Discurso durante a 199ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à prorrogação dos trabalhos da CPMI dos Correios. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Apoio à prorrogação dos trabalhos da CPMI dos Correios. (como Líder)
Aparteantes
Cristovam Buarque, Delcídio do Amaral, Sergio Guerra, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 11/11/2005 - Página 39118
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, CRISE, AUTORIDADE, ESPECIFICAÇÃO, DIVERGENCIA, CHEFIA, CASA CIVIL, GRUPO, RESPONSABILIDADE, ECONOMIA, RELAÇÃO, SUPERAVIT.
  • CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INCENTIVO, CONTRABANDO, FILME NACIONAL, FALSIDADE, ENTREVISTA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • DESMENTIDO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACORDO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), OBSTACULO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • CRITICA, DENUNCIA, AUTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EXISTENCIA, IRREGULARIDADE, CONTAS, CAMPANHA ELEITORAL, JOSE SERRA, PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PEDIDO, SUSPENSÃO, FUNDO PARTIDARIO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • ACUSAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÕES, ECONOMIA, TENTATIVA, VALORIZAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, COMPARAÇÃO, AMERICA LATINA.
  • DEFESA, PRORROGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), REGISTRO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), SENADO, HIPOTESE, SUSPENSÃO, INVESTIGAÇÃO.

           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada, a questão que se coloca é a crise de autoridade que tanto preocupa a Nação brasileira. Dois exemplos bem claros: o Governo, Senador Gilberto Mestrinho, marcha para superávit tipo 6% e tem 4,25%, desde o acordo com o Fundo Monetário. A Ministra Dilma Rousseff* disse que nem 4,25% são possíveis. Há um choque claro entre a orientação da equipe econômica do Governo e a chefia do Gabinete Civil da Presidência da República. Está faltando alguém que arbitre, falta alguém que defina qual é o rumo, qual é a linha do Governo. Está faltando liderança, Senador Mozarildo. Está faltando comando.

           Outro episódio, que a mim me constrangeu, foi esse do filme Dois Filhos de Francisco. Parece-me que se passou algo assim do tipo: quero assistir, durante a viagem, ao filme Dois Filhos de Francisco. Aí o ajudante-de-ordens, acostumado a cumprir ordens, disse: vamos comprar na Feira do Paraguai. E veio uma cópia pirata do filme. Então é a chamada mensagem a Garcia: vai lá e faça. O subalterno foi lá e fez. Hoje, de maneira covarde, a culpa é jogada em cima da ajudância-de-ordens, que não tinha nenhum interesse em assistir a filme nenhum. Ela, pura e simplesmente, cumpriu aquilo que me pareceu ser um desejo presidencial.

           Eu faço uma pergunta aos irmãos Zezé e Luciano di Camargo, que foram apoiadores tão vigorosos da campanha de Lula. Quero saber como eles se sentem, sabendo que o Presidente, por ação ou por omissão, estimula o consumo de filmes-piratas neste país, com prejuízo para a indústria brasileira, com todo o prejuízo para o emprego, com todo o prejuízo para a economia de nossa pátria.

           Em segundo lugar, Sr. Presidente, faço aqui um desmentido muito claro: é matéria do jornal Folha de S. Paulo: “PT e PSDB fazem acordo para abafar depoimentos”. Isso é absolutamente inverídico. Teria havido acordo para que o Sr. Newton, o lobista Newton Antonio Monteiro, não tivesse sido convocado, porque significaria interesse do PSDB não ouvir alguém que teria algo a falar sobre essa campanha, mais do que debatida, do Senador Eduardo Azeredo, e, em troca, não viria aqui a Srª Soraya Garcia, que acusou o ex-Ministro José Dirceu de ter levado R$300 mil para a campanha de Nedson Micheleti*, prefeito de Londrina, reeleito pelo PT no ano passado. Isso, em absoluto, é verdade; ao contrário, depois de lhe fazer fraterna cobrança, acabei de receber do Presidente da CPMI, Senador Delcídio Amaral, a confirmação de que a Srª Soraya Garcia virá depor sim. Ela será agendada sim. E se quiserem chamar quem quer que queiram, chamem, ou seja, não há nada parecido com “acordão”. Já vou entrar no cerne do problema, lembrando Salomão, mas antes vou conceder um aparte ao Senador Delcídio Amaral.

