Discurso durante a 15ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a decisão de passar a integrar a bancada do PMDB.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Comentários sobre a decisão de passar a integrar a bancada do PMDB.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2006 - Página 7720
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, SOLICITAÇÃO, JOSE SARNEY, SENADOR, PROVIDENCIA, APURAÇÃO, ESPANCAMENTO, DEPUTADO ESTADUAL, ESTADO DO AMAPA (AP).
  • ESCLARECIMENTOS, DECISÃO, ORADOR, FILIAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMENTARIO, HISTORIA, VIDA PUBLICA, DEFESA, CONVICÇÃO, NATUREZA POLITICA, ATUAÇÃO, BENEFICIO, POVO.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de iniciar meu pronunciamento, eu gostaria de associar-me à preocupação do Senador José Sarney, a propósito do fato lamentável ocorrido com um Parlamentar no Estado do Amapá. Assim como S. Exª, quero pedir que providências sejam tomadas no sentido de cabal apuração.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “a boa vinda sempre sorri, o adeus sai suspirando”. Não são minhas essas palavras, Senador Mão Santa, que tanto gosta de citações, mas são as que me vêm à mente no momento em que me filio a uma nova legenda em minha já longa militância política e na ainda breve atividade parlamentar.

Não foram muitas as filiações, mas, ainda assim, não me parecem poucas. Elas dependeram menos de mim que dos caprichos do tempo, que, na vida pública, torna-se não poucas vezes senhor de nosso destino. Ele sempre tarda e é lento quando, jovens e adolescentes, ansiamos tomar nas mãos as rédeas de nossas vidas, mas torna-se rápido e fugaz quando, na maturidade, olhamos com saudade o próprio passado.

A diferença que separa a vinda sorridente do adeus suspirando a que acabo de aludir é fruto da insuperável comparação do maior e mais genial dos poetas da língua inglesa, em uma de suas menos conhecidas e menos celebradas obras. Segundo Shakespeare, o tempo se assemelha aos estalajadeiros, em moda em sua época, que, de, braços abertos, tratavam de abraçar os que chegavam; na hora da partida, apertavam de leve a mão dos hóspedes. Daí a irônica, mas verdadeira lição de que nunca me esqueci: “A boa vinda sempre sorri, o adeus sai suspirando”.

A diferença, Srªs e Srs. Senadores, é que sempre me filiei por convicção, jamais por conveniência. E jamais saí seja por fisiologismo e menos ainda por cooptação. Por isso, sempre repeli o papel e a postura do estalajadeiro de Shakespeare, a repugnante figura que, de braços abertos, acolhe os que chegam e usa a ponta dos dedos para se despedir dos que saem.

Quando estudante em Brasília, abracei, ao lado de tantos outros jovens como eu, a crença de que vivíamos num mundo injusto. Jamais abandonei essa visão. Era e ainda é a minha convicção. Sempre acreditei que as idéias movem a ação, como ensinou Hegel, e que só a ação, como pregaram Marx e Engels, é capaz de transformar a realidade. Nunca renunciei a essas idéias e, a partir de então, troquei o pensamento pela ação. Paguei duras penas por isso, mas aprendi úteis e proveitosas lições. Continuo acreditando que o pensamento precede a ação, mas nunca renunciei à crença de que só a ação é capaz de influenciar o pensamento. Daí o empenho de minha constante pregação. Os exemplos de meu pai, que nunca desistiu da ação e nunca renunciou à força do pensamento e das convicções, levaram-me da pregação à ação.

Quando o PMDB se transformou no estuário que abrigou, sem restrições e sem distinção, todos os que dissentiam do estado de coisas a que tínhamos sido levados em 1964, filiei-me ao Partido, com a certeza de que nunca seria discriminado por minhas idéias, nem repudiado por minhas convicções. Fiz-me peemedebista até o momento do fastígio de seu poder, quando, amparado numa postura de resistência e de pregação democrática de duas décadas, tornou-se o senhor incontestável de 53% das cadeiras na Câmara dos Deputados e do governo de 22 dos 23 Estados brasileiros então existentes.

