Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pronunciamento proferido pelo Governador Almir Gabriel em homenagem ao ex-governador Mário Covas, por ocasião do quinto ano de seu falecimento.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pronunciamento proferido pelo Governador Almir Gabriel em homenagem ao ex-governador Mário Covas, por ocasião do quinto ano de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2006 - Página 7780
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • LEITURA, DISCURSO, AUTORIA, ALMIR GABRIEL, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), HOMENAGEM POSTUMA, MARIO COVAS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EX-CONGRESSISTA, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, REGISTRO, EMPENHO, DEFESA, REFORÇO, FEDERAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, ESTABILIZAÇÃO, ECONOMIA, AUMENTO, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, REDUÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, DESIGUALDADE SOCIAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 13/03/2006 


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR FLEXA RIBEIRO NA SESSÃO DO DIA 8 DE MARÇO, DE 2006, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Luiz Pontes, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, ocupo hoje a tribuna para me referir à homenagem prestada, na última segunda-feira, dia 6, ao Governador Mário Covas, pelo quinto ano de seu falecimento.

Mário Covas, esse brasileiro que honra a todos nós, políticos, como Parlamentar que foi, como executivo que foi, deixou um exemplo que deve ser seguido por todos os políticos brasileiros.

E presto esta homenagem, Sr. Presidente, fazendo a leitura do discurso do Governador Almir Gabriel, seu companheiro na Constituinte e seu companheiro de chapa, quando Mário Covas disputou a Presidência da República, em 1989, e teve Almir Gabriel como vice. Presto esta homenagem não apenas como tucano, do PSDB, mas como brasileiro, a esse memorável homem que foi Mário Covas.

Disse o Governador Almir Gabriel: “Estou eu aqui, como homem do Norte, para traduzir, em alta voz, parte de minhas reflexões feitas à beira de um rio amazônico, em noite de luar que clareava o horizonte, mas não revelava tudo o que se abrigava na mata”.

Lembrei-me de Mário Covas: coragem, verdade, exemplo. Idealizei como estaria o Brasil hoje, com ele na presidência. Antes de completar a idealização, entrou, chocante, pelos meus olhos o filme da cena brasileira de ontem, quando a elite dos barões tentou inventar um capitalismo sem consumidores internos e a incipiente democracia foi violentada, repetidas vezes, pelo autoritarismo.

É certo que crescemos, mas o número de desiguais aumentou. Vivemos sob a ditadura das médias e da mídia. Fugimos dos extremos e da realidade. A palavra “sonho” passou a significar fantasia, e a mentira virou verdade estatisticamente “provada”. O partido que se autoproclamava dos trabalhadores virou “taboca”, que na gíria significa logro, enganação.

Qualquer pessoa séria, neste País, pode fazer uma lista de mil e uma bravatas, bazófias, mentiras. Alguns exemplos:

Qual o socialismo democrático? O da cooptação de partidos, sindicatos, movimentos sociais.

Onde está a utopia da sociedade igualitária? Nos lucros estratosféricos dos banqueiros.

E a ética? No dogma de que os fins justificam os meios e no aparelhamento do Estado.

E a moral? Na escandalosa e inimaginável corrupção sistêmica.

E a Federação? Na concentração do bolo tributário, na intervenção verde sobre o Pará, no não-ressarcimento das perdas do ICMS de produtos exportados.

Onde está o espetáculo do crescimento? Nos números pífios do PIB e sem os dez milhões de novos empregos.

Os equívocos registrados na história e as mentiras do presente não me afogam.

Esculpir o Brasil como grande nação é uma tarefa desafiadora e encantadora. Basta ver o amanhecer como Mário via: com coragem, com verdade e com união, capazes de colocar a inteligência e os compromissos acima das vaidades. Compreender a imperiosa necessidade de fortalecer a unidade nacional, acelerando o desenvolvimento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Promover ambicioso programa social que reduza as desigualdades entre classes. Estabilizar a economia, diminuindo os juros, alongando o perfil da dívida interna e investindo pesadamente na infra-estrutura social e econômica. Crescer ambientalmente equilibrado, culturalmente criativo e politicamente livre, espancando o populismo que subjuga e a mentira que entorpece.

Cara dona Lila, Renata, Zuzinha, o Mário Covas, paixão, honestidade e exemplo está e estará sempre no sangue e na vida de vocês. O destino concedeu-lhes a bênção de privar do seu amor. Mas deu também aos brasileiros a honra de compartilhar sua história.

Junto com Franco Montoro, Sérgio Motta, José Richa, Mário Covas não é simplesmente memória e exemplo. É a luz que nos guia no amor à humanidade e à Pátria. É a valentia que nos conduz à luta e nos dará a vitória ao lado das mulheres, dos jovens, dos homens, dos pouco informados, dos militantes, dos simpatizantes.

Ao lado dos partidos e políticos sérios deste País, vamos arriar a bandeira encarnada desbotada pela mentira, manchada pela corrupção escondida, como assombração, na escuridão da mata burocrática do Estado.