            O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - Meu caro Senador Arthur Virgílio, é muito importante o pronunciamento de V. Exª, mas eu gostaria de deixar muito clara e registrada essa questão. O adiamento, ontem, foi feito única e exclusivamente porque a CPMI exigia uma resposta, em função dos documentos encaminhados pelo Sr. Marcos Valério, contrariando os pontos de vista do Relator, Deputado Osmar Serraglio, externalizados na semana passada, no que se refere à Visanet. Ontem, essas declarações e os registros apresentados pela CPMI em resposta a essa documentação foram bastante claros, mostrando a movimentação financeira ocorrida em função do desembolso da Visanet e, depois, do Banco do Brasil e as garantias no BMG. Ontem, também discutíamos o relatório parcial das movimentações financeiras, que está sendo apresentado hoje na CPMI pelo Deputado Gustavo Fruet e pelo Relator Osmar Serraglio, e simplesmente suspendemos ontem as três oitivas da Sub-relatoria de Movimentação Financeira porque era absolutamente impossível, com essa carga de trabalho, principalmente dessa Sub-relatoria, fazer as audiências e preparar todo esse material para a coletiva de ontem e para a reunião administrativa de hoje. Portanto, meu caro Líder, Senador Arthur Virgílio, não procede essa informação. Nós reagendaremos essas audiências. A isenção tem sido um referencial da CPMI dos Correios, assim como o equilíbrio, a serenidade, que é mérito dos parlamentares da Comissão. Quero aqui registrar também o equilíbrio com que o Relator Osmar Serraglio tem conduzido seus trabalhos e dizer que é única e exclusivamente isso. Não há acordão, não há pedido de Presidente da República, não há pedido de secretário particular da Presidência da República, nada. Será programado conforme combinado. Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Delcídio Amaral.

           Na verdade, chegou-se a colocar em pauta ou em cheque a isenção de um Deputado que foi uma gratíssima revelação, não só para o PSDB, mas para a Nação brasileira como um todo, que é o Deputado Gustavo Fruet, filho do meu falecido e queridíssimo amigo Deputado Maurício Fruet*, ex-Prefeito de Curitiba. Gustavo Fruet se revelou, pelo seu conhecimento jurídico, Presidente Ramez Tebet, pela sua seriedade, pela sua atenção, alguém que hoje é credor da admiração da Nação como um todo, como V. Exª também tem sido, pela forma como se tem portado na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Assim, é absolutamente indispensável a presença de Gustavo Fruet naquela Comissão. Portanto, creio que o jornalista Leonardo Souza* estará, a esta altura, bastante esclarecido a respeito do que aqui discorremos, V. Exª, Senador Delcídio Amaral, e eu próprio.

           Passo, Sr. Presidente, para um outro assunto, antes de discutir um pouco, Senador Antero Paes de Barros, Salomão.

           Eu soube que o Partido dos Trabalhadores, Senador Cristovam Buarque, que já foi o seu - e V. Exª em boa hora começa uma carreira à altura da independência que marca a sua trajetória de intelectual e de homem público -, teria entrado, via essa figura burocrático-vingativa do Sr. Ricardo Berzoini, no TSE, questionando a legitimidade das contas de campanha do atual Prefeito de São Paulo, José Serra, que, segundo dizem, teria ficado devendo. Então, se ficou devendo, não seria nem caixa-2, seria caixa menos-2, ou seja, algo diferente de caixa-2. E pediu, também, a suspensão do fundo partidário do PSDB.

           Sobre isso, eu não consigo deixar de entender como uma contribuição ao bom humor, é uma contribuição à quebra da sisudez que tem marcado os debates na Casa. Mas a pergunta que eu faria é muito simples: indagaria se foi o Sr. Berzoini que entrou com esta ação, ele próprio, a partir do advogado do PT. Aquele mesmo advogado do PT, que está processando a Veja por denunciar o Governo do PT e o PT de prática deslavada de corrupção? Ou foi o Delúbio? Pode ter sido o Delúbio que, de repente, está processando a campanha do Serra. E quem sabe Delúbio e Marcos Valério; ou quem sabe Delúbio, Marcos Valério e Silvinho; ou quem sabe Delúbio, Marcos Valério e José Dirceu; ou quem sabe Delúbio, Marcos Valério e Soraia; ou quem sabe Delúbio, Marcos Valério e aquele pessoal das FARCs; ou quem sabe Delúbio, Marcos Valério e todo mundo que tem praticado toda a sorte de desrespeito à coisa pública no País.

           Agora, eu volto ao bom humor, porque não dá para não tê-lo. Eles são cômicos, se não fossem trágicos, no que acarretam de prejuízos para o País.

