Discurso durante a 214ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Excelência dos cursos ministrados e das pesquisas desenvolvidas na Universidade de Itajubá/MG. Necessidade de recuperação das estradas de rodagem. Elogios à ministra Dilma Rousseff. Defesa da cultura da mamona destinada à produção de biodisel.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR. POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.:
  • Excelência dos cursos ministrados e das pesquisas desenvolvidas na Universidade de Itajubá/MG. Necessidade de recuperação das estradas de rodagem. Elogios à ministra Dilma Rousseff. Defesa da cultura da mamona destinada à produção de biodisel.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2005 - Página 42424
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR. POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ELOGIO, UNIVERSIDADE, MUNICIPIO, ITAJUBA (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO, PESQUISA, HIDROGENIO, ALTERNATIVA, MOTOR.
  • APOIO, OPINIÃO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, DEFESA, AMPLIAÇÃO, RECURSOS, DESTINAÇÃO, INVESTIMENTO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, SETOR, INFRAESTRUTURA, SISTEMA RODOVIARIO FEDERAL.
  • COMENTARIO, PRECARIEDADE, RODOVIA, BRASIL, PROVOCAÇÃO, PERDA, COMBUSTIVEL, ESPECIFICAÇÃO, OLEO DIESEL, IMPORTAÇÃO.
  • SUGESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, INVESTIMENTO, RECUPERAÇÃO, RODOVIA, INCENTIVO, LAVOURA, MAMONA, PRODUÇÃO, Biodiesel.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de iniciar minhas palavras de hoje fazendo referência àquela solenidade a que V. Exª compareceu, Senador Mão Santa - agradeço a V. Exª por ter ido lá, distante -, numa universidade no sul de Minas, e teve a oportunidade de assistir como funciona uma escola que tem como lema as palavras que V. Exª acabou de dizer, que rezam: “Revelemo-nos mais por atos que por palavras para sermos dignos deste grande País”.

V. Exª e eu constatamos a excelência dos cursos que estão sendo ministrados naquela universidade. Hoje, pela manhã, já mantive contato com elementos ligados à pesquisa e concluímos que Itajubá está muito à frente, avançando na pesquisa do hidrogênio, dos motores alternativos, para que o País possa também se colocar numa posição de vanguarda no mundo que cresce à medida que se faz pesquisa em ciência. É o que está acontecendo na Universidade de Itajubá.

Com estas palavras, não só agradeço o título a mim conferido, de Embaixador daquela escola, mas cumprimento o Reitor e todo o seu corpo dirigente. Também agradeço a V. Exª, Senador Mão Santa, por ter estado presente, a nosso convite, naquela solenidade.

Neste instante, o Brasil precisa da educação. E V. Exª, Senador Mão Santa, fez um discurso com a pujança de palavras e com o arroubo que lhe é próprio, mas, na verdade, o tema exige ação por parte do Governo. Que receba os professores e acabe com essa greve que está prejudicando milhares e milhares de estudantes!

Ao apartear V. Exª, Senador Mão Santa, eu disse que felizmente Itajubá é uma exceção. O Reitor disse que há alguns funcionários em greve, mas não estão prejudicando, de nenhuma maneira, o andamento da universidade. O corpo docente da escola está em dia, funcionando normalmente. Isso é uma grande coisa. É um sinal de patriotismo daquela gente. É uma escola que tem alma, e têm amor a ela todos os que lá chegam. Os professores estão dando aula normalmente, apesar da greve.

Dito isso, Sr. Presidente, passo ao assunto de que gostaria de tratar hoje. A Ministra Dilma diz que precisa de recursos para investir, mas o Ministro Palocci diz que não pode mudar o sistema adotado da economia porque precisa daquele superávit primário e há os índices econômicos que têm de ser cumpridos, mas o Brasil precisa, urgentemente, aplicar recursos na produção de riquezas.

Neste momento, quero lembrar a todos os que estão nos ouvindo, como faz V. Exª, Senador Mão Santa, que se dirige ao Brasil, porque esta nossa emissora alcança todo o nosso País e o mundo, pelo que sabemos. E nós, tanto eu quanto V. Exª, recebemos vários e-mails dos que nos ouvem e querem realmente participar do desenvolvimento do Brasil. Então, façamos uma análise bem rápida do momento em que estamos vivendo.

A Ministra Dilma disse: “eu quero dinheiro para aplicar”. Tive um encontro com a Ministra e levei um resumo do que acho que ela poderia fazer para ajudar o Ministério dos Transportes, cujo estado burocrático é complicado - sabemos disso. No momento, há doze mil quilômetros de estradas contratadas. Mas, como o dinheiro deles é pouco ou entra aos pouquinhos, tem sido assim, os empreiteiros que estão construindo as estradas no Brasil andam na velocidade do dinheiro que recebem. Isso é óbvio.

