Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre matéria da revista Veja desta semana sobre a corrupção no Governo Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. ELEIÇÕES.:
  • Comentários sobre matéria da revista Veja desta semana sobre a corrupção no Governo Lula.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Garibaldi Alves Filho, José Agripino, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2006 - Página 6875
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, AUSENCIA, ETICA, CONDUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PAGAMENTO, PROPINA, ARTISTA, TELEVISÃO, OBJETIVO, ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROGRAMAÇÃO, EMISSORA.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, DIVULGAÇÃO, GRAVAÇÃO, DIALOGO, ADVOGADO, EX SERVIDOR, CONSELHO ADMINISTRATIVO, ITAIPU BINACIONAL (ITAIPU), SOCIO, COMENTARIO, NEGOCIAÇÃO, ACORDO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ARTISTA.
  • COMENTARIO, AUSENCIA, ETICA, EXCESSO, AUTORITARISMO, GOVERNO FEDERAL, EFEITO, AUMENTO, CORRUPÇÃO.
  • DEFESA, APROVAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), AUTORIZAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), QUEBRA, SIGILO BANCARIO, PESSOAS, DOAÇÃO, DINHEIRO, IRREGULARIDADE, CUSTEIO, GASTOS PUBLICOS, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • DEFESA, AUTONOMIA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), BINGO, DECISÃO, PRORROGAÇÃO, TRABALHO, COMISSÃO, AUSENCIA, INTERFERENCIA, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, DENUNCIA, AMEAÇA, MORTE, FAMILIA, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), VITIMA, HOMICIDIO, EFEITO, DECISÃO, PARENTE, EMIGRAÇÃO, EXTERIOR.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, DECISÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INDICAÇÃO, ANTONIO PALOCCI, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), COORDENAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO, CHEFE DE ESTADO.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na semana passada, sugeri o início de um debate que pudesse apontar rumos para o Brasil, com análises serenas, mas altivas, sem qualquer gesto de passar carinhosamente a mão nos numerosos culpados da cena nacional, todos soltos e impunes e com um único pensamento: o de assim ficar por mais tempo, soltos e impunes.

            Os corruptos de hoje nasceram sob a égide de um grupo que chegou ao Governo com a idéia, por enquanto, de fazer o que não deveria e de não fazer o que era preciso. Era o caminho para implantar um ciclo autoritário de poder.

            Como cotidiano desta fase, absurdos se vêm sucedendo em meio a uma faraônica propaganda oficial, que tenta mostrar um Brasil que não é o nosso, não é o Brasil do povo que nele vive, muito menos o Brasil com que sonhamos. O Brasil com que sonhamos é, antes de tudo, um país sério, democrático e livre. A democracia custou muito ao povo e não será um grupo de aventureiros que haverá de substituí-la pelo autoritarismo, pelo populismo, pelo atraso e pela corrupção.

            Estamos vigilantes.

Como no cenário da Srª Hendersen, do filme em exibição nos cinemas, prosseguiremos, apesar da borrasca que o grupo petista impõe ao País.

The show must go on!

Traduzo, adaptando: continuaremos, apesar das ameaças.

Sr. Presidente, a história do autoritarismo e das ditaduras é muito igual no mundo inteiro. O Governo que se pretende autoritário faz as alianças mais absurdas e espúrias. Procura cercear a livre manifestação e compra, com dinheiro público ou de origem duvidosa, o apoio necessário a uma tal escalada.

Há, todo dia, em todos os veículos de informação, ao menos indícios de uma escalada de autoritarismo, com relatos dos riscos a que se expõe o Brasil a partir desses três últimos anos.

A revista Veja desta semana exibe alguns desses indícios, pondo a nu acordos e esquemas que se montam com impudência e descaramento, não raro em próprios públicos, Deputado Babá, agora revelados com fotos em cores: “Lula conversa com Ratinho durante churrasco na Granja do Torto: tudo pago?” Esse é o título da matéria.

Na matéria de capa, um apêndice para esse esquema: “Valério pode (...) contar como o PT pagou para Ratinho fazer elogios a Lula.”

Logo após, seguindo o combinado, o apresentador tentou minimizar críticas, Senadora Heloísa Helena, críticas que, como Líder de Oposição, fiz a Lula desta tribuna.* O tal apresentador Ratinho - e o nome já não é feliz - resolveu minimizar o que seria minha a participação na vida pública. É o que me dizem meus assessores, porque não dei ao trabalho, mais uma vez, de perder tempo com o seu programa. Mas, Senadora Heloísa Helena, aqui está um paper em que sou depreciado pelo apresentador Ratinho, logo depois da conversa lá.