           Sr. Presidente, antes de conceder o aparte ao Senador Sérgio Guerra, trago aqui uma prova dos nove, que remete à justiça salomônica. O Presidente, nesse episódio Visanet, aqui relatado pelo Senador Delcídio, mentiu. Presidente nunca sabe de nada, meu Presidente Tasso Jereissati. Ele não sabia de nada, nem da fita pirata. De nada! A culpa é do ajudante-de-ordens, a culpa é de todo mundo, menos dele.

           Muito bem! O Presidente disse taxativamente, por todos os veículos de comunicação, que era mero denuncismo da Oposição e da imprensa o escândalo Visanet, que agora está provado e jurisprudenciado, ou seja, a situação jurídica do Presidente se complica - esta, sim, se complica - porque o Presidente mentiu. Ele foi taxativo pela primeira vez na sua trajetória. Ele disse que não havia nada de dolo, e a CPI provou sobejamente que Sua Excelência estava errado. Se pediu desculpas pelas fitas, deveria agora pensar no que fazer para amenizar a sua situação jurídica de extrema gravidade.

           Ouço os nobres Senadores Tasso Jereissati e Sérgio Guerra.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, é impressionante o que está acontecendo neste País com este Governo e, principalmente, com este Partido. Já falei aqui que assistimos recentemente ao maior espetáculo, não do crescimento, mas de corrupção sistemática que este País já viu. Sistemático porque institucionalizado, com comando, chefia, subchefe...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Em toda parte.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - ...em toda parte, cada colocação disseminada; sistema de distribuição de recursos, de arrecadação, isso nunca aconteceu na história do País. Pensei que esse espetáculo seria a coisa que mais me surpreenderia neste Governo. Mas agora não. Agora estou vendo o maior espetáculo de cinismo que já vi na minha vida. Depois de ver o Presidente da República, que nunca tinha dado entrevista, depois de três anos de governo, nunca tinha falado à Nação, e que esperávamos que viesse de coração aberto dizer ao País, com a tranqüilidade com que ele falou, contra a realidade, desmentindo a realidade...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - No popular, com a cara-de-pau.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Com a cara-de-pau, e se desmentindo. Em determinado momento, ele diz que não houve mensalão. Em seguida, ele diz que não houve caixa dois para a campanha dele. E o repórter pergunta: se não houve caixa dois, para onde era o dinheiro que o Valdemar Costa Neto confessou? E ele diz: era a distribuição que o Delúbio fazia, proporcional à bancada de cada partido. E ele, há cinco minutos, acabara de dizer que não havia mensalão. Cinco minutos depois, ele diz que o Delúbio distribuiu o dinheiro proporcional à bancada de cada partido. Ou seja, de um ridículo e de um cinismo absolutamente inédito neste País para um homem público. Acho que o Maluf conseguiu ser superado. E agora vejo o Presidente desse partido, que proporcionou esse espetáculo, superar esse cinismo e jogar toda essa carga em cima da campanha, ou tentar jogar essa carga em cima da campanha do nosso candidato, derrotado, José Serra. Realmente, estamos assistindo, depois do maior espetáculo... E não me refiro ao espetáculo de crescimento, porque agora, Senador Sérgio Guerra, Srs. Senadores, Senador Presidente Antero Paes de Barros, já se verifica que nem o crescimento econômico que se esperava que, mediocremente, acompanhasse o crescimento mundial, vai acontecer. As notícias que chegam hoje já apontam com a possibilidade, Senador Sérgio Guerra, de um crescimento abaixo de 3%. Nem esse! Portanto, o anunciado espetáculo do crescimento não vai haver. Estamos assistindo, sim, é ao espetáculo da corrupção e ao espetáculo, agora, do cinismo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª tem razão, Presidente Tasso Jereissati, eles tinham que fazer algum espetáculo. Não podendo criar o do crescimento, optaram pelo do cinismo. É sempre uma escolha; viver, assim, um drama de Sofia. Dou só um dado para mostrar como essa gente administrou mal, inclusive, o crescimento econômico: numa época virtuosa do mundo, o Brasil, que tinha, em 2001 - ano de pouco crescimento -, 32% do PIB da América Latina; em 2002 passou a 33% do PIB da América Latina; e em 2003, primeiro ano de Lula, recuou para 31% do PIB da América Latina. Em 2004, ano de suposto crescimento econômico, o Brasil avança para 32% do PIB da América Latina. Ou seja, o Brasil ficou menor em relação à América Latina em 2004, ao final do ano, do que estava em 2002. São dados de quem maneje minimamente economia e maneje minimamente estatística.

