Discurso durante a 209ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Declínio da credibilidade do Presidente Lula.

Autor
Antero Paes de Barros (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MT)
Nome completo: Antero Paes de Barros Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Declínio da credibilidade do Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2005 - Página 41289
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DESMENTIDO, SECRETARIO, TESOURO NACIONAL, INFORMAÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPREGO, BRASIL.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), MERCADO DE TRABALHO, MANUTENÇÃO, TAXAS, DESEMPREGO, REDUÇÃO, RENDA, TRABALHADOR.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMPROMISSO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA PREVIDENCIA SOCIAL (MPS), AGILIZAÇÃO, ATENDIMENTO, AGENCIA, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS).
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGAÇÃO, HIPOTESE, CRIME POLITICO, HOMICIDIO, EX PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP).
  • ANUNCIO, DIVULGAÇÃO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), INFERIORIDADE, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), NUMERO, TESOURO NACIONAL, EVOLUÇÃO, GASTOS PUBLICOS, GOVERNO FEDERAL.
  • PROTESTO, DECLARAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ENTREVISTA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), POSSIBILIDADE, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, PERMANENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF).

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está ruindo a autoridade do Presidente da República. Eu diria até que está esfarelando a autoridade do Presidente da República, vai virar pó. Porque o Governo Lula insiste em trabalhar com a demagogia e o Presidente Lula vem sendo desmentido por seus auxiliares. O Governo Lula desmente o Presidente Lula.

Alguns dados:

A farsa do emprego.

O Presidente Lula voltou a fazer comparações do seu desempenho na área de emprego ao do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse, com base no CAGED, cadastro do Ministério do Trabalho que não tem status de pesquisa nem permite comparações de longo prazo, que no Governo Fernando Henrique foram criados, em média, oito mil empregos formais por mês e no seu, cento e oito mil.

O mirabolante aumento de 1.350% na oferta de postos de trabalho fala por si mesmo, evidentemente. Quem está do lado de lá recebendo a informação do Presidente da República sabe que não é verdade, mas nem precisaria. Com base no mesmo CAGED, veio o desmentido. De quem? Do Governo. O Secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, desmentiu os números apresentados pelo Presidente, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, de quinta-feira.

Segundo Levy, o aumento na oferta de empregos formais no Governo Lula foi de apenas 50% em comparação com o Governo FHC. Se o Governo FHC ofereceu oito mil empregos formais por mês, 50% de oito mil, são 12 mil, e não longínquos 108 mil, como mentiu o Presidente da República à Nação.

No entanto, nem esses dados são os mais corretos. A pesquisa mensal do emprego do IBGE, divulgada ontem, deixa de lado essas tolas comparações de Lula e Levy. E, com metodologia reconhecida, fornece seu próprio retrato no mercado de trabalho. Nas seis maiores regiões metropolitanas do País, a taxa de desemprego ficou em 9,6% em outubro. O índice não cai há 4 meses, desde junho. Na verdade piorou um pouco, já que era então de 9,4% O resultado de outubro é idêntico ao de dezembro do ano passado. Na comparação com outubro do ano passado, houve queda de 0,9 ponto percentual, a mesma estagnação do mercado na pesquisa Seade/Dieese, divulgada um dia antes, na quarta-feira.

Ainda de acordo com o IBGE, a renda média do trabalhador caiu em 1,4% em outubro, na comparação com setembro. Em relação a outubro do ano passado, há crescimento de 1,8%.

O papelão de ontem do Presidente Lula com o Ministro da Previdência está hoje nos jornais. O jornal O Globo traz a fala do Presidente Lula e a fala do Ministro. Apesar de o Presidente Lula ter assumido o compromisso de acabar com as filas nos postos do INSS até abril de 2006 - e o Presidente falou com autoridade: “Estou dando uma ordem, é para acabar com a fila até em 2006” -, o Ministro Nelson Machado disse que não há como eliminá-las. Segundo ele, “somente as filas inumanas e anormais vão acabar” - parece até o ex-Ministro Rogério Magri, falando dos “imexíveis”. A saia justa ocorreu em entrevista a rádios do Rio de Janeiro e de São Paulo. Lula convidou Machado a participar da entrevista e declarou: “Agora, podemos afirmar que vamos terminar com a fila do INSS”. O Ministro, porém, não assumiu compromisso. “Nós vamos melhorar a partir de fevereiro, Presidente. Acabar com a fila de uma vez é muito difícil”, afirmou. Depois, o Lula interveio, demonstrando autoridade: “O Nelson está tomando a minha entrevista. Agora, Nelson, você pára por aí, que eu que sou o entrevistado aqui”.