A minha pergunta é bem simples, Sr. Presidente: estava no preço? Foi gratuito ou estava no preço? Ou estava no preço isso, isso e aquilo outro e a crítica a mim entrava como brinde, tipo assim: comprou o carro, leva o chaveiro; comprou um carro mais caro, leva o toca DVD?

Está aqui. Não me dei ao trabalho de ver, porque eu tenho realmente bem mais o que fazer.

Mas, muito bem. Foi o tal Ratinho primariamente irônico, pensando que fazia graça, a ponto de propositadamente fingir que não me identificaria com precisão - como se ele soubesse ironizar. Mas tudo bate com as revelações de Veja, inclusive o fato de que fui criticado logo após o tal almoço e logo após os fatos que a revista denuncia como um suborno de R$5 milhões.

A matéria de Veja traz na capa o título “O Mensalão II”, e, como títulos auxiliares: “Fitas Explosivas”, “Propina para perdoar dívida com Itaipu” e “Dinheiro para Ratinho elogiar Lula na TV”.

Nas páginas internas, o título “Valério ameaça falar.”

Pobre do Governo que tem medo de o Valério falar. O Valério é personalidade que faz muita gente tremer neste País: “Valério vai falar”, “Valério, que não devia estar solto, vai ameaçar fulano”. Aí, ficam quietinhos, todos com medo, todos amedrontados com a figura que supostamente teria o que dizer deles. É capaz que ele tenha. Sabemos pela prática das investigações contra máfias que somente se desfaz sociedade criminosa - geralmente não é uma pessoa de bem que vai descobrir, não, porque essa não descobre nunca - quando alguém de dentro da organização se manifesta. Então, está aqui o Sr. Valério ameaçando gregos e troianos neste País.

Muitos desconfiam que os mais implicados nos escândalos nascidos com orientação direta de ante-salas do Palácio do Planalto estão calados pela força do dinheiro. São pagos para não falar. Uma nova profissão, já que estamos falando de emprego: ficar silencioso, que se vive muito bem, desde que não se abra a boca sobre as desmazelas do desgoverno que aí está.

            A reportagem é rica em pormenores e reproduz trechos de gravações com conversas do advogado Roberto Bertholdo, membro do Conselho de Administração da Itaipu Binacional. Leio o trecho que contém uma gravação:

No decorrer de 2004, o advogado Roberto Bertholdo, membro do Conselho de Administração de Itaipu até fevereiro de 2005, foi grampeado por um ex-sócio. O ex-sócio, o também advogado Sérgio Renato Costa Filho, gravou cerca de duzentas horas de conversa que ele próprio manteve com Bertoldo. Veja teve acesso a uma parte das gravações. No trecho abaixo, Bertholdo faz menção ao acordo pelo qual o PT pagaria ‘cinco paus’ ao apresentador Calos Massa, o Ratinho, e conta que um dos negociadores era Delúbio Soares, então tesoureiro petista. A Polícia acredita que ‘cinco paus’ sejam R$ 5 milhões.

Bertholdo - É só fazer um acordo entre o Ratinho e o PT.

Costa Filho - Ah, é?

Bertholdo - Aí, o Ratinho fala bem do PT até o final do ano.

Costa Filho - Como foi a conversa com o Ratinho? Vocês não foram lá para São Paulo?

Bertholdo - O Ratinho não tava lá. Nós conversamos com o Sérgio (personagem não identificado).

Costa Filho - Esse Sérgio que tá centralizando tudo?

Bertholdo - O PT topou pagar. Cinco paus.

(...)

Bertholdo - Na segunda-feira eu vou, eu e o Ratinho e o Borba (José Borba, então líder do PMDB na Câmara dos Deputados), no avião do Ratinho, pra pegar o Delúbio, que é o tesoureiro. Pra fazer um acerto de uns cinco paus.

Costa Filho - Hum-hum.

Ratinho tem avião, Senador Tasso Jereissati. É impressionante! Ratinho tem avião! É impressionante! Não sabia que roer dava dinheiro a esse ponto neste País!