           São dados de quem maneje minimamente economia e maneje minimamente estatística.

           O Brasil cresceu naquele tempo mais que os seus vizinhos. Desta vez, há expectativa de o mundo crescer 5%. Os Tigres Asiáticos crescem a taxas velozes. A América do Sul, em 2004, Senador Cristovam, cresceu 13,5% sem o Brasil; com o Brasil, cai o crescimento da América do Sul para 9%. Ou seja, o Brasil com os seus números, numa época de virtuoso crescimento da economia mundial, cresce menos do que todos aqueles que com ele concorrem na conformação do Produto Interno Bruto.

           Mas, antes de conceder a palavra ao Senador Sérgio Guerra, eu queria só dizer uma coisa. O Presidente diz na entrevista: “Mandei apurar...” Alguém diz assim: “O senhor tentou evitar CPI. O senhor mandou Aldo Rebelo e José Dirceu à casa de Roberto Jefferson para demovê-lo de fazer a CPI”. Aí ele diz: “Eu disse aos meus parceiros de Governo que não era possível criar nenhum problema para funcionar nenhuma CPI”. Ou seja, o bonzão disse: olha, eu quero apurar tudo... Aquela linguagem pra fora, muito bem.

           Qual é a verdade? Qual é a prática, Senador Cristovam? Aqui está o Governo fazendo de novo, protagonizando aquele espetáculo de até a meia-noite de hoje - e esse horário de meia-noite é horário de filme de terror, não é? - até a meia-noite de hoje, tentando retirar assinaturas. Se não conseguirem, vão dizer que não tentaram. Se conseguirem, vão tentar impedir a prorrogação da CPI dos Correios.

           Quero desde já só advertir que, se conseguirem, vão aturar a CPI dos Correios daqui do Senado porque eu já tenho requerimento e número para fazer uma CPI só com Senadores. É só pra tirar o cavalinho da chuva quanto à idéia de que vai haver alguma impunidade ou alguma pizza nesse episódio.

           E ainda o Deputado Gilmar Machado faz uma alentada questão de ordem, que foi respondida de forma muito percuciente, muito clarividente pelo Líder do PFL, Rodrigo Maia, uma alentada questão de ordem justamente tentando mostrar a falta de razão para prorrogação da CPI. Ou seja, o Governo não quer a prorrogação da CPI, o Governo não quer a conclusão dos trabalhos, o Governo não quer apurar coisa nenhuma a fundo, até o final. Portanto, o Presidente da República diz uma coisa na televisão e é inveraz quando ele diz isso e pratica outra, através dos seus operadores políticos, que não fazem outra coisa a não ser seguir as ordens que ele manda do Palácio do Planalto.

           Portanto, é como diz o Senador Tasso Jereissati: é mesmo um espetáculo de cinismo.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Permite V. Exª um aparte?

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não. Ouço o aparte do Senador Sérgio Guerra e, em seguida, o aparte do Senador Cristovam Buarque.

