Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem aos aposentados e pensionistas brasileiros.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem aos aposentados e pensionistas brasileiros.
Publicação
Publicação no DSF de 14/02/2006 - Página 4613
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, IDOSO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, TRANSMISSÃO, MORAL, LEITURA, TRECHO, TEXTO, MÃE, ORADOR.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Efraim Morais, Presidente desta sessão do Senado da República destinada a homenagear os aposentados e pensionistas brasileiros, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos acompanham pelo sistema de comunicação do Senado, entendo que uma das reflexões de Shakespeare é a mais oportuna para vivermos. A sabedoria sempre foi buscada, Senadora Heloísa Helena. O Livro de Deus diz que ela é ouro e que a prudência é prata. Um rei ungido por Deus pediu-Lhe sabedoria e foi o grande governante. Portanto, a sabedoria é isso.

Recentemente, o País todo homenageou um órfão, filho de uma professora, que mostrou que o caminho do saber é que leva à dignidade e melhora o mundo. Senadora Heloísa Helena, Juscelino, que todo mundo hoje vive e repete, foi cassado bem ali, mostrando as dificuldades da vida política. Cassado, afastado aqui de Brasília, da Casa, do Congresso, da democracia que ele mais viveu, convidado a ser candidato à reeleição, ele recusou, acreditando na alternância do poder. Dele há uma frase. Shakespeare disse que encontraremos a sabedoria quando somarmos a experiência dos mais velhos com a ousadia dos mais novos. E Juscelino, esse ungido, disse que a velhice é uma tristeza; mas, desamparada, é uma desgraça.

Então, é isso que sente o Paim, é isso que sente o Paim ao acordar, ele que defende tão bem os vitimados da sociedade - os negros, os índios e os velhos. E já vi sucessivas sessões em homenagem a essas vítimas da nossa sociedade. E, hoje, os homenageados são os pensionistas e aposentados.

Atentai bem, mas temos de refletir o momento atual. Senadora Heloísa Helena, o que está sustentando este País é a formação que recebemos dos nossos velhos.

Alberto Silva está aqui da mesma maneira que Juscelino, cuja mãe, Professora Júlia, o orientou, ensinou e abençoou. Então, assim também o foi com o Senador Alberto Silva, que está aqui pela santa Evangeína Rosa da Silva. Cristão! Heloísa Helena, não sei, mas o que ainda sustenta este Brasil - esta a homenagem que quero prestar - são os mais velhos, com quem aprendemos.

Olhe, Heloísa Helena, o Alberto Silva conheceu muito o meu pai. E não sei, pois sou médico-cirurgião e não fiz uma reflexão sobre a psicologia educacional e nem quero fazê-la. Apanhei muito de meu pai e não sei se os senhores apanharam. E uma das frases que ouvi, no meio do chicote e do chinelo, é “quem mente rouba”. Esses são os princípios dos que nos educaram; são os princípios que fazem crer que temos condições, pelos velhos com quem aprendemos, de colocar este País nos trilhos. Não são os trilhos nos quais Alberto Silva, que é ferroviário, colocou muitas locomotivas, trazendo o progresso para esse País. São os trilhos daquilo que acreditamos neste País cristão: o amor. O amor é o cimento do mais importante, que é a família. E a família é consolidada pelas bênçãos diárias dos mais velhos.

Olha, este País eu conheço bem porque fui médico como Juscelino, de Santa Casa, cirurgião; tive uma vida militar como ele, fui prefeitinho e governador. Conheço a velhice, o valor e a sabedoria. Tive as bênçãos de conviver com um cirurgião do Maranhão, Senadora Heloísa Helena; aliás, esse apelido de Mão Santa veio graças a ele. O Alberto o conhece: Cândido Almeida Ataíde. Eu sei que ele foi vítima; era político do PTB e veio a revolução. Eu era jovem, recém-chegado do Rio de Janeiro com uma equipe de médicos. A revolução achou que ele era subversivo, comunista e tirou-lhe a Federação das Indústrias, da qual era presidente; tirou-lhe a Faculdade de Administração, em que foi pioneiro, e marchou para tirar-lhe da Santa Casa de Misericórdia, onde era diretor. E fui chamado.

O Alberto se lembra do período revolucionário, em que o Capitão dos Portos: “você, temos que tirar aquele velho...” Estou aqui porque recusei, Alberto. Recusei aos militares, porque não o via como um comunista, um subversivo; eu o via como um homem de grandes idéias. E recusei diante o comando da Marinha, que era o maior do Piauí, o Capitão dos Portos.

