Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao aumento do lucro dos bancos no Governo Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • Críticas ao aumento do lucro dos bancos no Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 31/01/2006 - Página 2460
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FAVORECIMENTO, BANQUEIRO, PREJUIZO, POPULAÇÃO, COMENTARIO, LEVANTAMENTO, INSTITUTO NACIONAL, ESTUDO, PESQUISA, ADMINISTRAÇÃO, SUPERIORIDADE, TARIFAS, BANCOS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Senador que preside esta sessão de 30 de janeiro, não- deliberativa, Senador Papaléo Paes; Srªs e Srs. Senadores; brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicações do Senado Federal - televisão e as rádios AM e FM -, o Senador Geraldo Mesquita Júnior é uma personalidade que muito se aproxima a Abraham Lincoln, jurista, que disse, inspirado na Bíblia: “Este país não pode ser metade livre, metade escravo. A casa dividida é facilmente derrubada”.

Então, Senador Paulo Paim, libertaram-se nossos irmãos prediletos, negros, cuja grandeza da raça V. Exª representa aqui na política brasileira.

Abraham Lincoln ensinou-nos muito. Traduziu este sistema de governo, um governo “do povo, pelo povo, para o povo”. Ensinou-nos muito, Senador Paulo Paim. Lula diz que é melhor fazer uma hora de esteira do que ler uma página de livro. De quando em quando, ele fala muito, mas ouve pouco. Mas tomara que ouça pelo menos esta mensagem de Lincoln, que diz aos governantes: “Caridade para todos, malícia para nenhum e firmeza no Direito”.

Mas, para chegar a Abraham Lincoln, queremos chegar aqui, Senador Augusto Botelho, a esse mesmo Abraham Lincoln que fez a unidade lá.

Senador Paulo Paim, já li uns 50 livros de Abraham Lincoln e gostaria que Lula aprendesse ao menos isto: “Não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado!”. Abraham Lincoln influenciou, e estão aí os Estados Unidos, o país mais rico e com melhor qualidade de vida. “Não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado!”

Sou muito Brasil. “A primazia é do trabalho e do trabalhador”, dizia Rui Barbosa. Ele veio antes; ele fez as riquezas. Mas se inverteu isso aqui. O Partido dos Trabalhadores, o PT, passou a ser o PB. Se fosse ao menos o Partido do Brasil, mas não o é. É o “Partido dos Banqueiros”. Nunca se viu ganhar tanto dinheiro, e só quem ganha é o banqueiro, o dono do Banco, o dono do dinheiro, o que não trabalha. Como repete a Senadora Heloísa Helena, enche-se a pança desses agiotas.

Não se pode servir a dois senhores: a Deus e ao diabo. E o PT serviu aos banqueiros. Nunca se ganhou tanto!

O meu amigo Zezinho é um funcionário padrão, um homem trabalhador. Outro dia, eu conversava com o Zezinho, que me disse que seu Cheque Ouro estava negativo e que ele trabalha, trabalha, mas não consegue pôr em dia a situação.

Senador Paim, a escravidão moderna não é como aquela de antigamente. Hoje, nós amamos a cor. V. Exª é nosso mártir. A escravidão moderna é a dívida. Essa é a escravização do mundo moderno, que é feroz. E o pior é quando a ignorância a estimula.

Paim, vejo isso com tristeza.

O Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa em Administração realizou um levantamento sobre os bancos que atuam no Brasil. Eu trouxe uma cópia de suas conclusões. O Lula não lê, porque diz que é melhor fazer uma hora de esteira do que ler uma página de um livro. É duro!

Quem assistir, hoje, à novela Belíssima vai ver a Grécia, que mudou o mundo, porque um homem disse, Geraldo Mesquita: Só há um grande bem, que é o saber; só há um grande mal, a ignorância. E a ignorância aqui está confessa: é a ignorância do Governo.

Diz o relatório que a principal conclusão é que a voracidade com que os bancos reajustam suas tarifas é sem paralelo na história brasileira. Nos últimos cinco anos... E o funcionário público, onde está o aumento em cinco anos? O funcionário público é o que faz a máquina, a educação, a saúde, a segurança. Nesta Casa, vejam o Carreiro! Trinta e tantos anos salvaguardando o funcionamento desta Casa. Nos últimos cinco anos, a receita dos bancos com a prestação de serviços (taxa de abertura de crédito, emissão de carnê, etc...) aumentou em 130%. Cobra-se tudo: extrato bancário, talão de cheques. Tem taxa para tudo. E todo dia tem novidades. É um assalto. E o Banco Central não está nem aí. Ou está. Foram buscar uma raposa para tomar conta do galinheiro: o Meirelles, dono dos bancos! A única coisa que fizeram bem foi não permitir que se abrissem as contas bancárias dele. Creio que esse foi o único acerto de influência do Judiciário, porque isso traria uma convulsão, de tanto dinheiro! O homem teve tanto voto - e voto é bicho difícil -, em Goiás, botando para trás... Outro dia, li a classificação: entre centenas de homens públicos, ele teve mais votos. É isso. É o poder do banqueiro que ficou no Banco Central.

