Discurso durante a 183ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Denúncia de que o governo do Presidente Lula não deseja investigação do caso Celso Daniel. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Denúncia de que o governo do Presidente Lula não deseja investigação do caso Celso Daniel. (como Líder)
Aparteantes
Alvaro Dias, Antero Paes de Barros.
Publicação
Publicação no DSF de 21/10/2005 - Página 35849
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • DEFESA, ADMINISTRAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS (SUFRAMA), DENUNCIA, INVESTIGAÇÃO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, TELEFONE CELULAR, SERVIDOR, JUSTIFICAÇÃO, INVESTIMENTO, NEGOCIAÇÃO, COMERCIO EXTERIOR, REGISTRO, DADOS, AUMENTO, EXPORTAÇÃO, ZONA FRANCA, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • DENUNCIA, OBSTACULO, GOVERNO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, HOMICIDIO, EX PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA DE COORDENAÇÃO POLITICA E ASSUNTOS INSTITUCIONAIS, ANUNCIO, RECURSOS, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), RESTRIÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
  • SUGESTÃO, VINCULAÇÃO, CRIME, PREFEITURA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA, IRREGULARIDADE, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, DETALHAMENTO, MORTE, TESTEMUNHA, PERITO.
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, DEPUTADOS, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • ANUNCIO, SOLICITAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), PROTEÇÃO, VIDA, TESTEMUNHA, PARENTE, EX PREFEITO, VITIMA, HOMICIDIO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, NOTICIARIO, IMPRENSA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 20/10/2005


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 19 DE OUTUBRO DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Obrigado pela deferência, Sr. Presidente. Srªs e Srs. Senadores.

Antes de mais nada, abordo uma questão que começa no meu Estado, mas tem implicações federais. O Tribunal de Contas da União determinou à Superintendência da Zona Franca de Manaus que cobre dos servidores usuários de três números de celulares que restituam aos cofres públicos valores de contas que ultrapassaram o que foi fixado por portaria. E essa portaria limita em R$300,00, R$200,00 e R$150,00 mensais, para os cargos DAS 06, 05 e 04, respectivamente, o que poderia ser consumido por esses celulares.

V. Exª sabe que sou figadal adversário do Governo Lula. Assim como devo proclamar que a regeneração da Suframa e o boom das exportações começou no Governo passado, devo dizer que tenho muito orgulho do trabalho realizado pelo Presidente Fernando Henrique, pelo Ministro José Serra, pelo Superintendente Mauro Ricardo Costa, pelo Superintendente da Suframa Ozias Monteiro. Mas eu não sou obrigado, registro com prazer que o Governo Federal, o Governo Lula acertou ao indicar a Drª Flávia Skrobot Barbosa Grosso para comandar essa autarquia tão importante. Este ano, o Pólo Industrial de Manaus vai apresentar um faturamento de US$16 bilhões, com exportações de US$2 bilhões no final do ano. Há alguns anos, eram de irrisórios US$100 bilhões ao ano, Sr. Presidente.

Eu hoje já mantive contato com a Suframa, com o Deputado Luiz Carlos Hauly, autor da denúncia e figura de boa-fé, e com o Tribunal de Contas da União para dizer que parece que gastaram demasiadamente, mas não o fizeram. Eu tenho confiança nisso. A Drª Flávia é uma pessoa séria.

Afinal de contas, dizem aqui que gastou R$40 mil ao ano em um telefone, ou R$50 mil. Que tivessem sido R$80 mil! E as exportações de US$2 bilhões? Será que não justificam essas chamadas todas para o exterior? Será que as exportações não justificam todo esse empenho, todas essas viagens, todo esse gasto que parece, na contabilidade fria, ser gasto de custeio, mas, quando se pensa com olhos grandiosos aquela região estratégica e bonita, vê-se que são gastos parecidos muito mais com investimento?

Então, faço um desagravo à Drª Flávia Grosso, em quem confio. Lutarei de maneira denodada para que não se perca seu concurso. Desanimada, ela chegou a pensar em abandonar o cargo, o que seria um gesto absolutamente impensado, pois ela faria falta. Trata-se de uma pessoa correta, que merece o apoio do Senado da República e o nosso testemunho perante o Tribunal de Contas da União.

É fundamental olhar não a letra fria de um regulamento que pode até ser mudado por portaria. Se é portaria, pode ser mudado por portaria. Deve-se saber se aquele investimento foi bem usado ou não, e percebo que o foi, porque se gastou um pouquinho, R$120 mil de telefone, mas e os US$2 bilhões de exportação? Isso tudo deve entrar na conta de quem pensa com grandeza e generosidade a administração pública e, portanto, a região amazônica e a Suframa.

