Discurso durante a 180ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos baixos salários dos educadores no Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. MOVIMENTO TRABALHISTA. POLITICA SALARIAL. HOMENAGEM.:
  • Críticas aos baixos salários dos educadores no Brasil.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Heráclito Fortes, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2005 - Página 35127
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. MOVIMENTO TRABALHISTA. POLITICA SALARIAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • EXPECTATIVA, DIA NACIONAL, PROFESSOR, REGISTRO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, TRABALHO, DESENVOLVIMENTO, PAIS, CRITICA, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRIORIDADE, ATENDIMENTO, INTERESSE, BANCOS.
  • PROTESTO, DESRESPEITO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), AUSENCIA, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, MANUTENÇÃO, GREVE, PREJUIZO, POPULAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, TRATAMENTO, HOSPITAL ESCOLA.
  • CRITICA, APROVAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), SENADO, AUMENTO, SALARIO, MINISTRO, JUDICIARIO, COMPARAÇÃO, INFERIORIDADE, REMUNERAÇÃO, CORPO DOCENTE.
  • HOMENAGEM, PROFESSOR, LEITURA, CARTA, INTERNET, TRANSCRIÇÃO, MENSAGEM (MSG), IRMÃ DE CARIDADE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta sessão de 14 de outubro, véspera do Dia do Professor; Srªs e Srs. Senadores presentes, brasileiras e brasileiros presentes e aos que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Professor Cristovam Buarque, atentai bem. Professor, para mim e para o mundo, é um título maior do que senador, presidente, general, banqueiro. Só aos professores a humanidade deu o aposto de mestre, igual a Cristo. Professor Cristovam Buarque, nosso Presidente também fez uma homenagem aos professores.

Senador Pedro Simon, atentai bem e desligai o telefone. Não podemos deixar de dizer - temos de ser verdadeiros - que o Lula nunca ensinou o povo brasileiro. Poderíamos ter dito isso, mas, em tempo, acho que, pelo 15 de outubro, ele se inspirou e ensinou o povo brasileiro. Todo mundo assistiu àquela aula convincente: “Vocês sabem o que é urucubaca?” Ninguém sabia e tal, e ele, com muito entusiasmo, com muita crença em urucubaca, talvez com muita experiência, ele ensinou urucubaca... E advertiu que essa profecia, essa seita era comum no Brasil. Então ele teve seus instantes de mestre também. Pena que o brasileiro e a brasileira não tenham esquecido, professor Cristovam, do que ele disse: ler era chato, ler era inconveniente, era pior do que fazer ginástica, exercício físico.

Aproveito este instante para dizer das nossas crenças. Professor Cristovam, Paim, que saudades tenho dos anos de minha infância e da minha adolescência! Que saudade de viver o que Olavo Bilac disse e nos encantava: “Criança não verás nenhum País como este”. Ô, professor Cristovam, que diria hoje Olavo Bilac?

Professor: a situação piorou, mas piorou muito. Não tem Duda, Goebbels, Mendonça; e Lula pode falar vinte e cinco horas do dia. Porque como fala! Como fala!... Mas só, Senador Paulo Paim, tem-se que acreditar. E ninguém acredita mais em nada do que o Presidente diz. O Brasil? Tudo maravilha!

Sei que ele não estudou nada. Mas cadê o Professor Cristovam Buarque? Professor Cristovam, aliás eu acho que este Senado tem que ter Senador vitalício. A Itália de Roma, do Renascimento, de Leonardo da Vinci, Maquiavel, Miguel Ângelo, Rafael, Galileu... Olha, atentai bem! Ela reverenciou e eu não ficaria com essa história do passado que podia dizer que era velho, mas foi lá que surgiu esse Renascimento: a pólvora, a imprensa, a bússola para globalização. Mas ela é bem recente, professor. Ela pegou um que era teórico, morreu recentemente, Professor Norberto Bobbio. Todos nós seguimos sua orientação teórica, democrática, vivida na ditadura fascista de Mussolini, e viu renascer a democracia. E nós acreditamos. E a Itália o fez Senador vitalício. Rui Barbosa quase o foi, porque ele passou 31 anos aqui. O povo da Bahia nunca lhe negou um mandato de Senador.