Com muita honra, concederei o aparte a S. Exªs.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Nobre Senador Arthur Virgílio, a sua palavra de hoje é mais uma palavra do nosso Líder que coloca, com muita clareza, episódios que, somados, nos conduzem a sérias preocupações. O Brasil cresce - diminui o seu pedaço na economia da América Latina. A expectativa de crescimento econômico não se confirma e o Presidente da República atua na direção da vulgarização da cena política brasileira. Não dá nem para pensar em grandes líderes que valorizavam a sua voz, a sua palavra. Eu sou admirador do General Charles De Gaulle. Ainda jovem, acompanhava a sua presença na vida do mundo, da Europa e da França. Nos momentos de crise intensa, ele sempre falava - e falava pouco - mas falava coisas que a Europa e o mundo entendiam, e valia a pena ouvir. O Presidente da República do Brasil chegou a um padrão de não valorização do papel que ele deveria exercer - de mediocrização do processo político do País. É imprevisível, imprevisível. Nunca imaginei que o Presidente Lula - acompanhei a vida dele - pudesse participar de uma reunião e de uma entrevista como aquela para cumprir aquele papel. A forma como foi entrevistado, como respondeu, a falta mínima de responsabilidade com a verdade e com as suas amplas responsabilidades nacionais são gravíssimas. Como vamos atravessar isso tudo? Como vamos sair disso tudo com um Presidente que, sinceramente, não cumpre minimamente o seu papel? A Oposição, entre erros e acertos, tem acertado muito mais do que errado. Não contribuímos para que o País se desestruturasse...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - ...pois essa crise não foi inventada por nós. E tenho bons sinais, pelo menos, da CPMI dos Correios. Sinto que ela começa a dar substância a uma conclusão que vai ser muito relevante para que, de forma prudente, possamos mudar este País. Ficar calado, não reagir, não deixar clara a nossa indignação, impossível, até por que é preciso mostrar que nem todos são iguais. A tentativa de jogar todo mundo no mesmo campo de desagregação é um ato de irresponsabilidade do Partido dos Trabalhadores, porque ele próprio não é capaz de superar dentro dele os seus conflitos, porque nem todos os petistas estão misturados nesse grande e comprometedor lamaçal. Já que eles não resolvem a vida deles como deveriam resolver, para manter o PT como grande Partido nacional, eles cuidam de juntar todo mundo, de fazer de conta que todos estão na mesma precariedade. Não conheço nada mais insincero, nada mais irresponsável. Por isso, sou completamente solidário à indignação que o Líder Arthur Virgílio muitas vezes demonstra. Estou confiante de que vamos sair dessa confusão toda com sobriedade, com firmeza, com permanentes avanços. Penso que a eleição do Senador Tasso Jereissati à Presidência do PSDB vai ser muito importante nisso tudo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sem dúvida alguma.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Vamos construir um ambiente novo. Quanto mais aparecem manifestações como essa do Ministro Berzoini, carregadas de cinismo, mais fica claro que a nossa atitude deve contrastar com a deles, firmando compromissos permanentes com o País, até que a Nação chegue a outra disputa eleitoral e o Brasil possa atravessar esse período e livrar-se dessa fase comprometedora da vida pública que não tem antecedentes. Nenhum momento da vida brasileira de qualquer governo nacional foi tão crítico como é o momento deste Governo. Não fosse a prudência, a responsabilidade, o compromisso democrático de Partidos da Oposição em geral e do PSDB em particular, este País não estaria seguramente no caminho de resolver os seus problemas e teríamos um cenário fora de total controle. Quero parabenizar a sua palavra segura, firme, e dizer que a sua liderança honra não apenas o PSDB, mas o grande projeto de uma democracia entre nós.

           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu pediria tempo para responder ao Senador Sérgio Guerra, Sr. Presidente Mão Santa, conceder um aparte ao Senador Cristovam e encerrar.

           Tenho alguns pontos a observar, em relação ao aparte do Senador Sérgio Guerra. Primeiro, o fato de o Presidente ter ido pela primeira vez a uma entrevista coletiva, como se fosse uma grande coisa, como se fosse um momento solene. Coloca o melhor terno e vai para lá mais cheiroso do que filho de barbeiro, como se não fosse uma obrigação do Presidente prestar contas à sociedade pelo mecanismo democrático da entrevista coletiva à Nação à Nação que o elegeu.

           Um Presidente autoritário, que termina querendo ver a imprensa como se pudesse amestrá-la. A imprensa não é foca; é escoadouro dos descontentamentos e dos sentimentos da Nação brasileira. O Presidente cometeu esse equívoco. Em segundo lugar, vi no Presidente Lula algo para o que a Senadora Heloísa Helena a mim já me advertiu muitas vezes.

           Sempre convivi com o Presidente Lula como adversário, e com muito respeito, até com muito carinho, e como aliado - ele no partido dele e eu no meu - durante os momentos de luta contra o regime militar, durante momentos de luta por anistia, pela eleição de Tancredo, por Constituição. Era algo que não me colocava dentro da economia doméstica dele.

           E V. Exª sempre me advertiu de que, de fato, ele não era nada, a não ser o efetivo chefe de tudo o que se fazia no PT, o grande líder, o grande mentor, o grande organizador, o grande comandante daquele partido, com seus defeitos e com suas qualidades. Tendia, até então - porque o olhava de fora - sempre a desculpá-lo, e a nação pensava um pouco como eu, porque o via, não como companheiro, que teria de talvez aturar o seu tacão, mas o via como alguém que transmitia para fora a imagem de que era, para mim, o que havia de melhor no PT.