Estou anexando, então, a este pronunciamento, Sr. Presidente, o inteiro teor desta reportagem, que expõe o Governo Lula. E não é só. A escalada do autoritarismo e da corrupção, estimulada pelo comportamento de Lula, mostra outro episódio dos meandros deste Governo, o famoso capítulo Okamoto, que está também em duas páginas e meia da revista Veja, com o título “O Paradoxo de Okamoto.”

Lula tem medo de suas relações tão íntimas com Okamoto, hoje superintendente do Sebrae, por indicação do próprio Presidente, e, por isso, procura por todos os meios blindar o antigo companheiro que, para tantos analistas, não passaria de testa-de-ferro seu. O pronome possessivo refere-se ao Presidente. Okamoto, diz a revista, “além de amigo pessoal de Lula, é também o administrador pessoal das finanças pessoais do Presidente”, uma espécie de caixa eletrônico 24 horas do petista, conforme o próprio Okamoto quis fazer crer em seu último depoimento à CPI dos Bingos.

Concedo a palavra ao Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª traz à tona essas matérias da Veja da última semana. São fatos novos gravíssimos que nós, no Congresso Nacional, não podemos mais deixar passar em branco. Uma se refere a este caso Bertholdo, que abre mais uma avenida no caso valerioduto, no caso Marcos Valério, e que leva diretamente a outro gabinete ligado ao Palácio do Planalto. Isso me faz crer - e gostaria de ouvir a opinião de V. Exª - que a CPI dos Correios precisa ser aprofundada, ela não pode ser encerrada sem que isso seja aprofundado, devidamente esclarecido e levado em conta no seu relatório, porque é tão grave que o relatório ficará não só incompleto, mas absolutamente falso se não levar em conta esses dados. Outro fato que a revista Veja levanta - isso vem complementando, mas parece-me o pingo d’água que derrama este copo - é a questão Okamotto, o mistério Okamotto. Esse homem virou o verdadeiro Mister M, um personagem misterioso que virou intocável...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Que mora numa casinha pobrezinha...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Que mora numa casa pobrezinha, com o seu fusquinha, mas que é capaz de pagar a conta de todos, ligado diretamente à Presidência da República. Ele é o contrário de tudo o que sempre se pensou dever ser exemplar na vida pública brasileira, ou seja, transparência. Sempre se falou em transparência. O homem público brasileiro deveria ser transparente. A vida do Presidente da República, as contas dos Ministérios, dos Governadores, etc deveriam ser transparentes. Este, não, é o misterioso. Paga a conta de todos e de tudo e deve ser misterioso. Ninguém deve saber da sua vida, como ele ganha dinheiro, como paga as contas, quais são as suas contas. E o Supremo Tribunal Federal deve ser envolvido para que ele não mostre suas contas. Deve ser mantido misteriosamente como se o Brasil inteiro não pudesse saber quem paga as contas do Presidente da República, da sua família, dos seus familiares, do Partido e de outras pessoas mais. Isso é uma verdadeira antítese da transparência e da clareza, e não podemos aceitar. Devemos ter duas metas, Senador Antonio Carlos, aqui e agora. Uma é a questão desse Sr. Bertholdo, que apareceu na Veja e que não pode passar em branco. Isso é muito grave! A outra é esse Mister M, o misterioso Okamotto, que ninguém sabe quem é. Ele paga a conta de todos e ninguém pode saber como nem de onde vêm seus recursos. Não podemos sossegar enquanto não soubermos o que é isso. É muito grave para as instituições democráticas e para a clareza da vida pública brasileira. Eu queria saber qual é a opinião de V. Exª sobre este assunto.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Meu Presidente, Senador Tasso Jereissati, de maneira bem esquemática, eu lhe digo que temos de fazer uma prorrogação, certamente, dos trabalhos da CPI dos Correios. Não tão longa, algo como trinta ou quarenta dias para concluirmos, investigando tudo aquilo que deve ser investigado, Líder José Agripino. Eu adoraria que pudéssemos investigar tudo em um tempo mais curto e virássemos a página da Comissão Parlamentar de Inquérito. Mas, se não é possível, não há por que se prorrogar.