Juntos, vamos levantar a bandeira amarela, azul e verde da vitória da honra, da decência e da competência.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Flexa Ribeiro, gostaria de dar um testemunho.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Concedo um aparte a V. Exª, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Governei o Piauí quando ele governou São Paulo, quero dar um testemunho interessante. São 27 Estados. Tínhamos uma reunião de governadores com Mário Covas. Depois que ele morreu, nunca mais houve uma reunião de governadores. Reconhecíamos nele um líder, a firmeza, maior até que o Presidente da República que era o seu aliado. Morreu Mário Covas e nunca mais, no período em que governamos, houve uma reunião entre governadores. Ele era o ícone, o porto seguro. Confidenciávamos a ele, acreditávamos nele. Sem dúvida alguma, o nosso Alckmin herdou a maior história política de probidade deste País.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Completando o discurso do Governador Almir Gabriel, ele disse: juntos vamos fazer amanhecer um novo Brasil, o Brasil da verdade, o Brasil do povo, o Brasil do Mário.

Já concedo o aparte ao nobre Senador Motta e ao Senador Pavan.

Com certeza absoluta, aqueles que aqui puderam compartilhar de Mário Covas, como o Senador Pedro Simon, têm a lembrança desse homem brilhante, desse brasileiro que tanto fez pelo nosso País e pelo os mais necessitados.

Concedo um aparte ao Senador Motta, ao Senador Pavan e ao Senador Pedro Simon.

            O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senador Flexa Ribeiro, nada mais justo, nada mais perfeito que, no Dia Internacional das Mulheres, V. Exª se lembrasse também daquele que tanto respeitou as mulheres brasileiras. Podemos afirmar que, como político, ninguém mais sério, ninguém mais honesto, ninguém mais trabalhador, ninguém mais amigo do que ele. Deixou sua viúva pobre, ele que foi campeão com 9 milhões de votos para Senador da República; ele que foi governador de São Paulo por duas vezes; ele que realizou uma obra impecável: o homem que, talvez, tenha construído mais leitos de hospitais neste País. Esse Mário Covas, é bom que lembremos neste momento, perdeu a eleição de Presidente da República para Collor de Mello - um candidato que veio com a bravata de dizer que ia combater marajás e se transformou no principal marajá do Brasil. E o povo brasileiro, infelizmente, cometeu o erro de eleger Collor em vez de eleger Mário Covas. Que nos sirva de exemplo para que, ao escolhermos um Presidente da República, escolhamos alguém que não seja populista, que não viva de pregar mentiras, de enganar a população, alguém que apenas saiba discursar, mas não saiba materializar o discurso, aquele que promete, mas não tem personalidade nem capacidade administrativa para tornar realidade seu discurso. Nesta noite, Senador Flexa Ribeiro, V. Exª está de parabéns, pois está homenageando um dos nossos maiores e melhores homens públicos. E vou repetir: que o povo brasileiro saiba, daqui para frente, escolher candidatos que tenham compromisso com o progresso, que sejam simples, que tenham experiência administrativa e possam construir um País como o brasileiro merece. Não podemos ficar a reboque de qualquer paisinho. Nós somos um dos mais ricos, um dos mais importantes, nos falta apenas gerenciamento. Se Deus quiser, a partir do próximo ano, nós teremos neste País um Governo que saiba realmente gerenciá-lo. Muito obrigado, Senador.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Flexa Ribeiro, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Concedo um aparte ao Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Flexa Ribeiro, cumprimento V. Exª por praticamente reprisar o discurso do grande ex-Governador do Estado do Pará Almir Gabriel. V. Exª o faz com desenvoltura e acrescenta alguns pontos que enriquecem ainda mais as palavras já ditas por inúmeras autoridades brasileiras em homenagem ao grande homem que foi Covas. Em Balneário Camboriú, homenageei Mário Covas com uma praça. Em nossa cidade, construímos uma rodovia ligando o centro da cidade às praias isoladas. Lá, homenageamos Mário Covas com um busto numa bonita praça inaugurada por Tasso Jereissati. O que diriam os fanáticos do PT e do Lula, pois, há poucos meses, Lula dizia que estávamos vivendo o espetáculo do crescimento e, agora, ele disse que o Brasil não tem pressa para crescer. Como? Em uma hora, o Presidente fala que haverá o espetáculo do crescimento e, logo depois, diz que o Brasil não tem pressa para crescer. O Presidente não sabe o que diz, não sabe o que quer e não sabe governar.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Ouço o aparte do Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª a oportunidade que me dá de fazer uma referência ao Governador Mário Covas nesse quinto ano da morte dele. Quem conviveu com Mário Covas durante toda a sua vida política, quem levou para o Rio Grande do Sul o jovem Mário Covas, engenheiro, líder da bancada do MDB, sabe que ele era um sonhador, um homem de perspectivas extraordinárias, que, cassado, suportou com categoria essa provação, foi refazer a vida e voltou. Mário Covas era um padrão de dignidade, de seriedade, de compromisso com a vida pública. Não conheço outro como ele. Endeuso o Dr. Ulysses, Tancredo, Teotônio, tantos quantos existiram, mas Mário Covas, para mim, era um homem perfeito. Durão? Durão. Era difícil de tirar as idéias da cabeça dele? Era difícil. Às vezes, as idéias dele salvaram. Quando o PSDB já estava todo fechadinho, costuradinho com o Collor de Mello, Fernando Henrique, Ministro das Relações Exteriores, e Serra, Ministro do Planejamento, e o próprio Governador Tasso Jereissati, presidente do Partido, favorável a um acordo, Mário Covas foi lá e explicou: “Mas como? Um Partido como o PSDB, que foi feito no sentido de purificação da vida pública, no sentido de moralização da vida pública, e vamos apoiar isso em troca de cargo?” Ele fez um daqueles discursos épicos dele. Quando ele terminou, o Tasso Jereissati, Presidente do Partido, disse o seguinte: “Eu sou Presidente do Partido. Terminou em empate, e eu tenho de dar o voto de Minerva. Todo mundo aqui sabe que sou a favor do acordo com Collor, mas, depois do discurso do Covas e de o Partido ter rachado ao meio, é preferível um Partido rachado ao meio na Oposição do que no Governo.” Foi a competência do Tasso Jereissati, atendendo ao discurso do Covas, que salvou o PSDB. E o PSDB foi para a Presidência da República. Na doença do Covas, a forma com que suportou o câncer, a grandeza, a dignidade, o espírito público... Ele trabalhou até o último dia. É muito difícil alguém ter a grandeza que o cercava. Aliás, eu digo, com toda a justiça: eu admiro o Governador Alckmin. O Governador Alckmin foi vice-Governador. O Covas não quis deixar o Governo. Ele disse: “Se eu saio do Governo, é para morrer. Não tenho outra coisa para fazer”. O Covas ficou no Governo, e Geraldo Alckmin governou. Não conheci criatura mais digna e correta do que Mário Covas. Concordo com Fernando Henrique, o que é muito raro: Mário Covas, hoje, seria o candidato à Presidência da República com vitória garantida. Como eu concordo também que Deus não é muito brasileiro como se diz. Se fosse, naquela primeira eleição, o Presidente da República não teria sido Fernando Henrique Cardoso, mas Mário Covas. Fui um dos que defenderam isso. Procurei o Dr. Ulysses Guimarães e lhe contei da proposta de Brizola- o Brizola havia terminado em terceiro lugar, o Covas em quarto, o Lula em segundo. Brizola afirmou: “Eu, Brizola, e o Lula retiramos a candidatura e apoiamos o Covas, e o Covas será eleito”. Lula, porém, não o quis. Mas não tenho nenhuma dúvida de que, embora não tenha chegado à Presidência da República, na tribuna dos notáveis, não há ninguém que esteja acima de Mário Covas.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PDSB - PA) - Agradeço aos eminentes Senadores os apartes, os quais incorporam ao meu pronunciamento.

