Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o editorial do jornal O Estado de S. Paulo, intitulado "Sem quê nem para quê".

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. PECUARIA.:
  • Comentários sobre o editorial do jornal O Estado de S. Paulo, intitulado "Sem quê nem para quê".
Publicação
Publicação no DSF de 21/10/2005 - Página 35682
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. PECUARIA.
Indexação
  • LEITURA, EDITORIAL, ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, EXCESSO, VIAGEM, EXTERIOR, OMISSÃO, CRISE, PROBLEMAS BRASILEIROS, POLITICA EXTERNA, FALTA, QUALIDADE, DECLARAÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • GRAVIDADE, INCOMPETENCIA, GOVERNO, RETENÇÃO, RECURSOS, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), EFEITO, OCORRENCIA, FEBRE AFTOSA, PREJUIZO, EXPORTAÇÃO, CARNE, BOVINO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que figura o historiador vai usar para explicar e deixar escrito quem foi Lula? Um substantivo, talvez, que tem origem no latim vulgar, como percaptiare. Ou, bem traduzido, o percalço, o estorvo num caminho que se pensava pudesse representar algum avanço na vida e na história da Nação.

Havia essa expectativa. Tanto havia que nem o inventor de Lula no plano nacional poderia supor o erro que cometia, numa época de busca de uma figura para enfrentar a falta de líderes no País.

Quem inventou Lula foi o Senador Petrônio Portella, a grande figura que teve inteligência e visão para, em época de restrições da democracia, tentar a renovação das lideranças políticas para a travessia dos 22 anos de ditadura. Petrônio foi líder do governo autoritário e Presidente da extinta Arena. E foi ele quem conduziu a decisão do então Presidente Geisel de promover a chamada distensão lenta, gradual e segura para redemocratizar o Brasil.

Em seu gabinete, no Anexo 2 do Senado, Portella trouxe, um dia, de São Bernardo do Campo - isso é verdade, diz a história -, um sindicalista que estava pintando bem, à época, simplesmente Luiz Inácio da Silva, sem o Lula, que era apelido regional.

Não deu certo. Lula mostra à farta a que veio: é, como ontem em Moscou, o presidente-em-trânsito Lula da Silva, a declamar platitudes - e asneiras - e a construir ao seu redor uma barreira impermeável à realidade. Isso está no Estado de S. Paulo de hoje, 20 de outubro de 2005. Sem quê nem para quê.

Sigo lendo sobre Lula, ainda o editorial de O Estado de S. Paulo:

No papel que exerce com excepcional desenvoltura, o de grande ausente, em sentido figurado (da crise do mensalão) e literal (do País de onde saiu na semana passada para conhecer a 77ª terra estrangeira, desde a posse, e rever outras), Lula disse coisas tão antológicas, como “problemas fazem parte da política” e “não acredito em nenhum país do mundo que não tenha problemas”. [Ele acha que os países, Senador Antonio Carlos Magalhães, têm problemas; descobriu. Até então, eu não sabia. Eu pensava que os países não tinham problema, mas ele diz que têm, então passo a acreditar nele]. Isso dá inveja ao Conselheiro Acácio* e ao próprio Marquês de Maricá.

Lula lamentavelmente é irrecuperável para o Brasil. Desde logo, age sem ter consciência de seus atos irrefletidos. Seus périplos, agora no luxuoso Aerolula, são inúteis e, até certo ponto, ridículos. Com todas as conseqüências do ridículo a que expõe também o Brasil. Já são 77 os países que ele visitou. No mais recente, a Rússia, chegam a ser tristes a figura e as sandices de Lula, como registra um outro editorial do jornal O Estado de S. Paulo, também de hoje. Leio o editorial:

Como já fez em outras viagens internacionais, em Moscou o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva proclamou que “acabou o tempo em que o negociador brasileiro [Senador Antonio Carlos Magalhães, esta merece registro] ia de cabeça baixa pedir favor a alguém”. [Antigamente, ia de cabeça baixa, ou seja, em seu tempo, Senador José Sarney, ia de cabeça baixa; no tempo dele, vai de cabeça erguida. Ele inventou a cabeça erguida no País. A história registrava a cabeça baixa. É quase genial. Se fosse um pintor seria Picasso. Como é Presidente, é o Lula] Agora, pelo visto, o negociador brasileiro - no caso o próprio Presidente Lula, que também acha que, com “olho no olho”, resolve qualquer problema - vai com a cabeça nas nuvens ensinar ao seu interlocutor o caminho das pedras. Só o excesso de adrenalina explica que o Presidente Lula tenha pretendido lecionar para Vladimir Putin, ex-chefe da KGB e atual presidente da segunda maior potência militar do planeta, que Brasil e Rússia deve formar uma aliança não apenas comercial, mas estratégica para que os países em desenvolvimento não sejam tão dependentes da União Européia e dos Estados Unidos.

Ele quer ensinar, Senador Antero, a Rússia a enfrentar os Estados Unidos. Ela quase que não fez isso durante o período da guerra fria.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Nobre Senador, V. Exª permite interrompê-lo por apenas um segundo?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sem dúvida.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero registrar a visita que muita nos honra do Vice-Ministro do Exterior do Irã, que, como representante do Presidente do seu país, veio para um encontro com o Presidente Lula e também para visitar o nosso Congresso.

Trata-se do Dr. Saeed Jalili, o segundo homem na diplomacia e também importante assessor do Presidente do Irã.

Muito obrigado, nobre Senador.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Ney Suassuna, que é um grande amigo do Irã.

Digo aos ilustres visitantes que não se surpreendam se receberem do Presidente Lula alguma aula sobre a história iraniana.

O SR. PRESIDENTE (Flávio Arns. Bloco/PT - PR) - Senador Arthur Virgílio, com a concordância de V. Exª e do Senador Ney Suassuna, também quero, em nome da Mesa do Senado Federal, dar as boas-vindas à Delegação do Irã ao Brasil e particularmente, com muita honra, ao Congresso Nacional. Desejo que as relações entre Irã e Brasil continuem cada vez mais prósperas, melhores, no sentido da construção, principalmente da justiça, da paz e da cidadania, no mundo inteiro. Que essa seja uma ação global realmente.

Sejam muito bem-vindos ao Brasil e ao Senado Federal.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Sr. Presidente, V. Exª falou com toda a precisão, em nome do Senado, que V. Exª representa tão bem.

Para facilitar o trabalho do historiador de amanhã, estou anexando a este pronunciamento os dois editoriais do Estadão, que expressam, um e outro, o pensamento da Nação brasileira, hoje aturdida pela corrupção implantada pelo Governo petista do Presidente Lula e desesperançada na recuperação deste que um dia representou muito para o País, como na época de sua luta pela redemocratização. Ele lutou em sua trincheira sindicalista com destemor e dignidade. Hoje, submete o Brasil à indignidade, transformando um Governo em quadrilha da mesma dimensão dos que roubam e roubam.

Hoje, vou terminar de maneira mais amena. E gostaria muito de chamar a atenção da Senadora Íris de Araújo para algumas frases do Presidente Lula que são antológicas, são verdadeiras lições de sabedoria popular. Vamos às frases do Presidente:

Se um dia uma editora estiver interessada na edição de uma obra, desde logo prima, sobre o pensamento de Luiz Inácio Lula da Silva, ofereço de graça o título: “Memórias Acacianas de um Presidente”.

Lula, que não deu certo como Presidente, quem sabe possa vir a ter algum êxito como autor.

O miolo do livro pode ser encontrado no noticiário dos jornais. Aqui vão algumas pérolas, todas dele, pelo amor de Deus, não pensem que fui eu que disse isso:

1)     “Problemas fazem parte da política.”;

2)     “Não acredito em nenhum país do mundo que não tenha problema.”;

3)     “Brasil e Rússia devem formar uma aliança não apenas comercial mas estratégica, para que os países em desenvolvimento não sejam tão dependentes da União Européia e dos Estados Unidos.”;

A próxima é uma frase fantástica, para se meditar:

4)     “Somente o tempo vai poder provar.”;

Houve outro estadista que disse que o tempo era o senhor da razão.

