Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Publicação
Publicação no DSF de 28/01/2006 - Página 2375
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, DIA INTERNACIONAL, HOMENAGEM, VITIMA, GENOCIDIO, GOVERNO, NAZISMO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA.
  • COMENTARIO, HISTORIA, NAZISMO, GUERRA, DEFESA, IMPORTANCIA, PAZ, MUNDO.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Heloísa Helena; Sr. Rafael Singer, Encarregado de Assuntos de Imprensa, Cultura e Cooperação Internacional da Embaixada de Israel; Exmº Sr. Prot von Kunow, Embaixador da Alemanha; Sr. Pedro Laurindo, Presidente da Haverimbril; Sr. William Soto Santiago, Diretor Internacional da Amisrael; Sr. Ben Abraham, testemunha viva, testemunha ocular e sobrevivente do Holocausto, do campo de concentração de Auschwitz.

Srª Presidente, a data, 27 de janeiro, definida em 2005 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, foi escolhida por Israel por ser o dia em que os prisioneiros do maior campo de concentração nazista, Auschwitz-Birkenau, foram libertados.

A resolução da ONU que institui a data pede aos Estados-membros que “montem programas educativos para gravar na memória das gerações futuras o ensinamento do Holocausto a fim de prevenir atos de genocídio”.

Lerei palavras de Jack Terpins:

Para não esquecer o Holocausto.

Durante a República de Weimar (1918-1933), os nazistas começaram a agredir os judeus com palavras. Após a ascensão de Hitler, em 1933, as agressões verbais foram gradualmente transformadas em discriminações econômicas, expulsões, atingindo finalmente a própria destruição física. É importante lembrar que a violência aplicada contra seres humanos no campo de concentração de Auschwitz não começou exatamente aí, mas sim com a demonização dos judeus por meio do anti-semitismo.

Nas palavras de Martin Niemoller, notável pastor luterano na época do nazismo: “Primeiramente, eles vieram pelos comunistas, mas, como eu não era comunista, me omiti. Então eles vieram pelos socialistas e pelos sindicalistas, mas, como eu não era nem um nem outro, não os defendi. Então, eles vieram pelos judeus, mas, não sendo eu judeu, não reagi. E quando eles vieram por mim, já não havia quem reclamasse por minha pessoa”.

Pelos campos de concentração, desde o segundo semestre de 1941, passaram milhões de não-homens, seres dos quais se apagou a centelha divina e que, de tão vazios, não podiam nem conseguiam mais sofrer.

Para que aquele assassinato em massa - pela primeira vez caracterizado como um genocídio - jamais seja esquecido, a ONU decidiu, no ano passado, que, todos os anos, na data de hoje, se comemore o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto, com o voto unânime de seus membros, entre eles, o Brasil.

Em 2004, o Presidente Lula recebeu uma delegação do Congresso Mundial Judaico e lideranças da comunidade judaica do Brasil e assinou um documento condenando o anti-semitismo, o que significava se manifestar contra a intolerância e a discriminação em todos os sentidos.

Por esse ato da Assembléia-Geral da ONU, o holocausto de cerca de seis milhões de pessoas, ou um terço da população judaica da Europa de antes da guerra, transformava-se em memória pública e lição para combater todas as formas de discriminação, de intolerância, de racismo e de violências contra minorias étnicas.

O Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto também homenageia ciganos, testemunhas de Jeová, homossexuais, deficientes, comunistas, socialistas, lideranças sindicais e oposicionistas de modo geral, todos vítimas dos nazistas. E faz com que não se repitam as atrocidades do Camboja, de Ruanda, da Bósnia e de Kosovo.

Datas como esta são importantes para lembrar e fundamentais para conter um ou outro espasmo de discriminação e intolerância que se traduz em anti-semitismo.

O Holocausto de cerca de seis milhões de judeus se torna memória pública e lição para combater todas as formas de intolerância.

            Esse texto é de Jack Leon Terpins e Jayme Blay.

Srª Presidente, passei a ler agora algumas biografias. Já li a do Presidente americano Franklin Roosevelt e de outros e, agora, comecei a ler a de Adolf Hitler. Estou nas primeiras páginas, na infância dele. E lá está dizendo que Hitler fez de tudo na vida para ser arquiteto. E qual é a mudança na vida e na personalidade de uma pessoa? Passa de arquiteto para líder de Estado, com uma mentalidade que não se pode traduzir em poucas palavras. O que é um ponto de vista daquele, de escolher aquela forma de dominação?