Mas disse o Professor Norberto Bobbio - era professor, como Cristovam Buarque - que o mínimo que um povo tem de exigir de seu governo é segurança. Senador Pedro Simon, que segurança? Como ele diz: a vida, a liberdade e a propriedade.

O Senador Heráclito Fortes é muito novo, mas, Senador Pedro Simon, eu me recordo de um fato quando estudei no Rio de Janeiro, nos anos sessenta. Senador Cristovam Buarque, eu me lembro, quando eu passo naquele Aterro do Flamengo, Senador Paulo Paim, Senador Pedro Simon, que eu namorava embolado naqueles jardins, na grama. Adalgisa ainda não tinha nascido, e eu já esqueci até o nome da namorada - Adalgisa me fez esquecer. Quando eu passo por lá e digo isso, todo mundo acha que é mentira. Mas esse era o Brasil, ali, no aterro, nos braços da mulher, ao som da zoada dos carros. Era este País. E este País está aí. Melhorou em quê? O governante não nos dá o mínimo: segurança à vida, liberdade, propriedade. E vem com essa palhaçada aí de arma e não arma, desarma e não arma.

Professor Cristovam Buarque, V. Exª falou nos pilares da democracia: crianças e professores. Nós divergimos filosoficamente, mas uma coisa o País sabe: somos melhores que os que estão aí, porque acreditamos em Deus, no estudo e no trabalho. Eles nos trouxeram aqui.

Eu dizia daqui: Ó Paim! Era S. Exª quem presidia. Foi o Paim, e o Brasil tem que reverenciar o melhor Vice-Presidente de toda a história deste Senado. S. Exª estava aqui às segundas e sextas-feiras. Não havia isso não, malandragem na história. Estava estereotipado que Senador e Deputado só vinham na terça e na quarta-feira; chegavam e iam embora. O Paim abria isso aqui. Hoje é sexta-feira, 14 de outubro. S. Exª como Vice-Presidente transformou essa tribuna em tribuna da liberdade e do exemplo - e nossa crença é no estudo e no trabalho.

Mas o que é que vai valer? Nada, Professor Cristovam. Atentai bem! Senador Paulo Paim, ontem disse a Globo: “Coréia, salário de uma professora: 10 mil e fração”. De chofre, aquele país cresce 10% ao ano. Acreditou na educação, como o Chile acreditou, como o Japão acreditou, e a Irlanda. E a urucubaca atingiu a todos nós, e até a mim! Ou foi a urucubaca, ou o cão me atentou, porque não votei na primeira vez em Lula - pensei, estava consciente; na segunda, não votei; na terceira, não votei; na quarta, votei. Ô Senador Pedro Simon, Senador Heráclito Fortes, foi uma urucubaca que fez, e aí está: nunca dantes...

Pensei, temi, depois de aqui adentrar, que eles iam mudar essa bandeira por uma vermelha. Mas não. O PT foi só nessa linhazinha branca e tirou o lema positivista de Auguste Comte. Botou “Desordem e Regresso”. Esse é o quadro. A valorização do trabalho e do trabalhador!

Ô Pedro Simon, está ali o Rui Barbosa, 181 anos. Eu acho que V. Exª vai ser o segundo a ter um busto aqui, e merece, porque V. Exª simboliza a virtude e a honestidade, que escasseiam.

Mas é simples. Eu dizia no começo que nenhum núcleo duro ia chegar aqui. Eu sempre disse isso. Porque eles estavam entrando não na porta estreita do estudo, do trabalho, da honestidade e da vergonha, mas na porta larga da desonestidade, da desmoralização, da corrupção.

Segundo Rui Barbosa, só há um caminho: a primazia do trabalho e do trabalhador. Ele é que vem antes; ele é que faz a riqueza. E a cantilena da Heloísa Helena é muito boa! Agora esse Governo é a primazia. Ele dá para os gigolôs - palavra da Heloísa Helena - do capital internacional, os banqueiros. O trabalho, de jeito nenhum! Aí estão os bancários, que trabalham. Ô Cristovam Buarque! O pai de Adalgisa era bancário. Eles viviam bem. Estão todos aí, com salários vis. E como este País pode ir adiante, professor, se os nossos professores universitários estão em greve, mas nem são atendidos por um insignificante que ninguém conhece, o ministro mal-educado que aí está? Como não atendeu os professores? Ô Cristovam Buarque! Eu fui médico e sempre atendi todos. Eu fui Prefeitinho e Governador. Esse Ministro não atendeu? V. Exª foi Ministro e atendeu. Daí o nosso respeito e a nossa admiração.