            Agora, Sr. Presidente, volto à minha posição de Líder de um partido de Oposição. Aliás, tem muita honra este Partido de ser integrado por V. Exª, que é um Senador de absoluta seriedade e de muita competência a dar orgulho ao Estado do Amapá, Senador Papaléo Paes. Volto, então, ao meu mister fundamental, que é apontar os defeitos de um governo que, para mim, é cheio de defeitos.

O Governo petista do Presidente Lula não quer que o caso do assassinato do Prefeito Celso Daniel, de Santo André, seja, afinal, investigado numa das CPIs em funcionamento no Congresso.

Agora, já não é suposição. É informação. Do Ministro das Relações Institucionais do Governo, Deputado Jaques Wagner. E está nos jornais de hoje. Ele anunciou que o Governo petista pretende bater às portas do STF - Supremo Tribunal Federal - para impedir essas investigações. Em vão. Já está marcado para o dia 26, na CPI dos Bingos, a acareação entre os dois irmãos de Celso Daniel - Bruno Daniel e Francisco - frente a frente com o chefe-de-gabinete de Lula, Dr. Gilberto Carvalho.

Cabe aqui uma pergunta semelhante a de Edward Albee, em seu clássico teatral do seu século XX: Quem tem medo de Virginia Woolf?

Hoje, já não é Virginia. É Celso. Celso Daniel, assassinado em 20 de janeiro de 2002. O palco agora é a cidade de Santo André, que se tornou a precursora do “mensalão”.

Refiro-me ao “mensalão” do ABC, em que os donos de empresas de ônibus eram obrigados a contribuir com R$40 mil mensais, ou mais, para uma caixinha do Partido dos Trabalhadores.

Dinheiro sujo, recebido em notas vivas, dentro de envelopes. Dinheiro sujo, segundo as denúncias, entre outras coisas, para ajudar a eleger o atual Presidente da República.

Essa caixinha político-eleitoral ficou sendo a certeza de que em Santo André, lá sim, e em nenhum outro lugar mais, se montou um esquema satânico, que hoje, diz a revista Veja desta semana, é um fantasma que assombra o PT.

Após a descoberta desse esquema delituoso, o PT procurou espalhar a versão de que Celso Daniel, o Prefeito, morreu porque tentou pôr fim a essa coleta de propina.

A versão não vingou e, com as investigações pelo Ministério Público, ficou infelizmente quase impossível inocentar Celso, de quem não cheguei a ser amigo, mas de quem fui dileto colega de Câmara dos Deputados, sob a alegação de que ele não participava do esquema.

A história completa, dividida em capítulos intitulados de Mistérios, foi condensada esta semana pela Veja.

No que a revista chama de V Mistério, as oito linhas finais concluem que , da morte de Celso Daniel, para cá, os personagens desse caso continuam levando vida normal. E mais: quase todos eles, como José Dirceu, Gilberto Carvalho, a Srª Miriam Belchior, Maurício Mindrisz, Ronam Maria Pinto, Klinger Luiz de Oliveira Souza e o próprio Sérgio Gomes da Silva, com o apelido sinistro de “o sombra” e mais sinistro ainda e inexplicável de “o chefe”, continuam participando de Governos do PT, próximos ao PT, ou quem sabe fazendo negócios com o Governo do PT.

E aí vem o que me levou a evocar Virgínia Woolf: na semana passada, um relatório do Conselho de Defesa da Pessoa Humana, órgão ligado ao Ministério da Justiça, recomendou que se reabrisse o caso Celso Daniel. O parecer provocou ira no Governo.

No cemitério da Saudade, em Santo André, jaz um corpo embalsamado.

O caso, um dos mais tenebrosos da história política contemporânea do Brasil, Senador Alvaro Dias, está, pois, aberto.

Ao que já foi dito e repetido, acrescento, em contribuição e para justificar as investigações, os nomes das pessoas assassinadas após a morte de Celso Daniel. É bom que esses nomes passem a constar de maneira oficial, sistemática, sistêmica, dos Anais do Senado da República.

Os mortos eram seis. Agora são sete, Senador Antero Paes de Barros, com a morte ainda envolta em mistério do legista do caso Celso Daniel, na semana passada.

