Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo Lula. Gastos do Governo Federal com os juros da dívida interna. Falta de recursos para conclusão de pronto-socorro em Teresina/PI.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIVIDA PUBLICA. SAUDE.:
  • Críticas ao Governo Lula. Gastos do Governo Federal com os juros da dívida interna. Falta de recursos para conclusão de pronto-socorro em Teresina/PI.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 01/02/2006 - Página 2634
Assunto
Outros > DIVIDA PUBLICA. SAUDE.
Indexação
  • FRUSTRAÇÃO, ELEITOR, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FAVORECIMENTO, BANCOS.
  • DENUNCIA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ALEGAÇÕES, REDUÇÃO, DIVIDA EXTERNA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), AUMENTO, DIVIDA, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), BANCO INTERNACIONAL DE RECONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO (BIRD), CRITICA, NEGLIGENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • DEFESA, INDEPENDENCIA, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • GRAVIDADE, DADOS, VALOR, DIVIDA INTERNA, BRASIL.
  • PROTESTO, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, RECURSOS, COMPLEMENTAÇÃO, PRONTO SOCORRO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Flexa Ribeiro, que preside esta sessão, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, quero relembrar que por poucos dias uma mulher governou este País e libertou os escravos. Que isso inspire a confiança do povo em acreditar na Senadora Heloísa Helena.

Venho à tribuna, Senador Eduardo Suplicy, para dizer que votei no PT, mas já disse aqui que há três coisas que só se faz uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT. V. Exª é puro. Acho que está na hora de vivermos a verdade e mudarmos o nome do PT para PB - Partido dos Banqueiros. A cada instante o Partido de V. Exª não segue Rui Barbosa, que disse que a primazia é do trabalho e do trabalhador. O trabalho e o trabalhador vêm antes. É este que faz as riquezas.

O Partido de V. Exª se ajoelha perante o dinheiro, os banqueiros. Pior! Arrumaram um Goebbels moderno, rico e pior, porque está cheio de roubalheira. Goebbels dizia que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade; e eles o seguiram.

Aprendi no meu Piauí, do meu pai, que quem mente rouba. Este é o momento em que vivemos.

Cantam, Senadora Heloísa Helena, enganam o povo! “Pagamos a dívida com o FMI!”. É?! Mentira, mentira, mentira! Semana passada, ficamos até a calada da madrugada, aprovando medidas provisórias de empréstimos. Pagaram o FMI, mas se endividaram com o BID, com o BIRD e com outros bancos internacionais. E o pior: só a mesma laia dos banqueiros deste País que ganhou dinheiro! 

Atentai bem, Flexa Ribeiro! Serei breve, contundente. O Lula não entende! Não entende! A religião dele é a fé na ignorância; a minha, a de Sócrates! Só há um bem: o saber; só há um grande mal: a ignorância! É o Presidente que ignora tudo! Não sabe de nada! Também não vai saber disso, se não sabe o que devia saber! Ele é réu confesso que diz que só sabe o que passa na sala dele; não sabe o que passa na sala do lado do Palácio! Avalie neste Brasil grande? Isso ele não sabe, mas o Brasil tem de ouvir. Errare humanum est! Erramos ao elegê-lo; permanecer no erro é uma burrice.

A democracia é nossa, não é do PT; é do PMDB, que a fez renascer, e aqui estamos!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Permito. Permito até que V. Exª saia daqui e vá ao Palácio dizer que não vamos permitir Lula comprar o PMDB. O PMDB é da democracia, é do povo. Ele não faltou a este País na ditadura, e não vai faltar agora, aperfeiçoando-se a democracia.

Ulysses contra a ditadura se candidatou para dar esperança da redemocratização. E agora, nós! Ó Lula, estais enganado, Vossa Excelência, que é um réu confesso ignorante, atentai bem!

Senador Flexa Ribeiro, a dívida externa brasileira! Estamos aí, saímos do FMI e entramos nos outros, mas o nó que nos asfixia nos últimos tempos é a dívida interna, a dívida que o País tem especialmente com os bancos que atuam no Brasil.

