Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Ameaças recebidas pelas famílias dos irmãos do ex-Prefeito de Santo André, Celso Daniel. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Ameaças recebidas pelas famílias dos irmãos do ex-Prefeito de Santo André, Celso Daniel. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2006 - Página 6729
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, INFERIORIDADE, IMPORTANCIA, TRATAMENTO, OPINIÃO PUBLICA, GOVERNO FEDERAL, RELAÇÃO, HOMICIDIO, VINCULAÇÃO, MORTE, EX PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • CRITICA, AUTORITARISMO, GOVERNO FEDERAL, ELOGIO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANUTENÇÃO, ESTADO DEMOCRATICO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ainda há pouco, eu conversava com a Senadora Heloísa Helena e nos púnhamos a meditar sobre se estamos ou não ficando, todos nós brasileiros, embrutecidos. É muito comum lermos nos jornais artigos e pensatas da lavra de figuras da maior respeitabilidade profissional sustentando que o povo se cansou das denúncias de corrupção e por isso o Presidente Lula estaria crescendo eleitoralmente. Vejam a gravidade. O povo estaria se cansando de denúncias de corrupção. Ou seja, não adianta mais denunciar porque já há corrupção demais. Se houvesse de menos, perderia a eleição. Tendo demais, poderia ganhar, porque assim ninguém dá bola, ninguém liga. Do mesmo modo, eu dizia à Senadora Heloísa Helena ainda há pouco: é impressionante como nós estamos, todos nós, pouco chocados com o fato de familiares do ex-prefeito Celso Daniel que se apressam para se mudar do País. Como estamos pouco chocados com isso; como estamos achando normal, natural!

O Sr. Bruno Daniel diz: “Nós não queremos exploração política”. Claro, ele está correto, ele tem que proteger a vida da família dele. Nem é meu interesse fazer exploração política disso do ponto de vista eleitoral, fazer qualquer exploração a esse respeito. Quero a apuração das denúncias. Ele próprio diz: “Estou ameaçado”. O seu irmão diz: “Estou ameaçado, estamos mudando”.

Como Líder de um partido de Oposição, tenho todo o interesse em saber disso até o final. Agora, espanto-me por estarmos fazendo pouco eco desse assunto aqui dentro, como se fosse natural numa suposta democracia, como supostamente democrático é o Brasil, estarmos vendo uma família ser ameaçada, em um caso que já produziu oito cadáveres, cuja providência por parte do Governo foi zero, nenhuma. O Ministro da Justiça, a esta altura, já teria que ter chamado aqui a família do Sr. Daniel ou ido até ela para dizer das providências que poderia tomar para protegê-la, e as investigações teriam que estar sendo anunciadas com clareza. Isso era para estar comovendo o País, comovendo todos nós, mas não, não está; nenhum de nós está comovido. A verdade é que não estamos comovidos. Daqui a pouco, morre mais um, fica aquela dúvida...

Já ouvi até piadas a respeito do caso de Santo André, sobre essa história das mortes. O Brasil precisa levar-se mais a sério. O Brasil precisa levar-se bem mais a sério do que se leva. O Brasil leva-se pouco a sério. O Ministro da Justiça teria que ter tomado providências muito claras e não as tomou. O Congresso teria que, a meu ver, interpelar o Ministro, chamá-lo para depor em um dos seus departamentos, chamar os irmãos do falecido Prefeito Celso Daniel. E nós todos teríamos que declarar, em alto e bom som, que não aceitamos que se implante no País um clima de terror.

Ontem, desta tribuna, referi-me ao fato de que as críticas da CNBB ao Governo Lula foram rebatidas por um assessor do Planalto - segundo o jornal que deu a notícia - à base do deboche, do desdém, dizendo assim: “A CNBB que cuide do Padre Pinto” - Padre Pinto é aquele que tem rezado missas fantasiado, maquiado. Tratam do assunto como se a CNBB não pudesse falar sobre economia, não pudesse criticar Governo algum. Fui Líder de um Governo que recebeu pesadas críticas da CNBB durante oito anos.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. PTB - RR) - Senador Arthur Virgílio, informo a V. Exª que a Presidência vai conceder-lhe o tempo de 15 minutos, como orador inscrito.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Sr. Presidente, mas estou falando como Líder. Encerrarei minha manifestação como Líder e, daqui a pouco, voltarei a falar como orador. São dois assuntos diferentes. Em dois minutos eu concluo, Sr. Presidente.

Fui Líder e Ministro de um Governo que, durante oito anos, sofreu as mais pesadas acusações de todos os segmentos, e não me lembro de ninguém ter dito assim: “Estou sendo perseguido por este Governo. A minha vida está sendo ameaçada”. V. Exª mesmo, Senadora Heloísa Helena - uma das mais duras adversárias com que poderia ter contado o Presidente Fernando Henrique-, sempre disse o que quis, na hora em que quis, do jeito que quis, sem sofrer o menor constrangimento. Ao contrário, asseguro-lhe que, de nossa parte, havia um grande respeito pela sua coragem, pela sua bravura, e uma grande e natural tolerância pelo fato de estarmos em uma democracia e de a crítica fazer parte da democracia. Se a crítica fosse considerada demasiada, procurava-se não dar importância a ela; se fosse considerada justa, procurava-se aperfeiçoar os métodos e aprender com quem critica. O fato é que foram oito anos em que ninguém foi perseguido; oito anos em que, efetivamente, reinaram democracia e liberdade neste País.

Hoje estamos vendo como natural o fato de morrer um aqui, outro acolá; a CNBB é tratada com deboche; a Anvisa tenta amordaçar a imprensa; vem a Ancinav; vêm todas essas medidas ditatoriais que vimos este Governo intentar; e agora uma família diz que mudará do Brasil porque está ameaça. Oito pessoas já morreram nesse caso. Não sabemos a ligação entre o caso em si e tantas mortes, mas o fato é que o Brasil precisa acordar. Temos que beliscar o Brasil, beliscar cada um de nós. Não podemos aceitar isso, que pode ser o prenúncio de um ciclo autoritário. E vamos chorar lágrimas de sangue se não enfrentarmos o autoritarismo no nascedouro. Todo regime ditatorial começa com brincadeira, com ridicularia; nada mais ridículo que Hitler, no começo de sua carreira pública, e nada mais trágico para o mundo que Hitler. Ou seja, todo cuidado é pouco.

Sr. Presidente, o que quero agora é proteção e esclarecimento a respeito desse caso que se desdobra de maneira lamentável envolvendo a família do Sr. Celso Daniel.

Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2006 - Página 6729