Discurso durante a 194ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Falta de vacinas contra a febre aftosa no Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PECUARIA.:
  • Falta de vacinas contra a febre aftosa no Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2005 - Página 38138
Assunto
Outros > PECUARIA.
Indexação
  • NECESSIDADE, ATENÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROBLEMA, FEBRE AFTOSA, GRAVIDADE, FALTA, VACINA, ESTADO DO PIAUI (PI), LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador João Alberto, que preside esta sessão de 03 de novembro de 2005, Senadoras, Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo Sistema de Televisão do Senado, pela Rádio AM/FM e que nos lerão por meio do Jornal do Senado.

Senador João Alberto, V. Exª, hoje, fez um brilhante pronunciamento sobre o turismo, sua perspectiva de emprego e sua perspectiva em São Luís, no Maranhão, no nosso delta do Piauí e do Maranhão, no Nordeste e no Brasil. Venho, agora, com uma preocupação que nos toca profundamente. E a poesia, a música, elas se comunicam mais do que as oratórias. Daí por que a Bíblia busca, de quando em quando, os Salmos. Davi falava mais na música.

Recordamos o grande maranhense que dizia: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá; as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”. “O meu boi morreu, o que será de mim? Manda buscar outro, maninho, lá no Piauí”.

Então, essa é a preocupação, Senador Eduardo Suplicy. Essa é a preocupação que pelo menos Lula tem que entender. A música: “o meu boi morreu, o que será de mim? Manda buscar outro, maninho, lá no meu Piauí”.

Senadora Heloísa Helena, é com muita preocupação que vejo a aftosa. Senador Eduardo Suplicy, não sei se V. Exª já foi convidado para as sessões de cinemas no Alvorada, do Lula. Dizem que toda semana há uma sessão de cinema. O Senador Eduardo Suplicy nunca foi convidado. Pois, agora, convide-se V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Já assisti a um filme lá.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Já assistiu? Pois vou sugerir um ao Lula. Pode ser que ele aprenda, Senador João Alberto Souza, pelo cinema, porque é agradável, porque estudar mesmo ele não gosta. E vai ter muita dificuldade em enfrentar a aftosa. Vai, porque, atentai bem, Senadora Heloísa Helena, todos os nossos veterinários das universidades federais estão enfurecidos, enraivecidos. Estão em greve, e o mal-educado Ministro não os atende. E Lula não vai ter horizonte para sair disso, para entender a aftosa. Não vai porque não estudou. Inclusive, declarou que ler é chato. E quem poderia guiá-lo eram os pesquisadores das universidades federais, Senador Augusto Botelho, os veterinários, os agrônomos, mas eles estão enraivecidos, porque estão em greve e não são atendidos.

Mas, Senador Eduardo Suplicy, anos atrás, nos anos 60, foi exibido o filme “O Indomado”, com Paul Newman - todos nos lembramos daquele artista bonito, Senadora Heloísa Helena, o Paul Newman, lá dos Estados Unidos do Presidente Bush. Paul Newman até se parece com o Presidente Bush agora, porque o Bush, nesse ponto, é atlético, é forte, é viril, é texano, ninguém pode negar. No filme interpretado por Paul Newman, o velho pai dele é um daqueles homens austeros, texano, pecuarista, criador. O americano tem uma formação religiosa muito forte.

Senadora Heloísa Helena, este filme, “O Indomado”, do começo dos anos 60, tem como ponto central da trama um foco de febre aftosa na fazenda. Então, eu pediria ao Senador Eduardo Suplicy, para o Lula entender a gravidade das conseqüências, que assista pelo menos ao filme de Paul Newman, “O Indomado”, para ele entender as conseqüências.

