Discurso durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância do plantio da mamona e do feijão como fonte de renda para famílias carentes no Piauí.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA. POLITICA AGRICOLA. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Importância do plantio da mamona e do feijão como fonte de renda para famílias carentes no Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2005 - Página 38203
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA. POLITICA AGRICOLA. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), EXTINÇÃO, ZONEAMENTO, LAVOURA, MAMONA, PRODUÇÃO, Biodiesel, APRESENTAÇÃO, DADOS, PRODUTIVIDADE, REGIÃO, NIVEL, MAR.
  • DEFESA, INCENTIVO, GOVERNO FEDERAL, PRODUÇÃO, FEIJÃO, MAMONA, OBJETIVO, MELHORIA, RENDA, EMPREGO, POPULAÇÃO, REDUÇÃO, MISERIA, FOME, REGIÃO NORDESTE.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, INVESTIMENTO, RECUPERAÇÃO, SISTEMA RODOVIARIO FEDERAL.

           O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aproveito a oportunidade nesta manhã para trazer ao conhecimento da Casa e também do Brasil - e a TV Senado viaja pelo Brasil inteiro e até pelo exterior - dois pontos importantes, pontos que acho que não devemos perder de vista neste momento.

           O primeiro deles é a questão do biodiesel. Já que estamos conscientes de que o combustível fóssil tem vida finita, devemos trabalhar para que no nosso País, que tem todas as condições para isso, seja o maior produtor de combustível alternativo do mundo - não é da América Latina, mas do mundo. Temos solo, temos bastante sol o ano inteiro, temos água e temos desempregados.

           Vamos nos fixar no problema dos desempregados, principalmente nos desempregados do campo.

           Eu começaria dizendo ao Sr. Ministro da Agricultura, a esse grande Ministro - temos de reconhecer que é um excelente Ministro, é esforçado e dá demonstração disso a todo instante -, que ele determine, o mais cedo possível, que se acabe ou que pelo menos se limite essa história de zoneamento do plantio da mamona. Do ponto de vista técnico, acima dos 300 metros, a produtividade é, de fato, maior. Não vamos discutir isso, isso é elementar, e a Embrapa tem equações que definem essa produtividade. No entanto, limitar a produção de mamonas só às áreas localizadas a mais de 300 metros acima do nível médio do mar é, no mínimo, cercear ou impedir que milhares e milhares de trabalhadores do Brasil inteiro produzam mamona, ainda que o rendimento obtido seja um pouco menor.

           Apresento exemplos para ilustrar o meu ponto de vista para aqueles que estão defendendo esse zoneamento.

           No Rio Grande do Sul, em Pelotas, ao nível do mar, estão produzindo duas toneladas por hectare. Não se disse que só era possível obter essa produtividade acima de 300 metros em relação ao nível médio do mar? No Ceará, no Município de Capistrano, que está apenas a cem metros acima do nível do mar, há uma empresária que produz semente de mamona em cinqüenta hectares com uma produtividade de mais de duas toneladas de mamona por hectare.

           Mas não é isso o que queremos. Nós queremos é que o lavrador plante uma roça do tipo da que sabe plantar. Podemos adotar a semente nordestina da Embrapa - semente que o pessoal de Campina Grande diz que foi desenvolvida apenas para altitudes acima de 300 metros, mas que, em Capistrano, no Ceará, a 100 metros acima do mar, produz duas toneladas por hectare.

           Aquele pessoal de Campina Grande precisa saber o seguinte. Sem água, nem a 300, nem a 400, nem a 500: não dá nada! Tendo água - e não precisa irrigação não, é chuva mesmo! -, a história é outra. Provamos isso com alguns técnicos da Embrapa nas areias, quase na praia, do Município de Luís Correia, em Parnaíba, próximo à minha cidade: obtivemos uma produtividade de 1,2 tonelada por hectare. Não é o ideal, mas, com três hectares por lavrador, serão três toneladas de mamona, o que dá 1.500 litros de óleo, que, vendidos a R$3,00 por litro, dá R$4,5 mil; só no óleo, com três hectares. E por que eu preciso ter três toneladas por hectares se, com três hectares, dá a mesma coisa e a família garante?

           Estava comentando, há pouco, com a Senadora Heloísa Helena, que é isso que devemos fazer se quisermos ver este País andando para frente, mesmo sabendo que todo o dinheiro que está sendo retido é para o pagamento dessa dívida imensa, que sufoca o País.