A quinta frase está linda:

5)     “Ler é como ter uma esteira no quarto. No começo a gente tem preguiça de andar, mas depois começa a tomar gosto e não quer parar mais.”;

É bom parar porque pode ter um problema cardíaco. Uma hora tem que parar, não dá para ficar andando, andando e andando. Eu recomendo ao Presidente que suba na esteira do trabalho administrativo, pois não vai lhe fazer mal nem ao País;

A sexta frase está linda, fantástica, Senador Garibaldi Alves Filho, temos que aprender com o Presidente:

6)     “Muitas pessoas, se tivessem controle emocional e consciência de que seu corpo é mais leve do que água, certamente não morreriam afogadas.”;

Ou seja, não precisa aprender a nadar, basta saber que seu corpo é mais leve do que a água. Numa referência aos que têm pressa para baixar os juros - o que é uma aula de economia também.

“Um dia, acordei invocado e telefonei para o Bush.”.- em reunião com parlamentares do PTB, no tempo em que ele dava cheque em branco para o Roberto Jefferson.

Queria que ele acordasse invocado um dia e começasse a trabalhar.

8) “Quem chega a Windhock não parece que está em um país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas, tão bonitas e têm um povo tão extraordinário como tem esta cidade.” - Isso lá na Namíbia, comprando uma briga descomunal com o resto do Continente africano.

O Presidente diz uma coisa antológica também:

9) “Minha mãe é uma mulher que nasceu analfabeta.”;

Aliás, a minha também. E a minha nasceu sem cabelo, sem dente. Eu também, não me vi nascer, mas minha mãe testemunhou que eu nasci sem cabelo e sem dentes.

Essa outra está fantástica, Senador Antero Paes de Barros, e quero chamar a atenção da Casa porque é científica:

10) “A cabeça tem esse formato para que as idéias circulem.”;

Ou seja, se a cabeça não tivesse esse formato, as idéias não circulariam. As idéias só circulam porque a cabeça tem esse formato. Isso foi dito em entrevista coletiva a correspondentes estrangeiros. Ele não dá entrevista coletiva para repórter nacional, mas justificando suas mudanças de posição desde que assumiu o Governo. Eu tenho um grande amigo médico, que é o Dr. Paulo Niemeyer Filho, grande neurologista. Ninguém entende mais de cabeça, por dentro, do que ele. Mas eu duvido que ele soubesse disto, que as idéias só circulam porque a cabeça tem esse formato.

Agora eu estou olhando os Senadores e vendo que a minha cabeça tem um formato, a da Senadora tem um formato muito mais bonito do que o meu, a do Senador Garibaldi tem outro formato. Eu fico em dúvida se as nossas idéias estão circulando como gostaria o Presidente Lula.

Aí ele diz uma coisa preconceituosa:

11) “Não é porque fui metalúrgico que tenho que passar a vida inteira de macacão, com unha suja de graxa.” - negando o seu passado e dando valor à unha limpa e não à luta sindical que o elevou ao primeiro plano da política nacional.

Ele combateu tanto o Presidente Fernando Henrique e disse assim:

12) “O meu antecessor, se não tivesse buscado a reeleição, teria saído do governo como um deus.”

Se é assim, se ele acha que FHC fez um bom governo, no seu primeiro período, por que combateu, com tanta ênfase, o governo que merecia ser deificado?

Falando desses excessos de otimismo:

13) “Eu diria que este é o ano que consertamos o País.” - não sei se ele estava junto do Delúbio e do Silvinho quando deu essa declaração.

Essa aqui é fantástica para um homem que se diz líder popular:

14) “Ela é fantástica. Uma mulher do nível da Marta enfiar o pé na lama para debater com o povo é fantástico.” Ou seja, o povo tem que estar na lama, a Marta é que é fantástica por ter colocado o pé na lama para conversar com o povo.