Alguém sabe qual é o valor dessa dívida interna? Eu respondo. Senadora Heloisa Helena, o orçamento é um trilhão. Pois ela é um bilhão de reais aos bancos: do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco, Itaú, Real. Está ali o Prefeito. Aliás, ele era suplente de Senador, de Alberto Silva. Ganhou a Prefeitura de uma das cidades mais importantes deste Brasil, Barras, a terra dos Governadores; mas ela era importante porque nasceu o profeta da liberdade. Lá nasceu David Caldas que, em Teresina, do meu Piauí, fez um jornal 17 anos antes da República, Oitenta e Nove; Oitenta e Nove, Senador Suplicy! Que São Paulo aprenda a nossa história. Oitenta e Nove - nome esquisito! Senador Flexa Ribeiro, é porque, em 1789, na França, o povo foi às ruas e derrubou o rei com Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Então, ele que foi o profeta para inspirar o Brasil a lutar pela República, governo do povo e pelo povo.

É a terra do Prefeito Manin Rêgo. E por que essa luta toda? Senadora Heloísa Helena, nós lutávamos contra a derrama. O que era a derrama, Senador Suplicy? O Lula vai pensar que era derramar água num pote; derramar uma garrafa de cachaça num bar. Derrama era um imposto; era um quinto que os portugueses cobravam. Agora é muito mais do banco, dos impostos deste País, que o brasileiro trabalha metade do ano para pagar, se juntarmos os tributos do País com o imposto.

Atentai bem, R$1 trilhão até fevereiro deverá chegar a esse valor, emblemático e terrível. Está aí um valor para o Presidente Lula comemorar: R$1 trilhão é a dívida interna. E, sobre esse valor, pagamos os juros mais altos do mundo. Em conseqüência, estima-se que o País pagará, somente este ano, cerca de R$160 bilhões, ou seja, R$440 milhões por dia dessa dívida! R$440 milhões!

Seja sábado, domingo, feriado, dia santo: R$440 milhões por dia, Lula! Calculando em ônus, o Brasil paga, só juros da dívida interna, R$18,3 milhões por hora, Senador Suplicy! É inacreditável! Espero que o Presidente Lula explique na sua campanha ao povo brasileiro porque não tem dinheiro para nada, mas, sobra dinheiro para pagar juros aos banqueiros. É o PB - Partido dos Banqueiros!

Atentai bem! Enquanto isso, no meu Piauí, especificamente em Teresina, aguarda-se há anos uma pequena ajuda do Governo Federal para concluir as obras do pronto-socorro de Teresina. Senadora Heloísa Helena, para Teresina, um pronto-socorro é necessário há tantos anos! E vocês sabem quanto está faltando para concluir as obras físicas e adquirir os equipamentos necessários para o funcionamento? R$7 milhões, Senador Suplicy! R$7 milhões, Senador Flexa Ribeiro! Pronto-socorro da capital encravada; serve para o Maranhão, para Tocantins. E Teresina é um centro de excelência médica.

Atentai bem, ou seja, com 23 minutos de pagamento de juros, ele atenderia o Piauí! Bastam 23 minutos de pagamento de juros para beneficiar Teresina com seu pronto-socorro. Ó, Presidente, lembre-se de que Teresina o elegeu com excepcional maioria. Será que a cidade não merece esse mínimo de consideração? Senhor Presidente, é tudo o que Teresina pede: 23 minutos de consideração, como resposta aos milhares de votos que lhe foram concedidos. Espero, quantos minutos queiram, que sejam utilizados por Suplicy, homem de grande sensibilidade, de grande competência e de grande justiça. Que S. Exª convença o Presidente do seu Partido a oferecer 23 minutos do que oferece, de prenda, para engordar as panças dos banqueiros, como Heloísa Helena diz.