Eis os nomes dos que morreram:

Primeiro: Dionízio Aquino Severo, em 10 de abril de 2002. Apontado como elo entre Sérgio Gomes da Silva e a quadrilha contratada para matar Celso Daniel. Foi assassinado dentro de uma detenção por outros presos, com golpes e estiletadas. Até aí alguém poderia dizer que não é nada de mais, que se trata de coincidência, pois quem está preso dentro do sistema penitenciário brasileiro está sujeito a essas coisas.

Segundo: Sérgio “Orelha”, em 11 de novembro de 2002. Nos dias seguintes à morte de Celso Daniel, deu abrigo em sua casa ao fugitivo Dionízio Aquino Severo. Então, Sérgio Orelha foi atingido por vários tiros e colocado no porta-malas de um carro.

Terceiro assinado: Antônio Palácio de Oliveira, em 8 de fevereiro de 2003. Esse era o pobre garçom que atendeu à mesa de Celso Daniel e de Gomes da Silva na noite do seqüestro. Teria ouvido a conversa entre os dois. Foi perseguido por dois homens e sua moto colidiu com um poste.

Quarto assassinado: Paulo Henrique Brito, em 28 de fevereiro de 2003. Esse, coitado, Senador Antero Paes de Barros - já lhe concedo um aparte -, foi testemunha da morte do garçom, ou seja, morreu o garçom que testemunhou a conversa e morreu aquele que testemunhou a morte do garçom. É algo em cadeia, do tipo serial killer. É algo muito grave. O Sr. Paulo Henrique Brito, testemunha da morte do garçom, foi assassinado com um tiro vinte dias após esse assassinato.

No mínimo, Sr. Presidente, estamos desmoralizando o santo, porque santo, geralmente, pela nossa crença religiosa, faz milagre. Esse aí estaria permitindo que se envolvessem com o nome dele mortes e mais mortes. Até em desagravo ao santo, é preciso que se investigue até o final esse episódio.

Quinto assassinado: Otávio Mercier. Telefonemas do investigador do Departamento de Narcóticos para o celular de Severo foram rastreados na véspera do crime contra Celso Daniel. Sua casa foi invadida por seis homens e ele foi morto com dois tiros.

Sexto assassinado: Iran Moraes Redua, em 23 de dezembro de 2003, antevéspera do Natal. Agente funerário que reconheceu Celso Daniel na estrada em Juquitiba, ou seja, Senador Alvaro Dias, o agente funerário que reconheceu Celso Daniel foi também assassinado. Ele estava trabalhando quando foi atingido por dois disparos letais de arma de fogo.

Sétimo assassinado, fora o Prefeito Celso Daniel: Sr. Carlos Delmonte, o legista que apontou sinais de tortura no Prefeito Celso -, encontrado morto no apartamento na semana passada. Ele trabalhava em outro caso emblemático para o PT, o assassinato de Toninho do PT, que era Prefeito de Campinas. O delegado José Antônio do Nascimento, do Departamento de Homicídios - diz notícia publicada hoje em O Estado de S. Paulo -, considera descartada a hipótese de morte natural do legista.

O relevante nesse caso é que ele escreve para a sua família como se fosse morrer, e depois morre de morte natural - só espero que de morte mais natural que a do Prefeito, que foi muito pouco natural.

Antes de conceder um aparte ao Senador Antero Paes de Barros, eu gostaria de saudar a presença neste plenário de três Parlamentares muito ilustres do meu Estado, os Deputados Francisco Garcia, Carlos Souza e Silas Câmara, três diletos companheiros de Bancada amazonense e amazônica, três figuras públicas que neste momento abrilhantam este final de sessão do Senado Federal.

Ouço a palavra do Senador Antero Paes de Barros, cujo aparte só honrará o meu discurso. Em seguida, ouvirei o Senador Alvaro Dias.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Quero cumprimentar V. Exª e lamentar que o PT e o Governo Lula insistam em não pretender a apuração do caso Celso Daniel. O Celso era uma figura importante do Partido dos Trabalhadores e seria o coordenador econômico da campanha do Lula. Falta, na nossa avaliação, um nome na lista lida por V. Exª: o do filho do legista. Antes de morrer o legista, morreu o filho. Isso também já foi noticiado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Assassinado? Ou não se sabe?

