Discurso durante a 218ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao depoimento da Sra. Mara Gabrilli à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Comentários ao depoimento da Sra. Mara Gabrilli à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos. (como Líder)
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2005 - Página 43110
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • COMENTARIO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, UNIÃO, JOSE DIRCEU, EX-DEPUTADO, CAMPANHA, REELEIÇÃO.
  • GRAVIDADE, DEPOIMENTO, SECRETARIO, SECRETARIA, PESSOA DEFICIENTE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, INFORMAÇÃO, AUDIENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DENUNCIA, EXTORSÃO, PROPINA, PREFEITURA MUNICIPAL, CRITICA, ORADOR, NEGLIGENCIA, INVESTIGAÇÃO, AUSENCIA, PREVENÇÃO, HOMICIDIO, PREFEITO.
  • APRESENTAÇÃO, VOTO, ELOGIO, MARTA SUPLICY, EX PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, IMPRENSA, RECONHECIMENTO, PROPINA, MESADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Líder José Agripino, do PFL, já fez uma cáustica intervenção sobre essa definição do Presidente Lula de trazer de volta para a cena política, portanto para seu palanque de candidato à reeleição, o Sr. José Dirceu. Muito bem. É mais sincero isso. Não sei se é o mais recomendável, mas é o mais sincero. Afinal de contas, eles pertencem ao mesmo balaio, pertencem ao mesmo saco. Eles são frutos da mesma árvore e devem mesmo estar juntos ao longo das trajetórias que ainda possam descrever em suas vidas públicas. Nada mais natural e nada mais sincero. Vamos, portanto, deixar bem claro para o povo brasileiro que, no momento certo, estaremos enfrentando o Presidente Lula e José Dirceu, os dois juntos, indissolúveis, jamais divorciados, os dois unidos e inseparáveis até que a morte os separe, como a qualquer outra dupla - no caso do matrimônio, casal.

Neste País de gestão tresloucada, onde, de fato, jacaré está nadando de costas, só existe um cargo estável. O do Presidente balança, o do Ministro da Fazenda treme, o da Casa Civil não se manteve. O único cargo estável, Senador Edison Lobão, neste País, por incrível que pareça a qualquer homem experiente como V. Exª, é o de Presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio). Não sei se melhoraram muito ou se as coisas estão tão ruins à volta que agora se presta nenhuma atenção à Funai e se presta toda atenção a problemas que antes não existiam. O fato é que há uma estranha estabilidade na Funai em contraste com a instabilidade dos demais cargos. Dezenas de funcionários públicos de 1º, 2º, 3º e 4º escalão já caíram pela força do mensalão, mas lá está a Funai, como se, de repente, tivesse ela, por um condão, devolvido os índios ao paraíso de Adão e Eva.

Mas, em meio a todo esse quadro nós estamos vendo...

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não, Senador Flexa Ribeiro.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Só para reafirmar o que V. Exª agora divulgou à Nação, sobre a solidez do Presidente da Funai. Quero dizer a V. Exª que já fiz alguns pronunciamentos da tribuna alertando sobre o possível conflito a ser deflagrado no sul do meu Estado do Pará na reserva Apyterewa sobre o acordo feito entre índios e não-índios, o qual a Funai se nega a homologar. É lamentável, como V. Exª disse, que esse cargo realmente esteja sólido nesta República.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Neste País, nesta era do Governo “lulopetista” não se tem tempo para pensar em Funai nem em índios. É corrupção, corrupção, corrupção. É só do que se trata. Esse é o tema mater, esse é o tema pater, esse é o tema essencial. É, portanto, com desalento que venho a esta tribuna no dia de hoje.

Ontem, a Srª Mara Gabrilli, Secretária Especial da Pessoa com Deficiência em São Paulo, disse às claras que comunicou ao Presidente Lula, em 2003, ele já Presidente da República - e não tendo tomado nenhuma providência, Senador Teotonio Vilela, prevaricou -, sobre a propina em Santo André. O Presidente Lula, Senador Antonio Carlos, em vez de encaminhar no mínimo ao Ministério Público, encaminhou a matéria, Senador Tuma, ao prefeito suspeito, ao prefeito investigando ou até ao prefeito investigado, que já estava sendo investigado àquela altura. Ou seja, tratou com menoscabo, com menosprezo, a denúncia que lhe fez a figura valorosa da Srª Mara Gabrilli. E lá nós temos, até por esta inércia e até por esta incapacidade de dar respostas concretas aos problemas que lhe são apresentados, um acervo lamentável, macabro de oito mortes em Santo André. Oito!