           O Senador Pedro Simon acabou de dizer que o Presidente Lula, com a capacidade que tem de dialogar e com o que se diz sobre ele - que, no momento, ele é o líder mais popular da América Latina -, tem de aproveitar isso e dizer ao Presidente Bush que deixe um terço desse dinheiro no Brasil, por dez anos, para que façamos o desenvolvimento deste País e possamos gerar emprego. Enquanto isso não acontece, Senadora Heloísa Helena, que se dê a essas famílias que estão no campo - no seu Estado, no meu, enfim, em todo o Nordeste - três hectares de terra - e isso é possível, não há dúvida - para que tenham uma roça e plantem mamona e feijão, acompanhados com a tecnologia do corpo técnico. Assim, eles poderão tirar uma tonelada de mamona por hectare. Então, com três hectares, eles colherão três toneladas, que dão 1.500 litros de óleo, o que gera uma renda de R$4,5 mil brutos. E ainda podem plantar o feijão também, o que daria mais três toneladas.

           Como estamos organizando uma associação, a Senadora Heloísa Helena trouxe ao nosso gabinete o pessoal de Pontal de Paranapanema, a quem estamos dispostos a ajudar a organizar uma sociedade lá para plantar, do mesmo jeito que queremos em outros Estados, a mamona e o feijão. Vocês verão que cada família terá uma renda mensal - garanto e assino embaixo - de R$1 mil por mês, Senadora Heloísa Helena! Mil reais por mês! Imaginem dez milhões de famílias ganhando R$1 mil por mês, plantando mamona e feijão! E o mercado é infinito. Não precisamos brigar para exportarmos, pois o mercado para o óleo diesel, biodiesel, é infinito, podemos produzir o que quisermos que venderemos.

           Agora, vejamos qual será a conseqüência disso para o desenvolvimento interno do País. Com esse dinheiro circulando aqui dentro, ganha todo o mundo: o pessoal que fabrica sapato, chinelo, roupa etc., porque com dez milhões de família produzindo acaba essa história de pobreza e de fome. O Fome Zero pode, inclusive, deixar de existir e usar-se esse dinheiro para outros fins.

           Li, hoje, que a cidade mais pobre do Brasil é Guaribas, lá no Piauí. Pelo amor de Deus! Quer ver como desmascaramos isso? Vamos pegar mil lavradores de Guaribas e dar-lhes três hectares para cada um, agora, na entrada da chuva - lá em Guaribas chove mais de mil milímetros - para plantar mamona e feijão. Cada um dos lavradores terá R$1mil por mês. E aí Guaribas vai continuar sendo a cidade mais pobre? É tão fácil resolver isso!

           Gostaria que o Ministro Rosseto permitisse que eu mandasse uma turma nossa para Guariba para, agora, na entrada das chuvas, transformá-la na cidade mais rica, porque com mil lavradores ganhando R$1 mil por mês a cidade pode-se tornar a mais rica, já que a cidade é muito pequena. Então, essa história de colocar no jornal que a cidade mais pobre não está recebendo a merenda escolar... Ora, com esses R$1 mil por mês, eles podem comprar a merenda escolar e comprar mais o que quiserem: carne, peixe, frango. Mil reais por mês, para uma família, lá no interior... O problema, então, é disponibilizar com criatividade as atividades do País. Este é o caminho.

           Espero, Senadora Heloísa Helena, que possamos fazer essa experiência no Pontal de Paranapanema, criando a condição para que todo aquele pessoal tenha essa renda. E, de repente, o que vai acontecer? Em vez de chamá-los de sem-terra, passaremos a chamá-los de empresários. Serão pequenos empresários rurais, com conta e dinheiro no banco.

           A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Os alagoanos também.

           O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Sim, Alagoas e todos os Estados é claro! Não vamos ficar apenas em São Paulo.

           Aproveito, pois, esta oportunidade para dizer que tenhamos fé neste País. Vamos dizer a Sua Excelência que vá em frente, que consiga com o Bush que ele fale ao FMI para que deixe uma parte desse dinheiro aqui para ser aplicado no desenvolvimento rural, na restauração das estradas.

           Também quero dizer que a Ministra Dilma Rousseff tem o nosso apoio, o meu apoio pessoal, porque ela está peitando mesmo, ela está dizendo ao Ministro Palocci: “Passe o dinheiro para cá, que eu conserto as estradas”, principalmente a Cuiabá-Santarém, que daria ao País aquela economia de R$50 por tonelada com a hidrovia.

           Quero encerrar minhas palavras, Sr. Presidente, dizendo que esta é a oportunidade. Vamos aproveitá-la e acreditar no País, porque ele tem jeito, sim. E podemos ajudar bastante se contarmos com o povo brasileiro.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2005 - Página 38203