Esse é o Presidente da República, neófito em todos os assuntos, não sabe nada de coisa nenhuma. Não consegue produzir uma peça que possa ser reconhecida.

Tem mais. Não sei qual a base do Lula para fazer essa declaração. Isso é que é impressionante. Quem tem acompanhado a CPI dos Bingos, quem tem acompanhado os depoimentos na CPI dos Bingos não pode se conformar com este tipo de declaração. Está aqui hoje, no jornal O Estado de S. Paulo: “Lula diz que morte de Celso Daniel foi comum.” Baseado em quê? “Presidente criticou a atuação do Ministério Público, a quem pediu mais seriedade.” Lula disse que a morte foi comum baseado nas convicções da Polícia Civil de São Paulo. No mesmo jornal, em outra página, vem: “Polícia começa a acreditar em crime político no caso Santo André.” É difícil acreditar que o crime não seja político. Como pode ser um crime comum? Foram lá para roubar o Celso Daniel, e o Sombra sai telefonando no celular, o Sérgio Gomes da Silva; como é que pode ser um crime comum? Foram lá para roubar Celso Daniel, e morrem oito testemunhas; como é que pode ser um crime comum? Não fica bem o Presidente da República querer encobrir, dificultar a apuração do assassinato de uma pessoa que dizia ser seu amigo.

Infelizmente, a corrupção no PT pode ter começado lá atrás, quando denunciou o Paulo Venceslau. Mas tem também o odor de assassinatos, o cheiro de sangue, como ocorreu no episódio de Santo André.

Há outra questão da reunião de ontem. Agora eles formaram um comitê, comandado pela Ministra Dilma Rousseff - Lula diz que o Palocci está prestigiadíssimo -, da Junta de Execução Orçamentária, que está avocando para si, ou seja, para a Ministra Dilma Rousseff, os poderes para dizer quanto e quando cada Ministério poderá gastar. Ou seja, o Palocci é imprescindível, é como o Ronaldinho Gaúcho, desde que fique como a rainha da Inglaterra.

Ainda sobre a questão da política econômica, na quarta-feira, saem dois indicadores que vão reacender o fogo amigo contra Palocci. De todas as denúncias contra Palocci, nenhuma delas foi produzida pela Oposição brasileira. Todas foram produzidas pelo PT e pela República de Ribeirão. São as vísceras de Ribeirão Preto que estão exalando o mau cheiro na República brasileira.

Continuando, na próxima quarta-feira, saem dois indicadores que vão reacender o fogo amigo contra Palocci. O IBGE divulga os números do PIB, com queda na produção no terceiro trimestre de 2005. Estima-se que o PIB venha negativo, com 0,5% de queda. O que é isso? O PIB do trimestre pode dar negativo. Isso é recessão, que chegou à economia brasileira para atender aos banqueiros deste País.

Sai também o número do Tesouro sobre o desempenho das contas do Governo. Os dados indicam que o superávit primário continua alto, superior a 5% do PIB, ou seja, o Governo continua economizando muito para pagar juros e gastando pouco nas estradas, na educação, na saúde, na assistência. O espetacular crescimento da economia de que o Presidente Lula tanto falou em 2003 e 2004 não veio e não virá. O crescimento econômico fechará o ano de 2005 abaixo dos 3%, quem sabe só 2,5%, como estimam alguns economistas.

O Brasil está na rabeira do crescimento do PIB. Segundo relatório do Banco Mundial, os países ditos emergentes tiveram um ano de crescimento muito bom; a economia mundial ajudou; os juros americanos ficaram abaixo de 4%; o comércio mundial aumentou. Vamos aqui a alguns dados do crescimento dos principais países emergentes: China, 9%; Índia, 8%; Chile, 6%; Argentina, 8%. E o Brasil? Dois e meio por cento. Só vamos ganhar do México e da Polônia. O desempenho não é espetacular, é ridículo. Culpa dos juros altos, na casa dos 20%, e do superávit primário recorde.