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Nove mortes.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Nove mortes, Senador Romeu Tuma, um prefeito e mais oito. V. Exª me acrescenta mais um. Aquilo ali está parecendo um filme de terror. Eu sempre digo, Sr. Presidente, e já encerro, que estão conseguindo algo terrível, que é desmoralizar o nome do santo. A gente associa santo geralmente a milagre. Fulano diz assim: eu sou devoto de São José, então São José me concedeu uma graça. Agora, estão ligando Santo André a mortes; estão ligando Santo André a assassinatos; estão ligando Santo André a jogo, a guerra de quadrilha para cá e quadrilha para acolá.

Portanto, Sr. Presidente, estou encaminhando o restante do pronunciamento para que seja dado como lido, mas lamentando muito que seja este o quadro. O máximo que Lula consegue dizer de novo é que traz Dirceu para o seu palanque. Eu o parabenizo por isso. Eu que já parabenizei a Srª Marta Suplicy, ainda há pouco encaminhei a V. Exª, Sr. Presidente, encaminhei à Mesa, Senador Teotônio, um voto de aplauso à Prefeita Marta Suplicy, para não dizer que fazemos uma oposição sectária. Encaminhei um voto de aplauso a Srª Marta Suplicy porque devemos premiar a sinceridade. S. Exª disse às rádios, aos jornais, às televisões brasileiras que “o mensalão é uma carga pesada demais e vai tirar muitos votos dos petistas na eleição que vem”. Logo, ela, com a sinceridade que faltou a Lula e tem faltado ao PT, admitiu a existência do mensalão. Eu quero, então, que o Senado a homenageie, premie a sua honestidade e até o seu esforço de autocrítica. Ela reconhece o mensalão, que é negado por todos, até por aqueles que fingem não ter visto da cueca ao Visanet e todas essas manobras escusas que têm enchido de vergonha esta sociedade indignada, que é a sociedade brasileira.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

*********************************************************************************

SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO.

*********************************************************************************

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em meio à cipoada criada no Brasil nesses três anos, Lula, que é incapaz de reconhecer diferenças ou distinções, preferindo cercar-se de confusões, acaba de anunciar sua candidatura à reeleição. Ele mesmo, o dono do cipoal.

Direito ele tem. Qualquer um tem. Mas é preciso examinar bem o terreno em que ele pisa, ir devagar com a charola, que o santo é de barro.

O santo é o brasileiro, que já agora nem conta mais com o respeito por parte do Presidente. Como diz a Folha de S.Paulo, Lula havia dito antes que o melhor do Brasil é o brasileiro. Mudou. Agora, para ele, como a Nação viu, o melhor do brasileiro é o argentino!

Esse é apenas um dos pontos do problema. Resta avaliar se Lula e, principalmente, o seu partido, reúnem condições morais para pedir novamente o voto do brasileiro, que já não é o melhor do Brasil, na versão do Palácio do Planalto.

Em primeiro lugar, Lula, que a toda hora se esgueirava das responsabilidades pela prática de corrupção em seu Governo, está comprometido até a medula em tudo isso por aí, i.é, a rapinagem institucionalizada a partir do Palácio do Planalto.

Se havia dúvidas e se alguém ainda acreditava quando ele dizia e repetia que de nada sabia, isso veio por terra, ontem, na CPI dos Bingos.

Está aí, nos jornais de hoje, cuja publicação solicito.

 

**********************************************************************************************

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O DR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210. inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

**********************************************************************************************

Matérias referidas:

Secretária confirma à CPI que Lula foi informado de propina em S. André

Mara Gabrilli afirma, também, que pressões contra empresa de sua família aumentaram depois da conversa com o presidente.

Pior ainda, a todo instante, novos dados vêm à tona, comprometendo irremediavelmente o Governo Lula, como um todo.

Isso no campo da moral, da ética, da responsabilidade, da decência, do comportamento, da postura.

E tem ainda o lado da economia, que ontem, apesar da confusão causada pelo próprio Governo, com diz-que-diz para todos os gostos, o credenciado Ipea faz a advertência do desastre nacional:

PIB só vai crescer 2,3%, prevê Ipea.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada reduz expectativa de 3,5% este ano, por causa do baixo crescimento dos investimentos.

Isso mesmo: o Governo Lula fez zero de investimento no País. As estradas estão esburacadas, as pontes caíram e não foram reconstruídas; a saúde vai mal; o ensino, aí então tudo se complica e hoje faz 100 dias que não há aulas nas Universidades Federais.