Presidente Lula, isso é conversa de novo rico, Presidente! Vossa Excelêcia está perdendo a noção, está começando a achar que lugar de povo é na lama e lugar de novos ricos desta República esquisita que está aí é nos palácios. Está com jeito de que vai rodar desse palácio daqui a mais poucos meses.

A próxima frase, negando o João Pedro Stédile que disse: “O Governo joga no nosso time”, ele responde quando ainda era candidato:

15) “Você que tem sua terra e produz sabe que um governo do PT não vai tolerar desrespeito a sua propriedade.”..

Nós estamos vendo agora o Ministro Roberto Rodrigues praticamente demissionário porque não consegue recursos para prevenir a febre aftosa.

Senador Antero, V. Exª, que é de um Estado que se dedica com força e com brilho ao agronegócio, sabe que o Governo precisaria investir, no mínimo, R$200 milhões para prevenir surtos de febre aftosa - isso continuamente. Cada ano faria correção, mas, no mínimo, esse valor de R$200 milhões, corrigível ao longo do tempo e dos indicadores econômicos.

No último ano, o Governo Lula investiu R$0,54 por tonelada de gado, ou seja, praticamente nada. Para prevenir a crise quando ela irrompeu - o que seria aquilo que na gíria se chama de um quebra-galho - eram necessários R$3 milhões. Não deram, não concederam ao Ministro Rodrigues R$3 milhões - m de Maria, de milhões; não é b de bola. Estão agora ameaçados, talvez, R$4 bilhões de exportações.

Então, ele está destruindo o conceito, Sr. Presidente, do rebanho brasileiro, peça fundamental para a nossa balança comercial, porque sonegou R$3 milhões para resolver um problema emergencial de surto de febre aftosa. Com isso, percebemos a cara do desgoverno. É uma coisa interessante.

Hoje, estou realmente bem-humorado, é um dia dedicado à confraternização, não há tantos colegas na Casa, houve muitas batalhas ao longo da semana e teremos outras na semana que vem, mas eu queria que o Presidente fizesse algo que seria bom: que pedisse àquela sua assessoria que não faz nada - aquela assessoria desocupada, aqueles “aspones” - que recolha todas as frases que ele proferiu ao longo da vida. Aí, eu diria que as quatro obras mais relevantes do pensamento político da Humanidade seriam, Senadores Garibaldi e Antero, o clássico de Baltasar Gracián; A Arte da Guerra, de Sun Tsu; O Príncipe, de Maquiavel; e os aforismos do Presidente Lula, que hoje, para muito orgulho nosso - eu não posso colocar aspas orais -, estava na Rússia ensinando ao Presidente Putin, ex-dirigente da KGB, como se enfrentam os Estados Unidos. Ou seja, a Rússia não tem know-how algum de lidar com os Estados Unidos. Nada, nada, não sabe. Foi preciso chegar lá um grande líder sul-americano chamado Luiz Inácio Lula da Silva, o dos aforismos, o Conselheiro Acácio do Brasil, para dizer: “Atenção, Putin, aprenda comigo que, para lidar com os Estados Unidos, é preciso uma aliança estratégia entre o Brasil e a Rússia.”.

Presidente, pelo amor de Deus, não quero dizer tudo que fala a música de Chico Buarque, mas vai trabalhar, Lula, pelo amor de Deus! Vamos tratar este Brasil com um pouco mais de seriedade! Não faria mal algum a V. Exª e faria, quem sabe, bem aos que votaram em V. Exª e àqueles que tiveram a lucidez de não fazê-lo. Ambos vão respeitá-lo: os que votaram e os que não votaram. Todos querem que V. Exª trabalhe e pare, de uma vez por todas, com essa torrente de corrupção, de leviandade e de desrespeito em relação às coisas deste País.

Era o que eu tinha a dizer.

Sr. Presidente, muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/10/2005 - Página 35682