Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Explicação pessoal.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Explicação pessoal.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2005 - Página 40360
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, ACUSAÇÃO, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, NECESSIDADE, REDUÇÃO, DEFICIT, ESTADO.
  • CRITICA, POLITICA EXTERNA, GOVERNO, COMPARAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, LIDERANÇA, TERCEIRO MUNDO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), OPOSIÇÃO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ENTREVISTA, IMPRENSA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 18/11/2005


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 17 DE NOVEMBRO, DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pela lei, cinco minutos, mas, pelo coração e inteligência de V. Exª, eu acho que um minuto... Foi o que Cristo teve para fazer o Pai-Nosso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Com revisão do orador.) - Está bom, Sr. Presidente. Eu chamo a atenção do Líder Mercadante para a questão da “armadilha do crescimento”. Propus o seminário e creio que essa é uma idéia, sim, para sairmos da fulanização que diminui a discussão econômica. S. Exª fala em âncora cambial e compara situações de conjunturas diferentes entre si. Mas o fato é que hoje - e não estou precisamente culpando o Governo de V. Exª - o Real é mais apreciado do que nos tempos que cheguei a criticar, tempos de Gustavo Franco no Banco Central. V. Exª fala ainda, em tom de crítica, das privatizações. 

Faço aqui um apelo à sinceridade que jamais desconheci em V. Exª, meu prezado amigo. Eu duvido, mas duvido mesmo, que o cerne da política econômica tocada pelo Ministro Palocci - o Presidente Lula, parece-me, apreendeu as bases dessa política econômica que está em prática, senão não a teria apoiado com tanta força -, duvido que se fosse a época das grandes privatizações este Governo não as tivesse implementado. Duvido! Eu veria como insincera qualquer resposta diferente. Temos absoluta convicção de que seria incoerente, isto sim, termos essa política econômica que aí está e, ao mesmo tempo, aquele estado mamute, deficitário, que emperrava, por exemplo, o crescimento das exportações, das quais V. Exª hoje tanto se orgulhece, e eu também, até porque sei o papel que alguns governos, a começar pelo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, tiveram nessa evolução.

Há um outro dado. V. Exª fala dos artigos do Presidente Fernando Henrique. É uma tarde de muito bom humor. A partir do primeiro dia de janeiro de 2007, o Presidente Lula poderá ser ex-Presidente. Vou esperar os artigos do ex-Presidente Lula e vou comentá-los, se estiver nesta tribuna. Serão artigos que, certamente, nos levarão a intensa meditação, pelo conteúdo que saberá implementar a todos eles.

S. Exª fala, também, em impressionar mercados. Eu não acho ruim impressionar mercados. Só que o Lula, pelo seu passado, precisou impressionar demais. Mas eu não acho ruim impressionar bem os mercados. Ou queremos bolsa para cima e para baixo? Ou queremos um país submetido ao regime do overshooting do dólar? Não queremos isso.

Vou me centrar em algo. V. Exª, quando fala do balanço de pagamentos, não lê ano a ano para percebermos que houve uma evolução. Quando V. Exª fala da relação dívida externa/PIB, V. Exª também não lê ano a ano. Ou seja, a impressão de que o Brasil está sendo inventado - e ela foi repudiada ontem pelo Ministro Palocci - talvez tenha sido o defeito da bela fala que V. Exª fez aqui hoje.

Vou encerrar, dizendo que se é verdade que tenha havido mais gastos no social, tenho visto muita confusão, muita balbúrdia e vi finalmente voltarem à fórmula do governo anterior, procurando até aperfeiçoá-la com o Bolsa Família - é o velho Bolsa Escola. Até então, deram com os burros n’água e com denúncias incríveis de irregularidades. Mas não quero perder tempo com irregularidades porque hoje o debate não está por essa coisa de desvio de dinheiro público.

Encerro, citando o que para mim é um dos principais defeitos deste Governo, que é a política externa. Política externa que não inventou a relação com a Venezuela. Fernando Henrique se dava muito bem com Chávez, ele não era parceiro de Chávez, ele não era compañero de Chávez, ele se dava bem por entender que o restante da elite venezuelana era completamente pró-americana e não previa os interesses brasileiros. E a Venezuela, já na época de Fernando Henrique, era um palco de ação de empreiteiras brasileiras, de prestadoras de serviço brasileiras, aquilo fazia parte de uma visão lúcida sobre a Venezuela.

            O Brasil se dava bem com Cuba, mas não via em Cuba uma Disneylândia. O Brasil tinha uma relação boa e produtiva com a Índia, com a china, com a Rússia. Isso também não nasceu de uma formulação mágica inventada, criada pelo Presidente Lula. Eu vi ao contrário, como defeito, uma política terceiro-mundista que voltou as costas para a Alca. A Alca tinha que ser buscada, perseguida, vista para nós como o Nafta, que resultou em coisa boa para o México.

            Eu tenho certeza, Senador Wellington Salgado de Oliveira, de que sensibilizo o empresário que V. Exª é quando digo isso. O Presidente Lula não privilegiou a diplomacia econômica. Ele privilegiou um erro político, que foi tentar fazer o País virar membro efetivo do Conselho de Segurança da ONU, e aí desfilou em carro aberto com o ditador do Gabão, fez uma viagem ao Oriente Médio, que não tinha nada de comercial. Foi ao Oriente Médio e não conversou com a Arábia Saudita nem com Israel. Foi fazer o quê? Foi comprar areia lá? Eu não entendi qual foi a grande vantagem. Na verdade, uma política externa que, a meu ver, criará problemas para o País no futuro.