Eu havia lido um pouco sobre a transformação da Alemanha em Estado-nação. Esse País europeu foi um dos últimos a fazer isso; até então, vivia ainda na forma rudimentar do feudalismo. Aquele País foi, de forma atrasada - digamos assim -, transformado em Estado-nação.

Muito cedo, descobre-se, baseado nas teorias de Charles Darwin, que as sociedades humanas também se comportam como as leis da natureza. Portanto, tudo está em completo e eterno conflito pela sobrevivência, e só sobrevivem os melhores. Baseado nessa teoria, Hitler resolve dizer que a raça ariana é a melhor raça e deveria prevalecer, portanto, na face da Terra.

Quando eu lia sobre isso nas aulas de Geografia, eu não sentia a emoção do que é viver este dia de hoje. Está aqui o Sr. Abraham. Gostaria até que ele levantasse a mão, só para que eu pudesse vê-lo; é o que está à frente. Fico pensando no que é uma pessoa passar por uma experiência como essa e estar aqui para contar a história. Talvez, nesse ponto, unicamente nesse ponto, Hitler tivesse razão: só os melhores sobreviveram. Temos aqui um sobrevivente para contar aquela história.

E os alemães tentaram dominar o mundo, naquele momento. Existem muitas explicações para os fatos, diversos pontos de vista, é claro, mas estou falando sobre este: a tentativa de ocupar o mundo. Ele pensava que uma nação, para sobreviver, teria de ser muito grande, deveria ter um vasto território e, enfim, ocupar muitos espaços.

Há uma outra teoria, também de um alemão, geógrafo, que trata do chamado espaço vital, ou seja, toda espécie de vida na Terra precisa de um espaço mínimo condizente para satisfazer seus desejos, para alcançar sua sobrevivência. Ele dá o exemplo de uma bactéria que se hospeda no intestino. Vamos dar um exemplo nosso mesmo: se um verme se hospeda no intestino de um de nós, ele precisa de condições naquele intestino para sobreviver. Daí se fazem mil e uma ilações.

Então, uma nação precisa de um lugar, de uma condição e de um território para que sobreviva. Com essa teoria, faziam cálculos de que somente os países com maiores territórios, naquela época, teriam condições de dominar o mundo. Portanto, a Alemanha precisava de territórios, e Hitler começou a atacar os vizinhos, iniciando pela Polônia, pela Áustria e daí por diante. E transportou-se isso para a relação inter-racial.

É claro que não tenho condições de dizer ou de concluir sobre o que levou Hitler a pensar daquela maneira, sobre o que levou os nazistas a dizerem que uma raça deve-se sobrepor às demais. Até então, quando o debate era político-ideológico contra comunistas, viam-se mil e uma pessoas que não eram comunistas e até combatiam o comunismo. Quando se falou em movimento social, contra sindicalista, também se via, em muitos lugares, isso acontecendo. Mas, quando foi para cima de uma raça, uma etnia, tornou-se complicado. Era morte aos negros, aos judeus, ao que eles chamavam de raças inferiores, tudo isso porque ele precisava do que chamava de espaço vital para a sobrevivência da raça protegida por Deus.

Todos nós, em algum momento, colocamos para fora um lado animal, canibal, satânico, demoníaco. Cada um de nós tem um pouquinho disso numa pontinha do DNA, no sangue, mas isso precisa ser contido. Não sei o que leva uma pessoa a tirar a vida de outro. Não sei como é que se faz isso, tanto é que defendo que, no Brasil, jamais se adote a pena de morte. Por mais violento que seja o comportamento de alguém, por mais desprezível que seja esse momento de insanidade mental, não se pode pensar em pena de morte.

Imagine decidir que uma etnia inteira precisa desaparecer da face da Terra! Com que direito se pode pensar dessa forma?

Está aqui uma pessoa que não tem a menor condição de fazer uma avaliação do que ocorreu e que não tem como justificar os fatos. Mas fica aqui este sentimento, e, na pessoa do Sr. Ben Abraham, quero saudar todos os sobreviventes, todas as pessoas que receberam os tratamentos colocados naquela época por esse pensamento tão vil, tão macabro, tão tristonho, tão doloroso - sei lá do que mais posso classificá-lo!

Vejo jovens na platéia. Peço, pois, que se conte isso nos quatro cantos do mundo, para que jamais alguém possa, no seu cantinho do DNA, expressar vontades tão absurdas como as que foram expressas por Adolf Hitler.

Saúdo toda a comunidade judaica e todas as pessoas que estão aqui comemorando o dia não só da sobrevivência, mas também da condenação da tirania, do que significou aquele momento para a humanidade.

Parabéns a vocês! (Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/01/2006 - Página 2375