Além do mais, quero fazer uma advertência muito clara à base do Governo, Senador Antonio Carlos Magalhães, Senador Tasso Jereissati. Não adianta essa história de que “temos maioria”. Não têm maioria lá coisa nenhuma. Isso é conversa fiada. Duvido, se o Relator Osmar Serraglio falar “estão boicotando o meu relatório”, como se V. Exª falasse, Senador Garibaldi Alves, que estariam porventura boicotando seu relatório, que a pressão da opinião pública não se torne insuportável a ponto de aceitarem a prorrogação - não aqui; maioria temos bastante aqui para aprovar o que quisermos em termos de prorrogação de uma CPI no Senado - da CPI dos Correios. Ou seja, não têm legitimidade.

Senador Tasso Jereissati, ouça bem, temos que fazer a formulação jurídica correta. E isso é coisa para um advogado de alto coturno, de modo a não levarmos uma petição que seja inepta a julgamento do egrégio Supremo Tribunal Federal. Qual é a fórmula que realmente, Senador Garibaldi Alves, ilustre Relator, vai possibilitar a quebra do sigilo do Sr. Okamoto? Vai ter que ser quebrado o sigilo dele. Não se pode encerrar a CPI dos bingos antes da quebra do sigilo do Sr. Okamoto. Isso é fora de dúvida. Vamos então ver qual é a fórmula jurídica correta e vamos usar da melhor linguagem jurídica para não esbarrarmos na negativa, que tem sido pela fórmula, a meu ver. Confio plenamente no Supremo em relação ao Sr. Okamoto.

Por outro lado, eu estava há pouco conversando com alguns jornalistas que me diziam que o Governo agora está com uma outra versão. O Governo dizia: “essas novas denúncias são porque o Lula melhorou nas pesquisas”. Isso é tão grave, que só me passa a impressão de que estão sabendo da culpa de uns; estão sabendo outros que são eles próprios os culpados, porque, senão, estariam rebatendo as acusações, não estariam inventando uma desculpa tão esfarrapada e, a meu ver, tão torpe como essa. Ou seja, para provar que não estamos preocupados com a eleição, vamos deixar roubarem à vontade no País, vamos deixar dilapidarem o patrimônio público, porque, senão, vai parecer que estamos querendo influenciar resultado eleitoral.

Então, essa gente está contando que a Nação brasileira não se estarreça mais, e a Nação brasileira tem de ser beliscada e ficar estarrecida sim, porque nunca se praticou corrupção, na História Republicana deste País, como nesta quadra infeliz do Presidente Lula.

Com muita honra, ouço o aparte do Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Ora, se não trouxermos, com rapidez, esse Okamotto, Roberto Teixeira e o Bertoldo, estaremos desmoralizando o Congresso. O problema das pesquisas é muito fácil. Ninguém ataca o Lula. Ele está com milhões para publicidade, gastando em todos os jornais e televisão. Como ele pode ser atacado se nem a nossa voz sai, a não ser na TV Senado, para dizer as verdades sobre este Governo, o mais corrupto que o País já teve em todos os tempos? Collor hoje está sorrindo diante do Governo do Lula, e tem razão para isso. Agora, evidentemente, eles vão atacar sempre V. Exª, o Senador Tasso Jereissati, a mim, o Presidente Fernando Henrique e o futuro candidato à Presidência - já começa a atacar, por um lado e por outro, em um tiroteio cego, porque não sabem quem é. Seja como for, estaremos aqui juntos...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Podem vir quentes!

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - ...juntos, trabalhando, com o calor que é próprio a V. Exª, mostrando ao País que este Governo não pode continuar. E ele será derrotado não como pede Diogo Mainardi - que seja expulso -; ele será expulso pelo voto dos brasileiros.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estou com muita segurança de que será assim, Senador Antonio Carlos.

