Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Governo Federal pela adoção de políticas públicas que viabilizem uma melhor qualidade de vida ao homem do campo.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Apelo ao Governo Federal pela adoção de políticas públicas que viabilizem uma melhor qualidade de vida ao homem do campo.
Aparteantes
José Maranhão.
Publicação
Publicação no DSF de 08/02/2006 - Página 3403
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • APREENSÃO, EMPOBRECIMENTO, ZONA RURAL, INFERIORIDADE, PREÇO, PRODUTO AGROPECUARIO, ESPECIFICAÇÃO, LEITE, SUPERIORIDADE, JUROS, AUMENTO, DIVIDA AGRARIA, EXODO RURAL.
  • GRAVIDADE, SECA, REGIÃO NORDESTE, CALAMIDADE PUBLICA, MUNICIPIOS, ESTADO DO PIAUI (PI), DEFESA, CONSTRUÇÃO, ADUTORA, DISTRIBUIÇÃO, AGUA, AÇUDE, SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gilberto Mestrinho, eminente Presidente desta sessão; Srªs e Srs. Senadores; brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem e nos ouvem pelo sistema de comunicação do Senado, se o Amazonas me permitir, mudarei o nome do Senador Gilberto Mestrinho.

            Lá no Piauí, nosso Líder e Presidente do Partido é o Senador Alberto Silva. O povo batizou um campo de futebol construído pelo Senador Alberto Silva de Albertão. É o caso de o povo do Amazonas reconhecer a grandeza do Senador Gilberto Mestrinho, pois ele é maior do que o Amazonas, é o “Mestrão” de todos nós. Quis Deus ele estar aí! Eu iria buscar um homem como ele, de muita experiência, Senador Sibá Machado, do Piauí - esse é o título mais importante para esse Senador do Acre, um homem do Piauí.

            Frank Delano Roosevelt foi quatro vezes Presidente dos Estados Unidos. Seria importante que Lula aprendesse com ele a humildade. Ramez Tebet, ele disse que toda pessoa que ele via era superior a ele em alguma coisa e, nesse particular, ele procurava aprender. Que ensinamento! E ele levantou os Estados Unidos no pós-guerra, na recessão. Ele deu uma advertência: as cidades podem ser destruídas, mas o campo, não! Ele viu cidades destruídas na guerra. As cidades destruídas ressurgirão com a força do campo, mas, se o campo for destruído, as cidades serão destruídas pela fome. E aí, com essa visão, ele transformou os Estados Unidos do pós-guerra, da recessão, na riqueza que é.

            Senador Mestrinho, quero dar minha vivência. Senador José Maranhão, Senador da Paraíba e querido no Piauí, a história de V. Exª é uma das mais lindas do meu Partido. Escolhi V. Exª meu conselheiro nesse Partido. V. Exª sabe que é verdade, porque esse conselho me trouxe até aqui.

            Atentai bem! Não tenho sua experiência ainda, mas tenho a riqueza de vê-lo conselheiro. E Lula tem experiência muito pouca.

            Senador Marco Maciel, atentai bem! O campo está muito mais pobre do que há vinte anos. Senador Sibá Machado, não sei se V. Exª já havia saído do Piauí, estava em São Paulo e ia para o rumo do Acre, mas, de 1978 a 1982, eu era Deputado Estadual, e era Governador do Estado do Piauí um dos homens mais probos, Lucídio Portella, que foi Senador da República, irmão de Petrônio Portella. Petrônio brilhou aqui, porque a base era Lucídio Portella. Fui seu Vice-Líder. Era Líder Juarez Tapeti. E Lucídio, muito trabalhador, energizou toda a região ribeirinha do Parnaíba que nos separa do Maranhão - digo do Maranhão como Estado e não da grandeza do Maranhão, Senador da República. E Lucídio me encarregava de inaugurar as obras. E eu ia, Senador José Maranhão. Atentai bem! De 1978 a 1982, era a alegria dos fazendeiros. Há 25 anos, era uma festa, era churrasco, era peru, era alegria! E Deus me permitiu, Senador José Agripino, governar o Piauí a partir de 1995, por seis anos, dez meses e seis dias.

            E, como Governador, voltei com obras. Constatei, Senador José Maranhão, que o calor humano era maior pela nossa amizade e pela gratidão do povo do Piauí, mas todos eles estavam mais empobrecidos. E atravessava o Maranhão também. Todos os fazendeiros estão mais empobrecidos. Ramez Tebet, já não tinha tanto peru, tanta festa; os pratos estavam encardidos, e os talheres, envelhecidos. Então, esse é o quadro. Isso é o que o governante não viu e não aprendeu com Franklin Delano Roosevelt. Olhai o campo, lá é que surge a força e a produção! Senador José Agripino, eu vi nesses 25 anos.

            E é claro, a base de tudo é a pecuária. O leite é mais barato do que uma água francesa, que esses homens da mordomia de hoje, que se encantaram com o PT, bebem. Não falo nem no vinho, é água mesmo, a Perrier. Então, se o litro de leite está mais barato do que a água, que é a base, que é o sustentáculo, a desgraça está à vista.

            Eles estão muito mais empobrecidos. Isso eu vi. Eu vi, tenho essa experiência. E aí vem essa dívida.