Na trajetória de nossa precária e sempre frágil democracia, nenhum outro Partido conseguiu tal preeminência e tanta preponderância na vida pública do País. O que o Partido logrou na Oposição, porém, não foi suficiente nem bastante para lhe assegurar o poder. Por isso, pude dizer como Bernardo Pereira de Vasconcelos, em 1837: “Não fui trânsfuga, não abandonei a causa que defendo, no dia dos seus perigos, da sua fraqueza. Deixo-a no dia em que tão seguro é o seu triunfo, que até o excesso a compromete”.

As mesmas crenças que me levaram a esse gesto conduziram-me ao PSB e à aliança de esquerda que deu suporte, sustentação e alento à ampla coalizão eleitoral responsável pela expressiva vitória de 03 de outubro de 2002, no Acre e no Brasil. Sempre acreditei que a troca de poder no País, operada pela força do desencanto e do desalento, pudesse ter o dom de dar a essa mudança o caráter transformador das revoluções e não o mero e reles sentido de uma troca de lideranças, sem compromissos com a modernização institucional, com a evolução econômica e com a redenção social. O que julguei que pudesse ser uma revolução pacífica e transformadora logo se revelou simples contrafação e mera dissimulação. O radicalismo político, o uso imoderado do poder, a intolerância com o pluralismo, a discordância democrática e, por fim, os métodos heterodoxos que contaminaram os vários estamentos do poder deixaram claro até onde iríamos chegar, quando eclodiu a mais profunda, a mais ampla e a mais devastadora das crises institucionais contemporâneas, que ainda hoje se arrasta, choca e estarrece o País. Antes que ela se instalasse, tomei a dura, mas inevitável decisão de sepultar mais um sonho e de me afastar de mais uma quimera. Fi-lo, no entanto, sem recorrer ao denuncismo e sem levantar o dedo acusador de Torquemada para quem quer que fosse, mesmo tendo sido vítima de tais métodos.

Não mudei de idéias, de ideais, nem de convicções. Com elas, ajudei, modesta, mas devotadamente, a construção do P-SOL em meu Estado, auxiliando, nas escassas medidas de minhas forças, sua estruturação em nível nacional. Não são, contudo, as idéias nem as discordâncias que levaram ao meu afastamento dos que ainda penso poder considerar companheiros de ideais e de aspirações. Fui impelido pelo desejo de não permitir que a exploração deliberadamente montada de um ato de fraqueza de uma criatura de caráter fraco pudesse ser utilizada de forma tão mesquinha quanto nefasta contra minha dignidade e, o que é pior, contra minha probidade e contra minha integridade moral, meus maiores patrimônios até hoje.

Nunca acreditei que subterfúgios mesquinhos dessa natureza pudessem ter lugar na vida pública contemporânea, mas também nunca duvidei de que a solércia, a ambição e a astúcia não tivessem limites, quando se trata da luta pelo poder. Como esse não é, nem nunca foi o meu caso, pois não estou na vida pública em busca de ganhos de qualquer natureza, não hesitei em afastar-me do Partido, que tem a esclarecida liderança da Senadora Heloísa Helena, para não provocar nem dar causa a constrangimentos e a ressentimentos de qualquer natureza. Deixei o Partido também no preâmbulo do que espero seja o seu triunfo, com sua candidatura própria à Presidência da República, que há de lhe garantir novos logros e auspiciosos sucessos.

Como já tinha feito tempos atrás, aceitei o convite para me acolher, novamente, à legenda a que pertenci, num momento decisivo de minha modesta vida pública, transmitido aqui publicamente por nosso colega Senador Ney Suassuna, em nome da Direção Nacional do PMDB, e ratificado pela sua Direção Regional em meu Estado.

Dou esse passo sem ódios, sem prevenções como as que se voltaram contra mim e sem preconceitos de qualquer espécie. Tal como da outra vez, acolho-me à tolerância do Partido que já me abrigou no passado e à certeza de que minha consciência e minhas convicções não serão violentadas, de que meu voto não será cobrado em questões de consciência e de que minha liberdade não será tolhida. Mas também não faltarei às minhas responsabilidades partidárias, como político, como parlamentar e como cidadão.

Chego sem exigências. Chego com humildade, mas disposto a colaborar para que o PMDB se reencontre com um grande projeto nacional e possa colocar-se, mais uma vez, como instrumento do avanço e das transformações há muito ansiadas pelo sofrido povo brasileiro.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2006 - Página 7720