Então, eu disse à Ministra - e aqui vai, mais uma vez, o meu elogio a S. Exª, que, na minha opinião, dos Ministros mais próximos do Presidente, dos que falam com Sua Excelência, é a que deveria ser mais ouvida por Sua Excelência. E, nessa história de briga entre ela e o Ministro Palocci, eu ficaria com ela. Nessa briga, eu ficaria com ela, porque o que ela quer é aquilo que o Brasil todo está esperando. E eu diria neste instante: o que é mais urgente neste instante, neste momento? Se o Brasil decidiu pelo rodoviarismo, quer dizer, se o Brasil tem dois milhões de carretas transportando a riqueza produzida no Brasil - andam de pneumáticos e não sobre trens; os nossos trens e as nossas linhas, as maiores estão transportando minérios lá em Carajás, e algumas aí no Sul do País, mas na verdade o grosso é transportado por rodovias - essas rodovias esburacadas provocam um desperdício de óleo diesel!

E agora falo dirigindo-me aos representantes dos transportadores de carga: confirmem o que estou falando aqui. Digo como o Senador Mão Santa: atentai bem, brasileiros, empresários do transporte rodoviário brasileiro, para o que vou dizer: os buracos estão aumentando o consumo, desnecessariamente, do combustível que o Brasil importa. O Brasil importa diesel. É verdade que há uma troca com gasolina, mas, de qualquer forma, o Brasil não está produzindo o óleo diesel necessário para seu consumo. Ele importa, importa diesel, e aí fornece o diesel para dois milhões de carretas. A Petrobras não perde nada, porque importa e vende o diesel por intermédio de sua distribuidora, a BR Distribuidora. A BR Distribuidora também não perde; ela vende para as bombas distribuidoras do combustível, milhões delas no Brasil inteiro. As carretas chegam e se abastecem nas bombas do combustível diesel brasileiro. E aí saem levando a riqueza brasileira, Brasil afora, e se encontram com os buracos da estrada.

Agora quero perguntar aos transportadores de carga. Confirmem esse número. Já conversei com vários que confirmaram. Eles gastam 30% mais de combustível do que o necessário quando eles trafegam nas estradas esburacadas. E isso representa o quê? Representa algo em derredor de quatro bilhões de litros de óleo diesel. Tenho certeza de que eles estão me ouvindo agora e vão confirmar esse número. Quatro bilhões de litros de diesel são desperdiçados, porque as carretas freiam nos buracos e, nessa hora, perdem óleo; na hora de acelerar, também. E elas fazem isso milhares de vezes, nos milhares de quilômetros que estão esburacados. Sabe quanto representa isso? R$6 bilhões perdidos por ano.

Se eu aplicar quatro bilhões... Agora, fico com a Ministra Dilma, apenas direi a ela: Ministra, aquele documento que eu deixei lá na sua mesa e que foi organizado por gente competente, não só dos transportadores de carga, mas das empresas construtoras de estradas e mais a experiência que carrego, graças a Deus, como ex-governador, e que fiz quilômetros de estradas juntamente com o Senador Mão Santa, também fez no Piauí, posso dizer, com toda segurança: Ministra, é preciso acelerar a recuperação das estradas. Isso não é difícil. O Ministério dos Transportes tem dificuldades burocráticas, eu conheço. Eles querem fazer, mas se V. Exª, Ministra Dilma, colocar em prática aquela proposta que eu deixei em cima da sua mesa, cria um núcleo, cria uma Secretaria de assessoria para ajudar o Ministério dos Transportes, que tem vontade de fazer, mas esbarra em inúmeras filigranas de burocracia, ora de um lado, ora de outro. Mas se o interesse do povo está acima de qualquer outro interesse, e o Brasil está precisando economizar este dinheiro, nesse caso, vale criar um grupo seleto, de competentes, lá no Planalto, comandado pela própria Ministra, com a autorização do Presidente, é evidente, e um acordo com o Ministro dos Transportes e a sua equipe técnica, que é muito boa, e vamos acelerar.

Ministra, é preciso sair dos 200Km por mês de reparação para 1.000km. Nós podemos! A nossa engenharia de transporte rodoviário é a melhor do mundo! Nossas empresas são altamente capacitadas, elas têm máquinas, estão no campo. Se elas receberem as faturas, e receberem uma ordem para acelerar a recuperação dos 12.000Km e se o Ministério dos Transportes aprovar e assinar o contrato de mais 8.000Km que já foram licitados, não há mais dificuldade alguma, nós teremos 20.000Km de estradas recuperadas em dez meses, porque uma parte já está sendo feita. Mas, no mínimo, 1.000Km por mês tem de ser a recuperação. E para isso precisa ação. Revelemo-nos mais por atos do que por palavras para sermos dignos deste grande País.

