Discurso durante a 210ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta ao Presidente Lula para os altos índices de corrupção na máquina administrativa federal.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Alerta ao Presidente Lula para os altos índices de corrupção na máquina administrativa federal.
Publicação
Publicação no DSF de 29/11/2005 - Página 41561
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • RECEBIMENTO, MEDALHA, ENTIDADE, LEGISLATIVO, FUNDAÇÃO, ULYSSES GUIMARÃES, EX-DEPUTADO.
  • ANALISE, RELACIONAMENTO, PODERES CONSTITUCIONAIS, CLASSE PRODUTORA, INSTRUMENTO, DEMOCRACIA.
  • RECOMENDAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENÇÃO, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, CRITICA, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Professor ou Professor Senador Cristovam Buarque, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes ou que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado Federal, a árvore boa dá bons frutos.

Senador Garibaldi Alves Filho, nós, do PMDB, temos motivo de orgulho. Ao longo da historia, sem dúvida nenhuma, nosso Partido tem sido e é muito importante na vida contemporânea.

Senador Cristovam Buarque, todos nós sonhamos com a redemocratização, cada um de nós. Eu, particularmente, posso aqui estar porque participei da primeira conquista democrática no Piauí, em minha cidade, contra a Arena, o partido da ditadura. Era 1972. Como era difícil. Professor Cristovam Buarque, não sei onde V. Exª estava, mas eu já estava combatendo o bom combate em 1972.

Nesse fim de semana, fui a São Paulo a convite da Organização Parlamentar do Brasil, criada por Ulysses Guimarães, e recebi esta medalha, que coloco com muito orgulho, porque é de Ulysses Guimarães. Ele criou essa instituição há 29 anos. Senador Garibaldi Alves Filho, a intenção de Ulysses era formar uma instituição forte - porque os parlamentos estavam sendo fechados pela ditadura -, unir algumas Assembléias, algumas Câmaras Municipais, onde ele pudesse falar.

Senadora Heloísa Helena, as coisas mudaram. Não é mais aquela instituição com que ele sonhou. Os parlamentos estão aqui. Há poucos instantes, tivemos o prazer de ouvir o Senador Antonio Carlos Magalhães, que tem coragem. Ulysses Guimarães, em um de seus pronunciamentos feitos aqui, Senador Geraldo Mesquita, disse que, perdida a coragem, acabam-se todas as virtudes. Senador Antonio Carlos Magalhães, V. Exª é um privilegiado, que mantém a coragem até os dias de hoje.

Realmente, as coisas mudaram. Não é mais aquela instituição porque os parlamentos estão abertos, e nós estamos aqui. Eu falei naquela ocasião, Senador Antonio Carlos Magalhães, e fui aplaudido de pé, em São Paulo, por quase duas mil pessoas. Aquela não é mais a instituição criada para reunir apenas parlamentares. Ao contrário, havia muitos empresários, muitos profissionais liberais. Percebi isso naquela evolução satisfatória.

Senadora Heloísa Helena, a maioria era de homens vitoriosos pelo trabalho. Senador Geraldo Mesquita, Rui Barbosa dizia que o trabalhador vem antes do trabalho, pois é ele quem produz as riquezas. Lá, a grande maioria dos homenageados era de empresários vitoriosos do Brasil, profissionais liberais vitoriosos, pesquisadores vitoriosos, professores vitoriosos e, vamos admitir, poderosos. Mas poderosos, Senadora Heloísa Helena, por meio do trabalho.

            Nós éramos uma minoria - eu, Senador, alguns deputados federais, deputados estaduais, vereadores e prefeitos. Eu usei da palavra, imaginando aquilo muito natural, porque eu entendia, Senador Antonio Carlos Magalhães, que, no que diz respeito à democracia, esse negócio de “poder” é história do passado, de Montesquieu. Não somos poder de nada: o Poder Legislativo, que eu representava, pois era Senador e falava, o Poder Executivo, hoje simbolizado por Lula, e o Poder Judiciário.

