O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pela Liderança da Minoria. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula hoje madrugou. Acordou às cinco horas da manhã e tomou um banho de mar no litoral piauiense, em Luís Correia, cidade vizinha a Parnaíba.

Parnaíba, durante toda a história do Piauí, tem tido uma importância muito grande para a economia do Estado. Durante anos foi um grande centro comercial e líder da incipiente indústria extrativista da carnaúba e do babaçu, não só representando muito para a economia piauiense mas também para todo o Nordeste.

Parnaíba, de filhos ilustres como Reis Velloso, tem nesta Casa dois Senadores que lá nasceram: Mão Santa, ex-Governador do Piauí, que aqui está, e Alberto Silva, também ex-Governador do Piauí, que se encontra na comitiva do Presidente da República neste instante. Eu, embora não seja parnaibano, tenho raízes profundas na cidade, tendo meu avô materno advogado durante muitos anos em Parnaíba, tendo sido, inclusive, Deputado Estadual.

Digo isso para que fique bem claro que Parnaíba é uma cidade extremamente hospitaleira. Com certeza, hoje, recebeu muito bem o Presidente da República, aplaudiu-o e acolheu-o, até porque a visita de um Chefe de Nação não só deve ser recebida com respeito, mas também com alegria pelos que habitam a cidade visitada.

Mas, Senador Mão Santa, se formos examinar a realidade do impacto da visita presidencial a Parnaíba, 48 horas depois do fato - seremos mais generosos, deixaremos para após o carnaval, daremos uma semana -, veremos que, em termos positivos, nada levou. Onde está a solução para o Porto de Parnaíba, Senador Mão Santa? E para a recuperação industrial daquela cidade? Para a recuperação da ligação ferroviária entre Luís Correia e Teresina? Nós, no Senado, tentamos e agora conseguimos colocar recursos no Orçamento deste ano para recuperação dessa estrada. Não! A visita de Sua Excelência foi para reconhecer um aeroporto internacional.

Senadora Serys Slhessarenko, com todo o respeito ao Presidente da República, esse aeroporto foi inaugurado no Governo Médici, pelo Ministro João Paulo dos Reis Velloso, filho da terra, quando instalou, na cidade de Parnaíba, o primeiro pólo turístico brasileiro. Infelizmente, não houve continuidade nas administrações seguintes. A casa de passageiros, a pista, a iluminação são todas produtos desse período. Não há nada novo.

O campus universitário chamado Reis Velloso é também uma continuação. A grande maioria dos cursos ali instalados - justiça seja feita! - foram feitos na administração de V. Exª, Senador Mão Santa, como Governador.

Por meio de recortes de jornais recentes, vamos trazer aqui o que significou a visita do Presidente. No dia 12 de setembro do ano passado, o Governo do Estado anunciou para o Piauí a inauguração de vôos internacionais, que seria o grande fato para essa visita do Presidente a Parnaíba. Mas, no dia 7 de janeiro, veio uma notícia, Senador Mão Santa, que é uma ducha de água fria na população do Município e da região: a OceanAir, empresa de vôo regular, vai acabar com os vôos para o litoral. Ora, pela primeira vez Parnaíba, em muitos anos, não terá uma linha regular de avião. A OceanAir, num acordo com o Governo do Estado, cuja contrapartida era um subsídio de R$40 mil mensais para uso em passagens, fazia, duas ou três vezes por semana, o percurso Fortaleza-Parnaíba-Teresina, ida e volta. Por falta de cumprimento por parte do Governo do Estado, esse vôo foi suspenso.

Senador Mão Santa, V. Exª nasceu, cresceu e viveu em Parnaíba a maior parte de sua vida e, em todas suas instâncias, os vôos de carreira, os vôos de linha eram uma constante no litoral piauiense, desde o Boeing da Varig, o famoso trijato a aviões menores. Somente agora, neste instante, Parnaíba está desprovida de vôo.

            Mas aí, Srªs e Srs. Senadores, no dia 7 de fevereiro, bem próximo: “Aeroporto de Parnaíba será inaugurado com o Boeing 767”. Aí vem a paranóia, a loucura: o avião sairia de Roma direto para Parnaíba, com 260 passageiros...

(Interrupção do som.)

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT. Fazendo soar a campainha.) - Já se passaram oito minutos, Senador.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - E esses passageiros seriam redistribuídos para o litoral dos Estados próximos do Piauí e Maranhão.

Funcionário da Secretaria de Comunicação seguiria, segundo matéria do próprio Palácio do Governo, para Roma a fim de acompanhar o vôo até Parnaíba, cuja inauguração seria no dia 20. Mas, Sr. Presidente, esqueceram-se do básico: levar combustível acima de tudo...

O SR. PRESIDENTE (Valdir Raupp. PMDB - RO) - Senador Heráclito Fortes, desculpe-me interrompê-lo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois não.

O SR. PRESIDENTE (Valdir Raupp. PMDB - RO) - Eu gostaria de pedir a compreensão do nobre Senador Eduardo Suplicy, porque o tempo de V. Exª já foi extrapolado em três minutos e há vários oradores para falar.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não entendi.

