Discurso durante a 185ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Benefícios da soja na alimentação das crianças na idade pré-escolar.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. EDUCAÇÃO.:
  • Benefícios da soja na alimentação das crianças na idade pré-escolar.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2005 - Página 35880
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, FALTA, ATENDIMENTO, PROGRAMA, TRANSFERENCIA, RENDA, GOVERNO FEDERAL, FAMILIA, CRIANÇA, EDUCAÇÃO PRE-ESCOLAR, EFEITO, AUSENCIA, REGULAMENTAÇÃO.
  • COMENTARIO, PROGRAMA, INICIATIVA, ORADOR, GESTÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), INCENTIVO, EDUCAÇÃO PRE-ESCOLAR, AUXILIO, POPULAÇÃO, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO, CRIANÇA.
  • COMENTARIO, BENEFICIO, UTILIZAÇÃO, SOJA, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO, REGISTRO, INFERIORIDADE, CUSTO, FACILIDADE, ACESSO, APRESENTAÇÃO, DADOS.

            O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto à tribuna, hoje, por estar inscrito, para falar ao Governo sobre o problema das crianças da pré-escola. Tem-se discutido muito o assunto, pois a pré-escola não está regulamentada no País. O Ministério da Educação, naturalmente, cuida do ensino a partir dos sete anos, por essa razão, os que têm sete anos vão para a escola. E agora o Programa Bolsa-Escola garante ajudar as famílias, contanto que as crianças vão para a escola. Mas isso apenas a partir dos sete anos.

Parece-me que houve uma decisão de reduzir a idade para seis anos. Grande coisa! E os meninos de um a sete anos, cujas famílias estão em dificuldades financeiras - como todos sabemos -, como alimentam essas crianças?

Como tive uma experiência absolutamente vitoriosa quando era Governador do Piauí, gostaria de passá-la aos brasileiros, prefeitos, governadores e ao próprio Ministério da Educação.

Será muito caro atender às crianças de dois a seis anos?

Nós não construímos prédios. Nós não criamos escolas para as crianças de dois a seis anos, mas fizemos um acordo com as associações de bairro da capital do Piauí e depois estendemos a várias outras cidades. Cada uma das famílias cedeu sua casa, às vezes até um barraco, para que ali colocássemos uma mesinha e seis cadeiras. Adotamos um sistema de ensino trazido por uma psicóloga e usado no Canadá, em alguns lugares dos Estados Unidos e na Europa para desenvolver as faculdades psicomotoras das crianças. Podem crer, senhoras e senhores brasileiros que estão me ouvindo, que isso é uma revolução.

Aquelas crianças de dois a seis anos ocupavam uma mesinha numa casa de bairro que adaptamos, naturalmente, com a higiene necessária que ali, às vezes, não tinha. E o que era essa adaptação? Às vezes um sanitário, às vezes uma salinha melhorada. Na verdade, não gastamos dinheiro em prédios.

Convocamos estudantes do instituto de educação - na minha capital mais ou menos 1.500 se formavam por ano -, que aprenderam aquela nova maneira de ensinar. Eu lhes dizia: “Vocês estão recebendo o dinheiro do anel de formatura, mas, na verdade, estão trabalhando pelo Brasil, porque essas crianças são os futuros brasileiros.”.

Se não ensinarmos ou, mais do que isso, se não alimentarmos essas crianças como elas merecem e precisam, os seus neurônios enfraquecerão. Não sou especialista nesse assunto, mas todos sabemos que quem não se alimenta, principalmente nessa idade, aos sete anos terá bastante dificuldade em aprender.

No Brasil, as crianças de sete anos entram na rede pública muitas vezes sem saber ler nem escrever. Em alguns lugares, corrige-se ou se tenta corrigir isso por meio das creches. Mas o que são creches? Às vezes, ficam nas creches crianças de várias idades, porque não há possibilidade de se criar escolas para elas.

O que fizemos é econômico, é didático, operacionalmente viável; sobretudo, estabelecemos a merenda escolar. E usamos a soja, senhores! A civilização ocidental não tem a cultura da soja, mas a Embrapa está aí, ensinando a todos nós, e, àquela época, já aprendi com ela o que fazer da soja. Por exemplo, com meio quilo de soja, que custa R$0,50 centavos, obtêm-se quatro litros de leite, podem-se fazer 20 bifes. Assim, uma família de cinco ou seis pessoas tem o alimento que não teria nunca por R$0,50 centavos! Anotem bem: por R$0,50 centavos. E, agora, que a soja está caindo de preço, por que o Governo não determina que isso seja feito?

Vejo ali nosso eminente companheiro e grande Governador, que foi Ministro, Senador Pedro Simon. Com todo o prazer, ouço o aparte de S. Exª.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Sr. Senador, considero da maior importância o pronunciamento de V. Exª. Trago apenas uma experiência pessoal. Em minha passagem pelo Ministério da Agricultura,...

