Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a crise por que passa o governo do presidente Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a crise por que passa o governo do presidente Lula.
Aparteantes
Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2005 - Página 38462
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, DIRETRIZ, GOVERNO FEDERAL, FAVORECIMENTO, BANCOS, BANQUEIRO, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO.
  • REGISTRO, DADOS, SUPERIORIDADE, LUCRO, BANCOS, AUSENCIA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE, ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, SANEAMENTO BASICO, COMENTARIO, LITERATURA, POVO, REGIÃO NORDESTE, ACUSAÇÃO, FRAUDE, GOVERNO FEDERAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Romeu Tuma, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado Federal, Shakespeare, num dos seus escritos, diz: “Palavras, palavras, palavras”. Aliás, Padre Antônio Vieira, Senador Ramez Tebet, disse aos pregadores: “Ó Pregadores, pregam e não atraem cristãos para a igreja!” Senador Mozarildo, ele disse que os pregadores só tinham “palavras, palavras, palavras”. Faltava o exemplo. E o exemplo arrasta. Foi então, Senador Leonel Pavan, que ele disse: “Palavras sem exemplo são como o tiro sem bala”.

O Lula, como fala, fala, fala... Mas Shakespeare, vendo Lula, não ia dizer palavras, palavras, palavras. Ele diria: mentira, mentira, mentira.

É, Senador Ramez Tebet, Lula, os bancos e os pobres. No rádio, na televisão, está na mídia: o governo para os pobres. Eu olhei aqui e não vi nem assim os ricos. Porque os ricos são esta turma do PT que enricou ligeiro. Aliás, nesta CPI eu nem vou mais, porque o cabras falam de 1 milhão, 2 milhões, Dona Iris, como se fossem R$ 10,00 para nós. Foi um povo faminto e desempregado. Senador Leonel Pavan, o caboclo do meu Piauí diz que quem nunca comeu mel se lambuza. E aí foi, Senador Mozarildo.

Ramez Tebet é o homem do Direito, jurista, do PMDB. Estado de direito, esse era o sonho de Rui Barbosa, e o que vivemos é o Estado de corrupção. Este é o Estado do Brasil: podridão. Estão podres todos os Poderes: o Executivo, o Legislativo - o menos podre - e o Judiciário. O Executivo é porque se blinda com a mídia, que é paga com o dinheiro dos bancos. Olhai a publicidade: é o banco. Por trás de toda televisão, é banco, é banco... Então, fica blindado o Lula Paz e Amor.

Mas é corrupção! Aqui não é o Poder mais podre, não. Ô, Senador Ramez Tebet, aqui o Poder é o mais aberto, é o mais livre, é o mais transparente, um debate com o outro, um diz, outro diz, não é, Senador José Jorge? E o Judiciário é porque usa um Maquiavel: ameaça, e há muita gente com rabo preso... O Brizola, antes de morrer, deixou um artigo contra o Presidente do Supremo Tribunal Federal. Não é, Senador Ramez Tebet?

Eu sou otimista, mas o Brasil fez o diagnóstico, Senador Leonel Pavan: estamos podres, os instrumentos da democracia. E eu, como sou médico, quero dizer que isso não vai ficar bom ligeiro, não. Não é uma apendicite aguda, não, que se vai ali, tira o apêndice e está bom. Não! É doença muita, é crônica, é como uma lepra, uma tuberculose, uma osteomielite crônica. Demora. Não vai ser rápido, não. Mas o povo vai.

