Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Greve nas universidades federais.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Greve nas universidades federais.
Aparteantes
Alberto Silva, Jefferson Peres, Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2005 - Página 39940
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, GREVE, PROFESSOR UNIVERSITARIO, EXPECTATIVA, NEGOCIAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, MAGISTERIO, BRASIL, APREENSÃO, PARALISAÇÃO, HOSPITAL ESCOLA, PREJUIZO, ALUNO, ATENDIMENTO, COMUNIDADE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Edison Lobão, que preside esta solenidade, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros que nos assistem aqui e pelo sistema de comunicação.

Senador Edison Lobão, lado cristão Maranhão, onde o Padre Antonio Vieira muito viveu e pregou. Então, Deus escreve certo por linhas tortas. Eu ia falar outra coisa, Heloisa Helena, mas os representantes da universidade, da educação, me abordaram agorinha e perguntaram se eu tinha assinado o manifesto com a Heloisa Helena. Eu disse: com ela, eu assino tudo. Deve estar aí o meu nome. Não cheguei nem a ver.

Mas eu queria chamar a atenção do Brasil justamente para isso. O nosso Presidente Lula estudou muito pouco, trabalhou muito pouco. Eu sei que foi um acidente - Senador Jefferson Péres, sou solidário aos acidentados, sei que ocorre -, ele perdeu um dedo e ganhou uma aposentadoria precoce. Então, trabalhou muito pouco. Senador, ele é PhD em fazer greve - aí me curvo. Ele fez muita greve. Eu aprendi lá no Nordeste - lá se aprende com o povo -, e era bom o Presidente Lula também aprender com o povo. Ele fala, fala, fala e não ouve. Quem fala não ouve; quem fala tem, às vezes, até aplausos, mas quem ouve tem um aprendizado.

Então, aí está a greve. Aprendi aquele negócio e vi, ouvi, o feitiço caiu contra o feiticeiro: greve na Universidade Federal. Eu tenho plena consciência de que ele não tem discernimento do que é isso. Deus mandou que eu trouxesse este tema. Era outro que eu abordaria, Senadora Heloísa Helena, sobre a Medida Provisória 252. Somos contra as medidas provisórias. Sou por uma lei boa e justa! Este é o entendimento e a razão de um Parlamento: fazer leis boas e justas. Não é o Executivo que deve fazer leis. Isso é ignorância! E a ignorância é audaciosa. A ignorância está ali no Planalto. Esse é o nosso entendimento.

Mas, Senador Ramez Tebet, eu sempre disse: “Eu fui prefeitinho”. Isso nos dá uma experiência. Por que eu tratei bem ontem o Palocci? Ele foi prefeitinho. Não é essas coisas, não! Mas, em terra de cego, quem tem um olho é rei. Lá ele é rei. Lá, no reino do PT, ele é rei. Mas eu fui prefeitinho na minha cidade, Ramez Tebet, Parnaíba. Eu dizia como Sêneca, que não morava em Atenas ou em Esparta: “Não é uma pequena cidade. É a minha cidade”.

Então, havia uma multinacional alemã, a Merck, que explorava o jaborandi, a pilocarpina, e, de repente, eu fora convidado, Senador Lobão. Quando estava lá, tive um entendimento que o Lula não tem. Eu não sei falar alemão; uma confusão doida. Aí havia lá um professor, Dr. Basedow. Parava o trânsito e ele dizia: “Professor Basedow”. Senador Ramez Tebet, em um restaurante, a reserva para o Professor Basedow era sempre a da melhor mesa. A melhor! No teatro, o Professor Basedow ficava na fila... Então, Senadora Heloísa Helena, eu me virei, do meu jeito, e disse: Ó, Basedow, você não é Diretor Químico da Merck Darmstadt, a maior potência?” E ele disse: “Sou, mas aqui o título mais respeitável, mais honroso” - escutai, Lula! - “é o de professor”. E não sei se a D. Marisa é professora para entender. Eu, ao menos, durmo com uma todas as noites. Minha mulher é professora.

Atentai, bem, Senador Ramez Tebet, ao que ele ainda disse: “Para usar esse título, eu fui professor em Heidelberg. Apareceu um concurso para químico, fiz e hoje sou Diretor Químico da Merck Darmstadt“.

É muito dinheiro. Mordomia maior do que aqui! Nunca tive tanto. Tem até saudades dessa Merck.

Como eu dizia, Senador Edison Lobão, esse professor me disse: “Você quer ir lá conhecer?” E eu fiquei perplexo. A Alemanha é moderna demais. Sofreu com duas guerras, mas a reconstruíram. Os edifícios são mais modernos que os dos Estados Unidos. Fiquei perplexo ao chegar a Heildelberg. Cidade antiga, com prédios antigos, aquela arquitetura de castelos e igrejas antigas.

