Discurso durante a 176ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Governo do Presidente Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Críticas ao Governo do Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2005 - Página 34677
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, EXCESSO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA.
  • CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), INEFICACIA, DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO, BRASIL, AUSENCIA, DIALOGO, PROFESSOR, UNIVERSIDADE FEDERAL, GREVISTA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte pronunciamento. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, Senadoras e Senadores na Casa, brasileiras e brasileiros presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, as revistas brasileiras, ao longo dos anos, têm despertado grande atração.

Senador Alvaro Dias, a nossa geração foi cantada pela revista O Cruzeiro, dos Diários Associados. Quando a líamos, na nossa adolescência - naquele tempo era melhor, pois o Brasil piorou com o PT -, havia miss na capa, Marta Rocha, mulheres. Agora só vemos bandidos, por causa desse mensalão.

Senador vitalício Carreiro, V. Exª também lia O Cruzeiro. Eu ia direto à seção “O Amigo da Onça”, criada por Péricles. Interessante! Em todas as revistas, temos uma preferência.

Senador Tião Viana, lamento. As revistas são boas: Época, IstoÉ, Veja. Como, no passado, eu buscava “O Amigo da Onça”, em O Cruzeiro, agora é interessante e merecedora de louvor uma coluna chamada “Sobe e Desce”. Traz análises de bom senso. Creio que sintetiza.

            Ô Lula, ela fala de tudo o que houve sobre essa desgraceira que está aí e, inclusive, traz um artigo meio violento contra o seu irmão, mas não vou entrar em questões de família.

Senador Alvaro Dias, onde V. Exª estava em 1958? Eu era interno do Colégio Marista cearense. Senador Mozarildo Cavalcanti, onde andava V. Exª em 1958?

Foi o ano da Copa do Mundo na Suécia. Feola era o técnico. Cresceu em nossa geração um paradigma, Senador Mozarildo Cavalcanti: Vavá. Gol, Vavá! Vavá salvava, era uma emoção! Todo mundo queria ser Vavá. Só não gostei porque o irmão de Lula é Vavá. Aqui, Vavá está acabando com o Governo. Faz gol de mão, de mão ligeira, de offside, de falta de ética. Mas vamos esquecer a família. Lamento.

Que vergonha, ó Lula! Nem eu nem ninguém vai pedir o impeachment. Já houve renúncias. Acho que o fato de Lula não ter diploma universitário é razoável - quantos não o têm! -, não tem nada demais. Mas este aqui foi o pior diploma, Senador Mozarildo: a educação desce.

Senador Tião Viana, puro, jovem, sempre lhe adverti!

O País tem tido ultimamente Ministros extraordinários. Não sou dos tucanos, não, mas esse Paulo Renato foi um extraordinário Ministro da Educação. O Professor Cristovam Buarque era PT, eu não fui, votei no PT, porque o cão atentou. Existe cão. Deve ter sido esse cão a causa de eu ter votado no PT.

O Professor Cristovam Buarque, em quem todo mundo acreditava, um homem de convicção - e um homem com convicção, diz Napoleão Bonaparte, vale por cem, por mil -, tem a convicção de que a educação é a salvação. Essa é a tese dele. E foi demitido por telefone.

Ó Senador Mozarildo, na certa o Palácio está-lhe nomeando Ministro da Amazônia, para salvá-la. Esse negócio de telefone, o Cristovam foi atender e foi demitido, lá no exterior.

Aí nomearam um Ministro que tinha sido derrotado nas eleições - tinham mania de colocar derrotados nos Ministérios. Havia 15 ou 16 Ministérios, e o Collor baixou para 12. Depois, voltou para 16 o número de Ministérios, e, de chofre, o Lulinha Paz e Amor aumentou para 38 Ministérios, para empregar os derrotados. Buscou esse Tarso Genro. Perder eleições, eu já perdi, Rui Barbosa perdeu até mais. O que não se pode é perder a vergonha e a dignidade. Ele estabeleceu esse critério, e o Ministro estava mais ou menos.

A turma diz que Deus é brasileiro, porque aqui não existe terremoto, maremoto, vulcão. Senador Mozarildo Cavalcanti, na Amazônia tem o quê? Não temos essas confusões todas, mas temos o PT. Então, ficamos meio desconfiados se este Deus é realmente brasileiro.

Então, ele coloca lá o Tarso Genro como Ministro da Educação. Aí, tira o homem, com todo o respeito - nós nunca falamos dele, ele foi Prefeito, não é? -, para ser Presidente de um Partido no qual ele foi desmoralizado. E já estão elegendo outro Presidente.