O Lula mente, mente, mente: governa com os pobres. Atentai bem, Senador Leonel Pavan, olhe a mídia ali, que eu não trouxe. E esta frase está em todos os jornais: “Lula diz que governa para o pobre”. Todos os jornais do lado dizem. Eu aprendi, lá no meu Piauí, que é mais fácil tapar o sol com a peneira. E o Piauí é a “terra querida, filha do sol do Equador”. Esse é o hino. É mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade. E ele faz a mídia e diz que governa para o pobre e, nos mesmos jornais, os bancos... Nunca os bancos ganharam tanto no mundo. É uma incoerência. Governa para os banqueiros. Está nos jornais. O Presidente, no seu programa semanal de rádio, disse ontem que ele governa o País em benefício dos pobres. O Presidente disse isso. Na hora em que vão pedir votos, só se fala de pobre, mas, na hora de governar, governa-se para os ricos. E nós estamos colocando o pobre como o autor principal. Mas, como diz o ditado popular, “a mentira tem pernas curtas”. Os jornais de todo o País, nesta terça-feira, apontam que os bancos nunca ganharam tanto dinheiro neste País. Assim, o Bradesco anunciou o seu lucro, nestes últimos nove meses, de 4,55 bilhões. É, simplesmente, o maior resultado da história das instituições financeiras. O aumento, Senador Leonel Pavan, é de 102,3%. Eu quero saber do pobre o quanto aumentou o seu ganho disto, dos 102,3% em 9 meses. Em nove meses, faz-se uma criança. Mas este, em nove meses, não fez criança, não; fez os banqueiros enriquecerem e gozarem. É o País do Meirelles. É o Estado da corrupção. Não é como Rui, que disse: “A primazia é do trabalho e do trabalhador”. O trabalho e o trabalhador vêm antes, porque fazem a riqueza. Essa é a lei e a justiça.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O seu Estado de Direito foi para o beleléu. Cadê a OAB? Cadê a OAB?

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - A OAB perde aqui para a voz rouca das ruas. Atentai!

Comprei ali um cordel e estou fazendo um marketing. Ó Íris! “Arraial do Lula” é um cordel. Ó OAB! Escute a voz do povo, a voz rouca. É um cordel de Fernando Venelito: “Arraial do Lula”. Há outro: “A grande farsa na República”. E outro cordel: “Eis a verdade. PT - Partido das Trapaças”.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ó Srª Presidente, este aqui vai ser o último cordel: “O Sertão do Presidente. Lula e o seu bando”. “Fome Zero”. Veja a mentira. Mentira, Lula!

Aprendi de meu pai, Senador Leonel Pavan, que quem mente rouba. Guaribas tem fome! Guaribas, Guaribas, Guaribas, utilizada como marketing. Que Governo mentiroso, irresponsável e ladrão! Guaribas!

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Está aí um Prefeito do Piauí, São João da Fronteira, Antônio Ximenes. Lá há fome e não há água. Estão implorando. Esse é o Estado, Lula. E está aqui o último cordel do Fernando Venelito, que comprei. Comprem, brasileiros! Este aqui eu deixei por último: “A grande farsa na República”.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Srª Presidente, apelo para a sua bondade de mulher, como a mulher de Pilatos, que disse que Cristo era verdadeiro; a bondade de Verônica, da Virgem Maria e de V. Exª, que Deus colocou aí neste instante.

Tenho aqui um bonito cordel, entre muitos: “Só impítima ao Presidente”. Ó OAB! E o Estado de Direito? O que há é um Estado de corrupção; se manque! Esta aqui é a voz do povo, a voz de Deus. Ouça a voz rouca das ruas, o cordel. “Só impeachment ao Presidente”. Ele diz “impítima”, mas é o povo e a sua voz rouca. É a cantoria de um repente.

Concedo o aparte ao Senador Leonel Pavan, de Santa Catarina. Deus fez o mundo, e S. Exª fez Camboriú. Foi três vezes prefeito.