Perplexo como estava, ele me disse: “Essa cidade, como toda a Alemanha, sofreu duas guerras, foi bombardeada. Mas o mundo respeitou a Universidade de Heidelberg, onde estudei”.

Ele me mostrou, Senador Ramez Tebet, a segunda Bíblia mais velha do mundo, que está lá na biblioteca. Para continuar com o título, ele tinha que dar, Senador Edison Lobão, uma aula por semana. Não valia o dinheiro. Valia o respeito. Por isso, a Alemanha é forte.

E, aqui, a nossa universidade, Senador Péres, está há mais de 90 dias em greve. São 500 mil estudantes parados, uma mocidade estudiosa. Napoleão Bonaparte diz: “Um instante perdido na sua mocidade é uma desgraça certa”.

Quinhentos mil parados! As escolas técnicas. E um mal nunca vem só. Padre Antônio Vieira diz que um bem vem sempre acompanhado de outro. Os hospitais universitários estão parados. Outro dia me senti mal, tive um problema. Pelo fato de ter relações, fui atendido por um amigo. Mas, ao entrar, chocado, os corredores, os bancos, tudo parado. E o Lula? Ô Lula, acaba essa greve! Acaba! Você só sabe fazer, não lhe ensinaram a acabar com a greve? Ô Lula, eu estudei. Professor Jefferson, na Ditadura, como eles tinham vergonha, não tive um dia de greve por isso estou aqui.

Com a palavra os dois Senadores brilhantes, primeiro o nosso Jefferson Péres ou, a critério, o Senador Ramez Tebet. Todos dois são primeiros.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Prezado Senador Mão Santa, sou professor universitário da Universidade Federal do Amazonas, aposentado. Ao longo dos meus 25 anos de magistério, Senador Mão Santa, via sucessivas greves na minha universidade sempre promovidas pelo PT e pelo PCdoB. E, nos últimos oito anos, era contra o Governo neoliberal do FHC, que tratava mal as universidades. Que ironia da história! Na semana passada, fui procurado em minha casa, primeiro, por professores há noventa dias em greve e, depois, por médicos do Hospital Universitário de Manaus, sucateado, quase paralisado devido ao Governo popular do PT, do PCdoB, do operário Luiz Inácio Lula da Silva. Olha, até fiquei com pena dos meus colegas que me procuraram - coitados - porque sei que lutaram tanto para levar este Governo ao poder. Que pena! Que enorme decepção, Senador Mão Santa! Parabéns pelo seu pronunciamento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Deus escreve certo por linhas tortas. Entra o nosso Presidente José Sarney. V. Exª enfrentou centenas de greves e soube acabá-las. A universidade federal... V. Exª, que simboliza o saber, a cultura, é um estadista, aconselhe o Lulinha...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - (...) em quem votamos, que compreendo não teve esse privilégio, mas goza do privilégio da amizade de V. Exª. Presidente Sarney, há três meses, 500 mil jovens... A minha filha - estou advogando em causa própria - todo dia eu pergunto: “Minha filha?” E ela diz: “Está parado!”

Senador Ramez Tebet, arrependi-me, porque ela estudava na universidade privada, Senador. E imagino: 500 mil! Presidente Sarney, se esses jovens olharem a França e começarem a se revoltar e se rebelar? E o Lula, que só aprendeu a fazer greve e não a acaba uma greve?

Concedo um aparte ao Senador Ramez Tebet, ao Professor Ramez Tebet.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Mão Santa, quero dizer a V. Exª que há horas em que penso que estamos vivendo um surrealismo no País. Imagine uma coisa dessas! São 90, 120 dias de greve universitária, e ninguém fala nada. Felizmente V. Exª está na tribuna. Alguns Senadores têm falado, chamado a atenção, porque isso não é possível. Não se pode banalizar a educação desse jeito. Está tudo banalizado! Parece que ninguém se revolta com mais nada! Deixam as coisas acontecerem; deixam os professores em greve; deixam os alunos sem aulas. Mas como? Qual a providência que está sendo tomada? Qual a mediação do Ministro da Educação? Nós não temos conhecimento de nada! Parece que as coisas - volto a repetir - estão banalizadas. Mas, felizmente, V. Exª está na tribuna, defendendo os professores, defendendo as universidades, defendendo os hospitais universitários, e defendendo com sabedoria, sabe por quê, Senador Mão Santa? Vejo muito V. Exª com os livros na mão, mas eu gosto mais quando V. Exª fala da sua experiência de vida. É muito importante V. Exª reconhecer que foi Prefeito da sua cidade porque é ali que se começa a aprender a viver política e a ter sensibilidade. Eu tive a sorte de V. Exª: também comecei minha vida pública como professor de uma cidade que é pequena para os outros, mas que, para mim, é a maior cidade do Brasil, como a sua Parnaíba é a maior cidade para V. Exª. Que V. Exª continue nessa tribuna, fazendo eco às vozes daqueles que estão surdos e mudos neste País! Não pode acontecer isso, Senador Mão Santa. V. Exª tem razão. Eu me associo ao seu pronunciamento e torço não porque sou professor aposentado da Universidade Federal, mas porque não posso entender que a educação seja tratada dessa maneira no País.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Peço que incorporem ao meu pronunciamento todas as palavras do grande Senador e professor Ramez Tebet, como na Alemanha se reverencia o Professor Basedow.

