Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a entrevista do presidente Lula, ontem, ao programa "Roda Viva". (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a entrevista do presidente Lula, ontem, ao programa "Roda Viva". (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2005 - Página 38468
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, FALSIDADE, INFORMAÇÃO, DEFESA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REPUTAÇÃO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, DADOS, POLITICA NACIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nem tudo na entrevista coletiva do Presidente da República foi má notícia. Afinal de contas, ele jurou, peremptoriamente, que não levará o Aerolula para casa. É uma boa notícia.

Mas Lula foi patético ao se lembrar das pernas que tremiam nos tempos heróicos da luta contra a ditadura. Patético porque isso se compara à cara dura de negar mensalão e corrupção em seu Governo.

Lula, em determinado momento, disse que era uma honra participar do Roda Viva, Senador José Agripino. Na verdade, ele é tão despreparado e inadequado para o cargo que compara uma coletiva que deveria ser obrigação corriqueira dele com a solenidade de uma formatura, de um casamento, de um batizado.

Ele rebaixou, ontem, a majestade presidencial. E isso foi extremamente grave. Ele bateu boca com os entrevistadores. Ele foi desmentido, de maneira rude, dura, por alguns dos entrevistadores. A majestade presidencial foi ao chão. Lula foi banal, foi pequeno, vazio. Foi pelo menos esse o Lula que eu vi e ouvi.

Lula mentiu ao reafirmar que de nada sabia, ao negar o caixa dois, que admitira na França como corriqueiro, o caixa dois que Duda Mendonça denunciou, como ele próprio, Duda Mendonça, tendo sido beneficiário, em dólar, em uma triangulação envolvendo a pessoa jurídica do Banco Rural no exterior e o Sr. Marcos Valério.

Desqualifica, Senador José Agripino, o seu partido. O PFL não teria autoridade para propor o impeachment. Por que não? Quem não tem autoridade para propor impeachment é o PT, que está enrolado ao máximo nessa crise moral que vem denegrindo as instituições brasileiras.

Em algum momento, o Presidente, insistindo nessa história de não saber, nega a concepção da Transparência Internacional, que se refere modernamente aos homens de Estado, aos governantes, como tendo eles a obrigação de saber e, portanto, responsáveis por aqueles que nomearam.

Diz que não fez ingerência, que não tentou evitar CPIs, e sabemos não só que Lula fez tudo para que as CPIs não se instalassem como tem procurado orientar a sua bancada para esvaziá-las nos momentos mais cruciais das apurações contra o seu Governo a partir da descoberta de tantos desmandos, de tantos casos de corrupção.

Lula não teve coragem de enfrentar Dirceu, mas deu a Dirceu, de maneira desleal, o beijo da morte. Lula deu o beijo da morte a José Dirceu. Disse que é uma boa pessoa, que não deve nada a ninguém. Se é assim, por que não o renomeia para a Casa Civil? Mas disse que vai ser cassado. Lula está louco para se livrar de José Dirceu. E, no jornal O Globo de hoje, José Dirceu diz que Lula não gosta de trabalhar. Ele diz que tentava falar de assuntos sérios com Lula, como, por exemplo: “Presidente, vai estourar uma crise no Ministério dos Transportes”, e ele falava: “Olha, Zé, olha esse outro negócio aqui”, jamais enfrentando as questões cruciais do País.

            Chegou a dizer que não havia nada contra Waldomiro Diniz, nada se provou contra Waldomiro. Pergunto: por que ele não reindica Waldomiro para ser o segundo homem da Casa Civil, se não houve nada contra aquele Waldomiro réu- confesso em crime, flagrado pelo horário nobre das televisões brasileiras recebendo propina do bicheiro Carlos Cachoeira?

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - É só recontratar.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É só recontratar.

            Diz que, no caso Visanet, não houve escândalo.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador, prorroguei por mais três minutos, em homenagem à coragem de V. Exª, e aquele grande ensinamento ao Brasil...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Sr. Presidente.

Este Governo é tão ruim que o tempo da comunicação da Liderança não dá, é preciso mais.