Senador Geraldo Mesquita, entendo - e que acabe a vaidade do Judiciário, a daqui e a do “Lulinha” - que o mais que podemos ser é instrumento da democracia. O poder é do povo que trabalha, daqueles empresários vitoriosos. São eles que pagam a conta. Nós gastamos, e às vezes muito mal. Às vezes, roubam de nós - não somos nós, não -, e é vergonhoso.

Somos apenas, retirando a vaidade do Judiciário, do Executivo e do Legislativo, instrumentos da democracia. O poder é o povo, o poder é aquele que trabalha, o poder é o empresário, ele paga a conta.

Senador Antonio Carlos Magalhães, existia um Deputado Federal, e alguns outros, mas usou da palavra, acho que representando, o Dr. Vicente Cascione, do PTB de São Paulo, uma figura, Senador Geraldo Mesquita Júnior, de um currículo extraordinário e de uma educação! Senadora Heloísa Helena, ele falou com muita autenticidade e pureza. Ele dizia que muitos dos seus companheiros Deputados tinham vergonha de usar o broche, tal é a situação hoje do descrédito desta Casa. Essa é a verdade.

Senador Geraldo Mesquita Júnior, os meus aplausos ao Deputado homenageado conosco, Vicente Cascione, que usava a palavra pela coragem de dizer e se apresentar sobretudo orgulhoso de ser jurista há 40 anos, como foi Abraham Lincoln, que, algumas vezes, deixava a política e voltava ao seu trabalho. Assim era o Deputado Vicente Fernandes Cascione.

E atentai bem para uma reflexão. Ele dizia que a política não podia ser profissão nem busca de negócios fáceis e que só nós, que tínhamos uma profissão, poderíamos exercê-la com dificuldade. Não nos curvaríamos às tentações da corrupção. E era verdadeiro, Senador Geraldo Mesquita!

Refleti sobre isso. Abraham Lincoln perdeu cinco vezes, mas voltava ao seu escritório de advocacia para o exercício da profissão. E já ocorreu isso comigo, como médico: perdi eleições, Geraldo Mesquita, como Ruy Barbosa, mas, Senadora Heloísa Helena e Senador Garibaldi Alves, ninguém pode perder a vergonha e a dignidade! E, lá naquele instante, eu ressaltava o significado de Ulysses Guimarães, que, encantado no fundo do mar, nos deixou este ensinamento: ouçam a voz rouca das ruas! É, Presidente Lula, não é a voz do Sr. Ministro da Fazenda, não é a voz da sua Margareth Thatcher gaúcha que aí está, a Dilma. É a voz rouca das ruas!

Senador Antonio Carlos Magalhães, Abraham Lincoln disse: “Não faça nada contra a opinião pública que malogra! Tudo com ela tem êxito”.

Presidente Lula, se V. Exª se esqueceu dos sem-terra, V. Exª tem que prender os sem-vergonhas que o cercam. Nunca dantes na história deste País houve tanta corrupção!

Ó Lula paz e amor, votei em V. Exª. Compreendo a sua luta. Mas Deus me permitiu estudar mais e compreender mais as coisas. Nunca dantes houve tanta corrupção.

Senador Antonio Carlos Magalhães, venho aqui com as pernas do estudo e do trabalho. Sendo médico cirurgião, trabalhei muito. Senadora Heloísa Helena, sou aposentado.

Trabalhei muito, Lula. Sei que V. Exª trabalhou muito pouco, muito pouco. Sei, sendo médico cirurgião, que foi um acidente. Trabalhei em prevenção de acidente de trabalho, na Cipa. Mas quero dizer a V. Exª que nunca vi o País em tanta dificuldade. Atentai bem!

Todos os Poderes estão podres. Este aqui não está o mais podre, não. É porque somos mais transparentes, vulneráveis, um confronta com outro. O Executivo é blindado pela mídia, paga pelos banqueiros, Senador Heloísa. E o Judiciário, pelo poder maquiavélico, que se vale pelo bem, pelo mal, amedronta a muitos. Montesquieu, que criou isso, como vai entender? Pessoas lá dizem que têm impunes por abuso do poder econômico e abuso do poder do Direito para ter sonhos de pretensão de carreira política. Montesquieu imaginou Poderes independentes, harmônicos, mas que um tem que frear o outro. Ele não permitiu estar pulando de um para outro. Como imagino e ocorre isso. Que pensaria Montesquieu sobre se estar em um e pular para outro, vadiando?