Somente nos doze maiores bancos, a receita de cobrança saltou de R$16 bilhões, em 2002, para R$37,4 bilhões, em 2005. Então, o ganho é esse. Retirando a inflação, subiu mais de 55%, enquanto o gasto com pessoal caiu. E quis Deus que estivesse ali um banqueiro - não é banqueiro, é bancário -, Valdemar Santos, Presidente do PPS, bancário!

Aliás, o pai de Adalgisa é bancário. Eles eram orgulhosos, trabalhadores.

Há um edital, imoral, indigno e vergonhoso, que diz que o estagiário, pela porta estreita do concurso, vai ganhar menos de um salário.

Este é o tratamento, Senador Arthur Virgílio, para o trabalho e o trabalhador: para o bancário, tanta luta, e, para o banqueiro, R$37,4 bilhões de lucro!

E mais: veja a gravidade, Senador Virgílio: enquanto os gastos com o pessoal caíram, salários diminuídos... Demitiram cinqüenta mil - Lula, se manca! -bancários empregados no setor.

Os bancos estão utilizando duas tecnologias para cobrar mais prestação de serviços aos correntistas e para demitir gente e reduzir sua folha de pagamentos. É a tecnologia engolindo o homem, a imagem de Deus.

Somente com essa receita, os bancos já estão cobrindo todas as despesas de pessoal. E tome recorde de lucros! E, ainda por cima, a qualidade dos serviços prestados é péssima.

O que faz o Banco Central? Nada, nada, nada.

O Meirelles merece, ele é um vitorioso. Todos sabíamos disso.

O Lula enquadrou-se naquela máxima: O grande mal é a ignorância. Ele não sabe de nada: “ninguém roubou!”, não sabe de nada, e não sabia que o Meirelles era a raposa do sistema bancário.

Não sabe? É a ignorância que, segundo Sócrates, é o grande mal. E ela é assumida, e convencida, o que é pior.

Enquanto isso, os bancos batem os maiores recordes de lucro da sua história. Esta é uma grande decepção do Governo Lula: a cegueira do conhecimento.

Por que o PT, Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, não instalou aqui o Banco do Povo, uma experiência de Bangladesh, do Professor Yunus? Eu o instalei no Piauí, o Mário Covas instalou o Banco do Povo. Bill Clinton, por intermédio da sua esposa, que o ajudava, recebeu o Professor Yunus. E, mesmo com os poderosos bancos, ele chamou o seu secretariado para fortalecer e permitir o Banco do Povo e os seus princípios nos Estados Unidos.

E nós, não. Só vimos aquele Banco que se criou, do Banco do Brasil, mas na maior roubalheira. Gastavam só com a comunicação. Comunicação vem da palavra “comunhão”, dividir o pão; mas, aqui, a mãe da corrupção foi o sistema de comunicação. Um sistema que superou o de Goebbels, que ensinou que uma mentira repetida torna-se verdade. E, daqui, do Brasil, disse: A comunicação abre as portas para a corrupção. E aí está.

Mas queria perguntar o seguinte: e a vergonha do que aconteceu com os velhinhos? Olha, Senador Geraldo Mesquita, muitos velhos têm se suicidado no meu Piauí, porque o velho é honrado, é trabalhador, é digno, tem vergonha, tem família, tem netos. Eles foram enganados, ludibriados. Aquela quantia lhes falta. Eles já ganham pouco - o servidor público não teve aumento -, então, aquele valor fazia parte do seu orçamento.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Um minuto, Sr. Presidente.

Agora é a hora de prestar contas com o instrumento do cão, com os banqueiros; e está faltando o dinheiro do remédio. Isso proliferou no meu Piauí, a malandragem está do mesmo jeito. Os funcionários públicos, sem saber, estão caindo, como os velhinhos.

Atentai bem! E Goebbels, Paim? Goebbels: uma mentira repetida torna-se verdade. E mentem. “Saudamos a dívida com o FMI”. Mentira! Mentirosos, enganadores do povo e da Pátria!

Na semana passada, até de madrugada, votamos medidas provisórias, aprovando empréstimos.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, V. Exª dispõe de mais um minuto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É o suficiente. Jesus, com um minuto, fez o Pai-Nosso. Elevamos a prece ao céu; e, nesses trinta segundos, teremos de levar essa gente ao inferno!

Atentai bem!

Então, tirou do FMI, mas nós aprovamos aqui, Arthur Virgílio, na calada da noite e da madrugada, para o Bird, o Bid, o Banco Central e o Banco do Brasil, com juros muito mais altos. O País está mais endividado.

Há a presença, também, de um homem do Ministério Público, do PPS, que tem trazido transparência. É necessário ver a causa, a etiologia, para mim que sou médico: a ganância, a ambição dos banqueiros e a subserviência do Presidente da República, que se ajoelhou aos pés do deus do dinheiro.

Termino, Sr. Presidente, dizendo: ô, Lula, aprenda com Abraham Lincoln e não baseie sua prosperidade em dinheiro emprestado. Vossa Excelência, que se ajoelhou aos pés dos deuses do dinheiro, os banqueiros, peça perdão e pense, nesses dias finais, que o povo acreditou em Vossa Excelência. Governe levando o povo deste Brasil e do Piauí por trilhos em que haja valorização do trabalho e do trabalhador, trazendo a riqueza e a felicidade que os brasileiros merecem.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/01/2006 - Página 2460