Ouço o Líder José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, eu estava para apartear V. Exª, mas o telefone não pára de tocar e de chamar-me lá fora. A imprensa toda está indagando se o PFL vai pedir a prorrogação da CPI dos Bingos e da CPMI dos Correios. Sequer estamos falando nisso - V. Exª já toca no assunto -, mas a imprensa, que verbaliza muito a vontade da sociedade, já está cobrando da Oposição uma providência saneadora de costumes. Por quê? Todo mundo tem o direito de se habituar a esse estado de coisas de perda, de fratura do padrão ético, menos nós; temos obrigação de sermos clarividentes, de não nos habituarmos a esse mar de denúncia, de corrupção, ou entendermos que está tudo muito bem, que isso faz parte do estado de coisas, que o Presidente Lula...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estão brutalizando o País.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - ...está acima do bem e do mal, que ele é um de nós, é o papaizão! Ele é o papaizão de Lulinha e de Lurian. É preciso que a sociedade perceba isso, Senador Arthur Virgílio. Ele posa de papaizão, o homem do Bolsa Família. Ele é papaizão de Lurian. E quem é Lurian? Lurian é a moça que devia R$26 mil e que teve esse débito pago pelo Sr. Okamotto. E quem é Okamotto? É aquele mesmo que pagou a conta de Lula. E pagou com quê? Com dinheiro dele, do bolso dele - isso foi dito por ele. Mas do bolso dele? Ele é rico? Dizem que não. Ele é amigo de quem? Ele é amigo de Delúbio Soares, de Marcos Valério, de Silvinho Pereira, é amigo de José Dirceu. Amigo como? Os telefonemas que os técnicos da CPMI dos Correios cruzaram com as informações dos técnicos das CPI dos Bingos. São centenas de telefonemas de Okamotto falando com essa turma, a turma do mensalão, do valerioduto. Então, Senador Arthur Virgílio, eu honestamente não sabia que o Sr. Okamotto havia pago a conta de Lurian, filha de Lula. Eu não sabia. A denúncia veio da imprensa, que é vigilante. Ainda bem que neste País temos uma imprensa vigilante para acusar qualquer um de nós; se estiver errado, tome-lhe acusação. Isso está certo. Então, o Sr. Okamotto pagou a conta de Lurian, pagou a conta de Lula, pagou com dinheiro dele, em espécie, e fica tudo por isso mesmo. Lula nega e fica tudo por isso mesmo? Não, vamos esclarecer! Vamos quebrar o sigilo bancário de Okamotto? Não, porque há uma ação no Supremo Tribunal Federal que nos impede. E a sociedade como fica?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E porque, Senador José Agripino, esse medo todo de quebrar o sigilo?

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - A sociedade fica vendo pelas ruas o Sr. Marcos Valério, o Sr. Delúbio Soares e o Sr. Waldomiro Diniz. E nós ficamos como? Fazendo o que e com quem, Senador Arthur Virgílio? “Não, não é o Lula. O Lula está por fora disso tudo!” Ele está por dentro até a tampa. Lurian é filha dele; ele é o dono da conta; quem pagou foi Okamotto. Tem de haver a quebra de sigilo. Ou isso acontece ou teremos de prorrogar as CPIs para que os técnicos continuem a fazer o que estão fazendo. E agora, essa nova história de Itaipu: o Sr. Samek, que era Deputado Federal do PT, deixou de sê-lo para ser Presidente de Itaipu. Estão aí os milhões de reais, conforme a giriazinha que a revista Veja trouxe: “Cinco paus”.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - “Cinco paus”, o que dá direito a mil interpretações.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Cinco milhões de reais ou de dólares. Brincam! E com empresa fornecedora disso, daquilo e daquilo outro.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Essa conversa dá todo tipo de interpretação, é perigosa.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - E fica tudo por isso mesmo. Envolvendo um partido político inteiro, um líder que renunciou, uma série de evidências: um homem que está preso, um advogado que era diretor e está preso. Vamos fazer cara de paisagem para isso? Vamos fazer cara de paisagem para isso ou vamos prorrogar a CPI? “Ah, não! É porque querem entrar no período eleitoral”. Que período eleitoral? Quem produziu esse fato? Fomos nós ou foram eles? Fomos nós ou foram eles que produziram esses fatos? Nós, não.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Tem absoluta razão V. Exª.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Nós, não. Nós temos obrigação é de policiar, de investigar e de entregar os culpados ao Ministério Público e à PF, com indiciamento, para que eles sejam punidos, presos, para evitar o pior dos mundos e que se chama impunidade. Por essa razão acredito, Senador Arthur Virgílio, que temos a obrigação de começar a falar, seriamente, sobre a prorrogação da CPI dos Bingos e da CPMI dos Correios. Temos de começar a coletar assinaturas, sim, senão, a sociedade vai começar a cobrar de nós; nós que não convivemos com a improbidade. Solidarizo-me absolutamente com os termos do pronunciamento de V. Exª e digo que vamos cumprir a nossa obrigação.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Líder José Agripino.

Peço a V. Exª tempo para concluir, Sr. Presidente.

Quero dizer, de maneira muito clara, que V. Exª, Senador José Agripino, prosseguiu com brilho o discurso que eu vinha fazendo. O seu aparte se incorpora como uma luva mesmo.