A sábia Heloísa Helena, professora, enfermeira, Senadora, amante, disse aqui que a doença não pega na gente, podemos comer o churrasco tranqüilo. É uma doença que afeta o bolso. Nós sabemos disso, nós, que viemos do gado, que festejamos e cantamos o Bumba-meu-Boi - e aí o Maranhão empata com o Piauí, porque todos têm o Bumba-meu-boi: “O meu boi morreu, o que será de mim? Manda buscar outro, ó maninha, lá no Piauí” - é a nossa música. No Maranhão também, mas nós concorremos com o boi. A doença é econômica, é do bolso. Aquela virose provoca uma “babadeira” no boi, ele enfraquece, tem astenia, caquexia, emagrece, debilita-se, e o rebanho vai acabando. Quer dizer, a doença não se propaga, e o homem não é hospedeiro.

Mas, para o Piauí, é pior, porque também pode ocorrer naquilo que é nossa riqueza, Suplicy, a caprinocultura e a ovinocultura. É uma lástima, Senador João Alberto. Eu não sei lá no Maranhão, mas é bom V. Exª e todos os Senadores verem nos seus Estados. O Piauí é rico de boi, caprinos e ovinos.

Houve uma revista, “Realidade”, que, gozando o Piauí, anos atrás, disse até que a bandeira do Piauí era um couro de bode. E isso aí foi muito importante. O que eu fiz, inspirado nisso, foi trazer dois curtumes multinacionais: um de Vic, em Parnaíba, o Codina; e um lá de Barcelona, o Europa, em Teresina. Então, bode hoje é riqueza - caprinocultura e ovinocultura.

O Piauí - atentai bem para a gravidade! - o Piauí, Senador Botelho, que tem um Governo do Partido. Esse Partido é incompetente. Todo mês saem do Piauí, só do sul do Estado, cem mil caprinos e ovinos, que são vendidos. Isso também transmite doenças. Quer dizer, não é um problema do Piauí.

Senadora Heloísa Helena, justiça seja feita, tivemos problemas para vacinar, quando eu governava o Piauí, mas todos os três Ministros da Agricultura, altamente responsáveis, deram-me recursos para fazer essa vacinação. Quer dizer, não é um problema federal.

Senador João Alberto, está aqui um jornalista livre do Piauí, do jornal O Globo, Efrém Ribeiro. O Piauí só dispõe de 150 mil doses, mas 1,8 milhão de cabeças de gado. Não adianta nada! Significa, matematicamente, se não perderem nenhuma vacina, se forem eficientes, capazes e competentes, o que não são - não são! - 8% de gado vacinado. De nada vale vacinar 8% do rebanho.

O que diz o jornalista?

O primeiro dia da campanha de vacinação contra a febre aftosa no Piauí foi marcado pela falta de vacinas, principalmente na região onde está a maior parte do rebanho. O diretor da Unidade de Defesa Agropecuária da Secretaria de Desenvolvimento Rural, José Antonio Filho, disse que o IBGE estima que no Piauí haja 1,8 milhão de cabeças de gado, mas no mercado há apenas 150 mil doses de vacina. Ele afirmou que das dez lojas que vendem a vacina só uma tem o produto. Os maiores municípios em pecuária, como Bom Jesus e Parnaíba, não têm vacinas.

Esses municípios, que têm uma extraordinária bacia leiteira, não terão condição para vacinar.

E continua o jornalista:

José Antonio disse que se até o dia 5 continuar faltando vacinas, o Piauí pedirá ao Ministério da Agricultura mais prazo para a vacinação, que acaba em 30 de dezembro. Ele explicou que as lojas não têm vacinas pois precisam de capital de giro, além de local de armazenamento adequado.

Pois bem, não têm dinheiro nem armazenamento adequado, têm é o problema. E o que tem que se enfrentar é o problema.

Senador João Alberto, está aí um Papa novo. Está toda a Igreja Cristã Católica tranqüila, porque ele foi seminarista, padre, cardeal. Ele trabalhou e é Papa. Está aí o Papa, tranqüilo, numa continuidade. Entendo que, para ser Presidente da República, tem que ser antes prefeitinho, governador. Ou é querer guiar, Senadora Heloísa Helena, uma carreta sem ter guiado um Fusca.