Mas estão aqui as verbas federais: o salário-base pago nas instituições de ensino superior mantidas pela União é de R$701,00. O mais alto é de R$1.308,00. Está aqui o mais alto, que é de pós-graduado, mestrado, doutorado: R$1.308,00.

Senador Paulo Paim, V. Exª é gaúcho. Observe os lanceiros negros, Bento Gonçalves, Farroupilha. Indignidade foi esta Casa, que se curvou a um monstrengo que saiu do STF para pressionar um fracassado nordestino que presidia a Câmara Federal e outro fracassado nordestino, o Presidente da República. E aprovamos. Ô vergonha, ô vergonha que sinto! Aprovamos, numa medida provisória, Senador Pedro Simon, R$27.000,00 para o Poder Judiciário. Para o próximo ano! Amarraram! O ano é já, já, Senador Paulo Paim. Estamos em dezembro, e, para o ano, serão R$27.000,00.

E as professoras? Não é qualquer uma, não. Como sinto saudade do passado, das escolas normais, daquelas belas jovens sorridentes e esperançosas do Brasil. “Criança, não verás nenhum país como este”. Fui buscar minha companheira numa escola normal. Ia esperar à saída, para casar com uma professora. Hoje, quem é que vai? Estão todas amarguradas, frustradas, decepcionadas, desencantadas. Está aqui o salário. Elas pedem para ser atendidas pelo Ministro da Educação, que não as atende.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Permito. V. Exª disse aqui que uma desgraça nunca vem só. E é verdade. Padre Antonio Vieira disse que um bem nunca vem só. Mas para nós, que somos do Piauí, eu e Heráclito, o certo é que uma desgraça nunca vem só. Além de as universidades federais estarem paralisadas e não serem atendidas - falo como médico -, há o problema dos hospitais universitários. Quem é atendido lá? O pobre. É cientificamente bem atendido pelo professor universitário médico. Quantos estão esperando, nas filas, por uma cirurgia, por um tratamento?

Este é o País. “Criança, não verás nenhum país como este”. Foi o que disse Olavo Bilac, da minha infância e da minha geração.

Concedo a palavra ao Senador Pedro Simon, pela idade, pois por amor ao Piauí você passaria na frente. Em respeito às virtudes que estão faltando neste País, como honestidade, concedo a palavra ao Senador Pedro Simon. Em seguida, concederei um aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu me lembro quando V. Exª foi o primeiro Senador que começou a fazer crítica ao Governo. Estranhei, pois V. Exª chegou aqui apoiando o candidato a governador vitorioso. Ele só é governador porque V. Exª o apoiou. V. Exª fez vários pronunciamentos defendendo interesses e obras para o Piauí. Acho, inclusive, que V. Exª percorreu Brasília junto com o Governador do Piauí fazendo solicitações para o seu Estado. De repente, não mais do que de repente V. Exª muda 180 graus. Aos poucos, devagarinho, V. Exª foi apresentando os fatos. Não que V. Exª tenha começado devagar, mas é que os fatos, a corrupção, foram sendo mostrados devagar. E quando V. Exª falou, os fatos ainda não eram publicados. A Globo ainda estava dando cobertura total para o Governo, a imprensa ainda estava dando cobertura total para o Governo, e a imagem que se tinha do Governo é que era um grande Governo. Estranhei muito V. Exª. Pensava: “Engraçado! O Mão Santa apoiou o PT, não houve briga nenhuma com o Governador do Piauí, que é amigo dele, e, no entanto, está fazendo crítica”. Estranhei muito. Mas, lamentavelmente, V. Exª viu lá no início, quando nem imaginávamos. Mas, de lá para cá, infelizmente, desgraçadamente, V. Exª tem razão. Tudo o que V. Exª disse vem acontecendo, gradativamente. Lembro-me de que V. Exª disse, lá no início, nos seus primeiros discursos: “Ou o Governo toma providência já ou perde o controle”. Lembro-me dessa frase de V. Exª. “Estou falando agora, que essas coisas estão acontecendo, que o Governo tem comando, que o Lula tem prestígio, tem autoridade, que ele deve tomar as providências já, porque, se não tomar já, não vai ter mais tempo”. Vejo V. Exª agora na tribuna. Na verdade, ele não tomou as providências e, não sei, acho que não tem mais tempo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradecemos.