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Não se sabe, assim como também não se sabe se o legista morreu assassinado; como também não se sabe se o Celso morreu assassinado. Sabe-se que o Dionísio morreu assassinado, que o garçom morreu assassinado, que quem ouviu a conversa morreu assassinado, mas é muita coincidência. Há muita coincidência! E é muita coincidência também o fato que constatamos, quando presidi a CPMI do Banestado - só estou dizendo isso porque o assunto é público -, de que uma empresa de nome Roanoake, que é de Ronan Maria Pinto, sócio de Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, mandou muito dinheiro para fora, e foi feito um enorme esforço para evitar a vinda do Ronan Maria Pinto à CPMI, como acabou ocorrendo. O Governo tratou o caso assim: nós temos maioria, não vamos deixar funcionar. E ele acabou não vindo. Esse episódio de Santo André é um dos mais difíceis de ser visto com naturalidade na República. Os depoimentos dos irmãos do Celso Daniel aqui foram relatos de pessoas que estão buscando justiça. Portanto, quero cumprimentar V. Exª. Espero que a Justiça, o Ministério Público, as investigações caminhem no verdadeiro sentido da apuração, porque há, Senador Arthur Virgílio, um esforço governamental para impedir as apurações. O Lula tem tudo a ver com tudo que está ocorrendo, e há uma pessoa principal no episódio de barrar as investigações contra, no nosso entendimento pessoal, o direito da Comissão Parlamentar de Inquérito. É um absurdo que o Ministro da Justiça deste País insista em negar a uma CPMI, que tem poderes judiciais, inclusive para mandar buscar os documentos quando em território pátrio, informações referentes às contas do Sr. Duda Mendonça. Eles usaram essa mesma estratégia com relação ao Maluf, quando impediram que a CPMI do Banestado tivesse acesso às contas do Maluf na Suíça.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Porque havia certa eleição e certo interesse nos votos malufistas. É um pouco essa a verdade.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Houve uma recomendação do Ministro da Justiça. O PT tinha “malufado”. O Maluf era a grande esperança da Marta e do PT. O Ministro da Justiça mandou uma carta - isto tudo foi documentado na CPMI do Banestado -, pedindo aos procuradores que não entregassem os documentos. Todos os acordos internacionais do Brasil têm a cláusula de sigilo. O que ocorreu? Eles não entregaram os documentos à CPMI do Banestado. A Rede Globo publicou todos os documentos. Mesmo depois de publicados os documentos, eles continuaram não os entregando à CPMI do Banestado. Hoje, eles dizem que a CPMI do Banestado vazou documentos. Isso não é verdade! Esses documentos do Maluf são a prova de que o Governo está operando, Senador Arthur Virgílio, no sentido de que a CPMI não conheça quem depositou o dinheiro na conta do Sr. Duda Mendonça porque vai fechar a história. Eles querem que isso seja conhecido só depois da eleição. Eles perdem a eleição; o Ministro da Justiça será outro, provavelmente aquele que se esquecerá de que é advogado criminalista, que se esquecerá de que é advogado de bandido, que não vai se comportar, no Ministério da Justiça, como advogado de bandido e que vai permitir que a sociedade tenha acesso aos documentos. Então, quero cumprimentar V. Exª e deixar registrada a minha indignação. Qual é a tese do Lula? Não apurar quem depositou o dinheiro. Mas aí ele impede que a Comissão tenha acesso aos documentos. Está desmoralizado o Congresso Nacional, estão desmoralizadas as CPIs, e está provado que o Executivo não tem nada a ver. Ora, veja se alguém na população brasileira pode resistir a esse deboche intelectual do Presidente da República!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Querem nos convencer de que aquela cueca não é do Executivo, de que aquela cueca é autônoma.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Pois é, é do Legislativo. Só se for emprestada pelo “superzé”.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Dinheiro duplamente sujo aquele da cueca.

Sr. Presidente, antes de concluir e de ouvir o aparte do Senador Alvaro Dias, eu gostaria de dizer a V. Exª que estou tomando amanhã duas providências. Uma delas é pedir ao Ministro da Justiça proteção ao Sr. Ailton, figura relacionada - e com ficha criminal densa - a todos esses assassinatos do presídio; pedir proteção a ele, afinal de contas ele é uma testemunha do caso, e nada me tira da cabeça que sua vida não corra perigo.

A segunda providência é pedir ao Ministro da Justiça - novamente a ele - que conceda imediata proteção à vida dos irmãos do Sr. Celso Daniel, sim, porque não custa redundar, não custa abundar. É melhor assim do que amanhã haver mais surpresas.