Senador Pedro Simon, depois dos apartes, não há mais nada a dizer sobre esse memorável brasileiro que foi Mário Covas.

Encerro o discurso, Senadores João Batista Motta, Leonel Pavan, Srªs Senadoras, dizendo que a memória de Mário Covas está viva e, com certeza absoluta, vai conduzir os brasileiros para que este País tome o rumo do desenvolvimento e da justiça social. Naquela reunião do dia seis, em São Paulo, estava presente o futuro Presidente da República, e lá, com certeza absoluta, a família de Mário Covas, encabeçada por Dª. Lila, recebeu a homenagem e o carinho de todos os brasileiros.

Quero fazer minhas, Senadora Ana Júlia, as palavras do Governador Almir Gabriel. E peço à Presidência que encaminhe à família do Governador Mário Covas, na pessoa de sua viúva Dª. Lila, os sentimentos do Senado da República, que foi tão brilhantemente ocupado por ele, e na certeza de que sua memória permanece viva em todos os brasileiros e conduzirá, como disse, as eleições do próximo outubro.

            Usando da generosidade da Presidente Ana Júlia, quero aproveitar os minutos que me restam, para fazer uma homenagem às mulheres no dia internacional dedicada a elas. Tinha também um pronunciamento a ser feito, mas peço a Srª Presidente que seja dado como lido, que seja incluído nos Anais.

Mas quero fazer, em poucos minutos, uma referência às mulheres, homenageando-as todas, especialmente as mulheres do nosso Pará e a generosidade do Senador Mão Santa, que fez referência a minha mãe.

Quero homenagear as que já se foram, como ela, minha mãe Luna, em seu nome; e as que estão convivendo conosco, em nome da minha filha Érica. Saúdo também todas as Senadoras, que já foram saudadas por todos, as Senadoras Patrícia Gomes, Serys Slhessarenko, Fátima Cleide, Heloísa Helena, Ana Júlia Carepa, Ideli Salvatti, Roseana Sarney, Maria do Carmo Alves e Lúcia Vânia.

Tenho certeza absoluta de que nós homens não seríamos nada se não fossem as mulheres. Parabéns a todas.

Muito obrigado.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2006\20060313ND.doc 6:31



Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2006 - Página 7780