           Hoje, não! Depois daquela entrevista coletiva, Senadora Heloísa Helena, eu disse: Meu Deus do céu! O Presidente é capaz de, uma entrevista coletiva, deslavadamente mentir, deslavadamente bater boca com os jornalistas, diminuindo a majestade presidencial, diminuindo a respeitabilidade, quebrando qualquer perspectiva de liturgia em torno do cargo dele. Foi uma decepção para qualquer pessoa que tenha analisado com percuciência, com olhos sensíveis, essa exposição, que foi um tiro n’água: um presidente despreparado e insincero, diante de uma Nação que precisa de presidente, ou de presidenta preparada!, e que está ávida, esta Nação, por sinceridade e por boa-fé.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Arthur Virgílio, quero voltar ao assunto anterior, o do crescimento econômico, e dizer que o nosso problema mais grave do que a falta de crescimento econômico é que estamos ficando para trás das nações, em diversos indicadores. E gostaria de lembrar que, provocados por V. Exª, na Comissão de Relações Exteriores, estamos aguardando uma audiência para discutir por que o Brasil ficou para trás nos últimos 30 anos com o projeto civilizatório. Foi um documento que V. Exª apresentou, e eu, como Presidente, ratifiquei, sendo, depois, aprovado. Estamos devendo isso à opinião pública. Vamos marcar a data dessa audiência em que um grupo de pessoas virá discutir o que fizemos de errado neste País para ficarmos para trás. Gostaria apenas de lembrá-lo, uma vez que foi iniciativa sua. Não sou mais da Comissão de Relação Exteriores, pois, ao sair do PT, fui retirado, mas quero estar presente, como Senador, a esse encontro, a essa audiência que V. Exª convocou.

           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Cristovam Buarque. Creio que devamos mesmo fazer isso, porque conversávamos sobre um tema apaixonante que é o Brasil. Nós nos perguntávamos o porquê de certas estruturas empacarem no Brasil, e surgiu a idéia da proposta desse seminário, que teria de ser muito plural, muito aberto, nada tendencioso, bem capaz de abrigar todas as correntes de pensamento do País, para que tivéssemos a visão patriótica de cada um.

           Ao encerrar, quero saudar a presença da Líder do P-Sol na Câmara dos Deputados, Deputada Luciana Genro, assim como fiz com outros Deputados que aqui estavam presentes, e lhe dizer, Sr. Presidente, finalmente encerrando, como comecei: o Presidente diz, na entrevista coletiva, que quer apurar. Seus operadores políticos aqui querem retirar assinaturas até meia-noite de hoje, um horário sinistro. O Presidente diz que quer apurar, o Deputado Gilmar Machado, do PT de Minas Gerais, apresentou, hoje, questão de ordem contra decisão do Presidente Renan Calheiros de ler o relatório e de implementar, portanto, a Comissão Parlamentar de Inquérito. O Sr. Gilmar Machado foi rebatido pelo Deputado Líder do PFL, Deputado Rodrigo Maia. E vamos agora ver o que decidirá a Comissão de Constituição e Justiça. Não tenho nenhuma dúvida de que ela será a favor da prorrogação da CPI, falta razão ao Deputado Gilmar e sobra razão ao Deputado Rodrigo Maia.

           Mas provado está, Senador Osmar Dias, que havia, sim, o lado que não queria prosseguir com as apurações; e provado está que havia, sim, o outro lado que não temia as conseqüências de as apurações irem até o final. Aqueles que assinaram a prorrogação da CPI, aqueles que querem a instalação, a reinstalação, a manutenção do funcionamento da CPI são precisamente aqueles, que, no caso de Salomão - e falava em Salomão no começo - corresponderia à verdadeira mãe, aquela que disse: “Não, entregue a ela o filho, mas não quero que decepem meu filho ao meio”. Para a falsa mãe metade de um filho morto basta, porque estaria em jogo mais a vaidade. Nesta hora, não está em jogo a vaidade, no caso do Governo, está em jogo é a vontade de deixar impunes aqueles que praticaram tantos delitos contra a coisa pública e que devem ser apontados à execração pública, sim, por um posicionamento livre da Comissão Parlamentar de Inquérito, que não pode ficar inconclusa e não vai ficar inconclusa, porque a Nação não permitiria.

           Portanto, tirem os pizzaiolos de vez da cabeça, a idéia de que algo parecido com pizza vai ser assado em algum forno do submundo político deste País. Vamos fazer a CPI funcionar, essa é a vontade soberana do Senado, essa é a vontade soberana da Câmara, é a vontade soberana da nação brasileira.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Entrevista de Lula ao programa Roda Viva”;

“CPMI dos Correios é prorrogada até abril do ano que vem”;

“Renan lê pedido da oposição para prorrogar CPI dos Correios.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/11/2005 - Página 39118