As coincidências para mim já não são coincidências, as coincidências para mim já extrapolaram o razoável. É tanta morte correlata uma com a outra que me parece mais fácil acertar na Mega-Sena* do que supor que pudesse acontecer tanta coincidência: morre o garçom, morrem os que assassinaram, em cadeia, morre o que viu o garçom morrer, morre fulano, morre o legista, morre o filho do legista! Ou seja, pode ser que seja uma coincidência brutal, mas é estatisticamente mais fácil acertar na Mega-Sena do que ver, em algum outro caso, repetida tanta coincidência funesta, fúnebre, nefasta e até mesmo fantasmagórica.

Senador Alvaro Dias, ouço o aparte de V. Exª antes de concluir o meu pronunciamento.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PA) - Senador Arthur Virgílio, quero destacar a competência de V. Exª ao estabelecer prioridades para a sua atuação no Congresso Nacional. Este assunto, por si só, torna o Governo indigno de merecer o respeito popular. É um crime insolúvel, porque há uma “operação abafa” que parte do Palácio do Planalto. Tive acesso, Senador Arthur Virgílio, a uma gravação que escapou à destruição, porque autorizada judicialmente. Posteriormente, alegou-se que o juiz que a autorizou não tinha competência para tal, e um determinado promotor a destruiu, mas uma cópia escapou à destruição. Essa gravação, então, chegou ao nosso conhecimento, e a encaminhei à CPI dos Bingos. Ela revela as ações do chefe de gabinete do Presidente da República e do ex-Ministro José Dirceu, com consultas, inclusive, ao Presidente da República, para a orientação de testemunhas, para a orientação de advogados, escolha deles, enfim, para a orientação de uma versão que nos levasse à conclusão de que se trata de crime comum, e não de crime com inspiração política. Isso é muito grave, e estamos próximos de assistir a uma acareação que envolverá exatamente o Chefe de Gabinete do Presidente da República...

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Senador Alvaro Dias, permita-me.

A sessão foi prorrogada, primeiramente, até às 20 horas e quero prorrogá-la por mais dez minutos, para que o Senador Arthur Virgílio conclua seu discurso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço, Sr. Presidente, pela atenção que V. Exª dispensa a este Senador.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Agradecendo também ao Presidente Papaléo Paes, concluo meu aparte, para que o Senador Arthur Virgílio possa concluir seu importante pronunciamento, dizendo que essa acareação que ocorrerá na CPI dos Bingos é o que está atemorizando agora o Governo. O Sr. Ministro Jacques Wagner está ameaçando ir ao Supremo na tentativa de impedir que a CPI dos Bingos investigue os crimes de Santo André. Não querem investigação, querem impunidade. Perderam, definitivamente, a vergonha. Não há como se admitir que vergonha há quando o comportamento é esse de acobertar crimes. Senador Arthur Virgílio, esse crime não ficará insolúvel, não pode ficar. E temos o dever de contribuir para que ele seja solucionado, evidenciando culpas, responsabilidades, estabelecendo o caminho para a punição a mais rigorosa possível. Obrigado pelo aparte.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu é que agradeço, Senador Alvaro Dias.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já concedo o aparte a V. Exª.

Senador Alvaro Dias, de fato, alguém vai ao Supremo quando se dispõe a defender um direito, uma legitimidade, uma legalidade, quando quer a reafirmação de algo legítimo, algo legal. V. Exª tem toda a razão de se estarrecer com isso. Então, o Ministro vai ao Supremo para impedir que se elucide até o final uma cadeia de assassinatos? Para impedir que a CPI exerça aquilo que é direito e dever dela própria, constituída dentro da soberania do Senado Federal? Olha, é de cair o queixo, é de cair o queixo mesmo. Mas confio muito e sempre aceito toda decisão que emana da Suprema Corte brasileira.