Mas vamos falar das duas CPIs. Primeiro, o PSDB está convocando o Sr. Bertoldo e o Sr. Samek aqui. Segundo, a CPI dos Bingos se prorroga quando quisermos, porque temos muito mais de 27 Senadores - temos 46 e precisamos de 27 para prorrogar a CPI dos Bingos.

Quanto à CPMI dos Correios, basta o Sr. Relator Osmar Serraglio dizer que precisa prorrogá-la, e eu quero ver a Liderança do Governo ter a ousadia de brecar as assinaturas que viabilizariam a prorrogação da Comissão dos Correios. Se é período eleitoral, o que querem? Se é período eleitoral e não se investiga nada por isso, Senador Jereissati, fica complicado. Um governo organizadamente corrupto faria o seguinte: vamos fazer o mal-feito, praticar os atos de corrupção perto do período eleitoral, porque ninguém pode investigar. Assim, cria-se uma impunidade diferente. Depois o tempo passa, as águas nunca são as mesmas, o rio é sempre o mesmo, mas as águas são diferentes. Vamos trabalhar isso.

Sr. Presidente, gostaria de deixar registrados nos Anais da Casa dois artigos, sendo o primeiro intitulado “Exílio de Companheiro”, do jornal O Estado de S. Paulo.

Não podemos fechar os olhos a um outro fato: a família do Sr. Celso Daniel está se mudando do País ameaçada de morte - é o que declara a família. Ministro da Justiça? Quieto, calado, não chamou ninguém aqui, não mandou proteção para lá. O Presidente Lula, que se demonstrou tão contristado ao segurar a alça do caixão do Sr. Celso Daniel, não tomou gesto algum para dizer: “puxa vida, viraram meus inimigos, mas quero protegê-los”. Nada, nada! Não fazem um gesto no sentido de proteger essas pessoas.

Diziam que o Sr. João Daniel era louco - eu não o considerei louco quando o ouvi na CPI -, mas foi aquele que diziam que era são, o Sr. Bruno, quem fez a denúncia, em primeiro lugar, de que havia ameaça à sua família. Então, não foi o louco, foi o são; foi o são quem pediu a proteção ou ainda quem mostrou que não acreditava em proteção e estava se mudando do País. E o medo é tanto que está cada um indo para um país. A família vai se desagregar. É muita confusão. Estão desmoralizando o nome do santo, que deixou de fazer milagre para produzir mortes em série.

Concedo a palavra a V. Exª, com muita honra, Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, o pior de tudo é que o amigão da família Daniel, Luiz Inácio Lula da Silva, homem que pegou na alça do caixão, não dá uma palavra.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Nada!

O Sr. José Agripino (PFL - SC) - Uma palavra! Não dá uma palavra o amigão de Celso Daniel, que iria ser coordenador da campanha de Lula. Não dá uma palavra de solidariedade aos irmãos, que estão se mudando do País com medo de morrer.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com medo!

O Sr. José Agripino (PFL - SC) - Ameaçados de seqüestro e morte. E o amigão, que é o Presidente da República, não dá uma palavra de solidariedade, não estende um dedinho da mão para ajudar quem está com a vida ameaçada.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador José Agripino, se essas pessoas da família Daniel estão mentindo, também não aparece ninguém para dizer que estão mentindo, que isso é uma fraude, uma farsa, uma exploração política, eleição. Não, não estão dizendo nada. Simplesmente há aquele silêncio obsequioso.

Peço, ainda, Sr. Presidente, que se insira nos Anais da Casa o artigo do jornalista André Petry, que faz críticas muito duras ao Ministro Antônio Palocci e diz que Lula bem que poderia aproveitar e indicar Duda Mendonça como “marqueteiro” de sua campanha e Delúbio Soares como tesoureiro. Lembro que Duda Mendonça está na campanha, sim, na Petrobras, fazendo campanha desabrida, com uma remuneração de R$26 milhões, a favor da reeleição do Presidente Lula.

Aqui, Senadora Heloísa Helena, eu aprendi com V. Exª isso. Somente não concordo com o título e faço uma crítica ao jornalista André Petry. Recebi um e-mail muito bonito de uma senhora, mãe de uma criança autista, que certa vez me disse: “Não chame de autista - a mesma observação que V. Exª me havia feito - alguém que V. Exª queira depreciar, porque as crianças são inteligentes, amorosas, meigas e são vitimadas por algo que pode até torná-las, quem sabe, incapazes de se autodeterminarem”.