Senador Geraldo Mesquita, esta é a hora! Mas sou otimista porque vim como Juscelino Kubitschek, médico de Santa Casa, prefeitinho, governador, cassado.

Atentai bem, por que acredito na razão da democracia?

Quando governei o Estado do Piauí, cantava como uma reza: o povo é o poder. O povo já fez o diagnóstico: os Poderes estão todos doentes. Não é uma doença aguda, Senadora Heloísa Helena, uma apendicite que opero, e V. Exª, em três dias, devolve para casa; é uma doença crônica todos os Poderes, é como uma lepra, uma tuberculose, uma osteomielite crônica. V. Exª já viu, Senadora Heloísa Helena, como é demorado e pode não dar certo. Mas o povo já fez o diagnóstico. Vai demorar um pouco, vai passar pela escolha.

Senador Garibaldi, atentai bem, aqui nós não fazemos lei; faz o Executivo. Eles lá mandaram, e tem a verticalização. Agora ela já não vai valer mais nada.

Senador Rodolpho Tourinho, o Lula já ouviu falar em Abraham Lincoln, com certeza, ouviu falar. Senadora Heloisa Helena, Bill Clinton... Senador Rodolpho Tourinho, estou lendo a vida de Bill Clinton, faltam três páginas para terminar. Senador Geraldo Mesquita, já li umas cinqüenta biografias de Abraham Lincoln.

Senadora Heloisa Helena, atentai bem: as eleições de Abraham Lincoln, de Bill Clinton e de Bush são iguais: as prévias, dois partidos, o povo... Aquela maneira do escrutínio: os votos por Estado... Às vezes, o menos votado pode chegar à Presidência. Há duzentos anos as regras são iguais! Aqui, já é do nosso costume e da nossa tradição - atentai bem! -, o último ano se respeitar... Senador Rodolpho Tourinho, vai haver a copa na Alemanha e passa a valer gol com a mão, não tem offside, Joga-se com oito jogadores, pode pôr duas mulheres no time... Mudar as regras agora? Isso traduz falta de respeito, e o povo merece respeito. O povo não é bobo. O povo está observando. Atentai bem! Senador Antonio Carlos Magalhães, se mudar, ainda... Por quê? Por preguiça nossa, por incompetência nossa, por negligência nossa, por irresponsabilidade nossa? Nós sabíamos que se podia mudar até dia 1º de outubro. São os costumes e a tradição que fazem a lei.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. Sem Partido - AC) - Senador Mão Santa, vou lhe conceder mais um minuto para V. Exª encerrar o seu pronunciamento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em um minuto, Cristo fez o pai-nosso, que salva tanta gente.

Mas, atentai bem, Senador Antonio Carlos! Se Ulysses, de quem eu me orgulho, era o Sr. Diretas, o Sr. Coragem... Senador, nós não somos bobos, não! Atentai bem! Esse negócio de Presidente do STF...

            Temos o poder, da dignidade e da vergonha, que o povo nos deu. É do costume, é da tradição, ninguém pode mudar. Isso é que faz a lei. O Presidente decide. É o voto de Minerva. Esse negócio de voto antecipado, não! Acaba. Este País tem homens. Este País teve juristas. Está ali Rui Barbosa para que se...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. Sem Partido - AC) - Por favor, Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Só há um caminho. A salvação é a lei, a Justiça.

O Piauí tem gente para ensinar ao Ministro do Supremo que não é preciso buscar exemplo em outros países, em outra história. Falo de Evandro Lins e Silva. Esses três Poderes têm que ficar como o dogma do Pai, do Filho e do Espírito Santo para defender a democracia, respeitando o povo. O povo está sendo desrespeitado e roubado. Somos pagos e não cumprimos o nosso dever.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/11/2005 - Página 41561