Mas, para a maior satisfação da minha vida, esse senhor fez o parto do maior dos piauienses, João Paulo dos Reis Velloso, o ministro que fez o I e II PND. E justamente esse negócio de Mão Santa era uma homenagem a ele, que era do Maranhão - Tutóia, Barro Duro. E foi convidado para ser patrono de um posto do Funrural. Acho que ele tinha medo daqueles teco-tecos, que caíam muito naquele tempo - ele me chamava de Francisco, não tinha nada desse negócio de Mão Santa. Ele me disse: “Vai, Francisco”. E eu fui com uma freira, e naquela brincadeira... No Maranhão, fala-se mais do que no Piauí - olhem os maranhenses aqui, vejam como discursa bem o Senador José Sarney - e era tanto discurso... Um dos oradores, o presidente de um sindicato, referindo-se a mim - na hora eu estava representando o homenageado -, esqueceu o meu nome. Aliás, isso é natural; eu mesmo não gosto de citar nomes, porque muitas vezes, ainda que involuntariamente, pode-se esquecer alguém. Ele esqueceu o meu nome e disse o seguinte: “Esse doutor da mão santa que me operou...”. Aquilo foi na brincadeira, mas entrou na política e nós estamos aqui.

Mas eu vi esse homem - como está difícil a vida! - trabalhar até os seus 94 anos de idade, operando e trabalhando. O resultado é que estamos hoje na classe médica por necessidade. Mas ele morreu feliz, porque eu era Governador do Estado e dei-lhe a comenda Grã-Cruz Renascença. Ele morreu, mas morreu “emedalhado”.

Eu quero crer que estou aqui em grande parte por ter ouvido os conselhos dos mais velhos. Nós é que temos de dar exemplo. Ele dizia: “Francisco, tenho de trabalhar mais dos os outros”. Com 94 anos, ninguém o tirou da diretoria da Santa Casa pelo exemplo que era, pelo respeito que lhe tinham.

Todos temos muitas condecorações. De uma delas eu me orgulho: ganhei-a ali, no Memorial JK, quando ele completava cem anos, como um dos Senadores que mais citou Juscelino. Há outra: dessa Santa Casa, que carrego desde quando ela fez um século. São os velhos que nos orientam, que nos dão firmeza. E o Piauí, sem dúvida alguma...

Para encerrar, queria fazer uma homenagem ao que temos de mais importante: nossas mães. Conheci a mãe do Senador Alberto Silva, ele a homenageia como santa; por isso ele é o mais inspirado de todos nós e ungido pela mãe.

A minha mãe, já na velhice, aposentada, escreveu o seguinte - peço permissão para ler isso em um minuto. Minha mãe, terceira franciscana, Senadora Heloísa Helena - sei que há muitas, mas o pai de minha mãe era o empresário mais rico do Estado do Piauí, tinha dois navios, e ela foi ser terceira franciscana. Antes de morrer, ela escreveu uma mensagem muito bonita. A minha riqueza é exaltar a mãe; sei que todas são excepcionais, e a minha é igual à de vocês. Tenho de exaltar a minha como o Senador Alberto Silva exalta a Srª Evangelina - deu o seu nome à maior maternidade do Piauí, maternidade modelo do Nordeste. Ainda não pude fazer uma homenagem como essa como o governador, empreendedor e realizador Alberto Silva fez. Mas vou ler o texto final de minha mãe:

O meu testamento

Quando percebi que tinha meus dias contados

que minha vida, rapidamente, chegaria ao fim

pensei em fazer o meu testamento

Dei balanço em tudo o que possuía

Contei casas, contei dinheiro

meus livros - grande tesouro!

meus ricos pertences,

minhas antiguidades...

Depois... somei tudo.

E vi que tudo era nada!

Cacarecos sem valor.

Coisas inúteis e supérfluas,

expostas às calamidades,

aos riscos dos incêndios

e dos ladrões.

Para que testemunhar

esses bens que se podem acabar

que as traças podem roer

ou o fogo devorar,

se outros bens imperecíveis

eu consegui amealhar?

Senhor, tu mesmo disseste

que nenhum copo d’água

dado ao menor irmão

ficaria sem recompensa

no reino do Teu Pai!

Nos celeiros eternos

vou procurar guardar

outras riquezas,

não as da terra!

Meus filhos não herdarão de mim

castelos, nem fazendas,

nem ricas propriedades...

não deixarei ouro nem prata,

nem dinheiro em caixas fortes...

tudo é vaidade sobre a terra

nada há que sempre dure...

tudo, sem valor que me seduza.

Meu testamento é minha fé,

é minha esperança,

é todo o meu amor!

Que meus filhos possam herdar de mim

todo o bem dessa fé

que foi a minha luz,

mais clara e mais querida,

dessa esperança que foi a minha força

dessa caridade

que me fez ver Deus

em toda a natureza,

em todas as pessoas,

em tudo que existe

e dele provém!

Caridade que é amor,

amor que é vida!

Essa é a homenagem que faço a todos os idosos e aposentados. (Palmas.).


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/02/2006 - Página 4613