Senadora Heloísa Helena, atentai bem, entrai e sentai. Olha aí o diploma! Educação: o Piauí desce.

E escolheram outro Ministro da Educação. Cheguei agora do Piauí, e lá ninguém sabe o nome dele. Ninguém no Piauí sabe o nome desse Ministro da Educação novo.

Senador Alvaro Dias, V. Exª é do Paraná, onde há aquela instituição libertária, da qual até nós fazemos parte, a Boca Maldita. Veja se alguém da Boca Maldita do Paraná conhece o nome do Ministro da Educação. Eu não sei. V. Exª sabe, Senador Mozarildo? O Paim, que é do PT, não sabe! O pai dos trabalhadores não sabe! Ninguém sabe.

Está aqui, Senadora Heloísa Helena, atentai bem: desce a educação no Brasil. É o quadro mais importante da revista: “Pela primeira vez em dez anos, diminui o número de estudantes no Brasil”. Isso ocorreu em dez anos!

Senador Eduardo Siqueira Campos, que tem um projeto para educação, saiba que aquilo foi apenas um sonho. A educação desce no Brasil. Brasileiras e brasileiros, acreditei no estudo e no trabalho.

Vem entrando o homem da educação, da convicção, da esperança. Eu o elogiei, e foi bom porque estava ausente. Procure, então, verificar nos Anais, Senador.

Senador, olhe esse diploma mais vergonhoso. Dizem que o Jânio Quadros tomou um uísque e renunciou. Ah, se o Lula tomasse a branquinha e renunciasse!

Aonde vamos chegar sem educação? Professor Cristovam Buarque, Deus quis que V. Exª adentrasse aqui. Vou citar uma pessoa que empata com V. Exª. V. Exª me deu, outro dia, um livro, mas de outro autor e sobre Napoleão Bonaparte. Eu queria um livro sobre o que V. Exª pensa mesmo. Mas um dos livros que mais me impressionaram foi de Albert Einstein, intelectual como V. Exª, chamado Escritos da Maturidade, que tem uma parte sobre educação.

Então, vi que ninguém, ninguém mesmo podia falar. Só Cristovam Buarque se atreve a discutir com Albert Einstein!

Senadora Heloísa Helena, gostei tanto dessas duas páginas sobre educação - uma síntese de Albert Einstein -, que mandei para todos os professores e diretores do Piauí.

Mas resumo - porque não posso citar todas as palavras - o que pensa Albert Einstein. Lula, sei que não vai chegar aí, mas pelo menos leia essa “paginazinha”, as duas folhas do livro Escritos da Maturidade, para que recupere esses seus 50 anos nas trevas da ignorância numa luz do saber. São apenas duas páginas, Heloísa Helena, é bem sintético. Ele diz assim: “Educação é aquilo que fica depois de você esquecer tudo que aprendeu nas escolas”. É assim que ele vai refletir. É ter disciplina, é pensar, é raciocinar, é saber diferençar o bem do mal, é saber estudar, é saber pesquisar. Isso é o que fica, não aquela parte decoreba.

E vai mais adiante, Professor Cristovam. Ó Lulinha Paz e Amor, tem também de saber, porque, sem sabedoria, acaba tudo. Essa foi a orientação que Deus deu ao privilegiado Salomão.

Então, Professor Cristovam, ele vai mais adiante: “A escola é esse templo do saber - não é uma igreja, não é uma mesquita - e o único instrumento pelo qual poderemos pinçar todos os conhecimentos adquiridos na história da humanidade e dar de bandeja às nossas crianças e à nossa juventude”. Isso é o mais importante, e aí está a falácia. Professor Cristovam, V. Exª terá insônia hoje. Com a presença de V. Exª, com o Partido que V. Exª sonhou no Governo e pelo qual V. Exª passou no Ministério, V. Exª jamais imaginou este título: desce a educação.

Eu vinha advertindo aqui desde o começo, como um dos primeiros que viam isso.

Senadora Heloísa Helena, confesso as minhas crenças: acredito em Deus, acredito no amor - o amor constrói -, acredito no estudo e no trabalho. Então, Professor Cristovam, quando vejo esta falácia “desce a educação no nosso País”, o que entendo é que, nesse mundão, que está pequeno pela globalização, pelo avião, pela Internet, pela comunicação, os países educados são mais saudáveis, são mais ricos e são mais felizes. E os países mal-educados, que observamos no mapa do mundo - hoje está fácil de ver; os nossos netos sabem melhor do que nós acessar a Internet -, são países pobres. Os mal-educados são pobres, são doentes e infelizes.