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Lembro bem.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ...criamos a chamada “vaca mecânica”.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Isso mesmo.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Em todos os Municípios que o desejassem, o Ministério da Agricultura instalava a “vaca mecânica”. Foi impressionante, principalmente no Nordeste, o número de Municípios que se apresentavam, especialmente porque era quase gratuito, já que a soja fazia parte dos estoques reguladores do Governo. Assim, a soja era praticamente gratuita, e ali as pessoas tinham leite à vontade, de graça - meio litro, um litro, o quanto bem entendessem. À época, a aceitação foi total, absoluta. Conseguimos verbas para que o Ministério instalasse a “vaca mecânica” em todos os colégios, públicos ou não, principalmente no Nordeste. O êxito foi total. Não consigo entender por que isso parou. Por que isso não continuou? Não consigo entender.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Fico muito agradecido, Senador Pedro Simon, pela oportuna intervenção de V. Exª. Lembro bem: eu era Governador, e V. Exª, Ministro.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, isso é possível, é viável. Agora, meu caro Senador Simon, aprendemos com a Embrapa que podemos fazer tudo isso em casa. Nessa escola a que me estou referindo, ensinamos as donas-de-casa a fazerem o leite e o bife. É muito simples! Naturalmente, num curto espaço como esse, não vamos aqui dar uma receita, mas tenho certeza de que poderíamos reeditar a idéia. V. Exª falou na “vaca mecânica”. Poderíamos adaptar aquele instrumento de produção de leite, criado à sua época, mas agora há mecanismo mais avançado, mais moderno.

A Embrapa descobriu - e temos informações precisas sobre isso - que o gosto ruim da soja é proveniente de duas enzimas. No entanto, se dermos um choque térmico na soja, com uma fervura de cinco minutos, é possível tirar aquele gosto. Daí para frente, os grãos podem ser transformados em leite, em carne etc., e tudo isso pode ser feito em casa.

Mas eu me referia ao ensino propriamente dito dado às crianças de dois a seis anos naquela escola, digamos assim, original, nas casas. Acontecia algo fantástico, porque as famílias se entrosavam nos subúrbios da Capital. Por exemplo, os filhos de uma família não estudavam na mesma casa; estudavam na outra casa. O serviço social e as professoras, ou monitoras, que adotavam essa metodologia faziam uma seleção prévia. Sentíamos a presença do Governo dentro das casas, ajudando as famílias, com assistência médica e odontológica - muitas vezes, descobríamos doenças nos olhos. Tínhamos um ônibus que andava pela cidade. Aquelas professoras, no contato com as famílias, descobriam que o marido, às vezes, estava bebendo, e lá íamos nós ajudá-los a entrar nos Alcoólicos Anônimos. Salvamos quanta gente e quantas famílias! Lembro que elas perguntavam: “Como vai o meu filho aí na sua casa?” “Ele vai muito bem. E o seu?” “Também.” Esse congraçamento evitou violência, era algo que unia as famílias e mostrava que o Governo estava atento ao ensino do pré-escolar e, principalmente, à alimentação das crianças. Depois, foi-se avolumando, e chegamos a atender a 50 mil crianças na Capital e a outras tantas no interior. Aí fizemos uma fábrica de alimentos, usando a soja como elemento principal.

Quanto ao Bolsa-Escola, como sou engenheiro e gosto dos números, apresento uma pequena regrinha aritmética. O valor do Bolsa-Escola está em torno de R$90,00, se não me engano. Vamos avaliar: um litro de leite, que é essencial para a família, não dá cinco copos e custa mais de R$1,00 - são R$30,00 por mês; um bujão de gás, R$35,00 - lá se vão R$65,00; o pão, R$0,20 - lá se vão mais R$30,00. E acabaram-se os R$90,00. E o feijão? E o arroz? E a carne? E o sal? E o óleo? E o café? O Bolsa-Escola não dá para isso, mas, se adotássemos o sistema pré-escolar, estaríamos com os próprios R$90,00.

Senador Pedro Simon, é fácil entender. V. Exª acabou de dizer: o leite é praticamente de graça. Mesmo comprando a soja a R$1,00, meio quilo de soja rende quatro litros de leite e 20 a 25 bifes. Isso fica barato. E o que sobra? O pão, naturalmente. E, agora, deveríamos pensar um pouco.

Ontem, trouxe essa idéia e vou ajudar a desenvolvê-la como engenheiro. Um colega meu, engenheiro, descobriu um fogão a álcool. O Brasil, hoje, fabrica mais de 16 bilhões de litros de álcool. É claro que tem mercado franco, mas poderíamos dobrar ou triplicar a produção de álcool para esse uso também. O botijão de gás de cozinha custa R$35,00. Fiquei tonto com os números relativos ao fogão a álcool desse meu colega, meu caro Senador Simon. Um litro de álcool custa R$1,80. Põe-se meio litro de água, porque o álcool é a 90º, e o álcool do fogão é a 42º. Então, ele me mostrou que, com um litro de álcool, se pode cozinhar por dois dias, por três dias. Devemos ajudar as famílias a terem também um combustível. Às vezes, nós, políticos - V. Exª sabe muito bem disso -, chegamos às casas das pessoas quando estão cozinhando o feijão, e, de repente, o gás acaba. Aí não tem jeito, a pessoa precisa comprar outro bujão, e não há bujão de um quilo ou de meio quilo. O bujão custa R$35,00, e ele não tem esse dinheiro.