            Sr. Presidente, vou respeitar e dizer que hoje, Senador Tasso Jereissati, meu Presidente, revi no Senador Aloizio Mercadante - e foi tão bom vê-lo! - a sua enorme capacidade de eternamente rejuvenescer. Ele aqui se referiu a meus pendores esportivos...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...e procuro praticar esportes porque julgo que é uma coisa boa. Mas hoje reconheci em V. Exª o líder estudantil brilhante e aguerrido que sempre foi, que ajudou e muito a construirmos a democracia que hoje temos, quando V. Exª disse duas frases nas quais me reconheci no passado, não sei se caberia no presente. V. Exª falou aqui novamente aquela coisa do neoliberal, aquilo foi terrível - senti-me o próprio Hayek* -, e depois V. Exª fala assim: “a inserção soberana”, como se antes houvesse uma inserção submissa. Aí eu disse assim: puxa vida! Ele está me chamando para tempos que eu perdi, tempos em que éramos jovens e que, portanto, podíamos fazer no mimeógrafo aqueles manifestos. Essa expressão é daquele tempo.

Portanto, parabenizo V. Exª por me trazer a evocação de tempos tão para trás que adoraria reviver, mas sobretudo lembrando...

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Senador, tenha isso como minha homenagem ao aniversário de V. Exª ontem, essa inserção de juventude, que V. Exª nunca perdeu no seu espírito público e nas suas atuações.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado. E V. Exª reconhece que foi o lado mais jovial da sua exposição, quando disse “inserção soberana”, ou seja, nós contra o mundo, enfim...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Um dos principais defeitos da política econômica do Presidente Lula está precisamente na vulnerabilidade da sua política externa. Essa, em médio prazo, se continuar como está, criará problemas para o País. Ela proíbe estudo de inglês hoje. É algo extremamente nocivo para o País. Vejo no Presidente Lula até um certo americanismo. Eu não sou americanista, mas entendo que não tem como fugirmos da realidade de que esse é o principal parceiro, é o parceiro estratégico do País, e temos de olhá-lo com lucidez, com frieza, e não vejo que esteja ocorrendo assim.

Mas entendo que V. Exª tem razão ao dizer que não importa quantos aqui debateram com quantos. Foi, de fato, um dia em que pudemos sair dessa história de ficar denunciando só irregularidades e desvio de dinheiro público. Enfim, hoje discutimos economia, e discutimos economia com muita...

Ouço o Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Eu queria apenas, se o Senador Arthur Virgílio me permitir, encerrar sem deixar de concordar com o Senador Aloizio Mercadante, porque hoje todos estamos querendo concordar com o Senador Aloizio Mercadante...

(Interrupção do som.)

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - ...A apreciação cambial foi um erro, um grande erro - grande não, foi um equívoco.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Primeiro não foi possível desapreciar, depois foi um erro.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Não foi possível e teve o seu momento a apreciação...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E foi perdido o momento.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - ...e depois se perdeu esse momento.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Na minha cabeça se perdeu.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Estamos de acordo. Foi corrigido. O que nós não estamos entendendo direito é que agora está havendo de novo isso, e aí está havendo uma apreciação cambial - e vou novamente voltar às palavras do Presidente Fernando Henrique Cardoso: está se plantando um problema para o futuro. Ainda não há uma desaceleração das exportações, mas se começa a criar problemas sérios para a indústria brasileira - o Senador me lembrava aqui há pouco tempo -, o setor têxtil, por exemplo, a agricultura também, claramente -, que são tipicamente aqueles problemas que somente aparecem a posteriori. Começam os sintomas e quando estouram é de uma vez. E aí me dá medo de que realmente se esteja plantando uma herança maldita, eu não sei para que governo. Porque a nossa foi a da estabilidade, e a herança não era maldita, era bendita. E o pior: pode estar acabando.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, encerro...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, sob os céus há um tempo determinado para cada proposta.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Encerro, Sr. Presidente, fazendo um pedido...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - O tempo agora é de ouvirmos o Senador Alberto Silva.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estarei aqui para prestigiá-lo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - S. Exª está inscrito e o aguardamos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, peço emprestado ao Senador Aloizio Mercadante o artigo do Presidente Fernando Henrique, para inseri-lo nos Anais desta Casa. Se S. Exª me atende, eu peço a inserção, nos Anais, do artigo do Presidente Fernando Henrique, que está nas mãos do Senador Aloizio Mercadante.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª será atendido nos termos regimentais.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Para plantar para o futuro, eu proponho que as minhas críticas sejam anexadas ao artigo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pois é. E Shakespeare disse que a sabedoria está em unir a ousadia dos mais novos com a experiência dos mais vividos.

            Agora, o País quer ouvir o Senador Alberto Silva.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E falou também Shakespeare: to be or not to be.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“FHC diz que é preciso escapar da atual armadilha econômica e cita Real”;

“Tucanos vão dizer em convenção que Lula já pagou mais juros que FHC”.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2005\20051118DO.doc 10:57



Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2005 - Página 40360