A SRª PRESIDENTE (Iris de Araújo. PMDB - GO) - Esta Presidência concede mais um minuto a V. Exª para que possa conceder seu aparte.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ó Iris! Ó Iris! Não conceda um tempo do tamanho da sua beleza, mas ao menos do tamanho de Goiás.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Mão Santa, ouvi o seu pronunciamento. Não é o primeiro; houve inúmeros em que V. Exª alertou o Governo quanto aos investimentos que deveriam ser feitos, principalmente para beneficiar a classe mais pobre do nosso Brasil. Ao ouvir o Presidente Lula, dizendo que tem feito um governo para os pobres, realmente eu me assusto. V. Exª acabou de listar quem realmente está ganhando nesse Governo. Parece que o Presidente não tem acompanhado que os sem-terra continuam sem terra, que os sem-teto continuam sem teto, e que ainda há pessoas embaixo da ponte, com fome. O Fome Zero foi um fracasso total, os desempregados estão pedindo empregos e salário, há uma miséria enorme em nosso País. A imprensa tem noticiado, todos os dias, crianças pedindo esmola nas ruas, mães grávidas, pais pedindo esmola nos semáforos, em todos os lugares do Brasil. Não sei qual é o habitat em que está vivendo Lula, porque estamos vendo um Brasil diferente, Senadora Iris de Araújo.

(Interrupção do som.)

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Srª Presidente, V. Exª me concede mais um minuto?

A SRª PRESIDENTE (Iris de Araújo. PMDB - GO) - Mais um minuto, Senador.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Lamentavelmente, estamos acompanhando um processo de corrupção no Brasil e, ao mesmo tempo, ouvindo o Presidente dizer que os pobres estão sendo beneficiados. Os pobres sendo beneficiados nesse desgoverno? Há falta de política social, falta de comprometimento com as classes trabalhadoras, com os desempregados, com os miseráveis deste País. Cumprimento V. Exª, Senador Mão Santa, mas creio que Lula está vivendo em outro país. O nosso Brasil ainda continua muito pobre.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senadora Iris de Araújo, eu pediria a V. Exª mais um minuto para concluir o meu pronunciamento. Dessa forma, o povo do Brasil poderá assisti-la na Presidência, o que dará um ibope maior do que quando se via a Sol na novela América.

A SRª PRESIDENTE (Iris de Araújo. PMDB - GO) - Senador Mão Santa, concedo a V. Exª mais um minuto, para concluir seu discurso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois o Banco Itaú tirou R$3,8 bilhões. Os dois juntos ganharam R$8 bilhões. Agora o raciocínio responsável, Senador Ramez Tebet, dos números, que falam a verdade. Enquanto isso, o Brasil tem 82 milhões de pessoas que vivem sem esgoto, e 43 milhões que vivem sem água. Está ali o Prefeito da minha cidade, São João da Fronteira, no Piauí, que não tem água. Dar de beber a quem tem sede, Lula.

E sabem quanto o Governo Federal liberou para o saneamento básico entre janeiro e outubro? Liberou R$43 milhões. Foram R$8 bilhões para dois bancos. É descaramento.

Viva Meirelles, o campeão, o vencedor, porque ele nunca enganou ninguém. Ele disse que era banqueiro, que ia ter lucro e que era bom de negócio. O Lula, que não sabia, se entregou. Está aí. Ele é o campeão.

Foram R$43 milhões para água e esgoto, e R$8 bilhões para somente dois bancos, o Bradesco e o Itaú.

A SRª PRESIDENTE (Iris de Araújo. PMDB - GO) - Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - A senhora me permite só uma pergunta?

A SRª PRESIDENTE (Iris de Araújo. PMDB - GO) - Vou permitir, mas...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sabe quantas vezes os dois bancos receberam mais do que todos os prefeitos juntos para fazer saneamento? Receberam 186 vezes. Dois bancos receberam mais do que todos os prefeitos receberam para fazer saneamento, mais do que o Governo Lula gastou, no mesmo período, com saneamento básico, água e esgoto.

Se isso é governar para os pobres, ó Deus, livrai-me desse Governo de pobre. E já é hora de seguir Rui Barbosa. Só há um caminho e uma salvação: é prestigiar, em primazia, o trabalho e os trabalhadores, que fazem a riqueza. E o Lula, com o Meirelles, sentado no colo dos ricos e dos banqueiros.

Muito agradecido, Senadora Iris de Araújo, mas a generosidade do tempo não foi correspondente à generosidade de Deus ao fazê-la tão bela!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2005 - Página 38462