Então, quero dizer mesmo ao admirável jornalista André Petry que o único erro do seu artigo está no título “Surto de autismo”, porque as crianças autistas nada têm a ver com o que de autismo não tem nada, que é o esquema endêmico, epidêmico e sistêmico de corrupção que se montou neste País, que já vem, como vimos hoje, de antes, da Previ, com os diretores petistas...

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Altista com a letra “L”.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sim, altista do ponto de vista do desejo de lucros cada vez mais altos, mais elevados, às custas do dinheiro público.

Então, são dois artigos, Sr. Presidente, que mando como contribuição para os Anais. Os jovens de amanhã estudarão este momento nos Anais do Senado e vão pensar, com razão, que estamos vivendo uma era de trevas, uma era que, no futuro, vai ser descrita como de trevas, porque o desrespeito à vida humana aqui está: família muda-se com medo de ser assassinada. E ninguém faz nada para proteger essa família.

Ao mesmo tempo, estamos aqui vendo o cinismo. Se essas pessoas só erraram, se Duda Mendonça é bom para trabalhar na Petrobras, ele é bom para ser “marqueteiro” da campanha. Talento ele tem. Pode não ter caráter, mas tem talento. E se o outro, o Delúbio Soares, só errou, não foi culpado de nada, por que não merece uma chance? Quando meus filhinhos erram, dou logo uma chance nova para eles. Já que o Lula é o paizão, então devia dar uma chance nova ao Delúbio, colocar o Delúbio mexendo com dinheiro. Ele deve ter aprendido. Ele não teve má-fé. É um rapaz tão bom!

Com a palavra o Senador Garibaldi Alves.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Arthur Virgílio, esse caso da fuga - não se pode nem chamar de fuga -, dessa ida para o exterior da família do ex-Prefeito Celso Daniel vem provocando um estarrecimento profundo. Afinal de contas, a família está apenas defendendo uma versão que não é somente dela, mas é uma versão de todos aqueles que acompanham mais de perto o caso e que sabem que não houve crime comum, mas que existem todas as evidências de um crime a mando, de um crime planejado. Não se trata de uma reação emocional de uma família, e sim de uma constatação de que todos nós, a imprensa, de que todos estamos comungando. É de estarrecer o que está acontecendo com a família do ex-Prefeito Celso Daniel.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, encerro dizendo duas coisas.

No governo passado, neste e nos governos anteriores ao passado, vimos muita gente se dizendo desiludida com a incapacidade de o Estado brasileiro lhes dar segurança. V. Exª deve ter conhecidos que se parecem com conhecidos meus que disseram assim: vou vender o que tenho aqui e morar em Miami, porque lá meus filhos não serão seqüestrados. Todos nós vimos isso. Mas a família Daniel está fugindo porque não acredita neste Governo, do ponto de vista da intenção em relação a ela. Ela acha que há envolvimento de pessoas deste Governo nesse episódio de Santo André. Essa verdade é iniludível, inequívoca, não dá para escapar dela. Essa verdade tem que ser proclamada em alto e bom som. Não é uma família que diz que houve o seqüestro de uma prima e que, então, estão todos indo para Miami. Não, não, não! É uma família que se julga vítima de perseguição política, que se julga vítima de uma perseguição que envolveu corrupção na Prefeitura de Santo André, que resultou na morte do Prefeito e em mais oito mortes colaterais.

Esse é o fato, Sr. Presidente. É um fato lamentável. Não vou deixar de falar isso todo dia, porque hoje, Senadora Heloísa Helena, é com essa família, mas amanhã pode ser com V. Exª, depois de amanhã pode ser comigo, outro dia pode ser com o Senador Tasso Jereissati. Nós não podemos, nunca, nos calarmos diante do arbítrio, da violência ou da truculência, sob pena de amanhã sermos, candidamente, vítimas da violência, do arbítrio e da truculência. É hora de falarmos! Não posso admitir que a sociedade brasileira ache normal uma família ser banida do País porque tem medo de morrer e a suspeita é de que possa haver braço oficial em tudo que aconteceu de crime em Santo André, Sr. Presidente.

Era o que, por ora, e apenas por ora, tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Surto de autismo”

“Exílio de companheiro”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2006 - Página 6875