O SR. PRESIDENTE (Valdir Raupp. PMDB - RO) - O Senador Eduardo Suplicy pede-lhe um aparte, mas o tempo de V. Exª já está esgotado e há vários oradores para falar.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - E só queria fazer um apelo a V. Exª...

O SR. PRESIDENTE (Valdir Raupp. PMDB - PI) - V. Exª ainda tem tempo para encerrar.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Mas faria um apelo a V. Exª, em homenagem ao Piauí, e o Senador Eduardo Suplicy é bem objetivo em seu aparte e eu gostaria de ouvi-lo.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Bem, certamente o Piauí proporcionou ao Presidente Lula essa oportunidade. Tenho certeza de que V. Exª e o Senador Mão Santa, assim como eu, gostam de aproveitar a madrugada, antes de iniciar o dia de trabalho, para tomar um banho de mar, ainda mais na praia de Luís Correia, que certamente V. Exª recomenda a todos. Mas gostaria de dizer que as observações que está fazendo, relativamente a investimentos importantes no seu Estado, para melhoria das condições de infra-estrutura, de transporte, seja em Parnaíba, Teresina...

(Interrupção do som.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Concluindo, Sr. Presidente. Inclusive para que possa haver uma linha aérea entre Parnaíba e a Europa para que mais pessoas venham ao litoral piauiense, de outros lugares do mundo. Considero isso muito positivo. Então, certamente, o Presidente Lula estará levando em consideração as sugestões de V. Exª.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª ressonava ao fundo do plenário e talvez por isso não tenha prestado atenção no que eu disse. Eu disse exatamente o contrário, Senador Eduardo Suplicy. Foi a grande frustração do povo, que esperava o vôo internacional. Os hotéis e as lojas se prepararam para receber esse avião, e não tomaram nenhuma providência. E essa notícia é do dia 7 de fevereiro, muito recentemente.

(Interrupção do som.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - O positivo disso tudo é a ida do Presidente - eu disse exatamente no começo - a Parnaíba, que é uma cidade hospitaleira, mas isso não dá o direito de se pensar que o parnaibano é bobo. O que o parnaibano quer é obra de infra-estrutura, é que o Presidente da República deixe lá sementes para a consolidação de um plano que leve o Estado e o Município ao progresso. Eles não querem esse engodo, essa enrolação, esse discurso eleitoreiro de lançamento de candidatura a Presidente da República.

Por outro lado, vemos aqui, nos próprios jornais, o abandono a que o turismo do litoral norte está sendo relegado pelo atual Governo. Senador Eduardo Suplicy, o que eu disse aqui agora é que, pela primeira vez em muitos anos, a Paraíba não tem vôos regulares, por irresponsabilidade do Governo estadual, ali instalado. O que disse aqui agora é que a OceanAir deixou de fazer um vôo freqüente para o litoral, porque o Governo do Estado descumpriu o compromisso assumido de subsidiar aquelas linhas. Por que, agora, fazer essa festa, criando expectativas que não existem?

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Se o Sr. Presidente permitir, concederei um aparte ao Senador Mão Santa. Pedimos a compreensão de V. Exª, Sr. Presidente, afinal de contas, hoje é um dia muito especial para a Parnaíba e para o Piauí.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, nasci na cidade de Parnaíba em 1942. Atentai bem, lá existe uma crença de dois irmãos, que são considerado santos, milagreiros. Atentai bem, ô Lula, lá o cemitério o povo chama de Dois Irmãos. Eles fazem milagre, o povo ora e deixa as oferendas.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Isso é importante para resgatar a história da verdade.

O SR. PRESIDENTE (Valdir Raupp. PMDB - RO) - Mas o tempo do Senador já passou de doze minutos, e o tempo estabelecido era de cinco minutos mais dois minutos.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eu vou encerrar, Sr. Presidente, mas, primeiramente, vou ouvir o aparte do Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Esses dois irmãos eram surdos-mudos. Eles vinham acompanhando o trilho da ferrovia, que V. Exª diz que está inacabada. O Alberto chegou, como engenheiro, para tomar conta dessas ferrovias. Eles tinham chegado do Ceará e iam acompanhando a trilha férrea, quando pousou aquele avião Douglas. O maquinista do trem vinha bem devagar, apitando, na certeza de que eram pessoas normais e que iam sair do trilho. E eles morreram ali, pois eram surdos-mudos. Eu já nasci com essa crença, e o povo tem essa devoção. Nos anos de 1950, eu era criança e já pegava esses aviões. Lá, voávamos na Cruzeiro, na Pan Air, na Paraense Transporte Aéreo - PTA, que, na brincadeira, era “Prepara tua alma”. Aviões de todo jeito. Nunca, na história da Parnaíba, aquele aeroporto deixou de funcionar. Somente agora, no Governo do PT, não existe nem uma linha nacional.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradeço a V. Exª e a paciência do Sr. Presidente e da Senadora Serys Slhessarenko, que quer ir para o Pantanal. Não quero jamais ter o remorso de que estaria atrapalhando o seu direito de ir e vir.

Agradeço, portanto, a todos, pedindo a reflexão do Presidente Lula: plante alguma coisa, Senhor Presidente, não apenas falácia e não apenas passeio, fique restrito às suas viagens. O Piauí precisa de obras concretas e não de conversas.