Bastou o prognóstico do credenciado Ipea para o mundo vir abaixo. E aí é que o Brasileiro se sente mais do que nunca abandonado. Eis o que diz o jornal Correio Braziliense, num bom resumo dessa barafunda toda:

Primeiro, a má notícia: o Ipea reduziu as previsões de crescimento para 2005 e 2006. Em seguida, mais confusão. Logo depois de o presidente do BC, Henrique Meirelles, sair em defesa da política econômica, Lula fez o oposto. Diante da pergunta sobre se haverá ajustes na economia, respondeu: “Vai, vai”. E arrematou: “Tudo vai acontecer”. Mais tarde, a assessoria de imprensa do Planalto consertou: o que ele queria dizer, esclareceu, é que a economia vai se ajustar e crescer no quarto trimestre. Mas, segundo outra fonte palaciana, a declaração confirma o isolamento do ministro Palocci. “Não será surpresa se, até o fim do ano, o comando da equipe econômica cair”, afirmou.

É nesse cenário que nasce a candidatura de Lula à reeleição. Ele pode até se lançar. E pode vir quente que o povo está fervendo.

Num clima de tamanha instabilidade, Lula finge ignorar que de nada sabe. Infelizmente, ele não está sendo bem informado e não tem a mínima noção do que está por vir. Por exemplo, a indústria está desaquecida, como publica o jornal O Estado de S.Paulo:

Previsão é pessimista para produção. Na melhor das hipóteses, mercado prevê estabilidade em outubro

Sem autoridade, Lula diz que vai reorientar os rumos da política econômica:

Lula acena com ajustes na política econômica.

Presidente já pediu ao ministro da Fazenda e ao presidente do Banco Central cenários alternativos para controlar a inflação sem aumentar a taxa de juros.

E o Presidente do Banco Central dá um basta no Presidente:

Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2005

Meirelles reage e defende juros altos.

Para presidente do BC, política usada para controlar a inflação não é instrumento 'nocivo.

Como tudo isso vai terminar é a grande interrogação. O que aparenta, no entender do povo, é a imagem de um grupo preocupado apenas, tão somente, exclusivamente, freneticamente, desesperadamente, com o poder. Por isso, ele, Lula, o que mais se preocupa em manter o poder nas mãos, mesmo inábeis, se lança candidato.

Previsão é pessimista para produção.

Na melhor das hipóteses, mercado prevê estabilidade em outubro

Márcia De Chiara.

A produção da indústria brasileira em outubro deve, na melhor das hipóteses, empatar com a de setembro, descontados os efeitos típicos dessa época do ano. Essa é a previsão de consultorias privadas, que chegam a considerar uma retração de até 0,3% no período para o indicador que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para novembro, no entanto, alguns indicadores antecedentes, como a produção de veículos e as vendas de papelão ondulado, mostram que a atividade industrial voltou a crescer.

"O resultado de outubro ainda vai ser feio", diz o sócio da MSConsult, Fábio Silveira. Ele projeta estagnação da produção de outubro ante setembro, descontados os efeitos sazonais. Em relação a outubro do ano passado, ele prevê aumento de 1%.

Silveira argumenta que a produção industrial de outubro ainda vai refletir os juros básicos elevados e a desaceleração do crédito consignado, aquele financiamento com desconto em folha de pagamento.

Já o economista-chefe da Sul América, Newton Rosa, traça prognóstico mais pessimista. Considera uma queda de 0,3% na produção industrial de outubro ante setembro. Na comparação com outubro de 2004, a expectativa do economista é de estabilidade.

Em setembro, a produção industrial registrou queda 2% ante agosto, descontados os efeitos sazonais, segundo o IBGE. Rosa diz que o menor recuo em outubro indica uma recuperação vinda da indústria de bens não duráveis, como alimentos e produtos de higiene e limpeza, e de bens de capital (máquinas e equipamentos).

A Tendências Consultoria Integrada considera queda de 0,3% na produção industrial de outubro ante setembro e estabilidade ante o mesmo mês de 2004. Já a LCA Consultores está na contramão do mercado e prevê crescimento de 1% de outubro ante setembro e de 1,8% na comparação com outubro do ano passado.

Apesar de divergirem sobre as projeções da produção de outubro, as consultorias Tendências e a LCA concordam num ponto: em novembro, a atividade começou a reagir.