Só tem uma coisa que ofereceu um espetáculo de crescimento no Governo Lula: de 1500 até hoje, desde que Pero Vaz de Caminha escreveu a carta até hoje, nunca se roubou tanto na República brasileira. O crescimento da corrupção, sim. Essa é uma marca incomparável do Governo Lula.

Eu quero fazer daqui até junho do próximo ano o papel de ombudsman do PSDB. Eu não entendo o que leva o Governador de Minas Gerais, Aécio Neves, contrariando todas as pesquisas de opinião pública, a acreditar nisso. Ele é do meu Partido, do PSDB. O Governador Aécio Neves concedeu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Todos os que entendem de pesquisa no Brasil acham que o Lula se equiparou ao Maluf na roubalheira, porque o verbo “malufar”, em determinado momento da política nacional, virou sinônimo de afanar, de roubar. O Governo Lula também tem praticado com grande desenvoltura a corrupção. Agora ele se equipara a Maluf também nos índices de rejeição. Quem tem 47% de rejeição está vetado para ganhar qualquer eleição majoritária. Pois bem, ao comentar os últimos resultados da última pesquisa CNT/Sensus, o Governador de Minas, Aécio Neves, alertou que o Presidente continua sendo um candidato combativo. “Sempre achei e continuo achando que o Presidente Lula está vivíssimo nessa eleição”. Mais adiante, Aécio voltou a defender a permanência de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda: “Não acho inteligente atirar no Palocci, porque estamos atirando naquilo que nós próprios, o PSDB, propusemos no passado”.

O que é isso, Aécio? Eu acredito até que o candidato do PSDB, José Serra, teve um forte apoio do Aécio Neves em Minas Gerais. O PSDB propôs uma política diferente daquela do Malan. Na campanha do Serra, o Partido propôs uma política de geração de emprego. O que mais marcou a campanha do Serra foi a carteira de trabalho, aquela azul. Esta foi a grande proposta do PSDB: uma política econômica voltada para o desenvolvimento do Brasil. O PSDB aprovou em convenção a candidatura do Serra com essa política econômica inteiramente diferente.

Outro detalhe mostra o equívoco do Governador Aécio Neves, de Minas Gerais. Ele disse: “Não acho inteligente atirar no Palocci, porque estamos atirando naquilo que nós...” Ninguém está atirando no Palocci!

Pessoalmente discordo dessa política econômica, porque a considero o ultraconservadorismo do conservadorismo mundial. Essa política econômica qualquer idiota faz, basta obedecer a Boston e à banca de Washington. Qualquer um faz isso. O Real foi a única moeda no mundo que se valorizou 20% diante do Dólar e 40% diante do Euro. E isso não é verdade; é uma mentira, um truque para engordar o lucro dos banqueiros. O primeiro ponto é essa divergência com a política econômica.

Outro ponto: as críticas que fazemos apenas endossam as revelações e confissões que vieram a público da “República de Ribeirão”. Há muitas coincidências: o Buratti participou com a GTech; confessou que pegava R$50 mil por mês e que havia mensalinho em Ribeirão. No enfrentamento, na CPI dos Bingos, fica claro que o Buratti representava o Palocci, na tentativa de tirar R$6 milhões da GTech, e que o Waldomiro representava o José Dirceu. Isso tudo foi dito em uma CPI aqui no Congresso. Fica claríssimo que o Vladimir Poleto não estava bêbado coisíssima nenhuma quando conversou com o repórter da Veja. Poleto falou do dinheiro de Cuba, da contribuição de Angola e da contribuição do bingo, e ele foi secretário do Palocci. Quem viu o depoimento do Poleto sabe que ele é um desqualificado.

Então, quero dizer ao meu amigo Governador Aécio Neves: saia desse pântano enquanto é cedo. Isso é uma areia movediça de “m”, cheira mal. Não podemos ter alguém com a importância do Governador Aécio Neves no Brasil defendendo isso.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2005 - Página 41289