Somos, Pedro Simon, do tempo de “criança, não verás nenhum país como este”.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, a professora era a segunda mãe e a escola, o segundo lar. As professoras são desrespeitadas, ninguém respeita as mães, nem a primeira nem a segunda. As escolas são verdadeiros escombros, desestruturadas fisicamente.

Estou seriamente preocupado. As grandes inteligências, no vestibular, todos procurarão a área jurídica, que oferece salários de até R$27 mil, ou serão banqueiros, ou médicos. Quem vai querer ser professor? Nem jurista bom vamos ter, porque não temos mais professores, estão morrendo...

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, vou-lhe dar mais cinco minutos, como foi dado para mim e para os outros oradores. V. Exª dispõe de mais cinco minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço. Depois, vou apelar para a nossa luta da Farroupilha, porque essa é pela liberdade.

Quanto ganha um membro da Justiça? Até R$27 mil. E uma professora? Um salário mínimo. As inteligências vão todas... Hoje em dia, os professores... Não existem bons juristas, bons médicos, bons cientistas. Este é o País para o qual o PT da urucubaca está nos levando. Esta é a urucubaca, a ignorância do Presidente da República, é este o mal. Ó, Deus, devolva a nós o País que recebemos de Bilac: “Criança, não verás nenhum país como este”. Devolva esse País aos nossos filhos, aos nossos netos.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Olha a violência, olha o desrespeito, famílias civilizadas enjauladas e gradeadas.

Com a palavra o Senador Heráclito Fortes, do nosso Piauí.

Relembro cada um dos nossos professores. Lembro-me da minha primeira professora, a nossa mãe, porque naquela época elas tinham tempo de nos alfabetizar. Lembro-me da Irmã Carmosina, de Assunção e Helena Freitas, de Edméa Ferraz, lembro-me de todas. E digo isto para cada um: relembre e homenageie! Lembro-me da Miriam, do Professor José Rodrigues, que ensinou João Paulo dos Reis Veloso, o maior Ministro deste País, com quem o PT deve aprender, pois ele conviveu com vinte anos de mando, à luz do período revolucionário, sem nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade e nenhuma corrupção. Mas o PT não aprendeu, o Lula não viu João Paulo dos Reis Veloso.

Senador Heráclito, eu era Deputado Estadual e V. Exª devia estar na Câmara Federal quando João Paulo dos Reis Veloso chegou à sua cidade natal, Parnaíba. Houve uma passeata para seu filho ilustre, então Ministro. Eu era Deputado Estadual e estava com o Governador Luiz Portela. Quando passávamos pela avenida Chagas Rodrigues, o Ministro disse: “Pára! Pára! Pára!” Todos os parnaibanos, em cortejo, homenageavam o filho ilustre, o mais digno e honrado, criador do primeiro e do segundo PNDs. Sabem o que era? Era a casa do meu professor, José Rodrigues. Parou o cortejo, meio-dia, sol a pino, ele foi conversar com o mestre e agradecer. Esse era o Brasil de respeito ao mestre.

Lembro-me que ele era moreno, como V. Exª, Senador Paulo Paim, de branco, fino e educado. Estão aqui na minha memória: Irmão Louis de Bois, do Colégio Marista, Professor Godofredo Correia, Professor Williberto Porto e, na minha formação cirúrgica, Professor Mariano de Andrade.

São relembranças que todos temos, porque funcionavam o ensino e a educação e acreditava-se nos valores do estudo e do trabalho.

Concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Meu caro Senador Mão Santa, fiquei ouvindo atentamente as citações que V. Exª fez a Olavo Bilac e esperando - tenho certeza de que breve o fará - V. Exª brindar este Plenário com nosso querido Humberto de Campos, aquele maranhense que fez da Parnaíba a sua terra, a sua cidade e ali fincou um cajueiro que fez dele um símbolo que evocamos durante tantos anos de firmeza e, acima de tudo, do amor do homem à terra. Talvez seja amor à causa o que esteja faltando neste momento aos que governam o País, infelizmente. Queria lembrar a V. Exª, Senador Mão Santa, um fato grave de que somos vítimas no Estado do Piauí. V. Exª inclusive lutou contra a burocracia para ver se resolvia. O Piauí, Senador Paulo Paim, vive há algum tempo incluído entre aqueles Estados que, por conta do surto de febre aftosa no passado, não podem exportar o seu rebanho. É a chamada causa desconhecida. Vem-se lutando durante muito tempo para se reverter esse quadro, mas a burocracia do Ministério e a burocracia governamental não o permitem - também pudera, com os recursos contingenciados... Estou chamando atenção para isso porque dois gaúchos estão presentes, os Senadores Pedro Simon e Paulo Paim, que são de um Estado que tem a agricultura e pecuária como as bases da sua economia. Lembro que quem vai sobrar desta crise toda talvez seja quem menos culpa dela tem, que é o Ministro Roberto Rodrigues. S. Exª fez advertências sobre o perigo que estava chegando. Disse que, se providências não fossem tomadas com relação aos mecanismos de fiscalização, correríamos o risco da aftosa. Começamos a ver, ontem, o Governo querendo jogar a culpa da crise exatamente para o Ministro. É sempre assim: vai-se arrumar uma vítima, vai-se arrumar um culpado. S. Exª é talvez uma das figuras mais extraordinárias que o Governo tem: trabalhador, sincero. No fim - prestem atenção este Plenário e o País que nos escuta -, vão tentar colocar a culpa em quem menos culpa tem nessa questão. A mesma coisa, Senador Paim, ocorre no que diz respeito à convenção-quadro. O Governo, de concreto, nada fez. Criou expectativa de subsídios, e esses subsídios não foram, de maneira alguma, demonstrados. Agora querem que o Congresso Nacional ratifique ipsis litteris essa convenção. Tenho tentado, Senador Paim, de todas as maneiras, encontrar uma fórmula, já que sou Relator na Comissão de Agricultura, que atenda ao Governo no que diz respeito à assinatura e à ratificação do tal tratado. Mas isso não pode custar o emprego de milhares e milhares de brasileiros. Eu tive oportunidade de visitar quatro Municípios brasileiros onde a predominância do plantio do fumo é um fato. O Governo quer, como alternativa, a mudança de plantio.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Heráclito Fortes, vou conceder ao Senador Mão Santa, como fiz com V. Exª, além do tempo regimental, mais cinco minutos, nos quais eu espero que S. Exª conclua para que os Senadores Pedro Simon e Cristovam Buarque possam usar da palavra.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Paulo Paim, são esses os fatos com que deparamos no dia-a-dia. O Governo nos envia a esta Casa a MP do Bem e, na calada da noite, a transforma na “MP do mais ou menos”, como bem disse o Deputado Inocêncio Oliveira. Mas quero crer que a transformou mesmo na “MP do Mal”. Tentou dar com uma mão e puxar uma parte maior com a outra. Não é assim que se faz. As coisas devem ser feitas com transparência. Aliás, está aqui o Senador Cristovam Buarque, que foi uma das primeiras vítimas do Governo. Quando S. Exª mostrou que não se juntava a grupelhos, que sabia o que queria, que tinha noção exata do que era educação no Brasil e do que o Brasil precisa, deixou de ser importante na estrutura que o Senador Mão Santa chama de “núcleo burro” do poder. Senador Paulo Paim, esta sexta-feira tem sido rica em debate. É bom que isso ocorra, principalmente com V. Exª presidindo a sessão e sendo generoso com relação ao tempo. O povo brasileiro compreenderá sua generosidade. Muito obrigado a V. Exª, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Queremos reafirmar aqui o valor do estudo e do trabalho. Heráclito Fortes, essa inteligência privilegiada, fez do Parlamento a sua universidade e teve a felicidade de conviver e fazer de mestres Ulysses, Tancredo, Renato Archer e Luiz Eduardo. Com trabalho e estudo, S. Exª representa bem o Estado do Piauí.