"A produção de veículos de novembro veio muito forte", observa o economista da LCA, Bráulio Borges. Nas suas contas, a produção dessazonalizada de veículos aumentou 12,3% em novembro na comparação com outubro. Ele observa que a indústria automobilística pesa cerca de 10% na produção industrial.

O economista reforça seu prognóstico positivo para novembro apontando dois indicadores favoráveis divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em outubro o número de horas trabalhadas cresceu 0,95% em relação a setembro. "É a maior variação desde abril. A partir de maio esse indicador só registrava queda", observa.

Também o uso da capacidade instalada das fábricas aumentou no período. Em setembro era de 80,7% e subiu para 81,1% em outubro, segundo as estatísticas da CNI.

Papelão Ondulado

Outro indicador antecedente fundamental,as vendas de papelão ondulado, divulgado ontem, indica que o pior já passou. O papelão ondulado é a embalagem utilizada por boa parte dos itens comercializado nos mercados interno e externo.

Em novembro, as vendas de papelão ondulado voltaram a crescer: somaram 186,5 mil toneladas com acréscimo de 1,3% ante outubro e alta de 3,17% na comparação com novembro do ano passado, segundo a Associação Brasileira do papelão Ondulado (ABPO). Em outubro na comparação com setembro, o recuo na expedição havia sido de 2,7%.

"Esperávamos mais de outubro, mas como as encomendas do varejo foram postergadas neste fim de ano, o desempenho de novembro acabou sendo melhor", diz o presidente da ABPO, Paulo Sérgio Peres.

A expectativa da ABPO é fechar o ano com crescimento de 2% nas vendas de papelão. A projeção inicial para 2005 era de um crescimento entre 3% a 5% ante 2004.

Quarta-feira, 07 de Dezembro de 2005

PIB só vai crescer 2,3%, prevê Ipea

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada reduz expectativa de 3,5% este ano por causa do baixo crescimento dos investimentos

Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2005

e manipulado com teimosia e fervor'

Política Cambial

Nem ajuda do Banco Central faz dólar subir.

Real em alta já causa demissões.

Desaceleração

Previsão é pessimista para produção.

Setor Automobilístico

Indústria usa só 76% da capacidade produtiva.

Secretária confirma à CPI que Lula foi informado de propina em S. André. Mara Gabrilli afirma, também, que pressões contra empresa de sua família aumentaram depois da conversa com o presidente

Lula decide lançar candidatura entre fevereiro

e março e acelera acordos para compor alianças

Luiz Inácio Lula da Silva marcou a data para oficializar a sua candidatura a um segundo mandato na presidência da República. Será entre o fim de fevereiro e início de março de 2006. O presidente decidiu também acelerar as consultas para a composição de um staff de campanha e deslanchar a costura da aliança partidária a ser formada em torno do PT.

Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2005

Secretária confirma à CPI que Lula foi

Informado de propina em S. André

Mara Gabrilli afirma, também, que pressões contra empresa de sua família aumentaram depois da conversa com o presidente

Rosa Costa

Em depoimento à CPI dos Bingos, a secretária especial da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo, Mara Gabrilli, disse ontem que as pressões contra a empresa de ônibus de sua família - a Expresso Guarará - aumentaram depois que ela conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na conversa, em março de 2003, ela alertou o presidente para a existência de um esquema de extorsão de empresários em Santo André. De acordo com Mara, que é do PSDB, Lula chegou a perguntar quanto o pai dela, Luiz Alberto Gabrilli, pagava de propina ao esquema.

A secretária disse aos senadores que, na conversa com Lula, apontou três responsáveis pelo esquema: o secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira, o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-segurança do prefeito petista Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sérgio Sombra. Neste momento do diálogo, de acordo com Mara, Lula se virou para três assessores e comentou: "Nossa, eu achei que o Sérgio Gomes já estava muito longe." Mara afirmou ter citado o assassinato de Celso Daniel, em janeiro de 2002, apenas uma vez durante a conversa, ao comentar que a extorsão cessara depois do crime.

Segundo ela, Lula prometeu o fim da retaliação que sua família sofria por ter denunciado o esquema ao Ministério Público, logo após a morte de Daniel: "E ocorreu justamente o contrário, Klinger soube, reclamou, e dias depois uma comissão de sindicância da prefeitura se instalou na empresa."

Mara disse que, após o encontro, um dos assessores do presidente, um "muito alto e de barba", pediu-lhe que ocultasse dos jornalistas o teor da conversa, mas ela não atendeu o pedido.

O encontrou com Lula - que durou 40 minutos - foi no apartamento do presidente em São Bernardo do Campo (SP), na presença da primeira-dama, Marisa Letícia.