Mas diz que não houve escândalo no caso Visanet*, não houve. E, no entanto, a acusação é frontal, é dinheiro do Banco do Brasil transferido para o caixa do Partido dos Trabalhadores. Isso é tão grave que poderia impedir o funcionamento desse Partido, isso significa que teve dinheiro público, sim, no mensalão, e não há brasileiro de boa-fé, nem mais a Velhinha de Taubaté, que possa duvidar que houve mensalão neste Governo, praticado por este Governo e articulado pelo Palácio do Planalto.

Caso Santo André. Sua Excelência demonstra “indignação”, e, no entanto, seus aliados têm feito tudo para impedir que as investigações cheguem até o final. Só quero lembrar que já são oito os mortos. Estão desmoralizando o nome do santo. Esse santo, ao invés de fazer milagre, está fazendo milagre ao contrário, está desapadrinhando as pessoas.

Política externa. Vangloria-se de uma política externa que virou as costas para a Alca, que faz alianças com ditadores, que perdeu todas as batalhas essenciais a que o Brasil se lançou, a começar pela direção da OMC, a começar pela direção do BID e a começar pelo veto claro da companheira China, que está prejudicando, com o status que Lula lhe deu, de economia de mercado, a indústria têxtil brasileira, desempregando no Brasil, sem que nenhuma reciprocidade seja dada.

Lula tem medo da imprensa, ficou claro. Lula finge, mas se irrita com a imprensa, porque seu temperamento não é democrático. Fala da traição que teria sofrido e não diz quem o traiu, nem diz o motivo. Ou seja, parece cúmplice daqueles que supostamente o teriam traído. É alguém que não tem o coração aberto, a liberdade e a independência para dizer o que houve de errado no seu Governo e, portanto, parece mais um refém do que um Presidente da República.

Falar em caixa 2, em acabar com o caixa 2, foi o momento mais hilário, foi o momento mais cômico. Se o Presidente Lula perde o mandato, ele tem emprego certo como comediante. Disse que o PT não era diferente - ele admitiu isso. Ficou provado que era igual a uns e pior do que outros tantos partidos da vida brasileira.

Ele é o homem do cheque em branco a Roberto Jefferson...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª tem mais um minuto.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já concluo, Sr. Presidente.

E Roberto Jefferson preencheu esse cheque em branco do jeito que quis.

É o rei do lugar comum. Fala da economia, das exportações, como se o Brasil tivesse sido inventado por ele. Eu diria que o retrato do Governo Lula é o que se passa hoje na Polícia Federal, que não tem dinheiro para se movimentar, no meu Estado, que é um Estado de graves problemas com o narcotráfico e com o crime organizado, não tem dinheiro a Polícia Federal para se movimentar lá.

Na segurança, ele faz o que fez no caso da aftosa, negou R$3 milhões para impedir o primeiro foco, colocando em risco a reputação do rebanho brasileiro e exportações no valor de US$3 bilhões.

Lula mostrou - Sr. Presidente, teria tanto a comentar - seu lado Pinochio, diz que lançou o Pronaf. O Pronaf é programa do Governo passado. O que ele tem feito é desadministrar o Pronaf.

Mas não vou insistir, Sr. Presidente, digo apenas que foi uma decepção muito grande para todo mundo.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Concedo mais um minuto, lembrando que, em um minuto, Cristo fez o Pai Nosso, que nos leva ao céu e leva o Brasil também ao céu.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Sr. Presidente. Lutarei para que, nesse minuto, eu consiga fazer alguma coisa a mais para que Lula não consiga levar a sociedade brasileira ao inferno. Essa seria uma forma de objetivarmos a nossa luta.

Mas, Sr. Presidente, agradecendo a V. Exª e encerrando, foi uma enorme decepção perceber que o Brasil, tão grande, de economia tão sofisticada, de sociedade tão complexa, é governado por homem tão primário.

Vimos agora que não basta a emoção para se ter um presidente que resolva a questão nacional. É preciso preparo, sim, e é preciso preparo e, além do mais, é preciso alguém que seja capaz de coibir corrupção no seu governo. Ele não foi capaz disso, ele não foi capaz de alçar à tamanha responsabilidade que o Brasil exige.

Portanto, ontem, senti o lado ruim: sou governado por alguém como ele. Senti o lado bom: tenho certeza de que nunca mais o Brasil vai ser governado por alguém como ele.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2005 - Página 38468