Ouço o aparte do extraordinário Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (PT - SP) - Senador Mão Santa, V. Exª procurou construir, de maneira inteligente, o argumento de como R$7 milhões - equivalentes a 23 minutos -, fazendo uma comparação à contribuição anual dos juros da dívida pública pagos pelo setor público, poderiam ajudar a resolver o problema de saúde da Capital do seu Estado. Ressalto, porém, que suas palavras de consideração sobre o Governo do Presidente Lula são, no meu entender, exageradas por algumas razões. Não concordo que se esteja transformando o Partido dos Trabalhadores em partido dos banqueiros, uma vez que V. Exª não reconheceu que, ao longo dos últimos três anos, houve um aumento significativo nas oportunidades de emprego, nos empregos formais criados, da ordem de 3,4 milhões, muito mais do que, por exemplo, foi verificado em oito anos do governo anterior. Esse é um dos pontos. O segundo ponto é que os dados do IBGE, inclusive os mais recentes, mostram um declínio da taxa de desemprego, inclusive na última evolução, para 8,9%, em média, taxa essa que era superior a 10%. Portanto, ainda que esse índice esteja alto, estamos numa direção de progresso. Com respeito aos juros tão elevados, aí V. Exª sabe que tenho, como há pouco ainda dizia, chamado a atenção e quero mesmo ter um diálogo de profundidade com os diretores do Banco Central. Não se trata de solução simples. V. Exª tem acompanhado os debates e sabe quanto o Ministro Antonio Palocci, assim como o Presidente Henrique Meirelles, do Banco Central, considera importante a meta da estabilidade de preços. Foi importante conseguir a diminuição da taxa de inflação nesses últimos três anos. Uma taxa de inflação da ordem de 5,7%, em 2005, constitui um progresso na direção da estabilidade de preços em relação a anos anteriores. Isso beneficia os trabalhadores de menor renda, que têm muito menor possibilidade de se defender do processo inflacionário em relação àqueles que têm grandes recursos para aplicar. No entanto, precisamos manter um diálogo com o Governo sobre em que medida a diminuição mais acelerada da taxa de juros irá propiciar o aumento dos investimentos, da capacidade produtiva e, conseqüentemente, da oferta de bens e serviços, das oportunidades de emprego, inclusive de maneira a compatibilizar com o objetivo que nós dois consideramos saudável: de não haver quase inflação. Ou seja, é preciso compatibilizar os objetivos de estabilidade de preços, de crescimento da economia, das oportunidades de emprego, da erradicação da pobreza absoluta, sobretudo nas regiões onde o flagelo da pobreza é mais intenso, como no Nordeste brasileiro e na própria região do semi-árido, que V. Exª conhece muito melhor do que eu. São as considerações que gostaria de dizer, para poder trazer um maior equilíbrio ao seu entusiasmo na avaliação crítica que faz do Governo do Presidente Lula.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço-lhe o aparte e quero ratificar o convite ao Piauí, ao Delta. V. Exª merece ser compensado pela dedicação, conhecendo os encantos do litoral piauiense.

Mas V. Exª está aí! V. Exª é um exemplo de trabalho e de luta. V. Exª está aí não pela tradição da sua família, grandiosa, que deu exemplo de trabalho, mas, sobretudo, porque foi vereador, um senador da câmara municipal; foi presidente daquela câmara e deu exemplo de austeridade. Esse exemplo o Lula não seguiu.

E V. Exª também citou vários autores, economistas. Lula também não os seguiu, pois é réu confesso. Uma de suas declarações é a de que é melhor fazer uma hora de esteira do que ler uma palavra de livro.

Então, peço que V. Exª leve esta mensagem: para tudo, é necessário estudar. Acredito em Deus, acredito no amor, acredito no estudo e no trabalho. Confesso minhas crenças no estudo. Tudo se estuda. Até para jogar futebol, estudam-se as estratégias. É preciso estudar.

Bill Clinton foi exaltado na biografia de Fernando Henrique Cardoso, que vai sair. Ele o vê como o símbolo maior do administrador moderno. Mas chegou à presidência, depois de ser por quatro vezes Governador de Arkansas. Atentai bem à experiência: ele vê que é complicado governar na democracia. Então, manda seus melhores técnicos estudarem, das suas melhores universidades de Harvard, Ted Gaebler e David Osborne. E eles fizeram um livro, que o Lula não vai ler: Reinventando o Governo. Mas vou mencionar o mínimo a ele, o erro. E sou do Piauí, e no Nordeste se diz, o baiano diz: “Pau que nasce torto morre torto”. Foi o Governo do Lula.

Então, faço essa síntese para o Lula refletir. Ele não vai ler o livro. Ele não gosta de ler. Ted Gaebler e David Osborne disseram que o Governo não pode ser grande demais, não pode ser como um transatlântico. Se for um Titanic, afunda. Ele tem de ser pequeno, ágil e funcional.

E o Presidente Lula, encaminhado pela ignorância que lhe é peculiar, de chofre, no ato, deu muito emprego, mas para companheiros derrotados do seu Partido, o PT, transformado em PB.

Como diz o Padre Antônio Vieira, o exemplo arrasta, mesmo o mal, e lá no Piauí fizeram a mesma coisa.

São essas as nossas palavras, e queremos ficar no debate qualificado. Estamos, aqui, entrando na madrugada, cumprindo o nosso dever e mostrando a coragem do homem do Piauí, como David Moreira Caldas, que foi o Profeta da República. Nós queremos ser profetas para reencontrarmos o caminho, através do trabalho, para a prosperidade e para a felicidade do povo do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/02/2006 - Página 2634