Mara, que é tetraplégica (sofreu acidente de carro em 1992), disse ter sido recebida depois de estacionar sua cadeira de rodas diante do prédio e afirmar que não sairia de lá enquanto não conversasse com Lula. "Eu comecei a contar do pagamento da caixinha que meu pai era obrigado a fazer a cada dia 30", contou. "Falei da retaliação imposta à empresa desde que eu e minha irmã, Rosângela, denunciamos o fato ao Ministério Público."

Lula fez algumas perguntas, "como se estivesse ouvindo uma novidade". "Às vezes, ele mudava de assunto querendo falar da minha situação física e a toda hora pedia aos assessores que anotassem o que eu dizia."

O senador Tião Viana (PT-AC) saiu em defesa de Lula e disse que o presidente procurou o prefeito João Avamileno, que substituiu Daniel, e teria ouvido dele a informação de que a Polícia Federal estava investigando a denúncia. Mara afirmou não saber de nenhuma reação do presidente: "Quanto às retaliações, não houve mudanças, continuaram da mesma forma."

Para o senador José Jorge (PFL-PE), a atitude do presidente reforça as suspeitas de que ele faz parte da "operação abafa" para tentar impedir a apuração da morte de Celso Daniel e do esquema de abastecimento de dinheiro para o caixa 2 do PT em Santo André. "Lula deveria ter chamado o ministro da Justiça, pedir para a Polícia Federal fazer um relatório e encaminhá-lo ao Ministério Público."

Lula acena com ajustes na política econômica.

Presidente já pediu ao ministro da Fazenda e ao presidente do Banco Central cenários alternativos para controlar a inflação sem aumentar a taxa de juros.

Tânia Monteiro

Vera Rosa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem que seu governo fará reparos na política econômica para enfrentar a queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Indagado pelo pelo Estado se haverá ajustes, Lula respondeu afirmativamente. "Vai, vai. Tudo vai acontecer", comentou o presidente, logo após participar de solenidade no Palácio do Planalto para entrega de prêmios a empresas que se destacaram na área de ciência e tecnologia.

Lula ficou em silêncio, porém, quando indagado sobre a extensão do ajuste e o prazo para sua aplicação. À noite, a assessoria de imprensa do Planalto informou que o presidente quis dizer o seguinte: a economia vai se ajustar no quarto trimestre e voltar a crescer.

Na prática, Lula já pediu ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e ao presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que lhe apresentem "cenários alternativos" para controlar a inflação sem aumentar os juros. Em conversas reservadas, interlocutores palacianos contam que Lula continua muito contrariado com o resultado do PIB e, principalmente, com o fato de não ter sido avisado antes sobre o tamanho da queda no terceiro trimestre, de 1,2% e não de 0,5%, como esperado.

No Planalto, auxiliares do presidente dizem que, a partir de agora, haverá "liberdade vigiada" para o BC. Lula avalia que, até abril de 2006, um ano eleitoral, a taxa de juros real (descontada a inflação) deve ficar próxima de 9% . Para tanto, precisa cair seguidamente, no máximo a partir de janeiro.

A equipe econômica já cedeu no ajuste fiscal. Por ordem de Lula, a Fazenda foi obrigada a liberar R$2,55 bilhões para investimentos e emendas parlamentares, na última segunda-feira. Ao mesmo tempo, porém, o time de Palocci deixou claro que não aceita afrouxar a política monetária. Não foi à toa que Meirelles fez ontem uma defesa veemente do BC e da política de juros para debelar a inflação.

O problema é que Lula quer que o juro caia mais rapidamente. "O presidente não dará um cavalo-de-pau na economia, mas cada vez mais vai constatar que está na hora de acelerar não só a execução orçamentária como a queda dos juros", contou um ministro.

"A queda do PIB nesse patamar foi uma surpresa e tanto. Agora, mesmo que no quarto trimestre haja um resultado positivo, o crescimento ficará muito menor que o esperado num ano pré-eleitoral", acrescentou.

Na noite de ontem, Lula convocou os ministros Palocci, Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Jaques Wagner (Relações Institucionais) para uma conversa de última hora em seu gabinete, provocando o cancelamento de uma reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

Oficialmente, o encontro foi para discutir temas bilaterais entre Brasil e Paraguai.Mas Lula está preocupado com a retração da economia e pede medidas. Sua intenção é apontar um novo caminho já na reunião ministerial, marcada para o próximo dia 19.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2005 - Página 43110