Ministra Dilma, converse com o Presidente Lula e, ao invés desse desentendimento, que não deve haver, e não creio que está havendo, é preciso que o Ministro Palocci se convença. Está certo! Não discuto as equações da economia, daquela maneira como é dita: se pagarmos a dívida, vamos diminuir, e vem aí um problema econômico um tanto complexo. Não quero entrar nesse ramo, não foi isso o que vim fazer aqui. Não que eu não possa entrar; qualquer fato econômico, posso reduzi-lo a uma equação matemática. Isso, aprendi na escola e posso fazê-lo a qualquer momento. Mas não é isso o que queremos discutir agora. Queremos discutir que pode haver uma trégua, e essa trégua é em favor do povo. As carretas transportam as riquezas de que o povo precisa e aumentam o frete porque não podem trafegar com o frete antigo porque estão perdendo dinheiro. Estão comprando óleo e gastando à toa sem transportar nada por causa dos buracos. A velocidade deveria ser de 1.000km por mês. Ministra Dilma, ouça-me.

E, agora, digo como o Senador Mão Santa: Presidente Lula, duas coisas Vossa Excelência tem de fazer já: autorizar para que se acelere o reparo das estradas brasileiras numa base de 1.000 km por mês - daí para cima. Dinheiro tem, o da Cide. Para onde vai a diferença dos 25% que são entregues aos Estados e Municípios? Sobra dinheiro, que deveria ser para isso. Por conseguinte, Presidente, ponha esse dinheiro para fazer valer imediatamente o reparo das rodovias, em primeiro lugar, e deixe a nova rodovia, a nova ferrovia, a Transnordestina, a transposição do São Francisco, que são obras de grande importância para o nosso País, mas que vão demorar dois ou três anos para trazerem os seus resultados.

Com a recuperação das estradas nessa velocidade que estou propondo, imediatamente, o senhor gera, Presidente, dois milhões de empregos; dois milhões de carretas, vinte mil quilômetros de estradas já contratadas! É preciso só acelerar. Para que isso aconteça, ponha o dinheiro à disposição da Ministra Dilma. Tenho a certeza de que S. Exª vai executar essa tarefa. Os portos também? É claro, porque se as carretas levam a riqueza para ser exportada, os portos também têm que entrar no mesmo ritmo. São os dois ritmos imediatos.

Outra proposta, Presidente Lula. Vossa Excelência esteve comigo na inauguração da fábrica de biodiesel em Floriano - uma grande fábrica. Vossa Excelência disse aos lavradores: A hora de vocês chegou! Plantem mamona! Aí vem um grupo pequeno, lá de Campina Grande, e diz que só se deve plantar mamona acima de trezentos metros. Milhares, milhões de lavradores estão embalados no discurso de Vossa Excelência, Senhor Presidente, qual seja, o de que a mamona é para produzir o biodiesel para os pobres. São os lavradores que vão plantar. E nós estamos imaginando uma maneira de fazer uma organização deles, não sob a forma de cooperativa, mas sob a forma de associação. Cada três mil ou cinco mil lavradores que vão plantar mamona e feijão terão a sua própria usina para fabricar o seu diesel. Por quê? Para que eles não vendam a baga da mamona para os grandes industriais. Eles já vão fornecer é o biodiesel.

Cumprimento aqui o presidente da ANP, que compreendeu isso muito bem. Ele acabou de me dizer que a ANP compra o óleo produzido pelas pequenas unidades de produção de biodiesel.

Então, Presidente, dê uma ordem: suspenda essa aberração - é uma verdadeira aberração. Quem fala tem experiência e autoridade para dizer: o grupo de Campina Grande está errado. Errado! Eu não discuto que a 300m a semente produzida pela Embrapa possa dar um rendimento maior, mas não discutam eles que, abaixo dos 300m, eu posso obter quase o mesmo rendimento.

Trouxe aqui o retrato de uma produtora de semente em Capistrano, no Ceará, onde a pujança da produção de mamona está bem clara: duas toneladas por hectare a 150m de altitude. E, lá na minha cidade, Parnaíba, nós produzimos uma tonelada por hectare de mamona ao nível do mar.

Por conseguinte, Presidente, mande acabar com essa aberração e autorize todos a plantarem mamona, visto que Vossa Excelência disse que a mamona iria produzir biodiesel para os pobres. E as grandes empresas podem até trabalhar com a soja, que está caindo de preço no mercado internacional. Então, com parte dessa soja, nós podemos fazer biodiesel; a outra parte é farelo, e, se eu extrair o óleo de soja com álcool, posso pegar esse farelo e transformá-lo em alimento para o homem, e não só para os frangos ou para os porcos.

É esse o apelo que faço ao Senhor Presidente, agradecendo ao Presidente Mão Santa a oportunidade que me deu neste instante.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2005 - Página 42424