Discurso durante a 196ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a utilização de dinheiro público, através da empresa Visanet, e a "Operação Cuba". (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com a utilização de dinheiro público, através da empresa Visanet, e a "Operação Cuba". (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2005 - Página 38376
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, HELOISA HELENA, SENADOR, VITIMA, AMEAÇA, FAMILIA, GRAVIDADE, AUTORITARISMO, GOVERNO, TENTATIVA, OBSTACULO, INVESTIGAÇÃO, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, MESA DIRETORA, SENADO, COBRANÇA, ATUAÇÃO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ).
  • GRAVIDADE, DENUNCIA, ORIGEM, BANCO DO BRASIL, DINHEIRO, MESADA, PROPINA, CONGRESSISTA, COMENTARIO, ACUSAÇÃO, FRAUDE, IRREGULARIDADE, TRANSPORTE AEREO, BEBIDA ALCOOLICA, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, QUESTIONAMENTO, NEGLIGENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, sobre esse assunto, já disse o que tinha de dizer. Solidarizo-me com a Senadora Heloisa Helena, porque, certa vez, ela ia receber informações de determinada pessoa e me ofereci para acompanhá-la. Percebi a preocupação de S. Exª de não deixar que essa pessoa - que, aliás, não é má pessoa, não me pareceu de jeito algum perigosa - mas ela não quis que seu filho, que está com S. Exª em Brasília, fosse visto por quem quer que fosse desse meio. Portanto, Sr. Presidente, é muito grave. Se fosse o Governo de Juscelino Kubitschek, nós todos estaríamos aqui em tom de piada. É terrível que este Governo esteja demonstrando viés autoritário, essa cara autoritária do tipo: “Não gosto de ser criticado e quero silenciar quem me critica”. Isso é terrível realmente.

 De lá para cá, as coisas evoluíram para pior. As fontes de financiamento de algo de que não se duvidava, que era dinheiro público no mensalão, estão aparecendo e já apareceram R$10 milhões, pelo menos, denunciados pelo Sr. Osmar Serraglio, e por essa intromissão tremendamente nociva ao País nos dinheiros do Banco do Brasil, via Visanet, que é empresa paraestatal por ter um terço (1/3) de capital do Banco do Brasil. Isso terá de ser investigado à farta, com todo o rigor.

Em segundo lugar, a tal Operação Cuba. Chamo a atenção da Casa, Sr. Presidente, para o fato de que dizem assim “Ah, não é crível a matéria!” Não é crível, como? O Sr. Colnaghi tinha um avião; o piloto confirma que fez o vôo; confirma que transportou caixas lacradas com papel tipo durex. Eu nunca vi ninguém transportar bebida com lacre. Bebida não vem com lacre. Bebida vem, Senador Osmar Dias, normal; é para abrir e quem quiser beber que beba.

Segundo, considero que há aí duas hipóteses bem claras. Ou o transporte de um suposto dinheiro cubano, ou dinheiro do PT em Cuba - não sei bem o quê -, veio mesmo transportado pelo tal Sêneca, de Brasília para São Paulo, ou era bebida que estava ali. No primeiro caso, é assunto para ser tratado pela Polícia Federal; no segundo caso, pelos Alcoólicos Anônimos, porque transportar garrafa de bebida, alugando um avião, com tanto supermercado para vender bebida à vontade, significa quase um fetiche, uma anomalia.

Concedo o aparte ao Senador Osmar Dias.

O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Era para dizer isso mesmo, Senador Arthur Virgílio. Essa bebida deve valer muito para compensar uma viagem de avião entre São Paulo e Brasília.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois é. Que bebida era essa? A gente pode fazer uma investigação na Internet para saber qual é o vinho, qual é o uísque que custa tão caro que compense alugar um avião. E se esse avião, depois, foi cedido, para outras autoridades da República... Ou é caso, sinceramente, para a Polícia Federal, para o Ministério Público, para a CPI dos Bingos, ou é caso para os Alcoólicos Anônimos, porque vá gostar de bebida assim em outro país que não o Brasil. Mobilizar um país inteiro, uma logística toda para trazer três garrafas de bebida...

            Ou seja, está provado o “mensalão” - aquela acareação foi nítida -, está provado o esquema de corrupção. Não é à toa que o Sr. José Dirceu vive os seus estertores. Aliás, com bravura, com coragem, mas vive os seus estertores. Não é à toa que o PT quer se ver livre do Sr. José Dirceu, está louco para que ele seja cassado e dá todas as demonstrações nesse sentido, como quem diz assim: aí acaba o emblema da crise.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Como se não fosse a cassação do Sr. José Dirceu a cassação moral do Presidente Lula, até por ter sido tudo que foi, no Governo Lula, o próprio capitão do time, o Sr. José Dirceu.

Senadora Heloisa Helena, tenho o meu modo de ser e creio que V. Exª já me conhece razoavelmente bem. Tenho observado aquela luta solitária da Deputada Ângela Guadagnin. Sabe que eu a respeito? Eu a respeito. Vi tanta gente fugir: aqueles que bajulavam José Dirceu, aqueles que viviam ali atrás de cargos, aqueles que devem, quem sabe, ter se beneficiado e não ter aparecido nos “mensalões” da vida. Todos fugindo. Todos, de repente, não o conhecem mais. E vejo aquela senhora, de aspecto respeitável, cumprindo aquele dever corajoso. Tenho vontade de telefonar para ela. Não sei como ela me receberia. Mas já que não preciso lhe telefonar para que ela saiba o que estou pensando dela neste momento, e penso muito positivamente, estou dizendo que admiro aquela luta solitária, por entender que é bom saber que há pessoas que não abandonam suas convicções e que não ficam vivendo ao sabor das circunstâncias, ao sabor das conveniências, ao sabor dos oportunismos. A Deputada foi o tempo inteiro digna. E o Sr. José Dirceu virou um trambolho, uma coisa da qual se quer ver livre o Governo Lula.