Mas Deus escreve certo por linhas tortas.

Adentra pelo plenário o Senador Alberto Silva, Conselheiro da República! Senador Alberto Silva, estou falando por V. Exª, porque sei que é conhecido no Piauí como tocador de obra, engenheiro político. Mas acho que o mais bonito foi o desenvolver da educação nos Governos. Eu me lembro de que, em Parnaíba, V. Exª mandou Edgar Linhares, um sábio. Eu fui beneficiado. E como muda um só! V. Exª viu os pobres com casa e escola. Trouxe um Ph.D. para a Universidade Federal. Lançou o embrião da Estadual, que desenvolvi, no maior desenvolvimento universitário, professor Sarney, não do Piauí nem do Brasil, mas do mundo. Construímos 32 campos universitários. No último vestibular que presidi no Piauí, havia 56.860 brasileiros querendo ser doutores na Universidade do Estado do Piauí.

Então, V. Exª, Conselheiro da República, reúna esses homens! Se isso consta da Constituição, faça-o pelo caminho, a verdade e a luz. Reúna-se com o Conselho, com os Conselheiros, e aconselhe o Presidente Lula, que é Ph.D. em greve, que está acabando com a mocidade estudiosa do nosso País.

A bandeira do Maranhão - e eu sou filho de maranhense -, a do Piauí e a do Brasil têm as mesmas cores. A do Piauí só tem uma estrela, que é Alberto Silva, Senador, Conselheiro da República, que vai aconselhar o Presidente Lula a terminar com essa greve.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. PFL - MA) - Estou ampliando o tempo de V. Exª; mas lhe lembro que V. Exª já ultrapassou em 70% o seu tempo.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Sr. Presidente, já que S. Exª falou do Maranhão, dê-me um minuto, para eu, ao menos, agradecer as generosas palavras do Governador e Senador Mão Santa. Realmente, S. Exª força um pouco as palavras, e fico-lhe muito grato por isso, mas tenho de ser justo no momento em que digo que realmente foi o Governador Mão Santa quem fez uma revolução no ensino do Piauí. S. Exª levou a esperança aos jovens do interior do Piauí, que jamais poderiam chegar ao ensino superior, e criou realmente 32 campos universitários em um Estado tido como pobre e atrasado. V. Exª, como Governador, levou a luz da educação para o interior do Piauí. E eles são gratíssimos a V. Exª, e nós também o somos, como companheiros de V. Exª aqui, nesta Casa. Farei o que eu puder, como Conselheiro da República, evidentemente. É claro que teremos de dizer ao Presidente que Sua Excelência precisa realmente tomar uma posição. Não é mais possível deixar que a greve se estenda por mais tempo que o necessário e que toda a mocidade brasileira, em todos os recantos do Brasil, perca esse tempo precioso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Quinhentos mil jovens brasileiros....

(Interrupção do som.)

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - V. Exª tem razão. Agradeço-lhe a oportunidade. E pode estar certo de que farei o que eu puder, a partir de agora. Onde eu puder, tentarei influir, juntamente com V. Exª, para que essa greve acabe, porque ela não tem mais sentido de existir. O Governo tem de encontrar uma solução.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - As minhas últimas palavras são em homenagem ao Presidente José Sarney. Deus escreve certo por linhas tortas. V. Exª adentrou aqui. Deus coloca as pessoas certas no lugar certo, na hora certa. E V. Exª, com o seu prestígio e a sua história, tem de aconselhar a acabar com essa greve.

Quero dar o meu testemunho, porque fui prefeitinho, governei o meu Estado por seis anos, dez meses e seis dias e trabalhei com quatro Presidentes: Presidente José Sarney; Presidente Fernando Collor de Melo; Presidente Itamar Franco e Presidente Fernando Henrique Cardoso. O mais generoso e sensível foi V. Exª. Confiando nessa generosidade, aconselhe o seu amigo. Acho que V. Exª tem protegido o Lula muito, muito e muito. Mas esse será o maior benefício que V. Exª poderá dar ao Presidente, para que acabe com as greves. Sua Excelência sabe disso, porque é especialista em greve.

Essas são as minhas palavras.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2005 - Página 39940