Concedo um aparte ao Senador Antero Paes de Barros, antes de completar o meu pronunciamento.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Somente trinta segundos. Estou lendo uma notícia no site do jornalista Ricardo Noblat que não sei se V. Exª tem conhecimento, pois foi postada às 18 horas e 17 minutos. Ela tem o seguinte título: “Agora é com Lula”. Diz a matéria: “Dona Renilda, mulher do empresário Marcos Valério, reuniu-se no domingo 9 deste mês com o ex-tesoureiro Delúbio Soares, do PT, e ameaçou: ou ele dava um jeito para que o Governo conseguisse o desbloqueio das contas do marido ou ela se ofereceria para depor novamente na CPI dos Correios. E então revelaria fatos capazes de abalar a República. Delúbio procurou o Deputado José Dirceu - esse que diz que não tem nada a ver com nada, que não é chefe de nada e que não tem chefe acima dele - e contou o que ouvira de Dona Renilda”. Resposta do Dirceu para o Delúbio: “Não posso fazer nada. Diga para ela procurar Lula - respondeu Dirceu”. A notícia foi postada às 18 horas e 17 minutos pelo jornalista Ricardo Noblat.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Veja V. Exª como é frágil a base que sustenta esse Governo, que se recusa a enfrentar a verdade dos fatos. É frágil a base. O Ministro José Dirceu, a esta altura atormentado pela dificuldade que vive... Devo registrar que S. Exª tem sido bravo na luta pelo que ele imagina que seja o seu direito. Se fosse Deputado, eu votaria pela cassação do seu mandato, mas não posso deixar de reconhecer essa ponta de bravura dos que preferiram não renunciar. Respeito muito mais os que vão até o fim de uma caminhada do que os que optaram pelo caminho mais fácil da fuga, do suposto drible na Nação brasileira. Veja como é frágil, Senador Antero, a base em que se assenta o Governo, que tem medo da verdade.

Mas, Sr. Presidente, os fatos que acabo de relembrar, atualizados até a data de hoje, comprovam o que eu disse ontem neste mesmo Plenário: as famílias correm perigo.

Estamos vendo sete assassinatos em Santo André, se é que foi assassinado o legista, se é que ele foi envenenado. Morte natural não foi. Podem ser oito, se for confirmada a suspeita do Senador Antero de que algo de grave possa ter se passado também com o filho do legista.

Mas o fato é que isso aí é um filme de terror. É um filme que tira o sono. Eu faço uma higiene do sono para dormir e não posso ver um filme desse de noite. Eu passo a noite em claro e, no dia seguinte, venho trabalhar tresnoitado e mal-humorado. Não dá para conviver com esse tipo de película, com esse tipo de filme, com esse tipo de encenação, até porque, nesse caso, tristemente, não é encenação: o sangue é real, a dor das famílias é verdadeira, as mortes são palpáveis e o pavor que o Governo tem de ver o caso elucidado é mais do que comprovado, até por essa ida ou ameaça de ida do Ministro Jacques Wagner ao Supremo Tribunal Federal. Pelo amor de Deus! Então, o Ministro quer ir ao Supremo para impedir que a CPI cumpra o seu dever de investigar?

            Não é à toa, Sr. Presidente, e nem por acaso que o Governo petista do Presidente Lula se traveste em personagens do dramaturgo norte-americano Edward Albee, considerado o mestre do denso e do patético, a exemplo de seu livro Quem tem medo de Virginia Wolf?

            Confrangedor, denso e envolto em nuvens carregadas que podem despencar a qualquer momento, o caso Celso Daniel mete medo ao PT e ao Governo.

            Desde agosto, a Polícia Civil de São Paulo voltou a investigar as circunstâncias que envolveram o assassinato do Prefeito de Santo André. Agora o caso chega ao âmbito de uma CPI. Se o Governo e o PT tinham medo, parece-me que agora não vão mais dormir. O medo vira pesadelo. É um verdadeiro fantasma a assombrar tanta gente importante nesta Nação indigitada.

            Sr. Presidente, concluo pedindo a transcrição, por inteiro, de matérias que respaldam o meu pronunciamento, matérias publicadas nos jornais de hoje, a começar por essa do jornal O Estado de S. Paulo. Estão todas elas aqui. Peço a publicação na íntegra, Sr. Presidente.

Quero dizer a V. Exª, aproveitando o tempo que ainda me resta, que ainda não consegui falar em febre aftosa, porque a corrupção não deixa. É impressionante, Senador Alvaro Dias: a corrupção não deixa. Parece-me que há uma aliança entre a corrupção e a febre aftosa, porque ainda não consegui espaço para falar. A tribuna não me pertence, tenho direito a falar com as vantagens dos Líderes e com as limitações de todos os demais Senadores. É corrupção de manhã, de tarde e de noite, e nesse caso de Santo André, corrupção misturada com imagens e cenas de um verdadeiro e terrível filme de terror, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

Era, por ora, o que eu tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Brasil fez alarde da crise, diz Lula”;

“Nenhuma provocação vai me tirar do sério. E vamos continuar viajando”


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2005\20051020DO.doc 12:14



Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/10/2005 - Página 35849