Lula, sei que Vossa Excelência chegou à Presidência, mas isso é um título. Título maior havia em Roma, Professor Cristovam: César! Ser Presidente é como ser César. Aprendi que Calígula foi César, Nero foi César. Ser Presidente não é mérito; o mérito é ser bom Presidente, educar o nosso País.

Que esperança poderemos ter, Senadora Heloísa Helena? A Senadora Heloísa Helena contou a historiazinha dela aqui: a mãe, o quarto, os ricos, os fundos. Se essa moça, essa guerreira não tivesse buscado as bênçãos do estudo e do saber, ela estaria em uma cozinha de um branco usineiro de Alagoas. Foram os estudos que fizeram Heloísa Helena nos encantar nesta Casa. Quando quiseram queimá-la em uma inquisição, lutei para defendê-la. Foram os estudos que fizeram com que ela estivesse aqui, como Senadora; foram eles que fizeram com que ela criasse o Partido Socialismo e Liberdade: os estudos! E esse estudo está sendo negado às próximas Heloísas Helenas, aos próximos guerreiros.

Esta é a página mais negra de todas as malandragens, de todas as traquinagens, de todas as roubalheiras, de todas as sem-vergonhices da história do País.

Jânio Quadros - não conheço os propósitos dele - tomou um uísque e renunciou. Sabe que vou lhe mandar uma cachacinha lá do Piauí, uma Mangueira, para ver se Vossa Excelência toma hoje e renuncia? A fim de nascer a educação. Vossa Excelência, que está aí, deve saber que todas as universidades estão paradas, paralisadas; e Vossa Excelência, irresponsavelmente, nomeia um Ministro mal-educado, um insignificante, que ninguém conhece, que não atende as professoras e os professores em greve.

Ô, Presidente Tião Viana, um minuto!

Professor Cristovam, sou viajado - não tanto quanto o Lula. Não tanto! Porém, talvez o discernimento me persiga. Senadora Heloísa Heloisa, eu era Prefeitinho de Parnaíba. Havia uma multinacional e, de repente, eu estava na Alemanha, em Darmstadt, na Merck - de medicamento. Era meu intérprete um Professor chamado Basedow, Diretor Químico da Merck, a maior potência em medicamentos. Ele era o manual da Merck. É interessante! Ele já tinha vivido aqui, nas Américas, representando o laboratório.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Meio minuto, Presidente Tião! V. Exª é Professor. Em homenagem aos seus professores, que estão morrendo de fome, que estão em greve. V. Exª tem de ser solidário.

Professor Cristovam, de repente eu estava lá, com o Professor Basedow - Senadora Heloísa Helena, nunca passei tão bem, porque a Merck era forte. Quando eu via, parava o trânsito: “Professor Basedow”. Chegava a um restaurante: “Professor Basedow”. A melhor mesa era a dele. No teatro, a mesma coisa. Parei, Professor Cristovam, e lhe disse: “Venha cá, Basedow, você não é Diretor de Química da Merck, multinacional poderosa?” Ele disse: “Sou. Mas, aqui, na Alemanha, o cargo mais honroso é o de professor. Há dez anos, fiz um concurso para Heidelberg, a maior universidade da Europa, e entrei na Merck por concurso, onde sou diretor, sou poderoso. Ela é rica. O título honroso, na Alemanha, é o de professor, mas, para eu usá-lo, tenho de ir toda semana dar uma aula de química”.

Esses são os países civilizados, Professor Mozarildo.

E disse mais e nos mostrou. Senador Alvaro Dias, fiquei perplexo ao chegar em Heidelberg. A Alemanha é moderna. Depois de duas guerras, o país foi todo soerguido, com prédios dos mais modernos. E Heidelberg era antiga, havia castelos, a universidade era antiga. E ele disse: “Duas guerras mundiais. O mundo respeitou Heidelberg, porque Heidelberg ensinou o mundo. Einstein estudou em Heidelberg”. Esse é o tratamento.

O mal-educado, nomeado pelo Lula, não recebe os professores que estão em greve. Ele tem de recebê-los!

Senador Tião, muito agradecido. Peço a Deus e à influência de V. Exª, como um professor universitário brilhante, que entrou na universidade pela porta estreita do concurso, que exija que o mal-educado Ministro receba os professores em greve, porque a educação está descendo. Assim, o Lula consegue é enterrar a educação no nosso País.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2005 - Página 34677