Assim, temos de ajudar a criar calor de cozimento. Com o carvão vegetal, estou desenvolvendo uma idéia sobre isso. Meu colega já tem um fogão a álcool. Não vamos acabar com o fogão a gás. Que o gás seja para quem pode pagá-lo! Os mais pobres - isto é o que nos interessa -, principalmente para fazer a merenda escolar em casa, precisam ter um combustível barato.

Com todo o prazer, meu nobre Senador, ouço V. Exª. Penso que o assunto é interessante para o Brasil, e V. Exª é um dos grandes defensores...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Desculpe-me por importunar o seu pronunciamento.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - V. Exª não me importuna, porque é sempre uma voz a favor do Brasil nesta Casa.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Quando fui Governador, havia um serviço especial de escuta da Assembléia Legislativa. Eu ouvia os pronunciamentos, principalmente da Oposição, para verificar pelas críticas o que estava acontecendo e para procurar consertar ou dar uma resposta. Com relação às sugestões, eu procurava acatá-las e ver o que era possível fazer. Quando estive no Ministério da Agricultura, fiz o mesmo com meus dois assessores. Coloquei um deles no Senado e outro na Câmara dos Deputados. Várias vezes eu convidava o parlamentar a vir ao meu gabinete ou ia ao gabinete do Senador ou do Deputado pedir que ele me orientasse sobre o seu pronunciamento, sobre a experiência que ele tinha. Eu estou falando isso porque várias vezes, lá no Rio Grande do Sul, as pessoas têm se referido a V. Exª, perguntando: “Quem é aquele Senador, se vê que ele entende, que vale a pena ouvir ele coisa nova que eu fico com pena, porque o Governo não responde, não tenta fazer. Eu falo com toda sinceridade: com os pronunciamentos de V. Exª dá para fazer um livro. Acho que o Governo poderia copiar e executar, pôr à prova, muitas e muitas de suas idéias. Não são só essas - importantíssimas - que V. Exª agora expõe. V. Exª já fez referência à água, ao uso da água, ao equacionamento do problema do Nordeste, principalmente no que se refere ao seu município...

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Biodiesel.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ... ao seu Estado do Piauí e ao próprio Nordeste e quando V. Exª se pronuncia sempre traz um exemplo concreto. V. Exª não é um homem que vem e faz críticas dizendo que é uma barbaridade, que lá está faltando isso ou aquilo e não se faz nada. Não. V. Exª analisa, apresenta propostas, dá sugestões, idéias, enfim, apresenta uma saída e, geralmente, essa saída tem uma grande profundidade. Por isso, eu não consigo entender por que o Governo não o chama para que muitas dessas idéias possam ser postas em prática. V. Exª é um representante do Nordeste que honra aquela região, porque V. Exª não é apenas mais um dos nordestinos na Câmara e no Senado que dizem que falta água, falta luz, que abandonaram o Nordeste, que esqueceram o Nordeste. V. Exª apresenta propostas concretas e objetivas, fatos que podem ser respondidos, que podem ser atendidos, mas que, lamentavelmente, não o são. Meus cumprimentos do fundo do coração por seu estilo de trabalho. Um jovem ainda, mas um jovem na terceira idade, V. Exª não perdeu a fé, o gosto, a vontade de que as coisas mudem. Desde o nosso primeiro mandato, em 1979, até hoje, V. Exª tem a mesma garra, a mesma disposição e as mesmas propostas...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Nobre Senador Pedro Simon, fico muito grato pela intervenção de V. Exª e quero retribuir, porque V. Exª também é assim - como ministro o foi, como governador por duas vezes, e nesta Casa. Poderíamos fazer aqui uma espécie de comissão para apresentar idéias, porque V. Exª as tem, é uma voz brilhante neste plenário e para o País, é conhecido e reconhecido. Agradeço pela referência e, ao mesmo tempo, convoco V. Exª para formarmos aqui um grupo de trabalho capaz de influenciar o Governo. Vamos dar ao Governo uma oportunidade. Façamos as nossas propostas, apresentemos experiências, suas, minhas e de outros companheiros nossos, ao Governo.

Que nos mandem agora uma MP, mas uma MP robusta, cheia de idéias - das nossas ou das de outros - que atendam o povo brasileiro, o povo sofrido, principalmente as crianças, que são os futuros brasileiros.

Muito obrigado pela intervenção. Façamos essa comissão e não paremos aqui. Vamos fazer alguma coisa. Algo deve ser feito.

Muito obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade que me deu.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2005 - Página 35880