tormentas, os assaltos, porque o Governo não dá o mínimo... Vítimas são esses motoristas que são assaltados.

Norberto Bobbio, que era Senador vitalício - acho que deve haver Senador vitalício aqui e o Senador José Sarney deveria ser o primeiro -, disse que o mínimo que se tem de exigir do Governo é a segurança à vida, à liberdade e à propriedade. Cadê a segurança? Vítimas somos nós.

Vítimas são os presos. Olhem as prisões. Acho que o inferno não é pior, não.

Vítima é o povo brasileiro, quando o Ministro da Justiça mente. Ele mentiu para nós. Eu me lembro de que eles quiseram levar o Beira-Mar para o Piauí. Eu disse: não dá certo, Ministro. Fui eu que construí essa penitenciária a dez, doze quilômetros da capital. Eu fiz essa penitenciária para botar aqueles piauienses que cometem pequenos deslizes. Não dá! Aí, ele disse que era provisório, porque iria fazer cinco penitenciárias federais. Cadê?

Senador Ribamar Fiquene, vítima eu, pelo menos, não sou, porque tive um pai maranhense. Eu me orgulho dele, que me ensinou. Presidente Lula, sei que foi o destino, mas, como meu pai me ensinou, eu quero lhe ensinar agora. Talvez seu pai não tivesse... Eu quero passar-lhe a maior riqueza. Eu apanhei muito de meu pai. Ele dizia: “Quem mente, rouba”. V. Exª e seus comparsas do PT mentem para o Brasil.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2005 - Página 34600