Concluo, Sr. Presidente, dizendo que, se é tudo denuncismo, se não há mais nada a não ser denuncismo, então por que caiu tanta gente? Por que tanta gente foi demitida? Por que tanta gente está ameaçada de ser cassada? Por que tanto medo? Por que tanta denúncia, uma atrás da outra? Por que tanto avião transportando tanta bebida com cheiro não de álcool, mas de dólar? Por que tanto opróbrio sobre a sociedade brasileira? E por que, ao mesmo tempo, o Presidente se apressa tanto em dizer que não houve episódio Visanet, Senadora Heloisa Helena?

Presidente da República, isso é grave! É a coisa mais grave que poderia ter dito ao longo de todos os equívocos que esse seu governo equivocado já perpetrou. Sua Excelência disse: não passa de denuncismo o caso Visanet.

E se for provado mesmo, como já está provado para mim, que é mais do que denuncismo, que é corrupção pura? Com que condições continuaria Sua Excelência de ter moral para governar o País, se está dizendo, do alto da autoridade de Presidente da República, ele que não sabe de nada, que não sabe de coisa alguma, que no referendo não votou nem “sim” nem “não” - eu não sabia, mas o voto dele foi anulado... O Presidente, que nunca sabe de nada, de repente sabe que não houve corrupção no caso Visanet. O Presidente sabe que não houve corrupção. Sua Excelência está mentido e isso é grave! Ele está dando todos os motivos para alguém pedir seu impeachment, está dando todos os motivos, porque não é da postura do Presidente fazer mais do que aguardar as investigações e o final delas. Se Sua Excelência assevera com tanta segurança, ou, de fato, é denuncismo, e Sua Excelência sai airosamente, ou ele está demonstrando um pavor brutal de que as investigações cheguem ao seu termo.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, é com certo desalento que digo que tudo que eu gostaria era que esta Casa soubesse defender suas prerrogativas. Uma delas, independentemente de partido, independentemente de governo ou não governo, é darmos um basta nesse clima de ameaças a pessoas que fazem oposição. É um direito fazer oposição e é uma inutilidade ameaçar, porque quem faz oposição com convicção vai continuar fazendo.

Não estou fazendo oposição ao General Médici - eu não tive medo dele -, não estou fazendo oposição ao General Geisel - eu não tive medo dele -, não estou fazendo oposição ao General Figueiredo - eu não tive medo dele -, não estou fazendo oposição ao General Castelo Branco - eu sai às ruas contra ele -, não estou fazendo oposição contra a Junta Militar - eu saí às ruas contra a Junta Militar, e meu pai foi cassado pela Junta Militar -, eu estou fazendo oposição a um governo supostamente democrático, eleito pelo povo, com Constituição funcionando. Então, não tenho o que temer, Senador Mão Santa. Eu tenho o direito de estar aqui, tenho o dever de estar aqui. Não tenho nada a temer e nem minha família tem o que temer.

 Encerro, dizendo a V. Exª que é dever da Mesa do Senado ser enérgica. É extremamente grave o Ministro da Justiça fingir que não tem a obrigação de mandar investigar isso.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se eu não acreditar nele, mais do que nunca, vou ter que reafirmar que em qualquer circunstância defenderei a minha família, em qualquer circunstância. Sabe como é qualquer, Senador Motta? É qualquer. Qualquer circunstância é qualquer. A palavra é muito clara. Alguém pode dizer que defende em uma circunstância. O outro pode dizer que defende em três circunstâncias. Eu, Senador Raupp, digo que defendo em qualquer circunstância, até porque estou perdendo a fé na capacidade de agir e de ser isenta do Ministro da Justiça e deste Governo. Mas não vou ficar com medo deste Governo, não. Vou lutar mais, para que acabe esse reinado de terror que está sendo implantado aqui. Não é possível que continue assim.

Por outro lado, comigo funciona ao contrário. Sinal de ameaça? Aí é que venho acelerando mais. As pessoas aprenderam que lidar comigo pelo lado da compreensão, pelo lado da ternura, vai bem; pelo lado da ameaça é inútil, é inútil. Eu viro três. Assim, ficamos um Senado inconstitucional, porque temos o Senador Mestrinho, que é tão operoso, o Senador Jefferson Péres, que é tão brilhante, e eu, com as minhas limitações, mas, como eu viro mais três, o Senado passa a ter seis Senadores pelo Amazonas, o que é inconstitucional. Mas vou virar quatro aqui, porque não admito ameaças às garantias individuais das pessoas humanas neste País.

Lutei contra a ditadura durante os 21 anos dela, como Lula lutou. E não foi para um dia Lula chegar ao Poder e cercear o nosso direito de nos opormos a ele. Tenho o direito de me opor a ele, tenho o dever de me opor a ele e vou me opor a ele haja o que houver, dê no que der, custe o que custar e doa a quem doer. Providencie o Sr. Márcio Thomaz Bastos, ou não, o que ele quiser e o que não quiser. Eu tenho o dever de estar nesta tribuna, que é a minha Casa, e daqui eu denunciarei corrupção e direi tudo o que a Nação precisa ouvir.

Portanto, Sr. Presidente, por ora, agradecendo a V. Exª a tolerância de sempre, era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2005 - Página 38376