Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Auto-suficiência do Brasil na produção de petróleo e o fato de 27% dos jovens brasileiros não estudarem nem trabalharem.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA. EDUCAÇÃO.:
  • Auto-suficiência do Brasil na produção de petróleo e o fato de 27% dos jovens brasileiros não estudarem nem trabalharem.
Publicação
Publicação no DSF de 21/02/2006 - Página 5660
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, CONTRADIÇÃO, NOTICIARIO, AUTO SUFICIENCIA, BRASIL, PRODUÇÃO, PETROLEO, SIMULTANEIDADE, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DADOS, AUMENTO, PERCENTAGEM, JUVENTUDE, PAIS, FALTA, EDUCAÇÃO, TRABALHO, INCOERENCIA, EXCESSO, APLICAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, EXPLORAÇÃO, COMBUSTIVEL FOSSIL, AUSENCIA, INVESTIMENTO, VIDA HUMANA, RECURSOS HUMANOS, FORMAÇÃO, MÃO DE OBRA.
  • QUESTIONAMENTO, OMISSÃO, CONGRESSO NACIONAL, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, INTERESSE NACIONAL, AUSENCIA, RECONHECIMENTO, SUPERIORIDADE, IMPORTANCIA, AUMENTO, VERBA, DESTINAÇÃO, EDUCAÇÃO, POPULAÇÃO, PAIS, COMPARAÇÃO, INFERIORIDADE, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, PETROLEO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho falar de duas notícias que estão atualmente nos jornais. Uma delas tem sido divulgada sistematicamente e diz respeito ao fato de que o Brasil vai atingir a auto-suficiência em produção de petróleo. A outra foi publicada ontem no jornal Folha de S.Paulo, e diz que 27% dos jovens brasileiros, Senador Mão Santa, não estudam nem trabalham.

Como explicar a contradição? De um lado, um país gastando bilhões para explorar petróleo no fundo do mar e ser auto-suficiente em energia; de outro, desprezando, desperdiçando, jogando no lixo esse recurso tão fundamental que é a mão-de-obra. Como se explica que um País que é capaz de gastar dinheiro necessário para explorar petróleo não toma as medidas necessárias para aproveitar a energia humana, que são as pessoas?

Ao mesmo tempo, falamos em 27% sem estudar nem trabalhar, mas podemos dizer que pelo menos 25% a 30% trabalha em vez de estudar, na hora de estudar; e, ao trabalhar - o que não é mal, é melhor do que estar desempregado -, não vai evoluir nem vai aumentar o potencial próprio a serviço do País. Ou seja, 27% não trabalha nem estuda; zero de aproveitamento; é como o petróleo no fundo do poço. Pelo menos 25% a 30% dos jovens trabalham, mas não estudam; portanto, não vamos explorar totalmente a energia que essas pessoas têm do ponto de vista pessoal, Senador Roberto Saturnino.

Tenho a impressão de que não é difícil. Todos nós sabemos as razões disso. Falta decidirmos intervir para que um País que é auto-suficiente em petróleo aproveite suficientemente seus recursos humanos. É aí que vem a frustração. Às vezes me dá a impressão de que este Senado devia parar e se dedicar, aprofundar, estudar para encontrar uma saída para essa vergonha.

Por que não conseguimos parar nem colocar em nossa agenda de trabalho os problemas fundamentais do Brasil? Por que gastamos a nossa energia de líderes nacionais, como somos, no que há de importante, sem dúvida, mas superficial? É importante enfrentar as CPIs para acabar com a corrupção, mas simplesmente acabar com a corrupção não basta para transformarmos o País. Por que não conseguimos ter uma agenda produtiva? Por que só jogamos de goleiro no Senado, e não jogamos de artilheiro? Por que o mais que conseguimos é impedir que roubem, mas não conseguimos fazer com que produzam?

E aí me dá a impressão de que algo está errado, não apenas no Brasil, mas também em nossa Casa, em nosso trabalho. Sabemos que há idéias aqui, há uma energia imensa de lideranças, ex-Governadores, ex-Prefeitos, Senadores, ex-Deputados, ex-Líderes sindicais, pessoas que acumularam, ao longo da vida, uma energia, mas que, a meu ver, também não está sendo bem explorada. Da mesma maneira que não está sendo bem explorado o recurso humano brasileiro, abandonado desde a primeira infância, quando começa a ser possível de ser aproveitado um dia; abandonado na primeira infância, porque não é bem alimentado, porque não adquire o costume de brinquedos pedagógicos e do atendimento à criança; abandonado no ensino fundamental, que continua no Brasil com ligeiros avanços, mas ficando cada vez mais para trás em relação ao mundo; abandonado no ensino médio e pouco aproveitado no ensino superior.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, talvez a culpa seja nossa. Óbvia e muito mais fundamentalmente, culpa do Poder Executivo, às vezes até atrapalhado pelo Poder Judiciário.

Quando nós, as lideranças nacionais, o centro do poder, a Casa do Povo, vamos despertar para irmos além de jogar na defesa para impedir mais tragédias e vamos jogar também no ataque, para o pleno aproveitamento dos recursos nacionais? Quando vamos perceber que a massa cinzenta deste País vale muito mais do que o negro petróleo? Quando vamos descobrir que é muito mais fácil tirar energia do cérebro com pequenas escolas, professores bem- remunerados, bem-preparados e bem-dedicados do que a difícil exploração de petróleo no fundo do mar, como já conseguimos fazer, dando exemplo ao mundo inteiro? Quando vamos despertar para o fato de que o verdadeiro recurso nacional é o nosso povo, cada um dos indivíduos deste País? O recurso de cada um dos indivíduos não nasce pronto, mas é produzido por meio do cuidadoso processo da educação.

Creio que é preciso 200 milhões de anos para transformar em fósseis petrolíferos as reservas florestais de antigamente. Quinze milhões de estudos, Senador Mão Santa, são necessários para fazer com que nossos jovens adquiram o conhecimento necessário para que se transformem em grandes profissionais.

É uma pena que consigamos tão facilmente o dinheiro necessário, como a Petrobras consegue, para explorar petróleo, mas que não consigamos os parcos recursos necessários para explorar o maior dos recursos de um país: a massa cinzenta, a inteligência e os braços de seu povo.

Ao ler nos jornais essas duas notícias, que parecem absolutamente sem nexo, eu me choquei, e vim manifestar minha preocupação. As duas notícias - sobre a auto-suficiência em produção de petróleo e sobre os 27% de jovens sem trabalhar nem estudar - se relacionam. A terceira diz respeito ao fato de que nós, Senadores do Brasil, não estamos conseguindo interferir para fazer com que o País aproveite o maior de seus recursos.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/02/2006 - Página 5660