Concedo o aparte ao Professor Cristovam Buarque. Apresento-o como tal porque professor, para mim, é superior a Senador.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, por suas palavras. A sua fala hoje resgata algo que me incomoda nesses debates que temos no Senado. Cada um daqui termina se especializando em alguma coisa. Eu mesmo padeço desse vício, desse defeito, pela obsessão como falo de educação. O senhor é um dos Senadores que tem como obsessão o Piauí, o Brasil inteiro e todos os setores importantes deste País. Hoje, é o senhor, médico, que traz aqui o tema do professor, cujo dia é amanhã. Já tivemos uma sessão especial para tratar do professor e da criança, em que me pronunciei, mas fico feliz pelo fato de o senhor trazer o assunto. Quero parabenizá-lo pela coragem como o senhor mostra a desigualdade salarial entre algumas categorias e a categoria dos professores. Não há futuro num país em que há essa desigualdade de salário entre algumas categorias e os professores. Pouca gente tem essa coragem. E é inspirado nessa coragem que assumo não ficar omisso diante de uma pequena conta. O custo para dobrarmos o salário dos professores, de todos eles, do ensino fundamental - não incluindo o médio -, o custo de dobrar esse salário equivale ao aumento que deve ser dado à categoria do Poder Judiciário. V. Exª citou o mais alto salário do Poder Judiciário, agora estou citando toda a categoria. Não posso ficar omisso diante dessa comparação, mesmo sabendo do incômodo que pode provocar entre todos os amigos e conhecidos da categoria do Judiciário; não estou propondo que não haja esse aumento, mas, se houver para eles, que pelo menos seja estendido também aos professores. Estou falando que o aumento para uma categoria que é muito restrita em número custaria tanto quanto dobrar o salário médio de toda a categoria dos professores do ensino fundamental. Está na hora da refletirmos um pouco sobre isto: onde devemos concentrar os recursos públicos, em qual categoria, fazendo com que aqueles de salários mais altos entendam que melhorar a educação do povo brasileiro trará benefício para todos nós; trará, inclusive, benefício maior do que o aumento de salário que, egoísticamente, cada um recebe. Falo do Poder Judiciário, mas o que digo vale também para nós do Poder Legislativo e para muitas outras categorias. Recursos, este País tem, mas precisa alocá-los melhor no Orçamento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O aparte de V. Exª foi muito oportuno.

Pediria só mais um minuto para encerrar, Sr. Presidente.

Sigo Cristo, que diz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”; e Montaigne: “O pão que a humanidade mais necessita é a Justiça”.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS. Fazendo soar a campainha.) - V. Exª tem mais um minuto para concluir.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Está aí a homenagem que fazemos ao Rui Barbosa, que disse que só existe um caminho e uma salvação: a lei e a justiça. Mas estamos falando de uma injustiça: a perversidade que estão fazendo com os professores, humilhados, sem perspectiva. A justiça em todo o mundo civilizado, do menor para o maior é de dez vezes. Nenhum professor, então, deveria ganhar, no Brasil, menos de dez vezes do que o Poder Judiciário. Seriam R$2.700,00. É um parâmetro, é a igualdade.

São estas as nossas palavras. Mas eu pediria, porque do tempo V. Exª tem noção exata, quando o Rio Grande do Sul nos ensinou que foram dez anos para conscientizar...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ...este País com o sacrifício da luta, da mais grandiosa luta do País, a batalha da Farroupilha, para nascer em dez anos o sentimento de liberdade, de igualdade, etc.

Ao encerrar, para prestar uma homenagem aos professores, peço permissão para ler um dos e-mails que recebo e que diz “sou seu fã”, de João Carlos. Em homenagem a Madre Teresa de Calcutá, que reflete a luta de todos nós. Ele simboliza todos os que nos assistem e enviam e-mail e acreditam ainda nesta Casa. Madre Teresa de Calcutá diz: “Tenha sempre presente que a pele se enruga, o cabelo embranquece, os dias convertem-se em anos. Mas...”

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, só para terminar a leitura.

“...o que é importante não muda. A tua força e convicção não têm idade. O teu espírito é como qualquer teia de aranha. Atrás de cada linha de chegada há uma de partida; atrás de cada conquista vem um novo desafio. Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo. Se sentir saudade do que fazia, volte a fazê-lo. Não viva de fotografias amareladas. Continue quando todos esperam que desista. Não deixe que enferruje o ferro que existe em você. Faça com que em vez de pena tenham respeito por você. Quando não conseguir correr atrás dos anos, trote. Quando não conseguir trotar, caminhe. Quando não conseguir caminhar, use uma bengala, mas nunca, nunca se detenha.”

Esta é uma homenagem dos que nos enviam e-mails para os professores do Brasil.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2005 - Página 35127