Senador João Alberto, eu sou abençoado, eu convivi com muita gente boa. Entre eles talvez o mais digno, o mais capaz e o mais competente que passou aqui, Petrônio Portella. Com 54 anos, Senador Alvaro Dias, foi duas vezes Presidente deste Senado, Ministro da Justiça. Iria ser Presidente da República. Iria. O jogo era, Senador João Alberto, ele passou para mim: tinha PDS e PP; juntariam os dois, e engoliriam o PMDB. Como Getúlio fez: juntou o PSDB e o PTB, e a UDN sobrava. Então, ele seria o Presidente; Tancredo Neves, do PP, o vice. Essa seria a história. Mas a minha mãe sempre repetia a Terceira Franciscana: “O homem põe, e Deus dispõe”. Deus não quis que isso acontecesse.

Senador João Alberto, Petrônio virou-se uma vez para mim e disse: “Mão Santa, seja prefeito da sua cidade, seja prefeitinho, que você vai ser tudo neste Piauí.”

Está lá o retrato. Eu tenho um retrato, eu e Adalgisa sendo abençoados pelo Papa. E outro, eu muito jovem, Petrônio me tentando e me orientando a ingressar: “Seja prefeitinho primeiro.” É essa a experiência.

O que eu queria dizer aqui é que é dramático. O Piauí tem história de gado. Senador Botelho, nós, este Brasil só é grande, grandioso, pelo Piauí. Todo brasileiro, quando olhar este Brasil grandão, pense no Piauí.

Quando se deu a Independência, foi de pai para filho: “Filho, fique com o Sul, que é rico. O Norte será de Portugal”, o País Maranhão. João VI mandou seu sobrinho e afilhado, grande militar português, Fidié, para garantir isso. E nós, piauienses, em batalha sangrenta o expulsamos, e ele foi para o Maranhão, depois voltou e foi extraordinário militar do exército português. Na sua aposentadoria ele exige, porque ele venceu a batalha. A batalha, nós perdemos, mas ele teve que deixar, ele sucumbiu depois.

Então, o Piauí sustentou essa guerra com gado. Existia na minha cidade talvez um dos maiores brasileiros, Simplício Dias da Silva, o Simplição, ele financiou porque tinha cinco navios que exportavam charque - indústria de charque - para o Sul e para a Europa. Ele financiou, ele buscou cearenses em Viçosa e Granja, para pegar na volta, depois de ter Fidié invadido Parnaíba. Esta é a verdade. Gonçalves Dias estava no útero de sua mãe, em Caxias, e conta essa história por saber na literatura.

Mas, então, a história do Piauí é ligada a isso tudo, Senadora Heloísa Helena. O Piauí, esse grandioso Estado do Brasil, por duzentos anos foi colônia de Pernambuco; depois de cem anos, colônia do Maranhão.

A nossa capital é a mais jovem planejada deste País. A primeira! Foi ela que inspirou Belo Horizonte, que tem cem anos; Goiânia, setenta e cinco anos; Brasília e Palmas.

Então, este é o nosso Estado e que os portugueses através de Domingos Jorge Velho mataram os nossos índios. Eu sobrei. Eu sou neto, Alvaro Dias. Lá no delta, na ilha, tinha uns índios louros, tremembés, é... por isso a nossa...

            Domingos Jorge Velho acabou com os índios no Piauí.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (João Alberto. PMDB - PI) - Concluindo, Sr. Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, ficou fértil a criação de gado. As terras vazias criavam gado; depois é que veio a agricultura. Então, essa é a nossa história, é a nossa vida, é a nossa luta e a nossa perspectiva.

Então, pedimos e exigimos responsabilidade deste Governo, deste Governo que dá o mínimo. O Piauí, que confiou, elegeu até um Governador do PT, que Lula venceu lá... E arrependimento não mata, porque assim quem tinha morrido era o povo do Piauí. Mas que ele responda com essa responsabilidade vacinando o nosso gado, cujo número de vacinas é insuficiente.

Era o que tinha a dizer, grande e extraordinário Senador do Maranhão e do Piauí João Alberto.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/2005 - Página 38138