            Senador José Maranhão, no passado, trabalhamos, fizemos Imposto de Renda, e eu o fazia nas caladas da madrugada, ao lado dos fazendeiros. E eles tinham muito dinheiro, porque o juro do empréstimo era menor. Aí os governos cortaram, porque havia muito pilantra que tirava dinheiro e não investia no campo; comprava apartamentos nas “Copacabanas” e nas grandes cidades. E aqueles do campo foram punidos. O campo está mais pobre, essa é a verdade. Daí o êxodo, as superpopulações das grandes cidades. O êxodo é que causa a criminalidade. Então, essa vergonha!

            E, agora, está aí essa dívida. Eles não vão pagar, porque não podem, porque não têm, porque estão empobrecidos. Só quem enriqueceu foram os banqueiros. Aliás, nessa reforma eleitoral, vou propor uma emenda: que o PT mude para PB, Partido dos Banqueiros do Brasil. Foram só eles que enriqueceram e que ganharam. Os pobrezinhos hipotecaram tudo: a sua velha Rural, as suas vaquinhas, as suas casas.

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Mestrinho, um tempo do tamanho do seu coração, que é maior que as terras do Amazonas, para concluir com um aparte do Senador José Maranhão.

            O Sr. José Maranhão (PMDB - PB) - Senador Mão Santa, V. Exª fala agora de um assunto da maior relevância para o povo nordestino: a questão do empobrecimento dos habitantes do interior do Nordeste, especialmente os do interior - no Nordeste, como um todo, isso é uma verdade, mas, no interior, é mais grave. Na esteira dessas considerações, vemos saltar aos olhos a necessidade de os governos criarem alternativas econômicas que permitam ao nordestino sobreviver em seu próprio habitat. É preciso fazê-lo e com urgência. A questão do êxodo rural está associada a muitas causas: à falta de uma reforma agrária realmente funcional, de uma reforma agrária de fato, e não apenas o simples assentamento, que é somente uma solução fundiária que não responde à complexidade de uma reforma agrária. Mas penso que um grande projeto para alavancar o desenvolvimento do Nordeste, especialmente no meio rural, é a transposição das águas do São Francisco. Todos os países do mundo já utilizaram a transposição exatamente para compensar as diferenças ecológicas dentro dos seus respectivos territórios: países ricos, países pobres, em vários tempos de sua história. A China o fez há 2000 anos a.C. e está fazendo hoje a maior transposição de que se tem notícia na história da humanidade. Os Estados Unidos o fizeram, transformaram um deserto em um verdadeiro pomar, em um verdadeiro jardim; a Espanha fez, a Índia fez e faz todos os dias. Por que, então, se coloca essa questão, que é necessária e de transparência total, sob a égide de preconceitos, do rótulo da discriminação? E vai-se postergando a transposição, de uma forma, que eu diria, criminosa. Sob todos os aspectos, a transposição, se não representa uma solução radical, completa para o problema do semi-árido nordestino, é o maior passo que se pode dar objetivamente para se garantir a sobrevivência digna das populações do Nordeste setentrional, que é a população mais sofrida, exatamente porque, no mapa do semi-árido, ela é a única região destes três Estados, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, que não tem cursos d’água permanentes. A água flui na época das chuvas e falta completamente na época do verão. De maneira que eu queria dar essa contribuição a V. Exª, até como reconhecimento ao trabalho permanente que faz na tribuna do Senado, na busca de soluções objetivas para reais problemas do Nordeste, como este que V. Exª aborda no momento: a questão do empobrecimento do homem rural.

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Mestrinho, creio que houve um equívoco. Eu estava inscrito como orador para falar por dez minutos e mais cinco antes da Ordem do Dia. E V. Exª, muito atarefado, talvez não o tenha observado. Então, eu lhe pediria mais três minutos para concluir o meu pronunciamento, sem exagerar na grandeza do coração de V. Exª.

            Quero incluir no meu pronunciamento todas as palavras do Senador José Maranhão e quero dizer mais: sou favorável.

            Mas, além da dívida - uma desgraça nunca vem só; Padre Antonio Vieira disse que um bem vem acompanhado de outro bem -, há a seca. A seca é velha. Lembro-me de que, quando criança, em 1958 - eu era interno no Colégio Marista do Ceará -, havia a Hospedaria Getúlio Vargas, onde ficavam todos os que fugiam da seca. Era como um campo de concentração, para não invadir Fortaleza. Eu sei que melhorou com o DNOCs, mas os DNOCs construíram açudes. Senador Ramez Tebet, são como um mar morto. Eles são distantes do centro urbano. Eles não fazem aquilo que já se fazia na Europa. Leonardo da Vinci fazia aquedutos - eram as nossas adutoras.

            É para isto que nós chamamos a atenção do Governo: a seca está aí. Saiamos da teoria e enfrentemos o problema com soluções definitivas. Mas, enquanto isso, os habitantes estão lá, sedentos. E o Governo é culpado, porque a Sudene tinha um órgão especializado, tinha know-how para ajudar o Governo desses Estados a minimizar a calamidade.

            Está na hora de obedecer pelo menos à Bíblia, Lula: “Dai de beber a quem tem sede e de comer a quem tem fome”.

            E, para encerrar, eu pediria a atenção para duas manchetes da lavra do extraordinário jornalista, do meu Piauí, Luciano Coelho: “Seca verde leva 110 Prefeitos a declarar emergências no Piauí”. A outra: “Prefeitos estão passando do estado de emergência para a calamidade”. São essas as palavras que tenho de dizer ao Presidente da República.

            Termino, com a Bíblia, que diz: “Pedi e dar-se-vos-á”. O povo do Nordeste está pedindo ao Presidente da República respeito, sensibilidade, água e alimento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/02/2006 - Página 3403